Após alguns dias, Caim foi finalmente capaz de regressar a Euler. Ao aproximar-se dos portões principais, ele foi logo intercetado pelos guardas. Seus dedos tremeram perante a vontade de arrancar suas cabeças mas infelizmente ter Euler como inimigo apenas atrasaria seus planos. Ele manteve seu olhar frio e se apresentou:

—Eu sou um membro do esquadrão que foi enviado para destruir o armazém central de Kepler, após ter cumprido minha missão, eu regressei a casa.

Os guardas ficaram pensativos:

—Espera, aquele esquadrão de presos que foi enviado numa missão suicida? -Riu um dos guardas. -E você ainda diz que cumpriu sua missão?

Eles todos gargalharam por um bom tempo desacreditando em Caim. Até um homem mais culto aproximar-se e olhar os braços de Caim:

—As algemas teriam simplesmente explodido se ele tivesse tentado fugir, mas mesmo assim eu não acredito que ele tenha sido capaz de cumprir sua missão...

Caim olhou para seus braços:

—Ah, as algemas...eu tinha me esquecido completamente delas... -Pensou ele. -Pelo o que eu percebi, elas são capazes de explodir até mesmo sistema de fluxo de energia...não que isso fosse um problema para mim...

Os guardas conversaram e finalmente chegaram a um consenso:

—Você pode passar, eles decidem o que fazer com você lá dentro. -Disse um dos guardas. -Mas lembre-se, um movimento suspeito e você está morto.

Caim sorriu com a arrogância dos guardas que desconheciam sua força e levantou suas mãos:

—Eu não reagirei.

Os guardas calmamente escoltaram Caim pela cidade de Euler. Eles engrandeciam seus talentos, reclamavam de suas posses e humilhavam os soldados que voltavam feridos da guerra mesmo nunca tendo deixado o conforto da cidade. A arrogância e tolice daquelas palavras chegavam a ferir os ouvidos de Caim. Mas ele era apenas um ouvinte calado, não era sua responsabilidade castigá-los, o próprio destino o faria.

Euler permanecia impecável e resplandecente enquanto o mundo queimava em sofrimento. Caim não havia percebido antes que a cidade era tão desagradável assim, talvez, a forma como os habitantes dali viviam sem se preocupar com nada o irritasse. Quando finalmente alcançaram seu objetivo, ele já estava cansado de observar aquela excessiva felicidade não merecida.

Eles adentraram um grande escritório e foram cumprimentados pelo sozinho vazio de Aleck:

—Inacreditável, quem iria imaginar que você voltaria vivo? Você realmente superou minhas expectativas...Kurokawa...

—Caim.

Aleck simplesmente encarou-o com um olhar confuso:

—Meu nome é Caim. -Respondeu ele. -De qualquer forma, eu acho que tenho que te agradecer, se não fosse por você eu não estaria aqui neste momento.

—Eu não faço a mínima do que você quis dizer com isso, porém, se você quer me agradecer de alguma forma, você pode simplesmente trabalhar sob as minhas ordens durante algum tempo. O que acha?

Caim sorriu:

—Eu não sou uma pessoa tão benevolente assim. Bem, de qualquer forma, eu cumpri minha missão, eu estou livre, certo? Então adeus.

Aleck sorriu também:

—Adeus.

Caim caminhou calmamente para fora da sala:

—Tem certeza que podemos deixar ele simplesmente ir embora assim? -Perguntou Caleb. -Nesse ritmo, ele vai voltar para o lado de Blut e atrapalhar seus planos.

—Não se preocupe, eu tenho tudo sobre controle. -Respondeu Aleck demonstrando sua calma. -Caleb, mande alguém ir atrás dele imediatamente e informa-lo que daqui uma semana ele precisa estar de volta a Euler para receber uma missão. Diga também que ele não tem a opção de recusar pois está é uma ordem direta do conselho superior. Daqui a dois dias, envie alguém para vigia-lo 24 horas por dia, diga a esta pessoa para ser extremamente cautelosa e não entrar em contacto com ele em hipótese alguma.

Caleb não conseguiu evitar ficar confuso:

—O que você está tentando fazer? Mentindo sobre uma missão sob as ordens do conselho superior e depois mandando alguém para vigia-lo. Estamos falando do Kurokawa, a probabilidade de ele perceber essa pessoa e mata-la é gigantesca. Além do mais, como essa pessoa vai encontra-lo daqui a dois dias?

—As algemas, Kurokawa não tirou as algemas desde que completou sua missão por isso é improvável que ele as tire nos próximos dois dias. Mas eu não posso me assegurar de que ele nunca vai tirar as algemas por isso não podemos depender apenas disso. -Respondeu Aleck. E essa falsa missão é apenas uma forma de deixa-lo seguro. Com essa missão, ele terá a impressão de que não precisaremos de informações dele até a próxima semana. Ainda assim mandar alguém para segui-lo é arriscado. Mas ele não vai perceber. Kurokawa não deve lembrar-se das algemas, por isso ele acha que nós não sabemos onde ele está. Por isso ele será cauteloso quando deixar Euler, prestando atenção para caso alguém o siga. Porque ele acha que não temos meios de acha-lo depois que ele deixar Euler. Assim, quando afastar-se da cidade, ele vai abaixar sua guarda.

Caleb simplesmente sorriu envergonhado enquanto saía da sala para acatar suas ordens:

—Você é realmente uma pessoa genial...

Enquanto Aleck lentamente reunia as peças para seu plano, muito longe dali, Lizzy e Sasesu finalmente conseguiam permissão para participar das batalhas. Eles haviam solicitado essa permissão há algum tempo mas ela só havia sido aprovada recentemente. O trabalho que eles desempenharam na defesa do acampamento onde ficava a central de comunicação foi certamente algo que os ajudou muito.

Hoje seria o primeiro dia que eles avançariam junto do exército. A moral do exército estava em alta com a destruição do armazém central, as gigantescas vitórias do grupo de Blut e o lento avança das tropas ao redor de Kepler. A batalha parecia estar quase decidida já que o exército de Euler estava muito próximo das muralhas de Euler. Os pecados sequer haviam feito uma aparição ainda.

A primeira batalha de Lizzy e Sasesu foi no mínimo patética, mesmo sendo várias vezes mais fortes que os outros soldados, eles foram dominados pelo nervosismo e medo. Cometeram dezenas de erros, atrapalharam os outros soldados e talvez até teriam morrido se não fossem tão fortes. Mas eles estavam felizes na mesma. A sensação de tentar e fracassar miseravelmente era muito mais agradável do que apenas ficar sentado observando.

Eles demonstraram estarem evoluindo lentamente no segundo e terceiro dia. Enquanto eles acostumavam-se com o exército e conheciam novas pessoas, Caim procurava por Toki. Caim sabia que essa tarefa era praticamente impossível e ainda mais improvável devido ao prazo de uma semana que ele tinha para regressar a Euler.

Ele é o mais dedicado de todos os GMs e por isso está constantemente trabalhando para concertar os menores problemas que existam. Encontra-lo nesta linha do tempo, que está extremamente distorcida, é ainda mais difícil. Caim caminhou por todos os lugares onde haviam problemas que Toki pudesse concertar mas não obteve sucesso. Isso significava que ele estava ocupado com problemas mais sérios.

Com o seu prazo de tempo chegando ao fim, Caim teve que apelar ao seu último recurso que era criar um problema grande o suficiente para atrair a atenção de Toki:

—Eu sinceramente acho isso muito arriscado... -Pensava Caim. -Se ele não aparecer para me parar, eu vou acabar por destruir essa linha do tempo...

Caim respirou fundo:

—Que se foda...

Ele esticou seu braço e concentrou energia na ponta das suas mãos. Num movimento repentino, ele moveu sua mão na direção de seu coração com a intenção de perfura-lo. Uma mão impediu-o. Caim sorriu:

—Então você veio.

Toki imediatamente afundou o crânio de Caim no chão com um soco:

Você está louco por acaso?—Gritou ele histericamente. -Se eu não tivesse te parado...tudo...teria acabado aqui...

Caim lentamente levantou-se do chão enquanto regenerava sua cabeça que havia sido completamente destruída:

—Calma, lembre-se que esse corpo está muito mais fraco do que deveria, você pode acabar me matando com esses ataques. -Respondeu ele. -E de qualquer forma, você me impediu, não impediu? Então está tudo bem.

—Não, não está! -Gritou Toki. -Você teria literalmente destruído centenas de anos de trabalho e estilhaçado o sonho do mestre!

Toki sentou-se no chão:

—Eu nem sei por onde começar...essa linha do tempo está tão fora do lugar... -Suspirou ele. -Você tem sentimentos, duas personalidades, está muito mais fraco do que deveria, consegue abrir os portões sem autorização, perdeu suas memórias, está acontecendo uma guerra, tantas pessoas que deveriam estar mortas estão vivas...E OS PECADOS! O QUE NO MUNDO SÃOS PECADOS????

Caim sentou-se também:

—Eu também não entendo tudo o que está acontecendo, minhas memórias são bem vagas, eu sei que você é um GM, sei que eu sou alguém muito importante, sei que eu tinha que seguir algumas ordens mas eu esqueci delas e também sei como abrir os portões e que isso é errado por algum motivo. Mas o resto não faz sentido algum para mim, o que está acontecendo neste mundo?

—Vamos lá então...Eu tenho dever de controlar as linhas do tempo para que independente dos acontecimentos, elas sempre cheguem a mesma conclusão. Elas podem ter pequenas diferenças umas das outras mas mesmo assim eu prefiro evitar que isso aconteça por causa do efeito borboleta. -Explicou Toki. -Mas o efeito borboleta que aconteceu dessa vez foi algo absurdo demais. Enquanto eu cuidava de outras linhas do tempo, Metheos, fez várias modificações nesta linha do tempo. Mas as modificações foram tão impactantes que essa linha do tempo começou a exercer influência sobre as outras, nesse ritmo, todas as linhas do tempo terão o mesmo final que essa. E o pior de tudo, por algum motivo, eu não consigo alterar nada dessa linha do tempo. Meus poderes são praticamente inúteis.

Caim tentava fazer aquelas informações entrarem em sua cabeça:

—Dever de controlar as linhas do tempo? Mesma conclusão? Metheos? -Disse ele confuso. -Quem te deu esse dever? Qual é essa conclusão da qual você fala? Quem é Metheos?

Toki respirou fundo de novo:

—Você não sabe nem disso? Quanto de suas memórias foram alteradas? Parece que eu vou ter que te explicar desde o começo. Caim ou Kurokawa, tanto faz, até porque você inicialmente não tinha nome. As pessoas te chamariam do que fosse necessário. Você é um monstro criado por Carlos para ser o próximo...

Uma mão subitamente tapou a boca de Toki:

—Ei, ninguém gosta de spoilers. -Sorriu Metheos. -Desculpa incomodar, Caim, mas infelizmente você terá que esperar para saber o final dessa história...

Antes que Caim pudesse abrir sua boca para falar algo, aqueles dois simplesmente desapareceram. Caim respirou fundo e afundou seu punho no chão para descontar a raiva que sentia:

—MERDA!!!!!!