Invisible Play - Game Over

Ingenuidade - Experiências Novas


Kurokawa abriu seus olhos e começou a observar seus arredores. Ele estava deitado dentro de uma pequena casa feita de madeira. Não havia eletrodomésticos nem sinal de eletricidade, apenas a cama no qual ele estava deitado, uma porta, uma janela e uma pequena cômoda. Luz preenchia aquele lugar através da janela indicando que era dia.

Ele levantou sua cabeça e olhou para seu corpo. A grande maioria de seus ferimentos haviam se curado e uma mulher trabalhava para tratar os restantes. Ele levantou-se interrompendo-a:

—Não gaste sua energia à toa, isso vai se curar sozinho.

Ela rapidamente afastou-se enquanto se apresentava:

—Bom dia, meu nome é Michaela e a partir de hoje eu estarei te ajudando em diversas coisas!

A mulher era mais alta que Kurokawa, aparentemente mais velha, tinha curtos cabelos cacheados e lindos olhos negros:

—Suponho que o Blut tenha te enviado... -Comentou Kurokawa se aproximando a janela. -Onde nós estamos?

—O senhor dormiu por quase 24 horas desde o conflito contra Blut, nesse período de tempo, foi transportado para cá, uma pequena casa nessa cidade. -Responde ela.

—Outro dia perdido... -Reclamou ele. -Tenho que parar de perder tempo assim...

Ele seguiu para a porta mas foi impedido:

—O senhor não deveria sair lá fora com essas roupas, eu preparei algumas para o senhor. -Disse Michaela.

Kurokawa viu que suas roupas estavam totalmente destruídos por conta da batalha contra Blut e teve que concordar. Ela entregou-lhe algumas:

—Vocês não tinham alguma coisa menos chamativa? -Perguntou Kurokawa expressando desgosto. -Essa coisa laranja me deixa parecendo um adolescente revoltado...

—Desculpe senhor, terei certeza de não cometer o mesmo erro na próxima vez. -Respondeu ela.

Kurokawa abriu a porta e começou a observar as outras casas:

—Blut realmente conseguiu criar um cidade bonita...

—Sim, senhor, isso se deve...

Ele rapidamente interrompeu-a com um grito:

—Pare!! Você é mais velha que eu, não é? Então me chame pelo meu nome...

Ela rapidamente pediu perdão:

—Me perdoe, eu não fazia ideia que o senh...você se importava com isso.

—E não seja tão formal. Caso contrário, uma pessoa estúpida como eu não vai entender. Bem, vamos ver como estão as coisas então!

Ele pisou para fora daquela casa e começou a vaguear pela cidade. Ela seguiu-o enquanto tirava alguns papéis de sua bolsa:

—Sim, Blut me deu alguns nomes e você precisa...

Kurokawa novamente impediu-a:

—Eu acabei de acordar e você já quer me colocar para trabalhar? Deixe eu aproveitar um pouco da cidade...

—Eu deveria ter assumido que o senhor ainda estava cansado, minhas sinceras desculpas!

Kurokawa cobriu seu rosto com uma mão enquanto ódio escorria por sua mente:

—Ah...fazer ela parar com toda essa formalidade vai ser difícil...

Ele resolveu ignorar aquilo por enquanto e mudar de assunto:

—Como exatamente essa cidade funciona? O Blut é uma espécie de prefeito aqui? Melhor ainda, como ele conseguiu aprovação do governo para construir isso?

—Parece que você cometeu um erro. -Respondeu ela. -Essa cidade sequer aparece nos mapas do mundo real. Essa é a primeira cidade do mundo de IP construída no mundo real.

—Construída no mundo real? O que você quer dizer?

—Pegando como exemplo Euler e Kepler, essas são cidades de IP que existem dentro de cidades reais. Pessoas normais andam pelas ruas enquanto em prédios invisíveis aos olhos normais os jogadores de IP vivem sua vida. Entende? -Perguntou ela. -Os jogadores de IP coexistem com as pessoas normais nessas cidades. Mas isso não acontece nessa cidade, aqui todos os moradores são jogadores.

Kurokawa lentamente adquiria mais informações enquanto eles caminhavam por aquela cidade:

—Entendo, mas eu vejo que existem pessoas realmente velhas aqui, é impressionante que elas tenham sobrevivido todo esse tempo no mundo de IP. -Comentou ele.

—Isso não é necessariamente verdade. Existem várias formas de se acabar preso nesse mundo. Você pode ser escolhido pelo próprio mundo, você pode ser uma pessoa normal que acabou se envolvendo com acontecimentos desse mundo e você pode viver rodeado de pessoas deste mundo. -Respondeu ela. -Essas são as formas que eu conheço e a maioria das pessoas idosas daqui estiveram envolvidas em incidentes relacionados ao mundo de IP.

Kurokawa coçou sua cabeça decepcionado:

—Que droga...Eu achava que seria capaz de encontrar algum tiozinho realmente forte...

—Entendo, então esse era o seu objetivo com todas essas perguntas. -Concluiu ela.

—Por qual outro motivo eu poderia me interessar por esse mundo? -Sorriu Kurokawa. -Agora deixando as brincadeiras de lado, o que Blut quer que eu faça?

Ela rapidamente pegou aqueles papéis novamente e respondeu:

—Blut quer que você mate algumas pessoas famosas, vença alguns torneios e outras coisas.

—Eu virei o assassino privado dele por acaso? -Perguntou Kurokawa revirando seus olhos.

—Não, você tem que ser o mais chamativo possível quando tentar eliminar essas pessoas.

—O que Blut tem em mente?

—Ele quer que você ganhe popularidade como o novo rei da Realeza. -Respondeu ela. -Você já deve saber, mas a Realeza serve como uma espécie de polícia. E para uma polícia ser eficiente, ela precisa ser temida e respeitada. Sua missão é basicamente conseguir esse respeito.

—Eu só preciso ganhar popularidade, certo? -Perguntou Kurokawa. -Eu vou apenas derrotar eles, eu gostaria de não matar ninguém se possível.

—Eu não acho que haja algum problema. Bem, começarei te apresentando seu primeiro alvo: Barns Scheme, ele é o proprietário de um bar que serve de fachada para uma loja de armas ilegal.

—Ele é forte? -Perguntou Kurokawa.

—Você não deve ter problemas lidando com ele. -Respondeu ela.

Kurokawa levantou suas sobrancelhas enquanto suspirava:

—Vamos então... -Disse ele decepcionado.

Michaela liderou Kurokawa até seu objetivo numa velocidade surpreendente para alguém que parecia tão fraca. Ele ignorou qualquer comentário vindo dela e simplesmente entrou no bar, terminar essa tarefa chata e começar a próxima era a única coisa em sua mente.

Vários homens estavam sentados naquele lugar que fedia a álcool. Todos eles carregavam grandes canecas cheias de cerveja em suas mãos e gritavam em euforia, pelo menos, eles pareciam estar se divertindo. Kurokawa destruiu uma das paredes do bar com um soco:

—Com licença. -Disse ele calmamente. -Eu gostaria de falar com Brans...Brens...o dono do bar!

Alguns gentis cavaleiros se aproximaram para cumprimentar Kurokawa. Quase duas vezes mais altos que ele, aqueles homens não puderam esconder sua fúria:

—Ei, pivete, quem você acha que é para entrar assim e sair destruindo as coisas no nosso bar? -Perguntou um daqueles trogloditas.

Kurokawa respirou fundo e fez algo do qual ele se arrependeria por muito tempo:

—Eu sou Kurokawa Mito, o rei da Realeza! -Gritou ele. -Lembrem-se desse nome!

Todos recuaram um passo, a Realeza era um grupo temido por todos nessas bandas. Enquanto eles consideravam a veracidade das palavras de Kurokawa, ele se contorcia em vergonha:

—Meu deus...aquilo foi tão vergonhoso...eu quero me matar...alguém por favor, me mate...

Ele mais do que ninguém odiava pessoas chamativas, e ter que agir daquela forma com certeza geraria arrependimento. Um homem alto e forte se aproximou para resolver a situação:

—Kurokawa, não é? -Sorriu ele coçando sua barba. -O que a Realeza quer com o meu pequeno bar?

—Eu estou atrás da loja de armas ilegais. -Respondeu Kurokawa indo rapidamente ao ponto.

Aquele velho homem sorriu quando percebeu as intenções de Kurokawa. Ele pegou uma caneca de álcool e se aproximou:

—Mas neste bar, nós temos uma regra, antes de conversarmos sobre qualquer coisa... -Disse aquele velho forçando aquela caneca de álcool na boca de Kurokawa. -Nós primeiro bebemos!

Ele recuou enquanto tentava tirar aquele gosto horrível de sua boca:

—Eu gostaria que você não fizesse isso de novo. -Reclamou ele. -Além de ser menor de idade, eu não sou uma pessoa que aprecia beber.

Aquele velho riu de novo:

—Vamos, não se preocupe com isso!

Ele recolheu seu braço e disparou um soco em Kurokawa que estava desprevenido. Kurokawa quebrou uma outra parede e foi jogado para fora do bar:

—Isso doeu um pouco, velho... -Reclamou ele levantando. -Você pode ter tentado me embebedar para vencer mas meu corpo é muito resistente ao álcool!

Kurokawa avançou na direção daquele homem e desferiu um soco extremamente poderoso. Seu cérebro demorou para entender que ele não tinha atingido nada. Ele olhou para a sua direita e viu aquele velho olhando em sua direção confuso:

—Você não acabou de dizer que álcool não faz efeito em você? -Riu ele.

Kurokawa escondeu seu rosto envergonhado:

—Cale a boca! Eu errei de propósito!

Ele avançou novamente e desferiu outro soco no ar. Aquele velho riu ainda mais:

—Eu estou aqui, pirralho.

—Cale a boca!!!! Eu sei o que eu estou fazendo!!!

—Foi divertido enquanto durou mas no final das contas, você é apenas uma criança. -Disse aquele homem mudando de expressão.

Ele disparou na direção de Kurokawa e desferiu um pesado soco em seu rosto. Kurokawa cambaleou enquanto tentava recuperar seu equilíbrio mas aquele homem não mostrou piedade. Ele avançou na direção de Kurokawa e arremessou-o ao ar com outro soco. Sem perder tempo, ele juntou suas mãos e afundou-o no chão com um golpe extremamente pesado. Kurokawa manteve-se imóvel no chão enquanto aquele homem gargalhava:

—Parece que a Realeza está bem fraca atualmente...

Kurokawa levantou-se extremamente irritado:

—Então você ainda tem energia para brincar, pirralho?

Ele concentrou uma absurda quantidade de energia em suas mãos enquanto tentava se manter em pé e gritou:

—Eu mandei você calar a boca!!!

O choque de suas mãos contra o solo nocauteou aquele velho instantaneamente enquanto criava uma gigantesca cratera. Todos os edifícios nas redondezas tremeraram e um rastro de destruição foi deixado para trás. Kurokawa tentou comemorar sua vitória mas acabou por tropeçar em si mesmo e voltar para o chão:

—Eu estou cansado disso tudo!!! -Gritou ele histericamente. -Michaela, me ajude a levantar!!

Ela se esgueirou das sombras e deu apoio para o braço de Kurokawa:

—Você está bem? -Perguntou ela preocupada.

—Eu não poderia estar melhor! -Respondeu ele. -O único problema é que tudo está girando...

—Então você não está bom...

O caminho de volta foi muito mais agitado devido ao estado mental de Kurokawa, mas Michaela conseguiu controlar a situação sem muitas dificuldades. Ela fez questão de colocá-lo em sua cama antes de ir embora. E enquanto saía pela porta daquela pequena casa, uma voz foi ouvida:

—Me traga umas roupas menos chamativas amanhã... -Pediu ele deitado em sua cama.

—Sim. -Respondeu ela prontamente.

—E uns caramelos...