—Outra manhã entediante... -Pensou ele parando seu despertador.

Seus olhos pretos e inexpressivos estavam cheios de melancolia. Ele ignorou seu desejo de continuar na cama e levantou-se, mais um dia insuportável começara. Sem pressa, o jovem de cabelos negros dirigiu-se para o seu banheiro e começou a lavar seu rosto. Em seguida, ele mudou de roupa e pegou seu fiel saco de caramelos.

E enquanto degustava alguns caramelos ele andava para o ponto de ónibus. Apesar de Kurokawa classificar esse dia como "entediante", hoje era o dia em que suas aulas começaram. Mas isso se aplica apenas a Kurokawa, os outros responsáveis estudantes já frequentavam a escola há mais de dois meses. O jovem aqui citado estava extremamente próximo do limite de faltas e por isso não tinha escolha, tinha que ir para aquele lugar.

No ónibus lotado de pessoas, ele mantinha sua postura indiferente e pensava em coisas aleatórias. Após alguns minutos, ele havia chegado em sua paragem. O jovem desceu e avistou alguns gatos abandonados:

—Sempre quis adotar um animal... -Pensou ele por um segundo. -Mas ele provavelmente não vai viver muito tempo comigo, ás vezes eu esqueço de comer...eu tenho certeza que esqueceria de alimentar ele...

Kurokawa seguiu seu rumo até o portão de entrada da escola. Todos os estudantes trajavam o uniforme da escola com orgulho, apenas ele não fazia o mesmo. De certa forma ele se destacava na multidão, seus cabelos negros junto de um par de olhos inexpressivos tornavam-lhe uma pessoa única. Todos conversavam e sorriam com seus amigos, apenas ele estava isolado.

Mas ele não se importava com isso, para ele era indiferente. Após uma curta caminhada até sua sala, ele adentrou-a abrindo a porta e sentou-se no fundo da sala. Quando as pessoas perceberam sua presença, vários comentários maldosos surgiram:

—Olha quem é...o Sr. Depressivo, pensava que ele ficaria o resto do ano em casa...

—Só dele entrar na sala, eu já me sinto mais triste... -Riu um.

—Não é como se fizesse diferença, ele é apenas mais uma sombra na sala...

Kurokawa ignorava todos eles, responder era trabalhoso demais e não era como se a opinião deles fizesse diferença. A professora entrou na sala de surpresa e ao avistar Kurokawa, pediu para que ele se apresentasse para a sala. O que era um tanto desnecessário já que a grande maioria dos alunos havia estudado com ele no ano passado.

Kurokawa aproximou-se do quadro e falou brevemente:

—Bom dia turma, meu nome é Kurokawa Mito, é um praze conhecê-los! -Sorriu ele falsamente.

Seus olhos retomaram a sua inexpressividade habitual e seu falso sorriso desapareceu. Mas antes de voltar para o seu lugar, ele sorriu bizarramente e finalmente disse algo verdadeiro:

—Espero que o nosso nono ano nessa escola seja divertido...

Todos se surpreenderam, era a primeira vez que ele sorrira verdadeiramente. Mas essa surpresa dissipou-se ao longo do dia. Mal o intervalo havia começado e Kurokawa já havia iniciado sua caça habitual. Ele percorria a escola inteira em busca de presas para saciar seu tédio. Mas no fundo, ele sabia que aquilo era fútil. Nenhum delinquente ousaria permanecer numa escola onde um boato sombrio incita a presença do "Fantasma de Delinquentes".

De acordo com este boato, existe um ser nas redondezas dessa escola que ataca indiscriminadamente delinquentes. E independe de seus números ou forças, aqueles que foram atacados serão derrotados. Com centenas de hematomas para confirmar a presença dessa criatura, a escola havia se tornado um lugar inóspito para delinquentes. Mal eles sabiam que na verdade esse fantasma não passava de uma pessoa extremamente entediada.

Kurokawa apenas frequentava a escola para saborear lutar fervorosas contra os mais ousados delinquentes. "A sensação de trocar golpes apostando sua vida é incrível!", essa era sua frase favorita. Mas o com este boato se difundindo pelas redondezas, o número de perturbadores da paz diminuiu até chegar a zero. Kurokawa se viu no ápice de seu tédio:

—Talvez eu devesse me mudar de escola e começar tudo isso de novo... -Pensava ele.

Mas em toda a sua história de caçador de delinquentes, houve uma pessoa que se destacou, Sasesu Aika. Ele foi um dos poucos a lutar com Kurokawa mais de uma vez e o único a voltar todo dia na tentativa inútil de derrota-lo. Mas ele não era um delinquente, ele se afirmava uma pessoa que odiava lutas e tentava impedir todas elas. Mas Kurokawa sabia que isso não passava de um falso motivo, ele podia ver a chama que queimava nos olhos de Sasesu durante as batalhas.

Sua persistência impressionava até mesmo Kurokawa, mesmo achando tudo aquilo fútil, era admirável a quantidade de vezes que ele perdeu sem desistir. Mas isso não passa de um passado distante, Sasesu teve de mudar de escola já que seus pais perceberam que seu desempenho escolar havia sido afetado por essas lutas. E Kurokawa não se importou muito, era apenas menos um obstáculo em seu caminho.

E como ele mesmo diz "Lutar contra pessoas fracas não me entretêm nenhum pouco!" Com a saída de Sasesu e a diminuição de delinquentes, o dia de hoje chegou. Sem absolutamente nada para fazer, ele encostou-se na parede e resmungou:

—Entediante, fútil, sem sentido, inútil...eu poderia ficar um dia inteiro atribuindo adjetivos a vida. Eu me pergunto se realmente vale a pena viver apenas por viver...como eu queria algum propósito...alguma diversão...algum entretenimento...

Ele sorriu para sua própria tristeza e tentou tocar algo invisível:

—Se isso fosse um jogo...eu tenho certeza de que seria divertido...

Ele balançou sua mão para baixo e surpreendeu-se com o resultado. À alguns centímetros de seus olhos estava um painel com a seguinte a frase "Bem vindo ao mundo de Invisible Play, um jogo maravilho que poderá custar sua vida!!" Ele duvidou de seus olhos mas felizmente, aquela era a realidade...