Invisible Play - Game Over
Amnésia - A Dama Ruiva
Novamente ele permaneceu parado, seu estomago roncava e era-lhe difícil continuar caminhando. Por sorte sua, era possível observar a cidade não muito longe dali. Com suas últimas forças ele conseguiu adentra-la, era a primeira vez que ele podia ver tantas pessoas num lugar só.
Ele estava desorientado em meio a multidão, até que algo brilhou num beco escuro. Empurrando as pessoas em seu caminho, ele correu até aquela luz. Era exatamente o que ele procurava. Surpreso e feliz, ele sorriu ao encontrar a dama ruiva.
Mas sua felicidade durou alguns poucos momentos, ele percebeu que ela estava acompanhada. Cercada de vários homens com aparências intimidadoras:
—Então você é a tal Rainha Vermelha? -Perguntou um dos homens passando a mão em seus longos cabelos.
—Ouvimos dizer que você é extremamente forte! -Exclamou outro. -Mas parece que eram apenas histórias!
Marwolaeth havia se mantido indiferente até agora mas esta sequência de provocações conseguiu irrita-la, ela se preparou para retirar seu machado quando percebeu que apenas suas mãos seriam necessárias para acabar com aqueles pobres coitados.
No momento em que iria dar um fim a isso, ela ouviu uma voz ecoando da saída do beco:
—Ei, vocês! Quatro homens importunando uma frágil mulher? -Perguntou Kurokawa aproximando-se. -Não sentem vergonha?
A palavra “Frágil” ecoou repetidamente como um insulto na cabeça de Marwolaeth:
—Desgraçado, está tentando me humilhar? -Perguntou ela dirigindo sua intenção assassina para Kurokawa. -Não pense que só porque ganhou uma vez pode sair por ai me chamando de “frágil”!
Kurokawa encostou-se em Marwolaeth e sussurrou:
—Colabore! Estou tentando te salvar!
Ela não conseguiu conter sua gargalhada:
—Me salvar? Desse bando de lixos? -Riu ela. -Seria melhor tentar salvar eles!
Os homens que apenas podiam observar a situação haviam se irritados:
—Bando de lixos? -Gritou um deles. -Eu vou te matar!
Ele desferiu seu soco com toda sua confiança e arrogância. Marwolaeth segurou seu braço esquerdo e sorriu da forma mais horripilante possível:
—Espero que você seja destro!
Num segundo seu braço esquerdo foi separado do resto de seu corpo e rapidamente uma gigantesca poça de sangue se formou. Marwolaeth apenas jogou aquele braço no chão e limpou o sangue que estava em seu rosto. Nesse momento o motivo do nome “Marwolaeht, A Rainha Vermelha” foi esclarecido.
Os outros homens não se atreveram a acabar como seu amigo e apenas fugiram levando-o com eles. Marwolaeth chegou seu rosto bem próximo de Kurokawa, que escondia seu medo, e disse:
—Que tal jogarmos o round dois agora?
Kurokawa deu um passo para trás e respondeu:
—Eu estou meio ocupado...sabe...
—Então cancele todos os seus compromissos! -Ordenou ela. -Nossa luta tem prioridade máxima!
—Vamos fazer assim, você ganhou!
Ela socou a parede do beco com uma força absurda, uma grande cratera formou-se e tudo a sua volta estremeceu:
—Não brinque comigo! -Gritou ela.
A ruiva abriu seu menu de IP e fez algumas coisas modificações, após confirmar, tudo a sua volta sofreu algumas alterações:
—Legal, não? Com essa nova alteração, nós podemos lutar em qualquer lugar, a qualquer hora e mesmo assim o mundo real não vai ser afetado!
Kurokawa deu outro passo para trás enquanto ainda se intimidava com a cratera na parede:
—Sim...bem legal...
Ela rapidamente sacou seu machado e entrou em posição de batalha:
—Não vai sacar sua espada?
Kurokawa novamente deu um passo para trás:
—Então...era isso que eu queria te dizer...
—Acha que pode me derrotar com as mãos nuas? -Questionou ela. -Sua arrogância será seu erro!
Marwolaeth avançou rapidamente na direção dele e atravessou-o com seu machado mas aquele líquido vermelho não escorreu. Isso se devia ao fato de ela ter realmente “atravessado” ele, seu machado passou por seu corpo e saiu ser causar nenhum dano. Um aviso surgiu na sua frente e ela surpreendeu-se:
—Por favor pare de inutilmente tentar acertar um objeto que não pertence a este mundo! -Relatava o aviso.
—”Não pertence a este mundo!”? -Perguntou ela confusa. -Como assim?
—Então...era isso que eu queria explicar...eu meio que não gosto de lutar -Murmurrou Kurokawa.
Os dois se dirigiram para um restaurante próximo, onde comeram e ele explicou o que havia acontecido:
—Então você perdeu a memória... -Disse ela. -Então como você se lembra de mim?
Kurokawa fez pausa em sua refeição e respondeu:
—Tecnicamente, eu não lembro de nada de você, eu só lembrava de seu nome e aparência. -Disse ele voltando a saciar sua fome.
—Mas você esqueceu tudo mesmo? -Perguntou ela mostrando-se um pouco ansiosa. -Até mesmo de Invisible Play?
—Invisible Play? -Perguntou ele confuso. -O que é isso?
Ela apenas respondeu “nada” e deixou-o comer em paz. Após terminarem de comer, Marwolaeth levantou-se e preparou-se para ir embora:
—Sabe...eu meio que...podia...dormir na sua casa? -Interrompeu Kurokawa.
—An? Porque?
—Porque eu não lembro onde eu moro...nem sequer sei se tenho uma casa... -Murmurrou ele envergonhado.
—Não estou com vontade nenhuma de te sustentar...mas acho que me sentiria culpada se você morresse de frio na rua. -Respondeu ela. -Me siga, mas minha casa, minhas regras!
Ele sorriu e respondeu:
—Juro que não vou incomodar!
Ambos começaram a caminhar em direção a moradia de Marwoleath e nesse momento o silêncio se pronunciou:
—Então quer dizer que antes ele não pode ver o meu machado...nem mesmo eu arrancando a mão daquele cara.. -Pensava ela.
Depois de pensar um pouco, ele decidiu puxar assunto:
—Então...nós éramos o quê? -Interferiu ele.
—Nós? Nada, só nos vimos uma vez. -Respondeu ela friamente.
—Sério? Então porque antes você estava falando comigo como se me conhecesse?
—Pare de me encher, você é entediante! -Mandou ela.
—Desculpe...
Marwoleath parou subitamente de caminhar e levantou Kurokawa por seu colarinho:
—Desculpe? -Gritou ela. -Você está de brincadeira comigo? Você? Pedindo desculpas, assim, tão humildemente? Você é realmente o Kurokawa?
Ele abaixou sua cabeça e deixou seus cabelos encobrirem seu rosto:
—Eu não sei...Eu não sei!! -Gritou ele. -Eu não sei quem eu sou! Muito menos o que eu era antes!
Marwoleath sentiu-se um pouco culpada por provocá-lo dessa maneira e por isso apenas soltou-o e continuou andando. O resto do caminho foi preenchido pelo silêncio. Marwoleath permanecia quieta e apenas focava-se no caminho, enquanto ele admirava tudo a sua volta como se fosse primeira vez.
O tempo passou rápido e logo eles chegaram em sua casa. Era uma casa grande para apenas uma jovem morar sozinha e maior ainda para apenas uma jovem conseguir pagar. A casa era um pouco grande e se destacava da vizinhança por ter uma cor vermelho vivo. Ela pegou uma chave em seu bolso e abriu a porta:
—Feche a porta quando passar! -Exclamou ela entrando na casa.
Ele apenas fez o ordenado.A casa era bem espaçosa por dentro. Ele sentou-se no sofá e perguntou:
—Seus pais não irão reclamar por eu ficar aqui?
Ela deu um triste sorriso enquanto caminhava em direção ao banheiro:
—Estão mortos. -Respondeu ela fingindo não se importar.
Kurokawa duvidou do que havia ouvido:
—O que?
—Eles estão mortos! -Repetiu ela.
Ele ousou perguntar:
—Como?
—Houveram alguns desentendimentos entre eu e alguns grupos, como não conseguiam me derrotar, eles resolveram usar meus pais como reféns. Bem, isso é só o resumo de uma história que aconteceu a uns três anos atrás.
O garoto preferiu não perguntar mais nada para evitar reabrir antigas feridas:
—Eu vou tomar banho. -Afirmou ela indo para o banheiro. -Tente não destruir minha casa enquanto isso!
Ele apenas se sentou no sofá e continuou esperando. Cinco minutos se passaram, dez minutos se passaram, vinte minutos se passaram e meia hora se passou. Kurokawa já estava começando a considerar o bem-estar físico da garota. Pensando no pior, ele levantou-se e correu até a porta do banheiro:
—Ei, você está bem? -Gritou ele.
Não houveram respostas:
—Ei!!!!
E novamente não houveram respostas. Desesperado, ele rapidamente abriu a porta do banheiro. O vapor era denso mas era possível ver aqueles cabelos vermelhos flutuando na banheira:
—Você está bem? -Perguntou ele de longe.
Marwoleath levantou-se repentinamente da banheira:
—Não enche...não posso mais nem relaxar no banho? -Perguntou ela.
Kurokawa virou seu rosto vermelho e apontou para ela, ela demorou alguns segundos para perceber do que se tratava:
—Porque você está apontando...para...mim...
Era certamente uma situação estranha:
—Seu depravado!!!!! Saia daqui!!! -Gritou ela jogando sabonetes, xampus e tudo o que encontrava pela frente nele.
Ele rapidamente fechou a porta para evitar ser atingido e acabou por deixar seus pensamentos escaparem:
—Eram...grandes... -Disse ele corando.
No mesmo instante a porta foi aberta bruscamente e ele foi arremessado para longe, ela saiu do banheiro com sua toalha e uma aura assustadora:
—Você está me chamando de gorda?
Kurokawa disse suas últimas palavras:
—Não foi isso que eu quis dizer...
Fale com o autor