Kurokawa abriu seus olhos lentamente enquanto tentava se lembrar do que aconteceu:

—Eu estava voltando para casa...e acabei encontrando aquele estranho...Toki...

Ele tentou levantar-se apenas para perceber que a maioria de seus ossos estavam quebrados:

—Quando eu ver aquele maldito de novo...eu vou ter certeza de matá-lo...

Ele lentamente procurou em seu bolso por seus caramelos apenas para confrontar mais uma injustiça do destino:

—Todos os caramelos foram destruídos...só sobraram três...

Sua vontade de comer caramelos superou sua dor absurda e seu corpo levantou-se. Ele fez o caminho até sua casa apenas com a determinação de preencher seu estomago com sua guloseima preferida. Sua regeneração extremamente rápida com certeza havia salvado sua vida, mas ele sabia as consequências que aquilo trazia para o seu corpo.

Aquele era um poder que esgotava toda a sua energia rapidamente, amanhã ele teria muitas dificuldades para conseguir se mover. Kurokawa chegou em casa muito mais tarde do que imaginava, o sol que já havia ido embora há tempos apenas confirmava isso. Ele abriu a porta e foi confrontado com olhares preocupados:

—Você demorou, onde estava? -Perguntou Sasesu sentado no sofá ao lado de Lizzy.

—Você está bem? Você parece bem machucado... -Disse Lizzy.

Ele apenas arrastou seu corpo até a cozinha:

—Eu...estou...ótimo...só preciso de...caramelos...

Kurokawa abriu um armário da cozinha com suas últimas forças, pegou um saco de caramelos e rasgou-o com muitas dificuldades. Ele pegou um caramelo e levou-o lentamente a sua boca. Ele já podia morrer em paz:

—Tão bom... -Sorriu ele perdendo a consciência e deixando seu corpo cair no chão.

Lizzy e Sasesu rapidamente correram para a cozinha para verificar sua situação:

—Ei, ei, você está bem? -Perguntou Sasesu cutucando-o.

—Ele provavelmente fez alguma coisa perigosa de novo... -Comentou Lizzy.

Sasesu colocou-o em suas costas e levou-o até o seu quarto:

—Você sempre é assim... -Sorriu ele.

Kurokawa permaneceu o resto da noite imóvel e só acordou quando o sol da manhã preencheu seu quarto. Cansado do dia anterior, ele dirigiu seu corpo para o banheiro, lavou seu rosto e seguiu para a cozinha. Uma fome absurda assombrava seu corpo que não comia nada senão caramelos há dezenas de horas. Lizzy escutou algum barulhos na cozinha e desceu para conferir.

Lá ela encontrou um ser quase morto tentando preparar miojo. Ela não soube como reagir e apenas gargalhou:

—Você quer que eu faça alguma coisa para você comer? -Sorriu ela.

Ele respondeu sem hesitar:

—Sim!

Ela pegou o que precisava no armário e começou a preparar o almoço, Kurokawa esperava impacientemente na mesa enquanto comia caramelos:

—Há quanto nos conhecemos? -Perguntou Lizzy.

—Não sei...uns 9 meses acho eu... -Respondeu Kurokawa.

—Parece que já se passaram anos... -Comentou ela sobre aquela nostalgia. -Já passamos por tantas coisas juntos...

—Para falar a verdade, a única coisa que não passamos juntos foi o tutorial, eu ainda lembro daqueles espantalhos... -Respondeu Kurokawa. -Foi tudo tão divertido...

Lizzy perguntou confusa:

—Tutorial?

—Sim, aquilo que aparece quando você entra pela primeira vez no mundo de Invisible Play?

—Isso não aconteceu comigo... -Respondeu Lizzy. -Desde o começo eu já sabia como tudo funcionava porque meus pais me ensinaram...

—Basicamente você era teletransportado para um lugar onde o tempo passava mais de devagar, lá você encontrava espantalhos que iam ficando gradualmente mais fortes. -Explicou Kurokawa. -Eu lembro que o nível 200 era bem forte.

Lizzy abriu seu menu rapidamente para conferir algo:

—Eu ainda tenho essa opção de tutorial até hoje... -Sorriu ela. -Talvez eu devesse tentar apenas para me divertir.

Kurokawa estava feliz em poder conversar com ela normalmente mas seu estomago reclamava:

—Muito divertido... -Perguntou ele aumentando sua intenção assassina. -Mas você poderia se apressar?

Ela simplesmente riu enquanto citava um provérbio:

—A pressa é inimiga da perfeição!

—Eu comeria tijolos com sal se pudesse! -Indagou Kurokawa. -Não se preocupe com perfeição!

Sasesu entrou na cozinha bocejando:

—Estou sentindo um cheiro bom...

—Vai ficar pronto daqui a pouco! -Sorriu Lizzy.

—Eu como primeiro! -Exclamou Kurokawa marcando território.

—Isso não é uma disputa... -Disse Sasesu sentando-se na mesa. -Nós deveríamos fazer uma festa ou alguma do gênero antes das aulas começarem...Eu ainda não estou mentalmente preparado para aquele inferno...

Kurokawa sentiu-se enjoado:

—Não me lembre que eu vou ter que fazer o nono ano de novo...

—Podíamos comemorar o aniversário de alguém. -Sugeriu Lizzy. -Quando é o seu, Sasesu?

—O meu é em Maio. -Respondeu Sasesu. -Ainda vai demorar...

—E o seu Kurokawa? -Perguntou ela.

—O meu? -Pensou ele. -Não sei...

—Como você não sabe a data do seu aniversário? -Perguntou Sasesu com um olhar desconfiado.

—Eu nunca realmente comemoro meu aniversário já que...

—Já que? Poderia continuar? -Disse Sasesu curioso.

—Já que eu não tinha amigos antes... -Sussurrou Kurokawa.

Sasesu desatou a rir:

—Eu tinha esquecido que você era o senhor depressivo.

—Cale a boca! -Exclamou Kurokawa virando seu rosto. -Eu simplesmente achava que era uma perda de tempo me relacionar com outras pessoas...

Sasesu continuou humilhando Kurokawa:

—Então você planejava morrer virgem?

Os olhos de Kurokawa encheram-se de ódio e ele levantou-se:

—Eu vou te matar.

Lizzy rapidamente aproximou-se para separa-los:

—Vocês poderiam não brigar por coisas tão estúpidas? -Falou ela com uma voz decepcionada. -Não me atrapalhem a cozinhar...

Kurokawa subiu as escadas e entrou naquele quarto onde ninguém podia entrar em sua casa (NA: Citado pouquíssimas vezes, esse é o quarto da mãe de Kurokawa). Na parede do quarto estava escrito uma data que ele se lembrava de ter escrito quando era pequeno:

—Parece que eu me preocupava com o meu aniversário quando era pequeno...

Ele desceu as escadas e seguiu para a cozinha:

—Meu aniversário é amanhã...

—Certo então, vamos festejar! -Gritou Sasesu animado.

Lizzy colocou a comida na mesa:

—Podem se servir!

Kurokawa rapidamente encheu seu prato de comida. Lágrimas escorreram de seus olhos enquanto ele comia:

—Fazia tanto tempo que eu não comia alguma coisa tão boa assim...

Sasesu serviu-se também:

—Está realmente bom...

Lizzy sorriu:

—Eu tenho os meus dotes!

Eles apenas aproveitaram o resto do dia como eles já não faziam em um bom tempo. Estarem juntos depois de tantas coisas era realmente aconchegante. Eles acordaram cedo no outro dia para fazer os preparativos para a festa de Kurokawa. Lizzy saiu para comprar um bolo enquanto Sasesu teve que pensar em alguma coisa salgada para comer.

Lizzy enfeitou a cozinha com várias decorações agradáveis e esperou por Sasesu. Eles juntaram-se a volta da mesa para descobrir o que Sasesu havia comprado para aquela noite especial:

—Para uma noite como essas...nada melhor que... -Disse ele fazendo mistério.

—PIZZA!!!

Lizzy não conseguiu conter o seu riso:

—E eu achando que você traria alguma coisa sofisticada... -Comentou ela pegando um pedaço da pizza. -Mas pizza é sempre uma boa opção!

Kurokawa tirou um pedaço rapidamente:

—Essa espera toda me deu fome...

Sasesu sentou-se também e começou a comer. As pizzas sumiram na presença daquelas criaturas esfomeadas. Kurokawa ainda com fome perguntou:

—E o bolo?

—Sim, onde está o bolo? -Perguntou Sasesu.

Lizzy sorriu:

—Eu queria saber como vocês são magros...

Ela abriu a geladeira e colocou um bolo extremamente comum em cima da mesa:

—Mas antes vamos aos presentes! -Sorriu ela tirando alguma coisa de seu bolso.

Ela entregou a Kurokawa uma pequena carta:

—Isso é algo que me pai mandou te dar há um bom tempo atrás. Mas eu não tinha achado o momento certo até agora...

Sasesu começou a entrar em pânico:

—Merda...eu não tenho nenhum presente...

Ele olhou os seus arredores e teve uma ideia:

—Sua vez, Sasesu. -Sorriu Lizzy maliciosamente. -Ou você se esqueceu de trazer um presente para o Kurokawa? Não...um grade amigo como o Sasesu nunca faria isso...não é mesmo?

Sasesu aproximou-se e mostrou sua língua para Lizzy:

—Boa tentativa...mas eu tenho um presente para o meu precioso amigo! -Sorriu ele. -Como seu melhor amigo, eu claramente sei o que ele gostaria de receber!

—Ninguém disse que você é o meu melhor amigo... -Murmurou Kurokawa.

—Cale a boca! -Sasesu tirou um pacote de caramelos e entregou-o a Kurokawa. -Aqui está um presente que você realmente apreciará!

Kurokawa surpreendeu-se:

—Sasesu...nunca imaginei que você fosse saber o que eu queria! -Disse ele derramando uma lágrima. -E ainda é da minha marca favorita...exatamente...como aqueles que eu tenho aqui em casa...

Kurokawa dirigiu-se para o armário para conferir seu estoque de caramelos. Ele olhou com decepção para Sasesu:

—Você simplesmente roubou um daqui e me deu, não é mesmo?

Sasesu desesperou-se:

—NINGUÉM ME AVISOU QUE EU TINHA QUE TRAZER UM PRESENTE!!!!

—Eu sabia que eu não deveria esperar nada de você... -Disse Kurokawa olhando-o com desprezo. -Meu melhor amigo...

Sasesu apenas começou a comer o bolo sozinho:

—Eu não preciso de vocês! Eu tenho esse bolo! -Disse ele fugindo da realidade.

—Ei! Não vá comendo tudo sozinho! -Falou Kurokawa pegando um prato.

Lizzy apenas sorriu esperando sua vez de entrar para a confusão. Kurokawa comeu bolo demais e desmaiou na cozinha enquanto Sasesu e Lizzy aproveitaram o resto da noite juntos:

—Eu ainda não acredito que aquele idiota conseguiu derrotar inimigos extremamente poderosos mas foi derrotado por um bolo... -Suspirou Sasesu abraçando Lizzy.

Lizzy levantou-se enquanto dava risada:

—Isso está realmente bom...mas eu tenho algumas coisas para fazer...

—Onde você vai? -Perguntou Sasesu curioso.

—Eu tenho que fazer algumas coisas, a partir de amanhã eu vou começar a treinar. -Sorriu ela falsamente. -Eu preciso ficar forte...senão eu vou me tornar um peso para vocês...

Sasesu não conseguiu impedi-la, era cruel demais fazer isso. Ele apenas escondeu suas emoções e sorriu:

—Eu acredito que você consegue!

Ela saiu da casa de Kurokawa e seguiu para uma casa onde ela passou grande parte de sua vida, a casa de seus pais. Ela entrou naquele lugar abandonada e muitas lembranças cortaram seu corpo. Ela concentrou sua mente e não deixou nenhuma lágrima cair. Ela abriu uma gaveta no armário e pegou um livro. Aquele era o legado de seu pai, o livro onde ele guardava todas as suas técnicas na esperança de passa-las para sua filha.

Mas infelizmente ele não teve a chance de entregar isso para ela diretamente. Mas de uma forma ou outra, esses ensinamentos chegaram nela. Ela pegou aquele livro e dirigiu-se para a saída. Atrás de sua casa, ela aproximou-se de duas pequenas sepulturas. Ela não conseguiu deixar aquele lugar sem tirar aquele peso de seu coração:

—Pai, eu vou ser forte de agora em diante...Eu vou ser alguém de quem você pode se orgulhar! -Lágrimas começaram a escorrer em seu rosto. -Então por favor...só hoje...me deixe ser fraca...me deixe chorar...só por hoje...

Ela ajoelhou-se no chão e gritou com todas as suas forças. Ela gritou o quão difícil era viver sem eles. O quanto doía não estar presente em seus últimos momentos. O quanto ela tentava não pensar em quem tinha cometido aquilo porque sabia que eles não queriam sua filha vivendo por vingança. Ela gritou até perder o seu fôlego.

Então, ela levantou-se, limpou suas lágrimas e voltou para a casa de Kurokawa. Ela limpou sua mente de todos os seus medos, frustações e raiva enquanto se preparava para o próximo dia. Ela dormiu e aproveitou aqueles bons momentos. Kurokawa acordou cedo no outro dia ainda atordoado do dia anterior e dirigiu-se para a cozinha:

—Sasesu...bom dia... -Disse ele bocejando. -Onde está Lizzy?

—Ela teve que resolver algumas coisas e por isso vai ficar fora por algumas semanas. -Respondeu Sasesu se demonstrando abatido.

—Então você já está com saudades dela? -Sorriu Kurokawa

—Com certeza... -Respondeu Sasesu. -É ela que faz as comidas aqui em casa!

Kurokawa riu:

—Você teria alguns ossos quebrados se ela tivesse ouvido isso...Mas eu também vou sentir a falta dela...

Sasesu terminou de beber seu café e seguiu para a porta:

—Já que Lizzy está fazendo o seu melhor, eu vou voltar a treinar com aquela velha!

Kurokawa sentou naquela mesa sozinho e pegou um saco de caramelos no armário. Ele olhou para o copo vazio de café de Sasesu e se questionou:

—Como um ser humano consegue gostar de café?

Ele terminou de comer seu saco de caramelos e saiu de sua casa também:

—Bem...parece que eu também tenho que fazer alguma coisa com a minha vida...

Ele correu até a cidade de Blut, ele dessa vez resolveu evitar esforços desnecessários e seguiu pelo portão principal. Os guardas surpreendentemente deixaram-no entrar sem perguntar nada. Ele caminhou pela cidade enquanto observava os moradores:

—Blut realmente conseguiu criar uma cidade admirável...

—Eu sei, me deu algum trabalho mas eu me orgulho disso! -Sussurrou aquela figura em seu ouvido.

—Você sempre consegue ser mais estranho...Blut...

Ele sorriu:

—Obrigado pelo elogio. Mas eu poderia saber o que te trás a minha cidade?

—Eu gostaria de aceitar a sua proposta de fazer parte da Realeza. -Respondeu Kurokawa.

Blut sorriu:

—Ótima escolha!