Alguns anos atrás, o reino de Far encontrava-se em grandes problemas. O Rei que era viúvo adoeceu repentinamente e seu filho de apenas 12 anos foi forçado a assumir o trono como regente. Mas os problemas não pararam por ai, a corte era composta por homens ambiciosos e invejosos.

Estes encontraram ouro na inocência do regente. Cada vez mais o pequeno regente era incentivado a aumentar os impostos sobre o povo, a aumentar o luxo da nobreza e do clero e a tornar-se cada vez mais cruel. Este pobre manipulado oprimiu o povo até o ponto onde algo inevitável aconteceu, uma revolta.

O povo cansou-se de abusos, levantou suas vozes e partiram para a batalha. Foi breve e sangrenta. Milhares de pessoas faleceram e em doze dias, o regente foi sentenciado à guilhotina. Ele não entendia, ele não podia entender. Tudo o que ele havia feito era para o bem do povo, ou pelo menos era isso que ele pensava.

–Porque? Porque tais desgraças abateram-se sobre mim? -Pensava ele moribundo caminhando para seu fim. -Mesmo eu sempre ponderando a felicidade do povo, porque estes me sentenciam à morte agora? O que eu, neste meu breve reinado, fiz mal?

Já perto da guilhotina, ele pode observar o ódio que vivia nos olhos de sua população. Ele aproximou-se o máximo que suas correntes permitiam e deixou-se levar pela dúvida:

–O que tanto repudiam? O que leva ódio aos vossos corações? -Gritou ele.

Suas palavras foram respondidas com enxurradas de gritos raivosos, alguns se lamentando de parentes perdidos pela fome, outros das dificuldades que passaram e poucos apenas gritaram porque os outros faziam-no. Em seus últimos momentos ele entendeu seus erros e desejou:

–Entendo...então que a minha morte satisfaça o vosso ódio...E que assim, ninguém mais tenha que morrer! -Respondeu ele.

Os executores forçaram-lhe a cabeça para a guilhotina e lentamente a lâmina foi erguida:

–Perdoem os meus erros... -Suspirou ele.

Ele fechou seus olhos e preparou-se para o pior mas seus ouvidos foram apenas contemplados com um grande silêncio. Após abrir novamente seus olhos, ele viu no céu um ser magnífico. Uma mulher envolta em vestes brancas, com pele clara como a lua e cabelos negros como a noite. Ela flutuava no céu lindamente.

Todos apenas puderam apenas concluir uma coisa:

–Uma mensageira de deus!

A agitação contagiou todos ali presentes mas o pequeno homem percebeu algo errado. A exuberante mulher do céu retirou de suas vestes uma grande lança branca:

–Ó pobres almas preenchidas pelo ódio e por outros sentimentos negativos, eu aqui coloco um fim no vosso legado. Que aqueles corrompidos, permaneçam nessa terra para todo o sempre!

O ser divino arremessou a lança contra a terra, ela caiu silenciosa e elegante. No momento em que sua ponta chocou-se contra o chão, uma luz espalhou-se pela terra. Cada pessoa tocada pela luz era reduzida a cinzas, num segundo toda uma cidade foi aniquilada. Não houve sequer uma construção que foi afetada:

–Que apenas os puros restem... -Sussurrou o ser antes de desaparecer completamente.

Ele piscou seus olhos numa tentativa de acordar da realidade. Ele era o único que se mantera vivo, todos haviam desaparecido. O único sentimento que percorria e perfurava seu corpo por dentro era a culpa:

–Se eu não tivesse feito essas pessoas sofrerem tanto...elas não teriam sido corrompidas pelo ódio...

Seu grito de dor ecoou por todas aquelas planícies vazias. Pelo fato de Far ser um reino que situava-se distante de outros, demorou alguns anos até os outros reinos obterem conhecimento de sua aniquilação. Esse acontecimento foi marcado como uma gigantesca peste que matou todo o reino. Mas ele sabia que está não era a verdade.

Alguns anos se passavam e agora o regente de Far não passava de um simples aventureiro. Em suas jornadas ele aprendeu diversas coisas, inclusive sobre as bestas divinas (NA: Ver capítulo 7) e ele podia apostar com todas as suas forças que aquela mulher era uma. Em algum momento da sua busca por respostas, a culpa corrompeu-o e ele passou a pensar apenas em um modo de se redimir.

Em sua jornada ele encontrou-se com diversos inimigos e foi fortalecendo-se. Até o momento em que ele encontrou um arrogante e narcisista aventureiro. Pela primeira vez ele se relacionou com alguém por um bom tempo. Enquanto estava com esta pessoa, ele podia esquecer de todos os seus traumas e seguir em frente.

Mas seu mundo desabou pela segunda vez quando esta pessoa morreu, mas não era uma morte natural. Esta pessoa foi brutalmente torturada antes de sua morte e depois foi exibida como um exemplo para o povo. Seu ódio era grande demais, ele pegou suas armas e correu para vingar a morte de Narzo.

Ele levou algumas horas mas finalmente atingiu seus objetivos. Lá, ele observou de longe alguns jovens sentados na porta da arena:

–Saiam da frente! -Gritou ele. -Eu preciso entrar!

Sasesu levantou-se e respondeu:

–Desculpe mas isso não é possível...tem pessoas usando a arena agora...

Ele rapidamente empurrou Sasesu para o lado e foi logo abrindo o portão. De um segundo para o outro, ele sentiu algo afiado tocar suas costas:

–Você é surdo por acaso? -Disse Sasesu com seu machada apontado para ele. -Eu te disse que você não vai entrar!

Ele sorriu:

–Vocês não deveriam estar se metendo nesses assuntos...