Tentava trabalhar, porém seus olhos se moviam sozinhos em direção ao celular, fazendo-o pegar o aparelho e ler a mensagem que recebera algumas horas atrás pela milionésima vez. O conteúdo o fazia trincar os dentes e provocava um desejo inexplicável de rasgar furiosamente todos os papéis a sua frente. Mesmo sendo cedo, ele já estava de mau humor. Típico.

“Você é um coverde de pênis murcho e bolas pequenas. Volte para aquela tal de Ten Ten, porque eu tenho certeza que ela não irá ligar para um romance às escuras. Eu não quero ser seu segredo, seu veado. Muito menos sua amante, pois sei que quando te acharem uma esposa adequada você vai aceitar sem nem rosnar. Sinceramente, Neji, cuidado para não se tornar o Hiashi, porque você está no meio do caminho já. E nem tente correr para minha casa para me perguntar qual é o significado dessa mensagem. Eu não sou mais sua vizinha, na verdade, mudei de continente. Daqui uns meses você vai poder bater uma olhando minhas fotos belíssimas e cheias de glamour em uma revista badaladíssima. Deseje-me e nunca me esqueça, pois eu não vou voltar mais para os seus braços. Adeus, seu babaca.”. Estas haviam sido as palavras que Hanabi mandara ao primo. O Hyuuga engasgou-se com a própria saliva quando lera o pequeno texto. O que a familiar queria dizer com fotos em revista e estar em outro continente? Ele se perguntou por horas a fio.

Tentara ligar para o telefone da jovem, mas este apenas caía na caixa postal. Isso porque a prima havia jogado o aparelho no primeiro lixo que encontrara. Neji já não tinha como se descabelar mais. Por acaso a amada era louca? De fato era, mas nunca imaginaria que ela sairia de casa, afinal sabia do desejo dela de herdar o legado da família. Ou talvez o interesse fosse apenas para o pai parar de atormentá-la. Não se passara muito tempo desde sua tentativa de perguntar a Harumi o que havia ocorrido no dia anterior. Seu nariz ainda doía devido ao impacto com a porta fechada bruscamente em seu rosto. Evitava imaginar os absurdos que a morena dissera a seu respeito ou sobre qualquer coisa relacionada. A revolta dela não podia denegrir apenas a própria imagem? Tinha que arruinar a dele junto? Indagava-se.

Desistiu de trabalhar e resolveu voltar para a cama. Daria um jeito de falar com Hanabi por e-mail, carta ou até mesmo telegrama. Como ela ousava ir embora assim? Eles apenas haviam tido uma pequena discussão, talvez não tão pequena assim. Ele suspirou extremamente irritado. Quer dizer que ela jogava tudo por alto apenas porque ele queria zelar pelo próprio futuro? Perguntou-se, trincando ainda mais os dentes. Não conseguia entender como funcionava a cabeça da prima. Ela o irritava e provocava, sugeria um envolvimento em segredo e pirava quando ele não aceitava assumi-la só porque ela mudara de ideia repentinamente. Talvez os dois somente possuíssem uma paixão louca que não condizia a um amor intenso e verdadeiro. Aquilo deveria estar predestinado a ocorrer. Quem sabe os dois fossem se encontrar na vida depois de separados. Chacoalhou a cabeça, decidido a parar de queimar neurônios tentando entender a mente desvairada da Hyuuga mais nova. Então seu celular tocou para sua felicidade. Pelo menos o ajudaria a se distrair por alguns segundos.

-Alô?

-Ah! Oi, Neji... É a Ten Ten... – a jovem respondeu timidamente. Seu embaraço era audível.

-Oi. Como vai? – Será que a ligação da personal trainer era algum tipo de sinal do universo? Perguntou-se, sentando-se adequadamente na cama.

-Vou bem... Eu... Eu só fiquei com vontade de te ligar. Estou incomodando?

-Nem um pouco. Está em uma competição de lutas, não é? – lembrava como a morena ficara comentando a respeito da data cheia de euforia quando eles ainda saíam. Conseguiu ouvi-la sorrindo e se empolgando.

-Sim! Meus alunos já ganharam três disputas! Estamos nos saindo muito bem! – disse animadamente, o que fez Neji abrir um sorriso mínimo.

-Fico feliz... Quando estará de volta? – nem mesmo ele sabia o porquê da curiosidade. Devia ser consequência de sua irritação com Hanabi.

-Em uma semana... Por quê? – pôde sentir a felicidade na pergunta de Ten Ten.

-Sei lá... Só pensei que poderíamos sair uma hora dessas...

Eles continuaram a conversar após a insinuação do jovem. O Hyuuga sabia que estava usando a mulher como substituição apenas para se distrair, esquecer e quem sabe irritar a familiar sumida, contudo já havia tido um envolvimento com Ten Ten, o que sua cabeça utilizava como um atenuador da situação. Era relativo, não era? Afinal ele a estaria fazendo feliz. Pensava. O diálogo realmente o distraiu, mas, assim que terminou, seus pensamentos involuntariamente se voltaram novamente ao amor de infância.

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Havia dormido em um assento público em uma rua desconhecida, mas isso não parecia incomodá-la de qualquer forma, afinal não tinha mais muitas coisas importantes para perder. Abriu a porta do apartamento e arrastou os passos para dentro, espirrando três vezes seguidas. Sabia que pegaria uma gripe por ter dormido no frio e no sereno, porém estava até agradecida, pois com a doença teria um motivo indiscutível para não sair da cama. Era quase horário de almoço e ela não tinha um mísero indício de fome. O vazio dentro de si encobria suas necessidades fisiológicas. Jason veio se esfregar em suas pernas, parecendo sentir toda a sua tristeza. Lágrimas se acumularam em seus olhos e ela pegou o gato, abraçando-o necessitadamente contra o peito. O animal era seu único companheiro desde o início.

Foi abraçada com a bola de pelos até o quarto, onde se deitou na cama e deixou água salgada escorrer silenciosamente pelas suas bochechas. A língua áspera do gato tentava secar seu rosto, contudo era inútil. Nem mesmo o ronronar que sempre a acalmara estava surtindo efeito. Naruto podia ter sido seu namorado por pouco tempo, mas os dois haviam passado por tantas coisas juntos, haviam enfrentado tantos monstros de mãos dadas, que um laço estupidamente forte havia se formado. Todas as discussões, desentendimentos, beijos, carícias e momentos fortificaram o relacionamento tão intensamente que a ausência futura dessas coisas provocava em Hinata uma angústia desesperadora. Não sabia se conseguiria seguir em frente caso o amado não acordasse nos dias seguintes.

Lembrando a falta de bateria do celular, a Hyuuga se levantou para colocar o aparelho para carregar. Precisava de um banho. Precisava comer. Precisava escovar os dentes. Porém não sentia vontade nem mesmo de falar, por isso voltou para o aconchego da cama para ser consolada por Jason. O silêncio parecia esmagá-la de segundo em segundo. Memórias ao lado do loiro se projetavam translúcidas em volta de si. Seu corpo frágil encolhia-se cada vez mais em um abraço sofrido. Ela queria esquecer. Queria fazer as lembranças pararem de torturá-la. O motivo de nunca imaginar o futuro era por causa de puxadas de tapete iguais a que estava vivendo. Se tivesse feito planos ao lado do Uzumaki sua dor seria mil vezes maior, pois nunca poderia imaginar algo diferente, todavia mesmo assim não tinha coragem de enfrentar as semanas, meses e anos pela frente.

-Hinata... – a voz de Sasuke a tirou de sua espiral infinita de desespero. O toque dele em seu cabelo a fez começar a soluçar e abraçá-lo, totalmente desamparada. A pequena não ouvira o amigo chegar, muito menos se aproximar, porque a voz do namorado ressoava intensamente em seus ouvidos. – Por que ainda está com a mesma roupa de ontem? – o Uchiha tentou perguntar, mas não recebeu nenhuma resposta. A vizinha estava quase impossibilitada de falar. Envolveu-a com mais força e depositou um beijo no topo da sua cabeça. – Vamos, acalme-se, Hinata... Ele não morreu. Não perca as esperanças assim...

-E se ele não acordar? O que eu faço se ele não acordar? – balbuciou entre engasgos.

-Você continua vivendo, Hinata! Era o que fazia antes dele e é o que vai fazer depois dele. – o moreno ergueu a cabeça da pequena para olhá-la profundamente nos olhos inundados.

-Antes dele eu vivia, mas com ele eu estava viva! – fungou e se desfez do toque do vizinho, escondendo o rosto nos joelhos. – Tudo estava diferente... – murmurou.

Partia o coração de Sasuke ver a irmãzinha naquele estado. Ele só conseguia amaldiçoar cada vez mais Naruto por ser um desastrado idiota. O loiro devia estar ao lado de Hinata para que ele pudesse se mudar sem se preocupar com a saúde mental da amiga. Não sabia o que fazer para arrancar a Hyuuga do fundo do poço e ainda tinha notícias não muito animadoras para dar. Por que as coisas não podiam ser mais fáceis de vez em quando? Indagava-se. Iniciou uma carícia nos longos cabelos da vizinha.

-Vai ficar tudo bem... Você ainda tem a mim e a sua irmã...

-Não! Não vai ficar nada bem! – ela explodiu em gritos, assustando o Uchiha. – Hanabi fugiu sabe Deus para onde e em algumas semanas nem você estará por perto! – o corpo miúdo chacoalhou com a nova enxurrada de lágrimas. O rosto do moreno se contorceu de dor e ele praguejou mentalmente. Até Hanabi havia sumido? Por essa ele não esperava. Sentia-se cada vez mais culpado.

-Quanto a isso, Hinata... Eu vou embora nesse final de semana... – as palavras saíram com dificuldade e carregadas de dor. O olhar da azulada para ele matou-o por dentro. Terminara de transformar em pó os últimos cacos dela.

-Como? – sussurrou sem acreditar. O bolo em sua garganta duplicou de tamanho.

-Sakura não está bem também e ela quer se mudar o quanto antes... Esta manhã eu recebi um telefonema avisando um erro e fui informado que meu apartamento, na verdade, já está pronto há duas semanas... – a coragem para dar a explicação quase não foi suficiente. O jovem voltou a abraçar Hinata fortemente. – Desculpe-me, Hinata... Se você quiser pode ir com a gente... – ela o interrompeu com uma risada infeliz.

-Está tudo bem, Saki-chan. Eu não posso sair do lado do Naruto-kun assim... Você deve ser feliz com a Sakura, afinal já fez muito por mim... – uma faca atravessou o peito de Sasuke e ele quase chorou.

-Hina, eu realmente quero te ajudar. Estou tão preocupado quanto a te deixar sozinha...

-Pois não se preocupe, eventualmente eu irei aprender a lidar com esta condição novamente... – a voz dela saía baixa e sem força, totalmente esganada. Silêncio se fez presente. Ela estava machucada, despontada, brava com o amigo por abandoná-la. Por trocá-la pela namorada.

O Uchiha não sabia mais o que falar. Claramente, a pequena não queria conversar. Dava para perceber que até isso parecia doer e também que ela havia ficado ainda mais triste com sua mudança repentina. Ele queria perguntar se ela havia ficado com a mãe, pois sua roupa estava úmida de mais. Perguntava-se se ela havia vagado sem rumo pelas ruas durante a noite. Necessitava ouvir Hinata colocando o que sentia para fora, como ela sempre fazia, contudo a jovem parecia internalizar o sofrimento. Esse era o modo dela dizer que já estava se preparando para a próxima semana, quando o melhor amigo não estivesse mais presente, algo que doeu muito em Sasuke.

-Você sabe que pode me ligar a qualquer hora, não é? – aninhou-a em seus braços para que ela pudesse continuar a chorar.

-Sei... Mas vai ser diferente... – resmungou.

-Eu vou vir te visitar. Não vamos deixar de ser amigos só porque eu vou mudar de cidade... – tentava convencer a ela de que nada mudaria.

-Não, Saki-chan... Isso é um adeus a como costumávamos ser... Tudo vai mudar agora... - Sasuke engoliu o sentimento angustiante que amargou sua boca.

Hinata estava certa que a distância mudaria às coisas. Laços fracos não sobrevivem e os intensos precisam lutar para que tudo continue, pelo menos, parecido. Doía, mas a despedida era inevitável. Ela sabia que uma hora as ligações diárias se tornariam semanais e eventualmente mensais. Uma hora o melhor amigo estaria intensamente envolvido na própria vida para se lembrar dela.

O moreno ficaria ao lado da pequena o máximo que pudesse, porém nem isso diminuiria o mal estar que sentia. Ficou abraçado com Hinata por horas enquanto ela chorava e por fim dormia. Notou o início de uma febre e a obrigou a tomar um banho, medicando-a em seguida. Saiu para comprar comida e a alimentou. Acabou sendo aquele a cuidar de Jason também. Ficou quase a tarde inteira com a irmã de consideração, deixando-a apenas quando possuía a certeza dela não ser um risco a própria saúde. Fez um lembrete mental para retornar na hora do jantar para se certificar de que ela não dormiria sem comer.

------------***-------------

Minato estava no escritório, trabalhando feito louco. Quase não dormira de noite, usando as negociações pendentes e futuras como uma distração para sua insônia. Eram visíveis em seu rosto as marcas do cansaço. Ao contrário dele, Kushina nem mesmo saíra da cama. A ruiva tomara café e almoçara deitada em baixo de cobertores. O esforço desnecessário do chefe de família desligava por alguns momentos sua mente da fatalidade ocorrida. Não comera direito e suas forças vinham especialmente de xícaras e mais xícaras de café. Sua concentração no que fazia era desesperadamente tenta que ele não ouviu quando Shizune o chamou pela primeira vez.

-Minato-sama? – os olhos azuis se ergueram perdidos – Desculpe-me incomodá-lo, mas Itachi-san está aqui. Posso permitir sua entrada? – a mulher perguntou pronta para dispensar o Uchiha se fosse necessário, afinal ela nunca havia visto o patrão tão abalado.

-Claro, Shizune... Mande-o entrar. – o loiro passou as mãos pelo rosto, tentando se livrar da exaustão. Alguns minutos depois da empregada se retirar com uma reverência, o amigo entrou no cômodo, cumprimentando Minato com um abraço acolhedor. – Bom te ver, Itachi...

-Imaginei que precisasse de um ombro amigo após digerir todo o ocorrido. – o moreno olhava para o homem que, pela primeira vez, não o recebera com um sorriso caloroso. Ele podia notar que o acidente de Naruto havia excedido o nível de sofrimento suportável pelo pai do jovem.

-Eu nem mesmo falei com Kushina hoje... Não sei como consolá-la quando eu mesmo não vejo saída... – sentou-se no sofá do escritório sendo acompanhado pelo Uchiha. Os olhos nebulosos se perderam no teto e ele sentiu uma mão do amigo repousar em seu ombro caído.

-Não exija muito de si, Minato... Você tem todo o direito de estar tão mal quanto Kushina. Ninguém espera que você lide bem com essa terrível situação... – ouviu o suspiro pesado do outro e sua feição se contorceu, sentindo o desolamento do homem.

-Eu sei, mas se eu não segurar as pontas, quem vai? – sorriu tristemente – Tsunade já deve estar para chegar e será de grande ajuda em relação à Kushina e dentro de algumas semanas Jiraya também virá para cá...

-Então, Minato, você não está sozinho, por isso nada de acabar com sua saúde enquanto trabalha sem cessar. Isso pode parecer ajudar, mas não ajuda... – o amigo encarou-o de forma culpada e Itachi sorriu compadecido – Dá para sentir seu cheiro de café lá de fora, meu amigo.

-É difícil aceitar que é realmente meu filho em coma. – os olhos azuis brilharam devido o acúmulo de lágrimas – Eu já estava pronto para vê-lo se formando em advocacia... Agora é como se eu estivesse caindo infinitamente. – o moreno apertou seu ombro.

-Não existe nada para eu dizer nesse momento que irá fazer sua dor passar, mas o Naruto sempre foi duro na queda. Ele vai voltar... – O Uchiha usava um tom de voz suave e lutava internamente para encontrar algum meio de ajudar, porém não existia um. Só o tempo ou a recuperação do Uzumaki mais novo poderiam amenizar ou extinguir a dor.

-Lembro que você me disse algo parecido quando ele sumiu... Talvez eu deva acreditar em você, afinal estava certo da primeira vez. – Minato respirou longa a lentamente. Itachi sempre conseguia acalmá-lo ao menos um pouco. Talvez devesse ouvi-lo e acreditar na teimosia do primogênito, pois este não desistia de uma coisa com facilidade e muito provavelmente não desistiria de Hinata, afinal era perceptível seu amor por ela.

-Pois faça isso... – silêncio se fez presente em alguns minutos, até que o mais novo decidiu mudar de assunto – Eu também vim aqui para te contar uma coisa, Minato. – o ouvinte virou o rosto para encará-lo, mostrando que estava prestando atenção e ele poderia continuar. – Eu recebi uma proposta de trabalho e estou me mudando para os Estados Unidos com Ayame no final de semana... – queria relatar a notícia em um momento melhor, porém estava óbvia a inexistência de um.

-Que ótimo, Itachi. Fico feliz por você, mesmo sabendo que sentirei falta das visitas de meu amigo... – ainda que triste, o loiro conseguiu demonstrar a felicidade devido à conquista do Uchiha.

-O que precisar de mim esta semana, peça sem pensar duas vezes. Manterei contato quando estiver longe, mas sei que em muitas coisas não poderei ajudar por não estar presente. – entristeceu-se ao falar, mas o amigo sorriu e o pegou pelos ombros.

-Você é um ótimo amigo, Itachi. Tenho certeza que mesmo estupidamente longe vai me ajudar mais que qualquer um. Seja muito feliz, ok? – despedir-se de Itachi era triste, porém o jovem era uma pessoa sempre tão dedicada e atenciosa que era impossível ser egoísta com ele. O chefe de família só conseguia desejar a maior das felicidades para o moreno, tentando esquecer a falta que ele faria. Iria sobreviver, afinal possuía Jiraya, Tsunade e a esposa. E em momentos de urgência existe o telefone e o avião, certo?

-Obrigado, Minato. E quanto a você, tente passar por essa tempestade sem se encharcar, tudo bem? – recebeu um aceno de cabeça em resposta.

-Não vamos nos despedir agora. Que tal comer alguma coisa comigo? Eu realmente preciso colocar algo em meu estômago que não seja café. – Minato riu desanimadamente e se levantou do sofá, sendo seguido pelo outro.

-Será um prazer.

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-Sakura, estou te dizendo, espere um tempo antes de vender seu apartamento. É mais prudente... – já estava há meia hora no telefone com a namorada. Discutiam a respeito da mudança e Sakura estava afobada, pois se responsabilizar por resolver tudo no curto espaço de tempo era o modo dela de esquecer a situação médica do melhor amigo. Quando a rosada queria tampar um buraco no peito, ela criava preocupações desnecessárias.

-Mas com o dinheiro do apartamento podemos fazer outra coisa, como viajar! – ela já começava a ficar sem argumentos e o moreno podia ouvir pelo celular os passos pesados dela no chão.

-Eu posso pagar uma viagem com o meu salário. – revirou os olhos e exalou um ar carregado de cansaço. Ainda estava abalado de ver o estado de Hinata e preocupado, porque ela parecia ter pegado uma gripe bem forte. – Você está se preocupando à toa.

-Você quer que eu deixe meu apartamento fechado e sem usar enquanto continuo pagando o condomínio? Isso é absurdo. – a voz revoltada ficou emburrada. Sasuke soube que ela havia se jogado no sofá com um bico enorme nos lábios. Passou a mão pelo rosto e notou um e-mail sobre mais assuntos a resolver chegar. Aproximou-se do computador e, após ler, praguejou baixo. Respirou e controlou os hormônios.

-Ser irritante, imagina se um dia uma tragédia acontece e nós chegamos à conclusão que fomos precipitados? Se você tiver seu apartamento poderá voltar a sua antiga vida e continuar seus antigos planos. Não quero que jogue tudo para o alto e se arrisque nisso sem qualquer garantia... Eu nunca estive em um relacionamento sério e não sou a mais fácil das pessoas...

-Para por aí, Sasuke. – interrompeu-o – Depois que eu for para Tóquio, meus planos mudarão e eu não vou querer voltar para os antigos mesmo que termine com você, algo difícil de acontecer. Eu também não sou nenhuma incapacitada que depende de você para tudo. Sem bancar a garotinha, faça-me o favor. – Sakura soou autoritária e o Uchiha não conseguiu conter um sorriso. Quando a namorada se decidia, o negócio era para valer.

-Tudo bem. Faça como quiser... De qualquer forma eu não vou te deixar fugir facilmente. – ele deu de ombros.

-Assim espero. Vou desligar agora, te ligo mais tarde! – ela despediu-se apressadamente e desligou o telefone. Sasuke então pegou as chaves para ir comprar comida para vizinha, porém, ao abrir de porta, encontrou o irmão pronto para bater. Ambos arquearam a sobrancelha.

-Vai sair? – o mais velho indagou.

-Ia, mas pode esperar. Entra. – o dono do apartamento abriu espaço para o visitante, fechando a porta em seguida. – Você disse que tinha algo para falar comigo, não é?

-É... – Itachi se sentou em uma cadeira da cozinha, porém o caçula preferiu ficar em pé. – Como que está a Hinata-chan? – a pergunta fez a feição do outro adquirir nuances tristes e culpadas.

-Péssima. Além de sofrendo, está doente... Queria levá-la comigo para Tóquio, mas ela não quer. – o primogênito ficou confuso com a última informação.

-Mas você não vai ficar mais um mês ou dois por aqui?

-Ia ficar. Devido aos acontecimentos recentes, Sakura quer se mudar o mais rápido possível. Por isso vou me mudar esse final de semana... – decidiu se sentar e pegou uma maçã, dando uma grande mordida na fruta.

-Nossa! A Sakura não entende que a Hinata-chan precisa de você agora? – O Uchiha mais velho surpreendeu-se por o irmão estar abandonando a melhor amiga em um momento tão delicado, contudo conhecia a personalidade do mais novo e imaginava que ele teria um forte motivo.

-Entender, entende, mas se você quer saber eu não acho que farei bem a Hinata se ficar... – deu de ombros – Ela é muito dependente. Precisa sempre ter alguém do lado para conseguir suportar as coisas... – lembrava como a pequena havia desabafado sobre o pai e a família algum tempo depois de se mudar para o apartamento ao lado – Se eu ficar uns meses ao lado dela, ajudando-a a lidar com esta situação, quando eu for para longe ela vai regredir para uma situação pior. – suspirou. Podia ser um pensamento frio, porém por carinho e amor a azulada ele tinha que deixá-la aprender a enfrentar os medos e dores sem ajuda já que não estaria mais tão fisicamente próximo. Caso contrário ela nunca conseguiria ser forte o suficiente para lidar com a realidade. Sempre necessitando de alguém para mantê-la em pé.

-Não acha arriscado... Eu digo, ela pode entrar em uma depressão profunda. – o cabeludo comentou se dando conta do quanto o irmão amadurecera.

-Posso estar indo para longe, mas nunca pararei de me preocupar com ela... – embora ela tenha encarado a mudança como o fim da linha, adicionou mentalmente. - Mas esse assunto é complicado, o que você queria falar comigo? – deu a última mordida na maçã e voltou a se levantar.

-Só vim dizer que estou me mudando para os Estados Unidos nesse final de semana. – Sasuke se engasgou com a própria saliva e olhou para o mais velho com descrença nos olhos. Como assim Itachi iria para tão longe do pai e da mãe?

-Está de brincadeira? Se estiver, não tem graça. – o outro riu sonoramente, fazendo-o arquear ainda mais a sobrancelha.

-Não estou brincando. O padrinho da Ayame, Yamato, fez uma proposta e eu aceitei. Sinceramente não aguento mais trabalhar para o nosso pai.

-Itachi, isso pode parecer insensível, mas é por pura felicidade por você que eu digo: some logo daqui. Sério, se você tomou uma atitude certa na vida, foi essa.

Ambos riram e continuaram um conversa agradável sobre mudança, despedidas e a família Uchiha até o mais novo precisar de verdade buscar o jantar da vizinha. Sasuke ficara realmente contente pelo irmão. Talvez devesse agradecer Ayame por aparecer na vida do mais velho. Pensou. Podia ser um adeus ao modo de vida com que estava acostumado, todavia não era um adeus às pessoas que amava e sim um até logo ou até um dia desses. Quem é importante para alguém não deixa de ser de um dia para o outro.

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Estava com febre e com o corpo todo dolorido. A doença havia a pegado com força total. Não conseguia nem mesmo ficar com olhos abertos de tão pesados que eles estavam. Só saíra da cama por alguns minutos durante todo o dia. Repousava ao lado de Jason e esperava Sasuke trazer comida. Acariciava o animal, que ronronava e estava quase pegando no sono.

-Acho que eu fui um pouco dura com o Sasuke... – falou ao animal. – Ele vai continuar cuidando de mim mesmo longe, não é? - o gato encarou-a e miou demoradamente. – Você está certo. Eu posso sempre contar com o Saki-chan. E ainda é possível desabafar por telefone...

Hinata suspirou e então conteve alguns espirros com a mão. Sua cabeça doía e chegava a latejar de vez em quando. Precisava de um remédio mais forte. Pensou. O vizinho havia sido verdadeiramente atencioso e ela não o agradecera. Havia sido egoísta e o culpado por abandoná-la em um momento tão difícil. Só que ele não podia viver em função dela, afinal ela não era o centro do universo. Sabia que se sentiria sozinha, mas não era certo descontar no amigo depois de todas as coisas que o moreno já fizera por ela.

-Eles não têm culpa de eu ser uma fracassada sozinha, não é mesmo, Jason? – fungou e assuou o nariz, já extremamente vermelho. As lágrimas haviam secado, porém a dor sufocante ainda estava a torturando. – Quando eu pensei que seria feliz... Obrigada universo! Se amanhã quiser me atropelar com um carro não se preocupe com o estrago! – resmungou para nada, arrumando nervosamente o travesseiro. Assim que ajeitou a cabeça, seu celular tocou, fazendo-a bufar.

Tentou ignorar a ligação, porém o som do toque quebrando o silêncio a irritou. Levantou-se rapidamente da cama e tudo rodou por alguns segundos. Cambaleou até o aparelho esquecido carregando e estranhou o número desconhecido. Ponderou cancelar a chamada, mas poderia ser algo importante, afinal ela não possuía o número nem da casa nem dos pais de Naruto. Uma minúscula chama de esperança se acendeu dentro dela, fazendo-a atender ao celular cheia de expectativa.

-Alô?

-Hina! – o grito da irmã jogou um balde na chama. – Finalmente consegui te ligar! Então, só queria te avisar que saí de casa e estou na Europa. Paris para ser mais exata! – Hanabi ria e parecia incrivelmente feliz. A Hyuuga mais velha tentou falar, mas a animação da outra a impediu. – Cansei do papai, sabe! Segui seu exemplo! – mais risadas – Desculpa por não me despedir, mas o velho ranzinza ia congelar minha conta, por isso precisei correr para comprar uma passagem e sacar o máximo de dinheiro possível!

-Legal, Hanabi... – murmurou entre os relatos eufóricos da familiar, quem parecia não estar disposta a ouvir, apenas a falar.

-Esse número é temporário... – um berro interrompeu a mais nova - Sua vadia, venha aqui agora! O Sr. Gostoso está na televisão! – a outra respondeu o berro – Seu transexual escandaloso, eu estou no telefone! Desculpa, Hina! Meu amigo é barulhento! – a azulada murmurou. – Então, você vai ficar bem? Eu não vou poder voltar por um tempo e... – mais berros desconhecidos. – Olha, preciso ir! Manda um beijo para o Naruto! Tchau, Hina! Te amo!

Antes que Hinata pudesse falar, a ligação foi interrompida. Ela ficou minutos encarando o celular, tentando entender o que tinha acontecido. Provavelmente a irmã ligaria em alguma outra hora para continuar contando todos os aspectos maravilhosos da vida em Paris. E a mais nova não economizou na distância, de modo que não poderia arrastar a mais velha para vários lugares, distraindo-a e a fazendo se divertir a força. Não poderia contar mais com isso, contudo ainda poderia ouvir as histórias malucas da irmã... Seria de alguma ajuda. O efeito de distração seria parecido, mentiu para si. A pequena suspirou e voltou para seu casulo de cobertores.