Os dois permaneceram calados durante uma grande parte do percurso, até Lizzy não conseguir mais conter sua curiosidade:

—Você é realmente nível 1? -Perguntou ela suspeitando de Kurokawa.

—Sim, porque? -Respondeu ele.

—É simplesmente inacreditável o que acabou de acontecer... -Comentou ela. -Você derrotou sozinho vários jogadores que eram muito mais fortes que você...Qual é a sua raça?

Kurokawa pensou por alguns segundos:

—Barbecue! -Respondeu ele com convicção.

Ela apenas riu:

—Você quis dizer Berserker?

—Sim...essa coisa...

—Isso até explicaria sua força absurda e o fato de você não ter usado nenhum feitiço...

Kurokawa subitamente interrompeu-a:

—Não vamos falar sobre isso...Sinceramente, eu não poderia me importar menos com estatísticas, raças, feitiços e coisas do gênero. Eu vou simplesmente ignorar tudo isso e aproveitar o máximo de cada luta...

Ela franziu sua testa:

—Você é descuidado demais...Isso vai acabar com a sua vida...

Kurokawa bocejou:

—Não me importo...Tudo que eu quero agora é voltar para casa e dormir...

Mesmo não gostando de admitir, Lizzy sabia que ele era alguém com um potencial absurdo:

—Ele no nível 1 é tão forte quanto eu após treinar por 3 meses? -Pensou ela assustada. -Esse cara é perigoso...

Eles seguiram o resto da viagem até a casa de Kurokawa sem trocarem muitas palavras. Ele abriu a porta e foi entrando:

—Obrigado pela ajuda mesmo que eu não precisasse... -Agredeceu ele. -Agora que eu penso nisso, você tem um lugar para ir?

Ela deu um passo para trás e virou seu rosto:

—C-c-claro que tenho!

Kurokawa simplesmente fechou a porta:

—Tchau então.

Ela rapidamente arrependeu-se de suas ações:

—Eu estava brincando! -Reclamou Lizzy batendo na porta. -Eu não quero voltar para casa agora...

Kurokawa abriu a porta novamente:

—Eu não entendo muito bem a situação e não me parece que vou quer explica-la...Mas eu não me importo se você ficar aqui por um tempo...

Ela deixou lágrimas de alegria escorrerem:

—Muito obrigado!

Kurokawa respondeu "de nada" enquanto tentava sorrir:

—O que você está fazendo? -Perguntou Lizzy incomodada.

—Tentando sorrir. -Respondeu ele.

—Pare, por favor...é perturbador...

Ele olhou-a com decepção em seus olhos:

—É assim que você me trata mesmo depois de eu te dar um lugar para morar? -Brincou ele. -Qual é o seu nome, menininha ingrata?

—Lizzy Alberc, e o seu, senhor pervertido? -Sorriu ela.

—Kurokawa Mito. -Respondeu ele corando. -E eu estar pelado antes foi apenas um erro!

Ela sorriu e entrou naquela casa:

—Está razoavelmente arrumada mas você com certeza encontrará uma ou duas coisas fora do lugar... -Comentou Kurokawa se dirigindo para a cozinha.

Lizzy observou os arredores enquanto esperava Kuroakwa voltar:

—Para um homem isso está bem arrumado. Tenho certeza que não foi você que arrumou..

Kurokawa voltou da cozinha com um saco de caramelos:

—Apesar da minha aparência desleixada, eu costumo cuidar bem dessa casa já que minha mãe e pai estão viajando. -Respondeu ele.

—Eles não se importam de eu estar aqui? -Perguntou Lizzy

—O que o coração não vê...os olhos não sentem! -Sorriu Kurokawa tentando citar um provérbio popular.

—O que os olhos não vêm o coração não sente. -Corrigiu ela.

—Cale a boca! -Gritou Kurokawa subindo as escadas. -De qualquer forma, eu vou dormir...estou bem cansado...

Lizzy sentou-se no sofá e começou a explorar os canais na televisão quando escutou um gemido vindo do primeiro andar. Ela corou instantaneamente:

—Ele não pode estar fazendo aquilo... -Pensou ela se levantando.

Seus pensamentos impuros se dissiparam quando ela lembrou-se do ferimento que ele havia sofrido. Lizzy rapidamente subiu as escadas e abriu a porta daquele quarto. Ela viu Kurokawa contorcendo-se de dor numa cama manchada de sangue:

—Eu sabia que aquele machucado era sério... -Disse ela se aproximando.

Ela desenrolou o braço de Kurokawa dos lençois e viu o ferimento:

—Isso é nojento... -Afirmou ela cobrindo sua boca. -Precisamos te levar para o hospital!

Ele imediatamente recusou:

—Não precisa...é só um arranhão...

Ela enervou-se:

—Quão imprudente você consegue ser? Só um arranhão? Se isso infeccionar você está morto!

Ele manteve sua opinião:

—Não podemos envolver pessoas normais nisso e poderíamos muito bem ser atacados no caminho do hospital.

Ela abriu a porta enquanto saía do quarto:

—Você é teimoso demais...do que adianta evitar morrer lá fora para morrer aqui dentro?

Lizzy desceu para a cozinha pegando tudo o que achava que podia ser necessário. Ela subiu rapidamente as escadas e aproximou-se de Kurokawa:

—Ei, o que você está fazendo? -Perguntou ele confuso. -Você planeja amputar meu braço?

Ela deu um tapa em sua cara e sinalizou com seu dedo:

—Fique quieto! Estou tentando me concentrar!

Ela pegou uma embalagem de vinagre e despejou na ferida, Kurokawa imediatamente começou a contorcer-se em dor:

—Isso é o mais próximo de álcool que eu achei... -Comentou ela.

Kurokawa tentou esconder sua dor mostrando algum senso de humor:

—Você está planejando fazer uma salada no meu braço?

Lizzy simplesmente ignorou enquanto cortava um pedaço do lençol da cama e tentava estancar o sangramento. Kurokawa olhou-a com uma certa dúvida:

—Você sabe o que está fazendo?

Ela sorriu desajeitada:

—Não...

Ele simplesmente balançou sua cabeça:

—Você é alguém que me trará muitos problemas...

Ela sorriu:

—Eu posso dizer o mesmo...

Lizzy saiu do quarto e deixou-o descansar. A dor finalmente havia diminuído e agora ele podia dormir. Enquanto sua consciência se esvaía, sua mente ficava cada vez mais confusa:

—Eu realmente não consigo lidar com mulheres...sinto que ela tem controle total sobre mim