Eu estava com um misto de nervosismo e ansiedade. Jacob, meu irmão de onze anos, se encontrava sentando ao meu lado, na estação 9¾, em Londres. Eu já era aluna do sexto ano, mas ele era do primeiro.
Vivíamos na França, e eu fui selecionada em Beauxbatons para um intercâmbio em Hogwarts. Como era o primeiro ano dele, meus pais decidiram que ele deveria vir junto comigo. Fiquei aliviada com isso, assim não teria de viajar sozinha.
— Sophie?
— Hm?
— Estou nervoso!
— Eu também estou, é normal.
Ele sorriu para mim e segurou minha mão, tendo a péssima ideia de pegar um sapo de chocolate que nosso pai lhe dera. O doce saiu correndo e pulando para longe, com um Jacob igualmente correndo atrás dele, desesperado.
— Ah, Merlin, eu mereço!
Levantei-me e sai correndo atrás do garoto, trombando com alguns alunos pela estação lotada. Todos eles gritavam a plenos pulmões, me dando uma forte dor de cabeça. Qual era o problemas dessas pessoas?
Encontrei Jacob alguns minutos depois, conversando com um rapaz vestido de preto e com um cachecol verde e prata pendendo no pescoço. Parei de correr e comecei a andar mais devagar. Assim que me aproximei dele, abaixei-me e dei em meu irmão um peteleco na testa, fazendo-o levar a mão até lá para massagear o local rapidamente.
— Sophie!
— Idiota! Não pode sair correndo desse jeito! E se você se perde de mim? —falei, segurando sua mão novamente. Soltei um suspiro longo e cansado com a cara que ele fez.
— Desculpe-me por isso!
Sorri gentil para o baixinho e depois o abracei. Ao soltá-lo, levantei-me e olhei para o rapaz a minha frente. Ele parecia não estar entendendo nada.
— Desculpe-me pelo meu irmão, senhor, ele não costuma fazer isso.
— T-Tudo bem... Eu acho.
Ele ele piscava diversas vezes, ainda parecendo não entender o que o tonto do meu irmão tinha feito.
— Vamos, Jacob, pegue seu sapo e peça desculpa a ele! — falei dando-lhe um leve empurrão para frente. Ele pegou seu sapo de cima das vestes do rapaz e desculpou-se formalmente. Pedi desculpas mais uma vez, peguei a mão de Jacob, ficando de pé e o puxando para longe dali.
Algum tempo depois, já estávamos sentados na nossa cabine dentro do trem.
— Sophie?
— O que é?
Eu estava olhando para fora, mas virei o rosto para ele e vi que parecia estar passando muito mal.
— Jacob, você está bem?
— Estou, é só que...
— Só que? — perguntei, já começando a me preocupar com sua aparência.
— Eu não queria vir para Hogwarts. Queria ir para Beauxbatons!
Cai na risada com seu comentário. Eu tinha me esquecido de que meu irmão não sabia que Beauxbatons era um colégio feminino para bruxas.
— Do que está rindo?
— Ah, Jacob, você não poderia entrar em Beauxbatons!
— Por que não?
—Porque só garotas podem estudar lá. E você naturalmente não é uma menina!
Ele pareceu refletir por alguns instantes e logo concordou comigo.
— Agora coma seu sapo, ele já nos deu muitos problemas. — falei, dando um sorriso gentil a ele, que confirmou animado e começou a comer em silêncio. Eu foquei em olhar para fora, o trem já começava a se mover e as paisagens começavam a mudar.
Peguei no sono rapidamente com o balanço do trem e, quando acordei, Jacob não estava mais na cabine e o céu já se encontrava escuro lá fora.
Sai do meu lugar para procurar por ele. Depois de andar um pouco, acabei topando com um grupo de garotas com vestes da mesma cor do rapaz de antes. Provavelmente eram da mesma casa.
— Desculpe... — disse para a loira a minha frente, que aparentava ser a líder das três.
— Ah, então você é a garota que ousou falar com o Tom?
— Quem? — perguntei confusa e um pouco surpresa por sua arrogância e falta de educação.
— Tom Riddle, aquele com quem você estava conversando na estação! Como ousou fazer isso?
— Eu só estava sendo cortês e educada, diferente de você, que parece nunca ter conhecido essas duas palavrinhas, não é mesmo, querida? — falei de maneira rude e ajeitei minha postura. Sempre fazia aquilo para intimidar outras garotas, já que na maioria das vezes costumava ser mais alta que elas, o que não foi diferente com aquelas três
Cruzei meus braços na frente do peito e tentei avançar por elas, mas a loira agarrou o meu braço e o apertou com força.
— Se ousar falar comigo assim, eu juro que vou....
— Andrômeda! — ela foi interrompida por uma voz masculina muito autoritária e forte, Quando virei o rosto para ver seu dono, me deparei com o rapaz de antes, provavelmente o tal Tom Riddle, como a garota dissera.
— Tom?
Aquela foi a confirmação de minha pergunta. A idiota ainda segurava meu braço com força e aparentemente não o largaria tão cedo. Eu, por outro lado, não queria ter de me soltar por conta própria, ou acabaria arranjando confusão naquele corredor apertado que dava para as cabines.
— Solte-a.
— Mas Tom!
— Eu mandei soltar, Andrômeda! — a voz dele saiu tão terrível de sua boca que ela me soltou na hora. Meu braço, na região onde ela acabara de apertar, estava com uma coloração avermelhada, mas aquilo logo sumiria e era o que menos importava no momento.
— Sumam daqui! As três, agora, direto para suas cabines.
Elas obedeceram mais do que depressa, mas a loira oxigenada me fitou com um olhar assassino quando passou por mim. Pouco tempo depois, avistei Jacob atrás do rapaz, com mais três garotos em volta dele.
— Jacob! Onde você estava? —perguntei passando pelo moreno e indo direto em direção ao pequeno.
— Eu precisava ir ao banheiro, mas me perdi. Esses três me ajudaram a voltar!
— E por que você não me acordou para me avisar, seu idiota? Eu fiquei preocupada com você, sabia disso? — ditei dando outro peteleco em sua testa. Ele novamente levou a mão até lá e resmungou meu nome.
Levantei-me e olhei primeiro para o moreno que me ajudara há pouco.
— Obrigada por me ajudar com aquelas garotas.
Ele apenas balançando a cabeça em negativa, num sinal que eu entendi se tratar de um “não precisa agradecer”. Depois me virei aos outros, que estavam com Jacob e nos observavam todo o tempo.
—E a vocês, obrigada por ajudarem Jacob. Esse garoto tem tendência a se perder com facilidade. Vamos, agradeça a eles também!
— Obrigado.
Os três sorriram e disseram que não havia sido nada. Logo em seguida cada um seguiu seu caminho, e eu e Jacob voltamos para nossa cabine.
— Pode por favor não sair mais daqui até chegarmos? Não quero ficar preocupada com você de novo!
Ele fez que sim com um sorriso bobo nos lábios, o que me fez sorrir de novo. Na hora soube que ele ainda ia aprontar mais alguma no dia.
Eu acabei adormecendo de novo e, quando acordei, o trem já tinha parado e, mais uma vez, Jacob havia sumido.
— Peste de garoto! Por que nunca me obedece? — resmunguei comigo mesma e sai do trem. Estava frio, e por sorte eu havia colocado roupas mais pesadas, caso contrário, iria congelar.
Do lado de fora, foi difícil encontrar Jacob no meio da multidão de alunos. Não o achei por nada neste mundo, então concluí que iria deixá-lo se virar. Estava cansada de ter que procurá-lo a todo instante, então resolvi dar uma volta por Hogsmeade.