Já fazia uma semana desde que Abraxas e eu havíamos nos beijado, e até
agora eu não tive coragem de encará-lo. Não porque não tinha gostado do beijo,
mas sim porque não sabia como ficar perto dele depois de tudo. Eu pensava
naquele beijo sempre que minha mente divagava, o cheiro de seu perfume invadia
minhas narinas mesmo quando ele não estava por perto.
Estava em minha última aula do dia, e ainda sim não conseguia me
concentrar em nada que o professor falava.
Encontrava-me ao lado de Riddle, por ordem do professor, ele estava
absorto olhando para um livro e parecia não se importar com minha presença.
Tentei ao máximo ouvir o que o professor falava, mas tudo o que conseguia
pensar era nos olhos cinzas e profundos de Malfoy.
— Pare de divagar e responda à pergunta do professor...
Virei-me para Tom, que me olhava com surpresa nos olhos.
— Desculpe, professor, qual a pergunta, mesmo? Creio não ter ouvido
direito...
— Qual o melhor método de fazer alguém se apaixonar por você?
— Ah, obrigada por repetir. A resposta é: use seu caráter e sua
personalidade, mas caso a pessoa ainda sim não queira, faça-lhe uma poção do
amor — falei com ar brincalhão. Todos na sala riram, menos Tom, que me olhava
estranho.
— Gostei de sua resposta!
— O que disse? — perguntei, surpresa por ouvir sua voz.
— Disse, que gostei da sua resposta!
— Ah, obrigada! — respondi, sorrindo gentil para ele, que continuou a me
olhar sério.
— Como chegou a essa conclusão?
— Qual das? — perguntei, rindo de mim mesma.
— De que mesmo não conseguindo conquistar quem se ama apenas com o
caráter e a personalidade, pode-se usar a poção do amor.
— Ah, isso. Na verdade isso foi apenas para dar a resposta certa, não
penso assim realmente.
— Então como você pensa realmente?
— Ah... Bom, nunca tinham me perguntado isso antes — falei, dando um
sorriso constrangido a ele, que também sorriu para mim, mostrando todos os seus
dentes perfeitos e brancos. Senti minha respiração falhar e meu coração acelerar
drasticamente. Tom tinha um sorriso maravilhoso, e extremamente arrebatador.

— Fico feliz em ter sido o primeiro a perguntar e em ser o primeiro a saber
como realmente pensa. Então me diga, o que pensa sobre isso, Sophie?
— Ah, bom, na verdade é algo bem simples!
— Sou todo ouvidos.
— Eu penso que se amamos de verdade uma pessoa, devemos tentar com
todas as nossas forças conquistá-la, e se mesmo assim, não conseguirmos,
devemos deixá-la ir. Mas nunca sem antes tentar!
— E como saber se é amor verdadeiro? Como o que você acabou de dizer.
Ele realmente queria saber aquela resposta, seus olhos entregavam aquilo,
e aquela fora nossa primeira conversa em que nenhum dos dois começou uma
briga. Ele estava, pela primeira vez, sendo gentil comigo.
— Eu acho que é quando não conseguimos parar de pensar na pessoa,
quando queremos estar perto dela o tempo todo, sentimos ciúmes, mesmo quando
não temos nenhum relacionamento com ela, quando sentimos o perfume desse
alguém mesmo quando está longe. E quando estamos perto desse alguém,
ficamos sem jeito, sem saber como agir, o que falar... Também acho que é quando
nos sentimos felizes com a felicidade desse alguém. É assim que eu acho ser o
amor verdadeiro. Ou pelo menos uma pequena fração dele!
— Você tem opiniões bem fortes e bem formadas, não é mesmo, Sophie?
— Sim, tenho personalidade forte, não costumo falar as coisas sem ter
certeza de que é o que penso!
Ele sorriu de novo, e de novo senti meu coração acelerar. Por Merlin, ele
devia sorrir mais vezes, e com sinceridade, como naquele momento.
Quando a aula acabou, despedi-me de Tom com um sorriso, o qual ele
retribuiu apenas com metade de um de canto. Fui a primeira a sair da sala, indo
direto para o SalãoPrincipal. Sentei-me com Charles e comi o mais rápido que
consegui, ao final, marcando de estudar com ele outro dia, depois das aulas, talvez
na biblioteca. Despedi-me dele e saí do salão, indo em direção à Comunal. No
caminho, ouvi vozes, fazendo certo silêncio. Já estava escuro, então não
conseguiria ver quem eram, apenas que eram três, e eram homens.
— Tem que ser feito ainda hoje!
— Mas como vamos sair sem sermos notados?
— É verdade, se sairmos, com certeza alguém vai nos ver.
— Eu não quero saber, eu só quero que seja feito hoje!
Eles estavam sussurrando, então não pude identificar a voz de nenhum
deles.
— Temos que acabar com aqueles sangues-ruins, já chega de tantos deles.
E eu não quero saber, vamos fazer isso hoje!
Eles começaram a sair, e eu tive de me aprofundar em um canto escuro
para não ser vista, mas acabei emitindo um ruído com o sapato sem querer.

Comecei a implorar a qualquer deus existente que nenhum deles tivesse ouvido, e
como os passos não cessaram, fiquei mais aliviada. Eles não tinham me notado.
Saí correndo dali o mais rápido que pude e só parei quando cheguei ao
meu dormitório. Eu não tinha ideia de como tinha chegado ali, porque eu nem
sequer lembrava de ter subido as escadas. Ainda sim, tive forças para pegar
minhas coisas e ir para o banheiro. Chegando lá, tomei um banho rápido, troquei-
me e fui direto para a cama.
Adormeci rápido, e por incrível que pareça, sonhei com Abraxas, mas
também com Tom. No meu sonho, Tom era diferente, era mais calmo, mais gentil.
Acordei na manhã seguinte com a falação das minhas colegas de quarto,
eles estavam agitadas demais e, quando me levantei, nem sequer precisei
perguntar o que houve, elas logo jogaram uma edição do Profeta Diário no meu
colo. Senti meu sangue escorrer do rosto.
Uma vila de trouxas havia sido incendiada por algum culto louco de bruxos.
Ali estava escrito que muitas pessoas ficaram gravemente feridas e que o número
de mortos era incerto, já que vários corpos ainda não haviam sido encontrados no
meio dos destroços das casas queimadas.
— Acha que foi Grindewald? — ouvi uma delas me perguntar. Eu não me
lembrava de seu nome, mas não iria precisar dele para responder.
— Não sei, pode ser que sim, pode ser que não. Eu não sei o que pensar, a
não ser que isso é cruel. Havia crianças lá! — falei tentando não parecer
preocupada demais. Eu tinha certeza que fora alguém dali, mas não podia falar
nada sem provas concretas e sem saber quem eram as pessoas de ontem. Fiquei
satisfeita em saber que elas pensavam ser Grindewald.
Pedi licença e fui fazer minha higiene matinal, depois, fui para minhas
aulas, onde todos pareciam tensos com as notícias. Na hora do almoço, pela
primeira vez, todo o SalãoPrincipal estava em silêncio, ninguém ousava dizer
nada, o único som audível era o de talheres nos pratos
O resto das aulas foi o mesmo, e eu estava com o péssimo pressentimento
de estar sendo observada desde de a hora que acordara.
Estava atrasada para encontrar Charles, então saí correndo até a
biblioteca. Quando cheguei lá, o encontrei com o rosto afundado em um livro.
— Olá, desculpe pelo atraso!
— Tudo bem, sem problemas.
— Você viu?
— Acho que todos viram...
— É, o clima hoje está muito tenso aqui.
— Bem mais do que o normal, você quis dizer
Eu ri com aquele comentário, mas ele tinha razão, o clima sempre era
tenso, ainda mais quando se tratava da Sonserina.

— Bom, mudando nosso assunto, vamos estudar ou não? — falei tentando
fazer ele se descontrair. Ele sorriu e fez que sim com a cabeça.
— Eu estou indo mal na matéria nova de Defesa Contra as Artes das
Trevas, pode me ajudar com isso?
— Claro! Só um minuto.
Levantei-me e peguei uma grande pilha de livros, voltando à mesa e os
soltando com um baque sobre ela. Então, um por um, abri os capítulos
relacionados ao que estávamos vendo e depositei o conteúdo sobre a madeira.
— Muito bem, decore cada palavra. DECORE, entendeu? — Ele revirou os
olhos, mas fez que sim, com uma expressão de desespero no rosto.
Eu sorri e peguei meu livro de poções, aproveitando para reler as que mais
gostava e parando vez ou outra para tomar a lição de Charles, que entrava em
desespero quando eu não julgava excelente.
— Sophie, pode me esclarecer uma dúvida?
— Sobre? — falei, erguendo os olhos do meu livro para ele.
— Você gosta do Tom?
Pisquei várias vezes, surpresa e sem compreender de início o que ele quis
dizer com aquilo, mas logo que a ficha caiu, eu parei para pensar numa resposta
boa.
— Eu não tenho uma opinião formada sobre Riddle, mal nos falamos e,
quando isso acontece, sempre acabamos discutindo, então não sei bem o que
falar sobre ele. Por quê?
— Eu vi como ele olha para você.
— Besteira, sempre que tem a oportunidade, ele me trata mal.
— Bom, talvez seja porque ele não saiba o que fazer.
— Duvido.
— Ou então ele seja virgem!
Caí na risada com aquele comentário, era impossível imaginar Tom sendo
virgem.
— Palhaçada você dizer isso, Charles.
— Mas é sério, Tom nunca é visto com garotas. Ou então ele é gay e só
está te tratando mal porque você está roubando o Malfoy dele! — Ele riu com a
própria piada, e eu ri junto, mas então percebi o que ele disse.
— O que tem Abraxas? — falei um pouco rápido demais e acabei engolindo
em seco, sentindo minhas bochechas arderem.
— Você e ele parecem bem próximos — sua voz se tornara rude e seca de
repente, então cruzei os braços na frente do corpo e me encostei à cadeira.

— Se quer mesmo saber, eu gosto de Abraxas, ele é bom e gentil comigo,
mesmo quando está de mal humor, e ele é um bom amigo! Por quê?
Acabei parecendo um pouco mais dura do que gostaria, mas àquela altura
eu já nem me importava mais.
— Por nada, eu só estava curioso para saber! — Ele tinha ficado bravo e
estava sendo grosseiro novamente.
— Você não tem que acabar de decorar esses capítulos?
Ele fez que sim e voltou a decorar suas lições. Então a maldita sensação de
estar sendo observada voltou, e aquilo já estava me irritando. Quando acabamos
de estudar, Charles se despediu de mim e foi embora. Eu resolvi ficar mais um
pouco e acabar de ler as poções que gostava.
Acabei adormecendo sobre os livros e perdendo a noção do tempo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.