Invertidos

CHAPTER #01


Eu odiava o meu despertador, ele fazia um barulho irritante todos os dias as 05hrs da manhã. Lá estava eu, dormindo como uma princesa, porque eu realmente preciso dessas horas de descanso, e do nada a merda começa a apitar. Mas ele nem tem culpa do meu ódio mortal, ele só está me avisando que é hora de levantar da cama, me arrumar e partir para o meu inferno particular, a Queen consolidated.

Aquele prédio enorme, espelhado que fica bem no meio do centro de Star city. Aquela empresa que os donos já saíram até na Forbes. Aquela empresa que gera muito emprego para a cidade. Aquela empresa que tirou o Glades da miséria. Aquela empresa reconhecida internacionalmente. Aquela empresa administrada pelo demônio. Aquela empresa que odeio colocar os meus pés cinco dias por semana, as vezes seis, as vezes a semana inteira; porque meu chefe é um maldito explorador. Aquela empresa que só não entrego minha carta de demissão porque ela garante a comida na minha mesa.

O nome do meu chefe, que apelidei carinhosamente como O Demônio, é Oliver Queen. Eu sou secretária de Oliver Queen. Okay, eu sei que você o conhece e deve imaginar que o meu emprego é o melhor do mundo, só porque tenho a oportunidade de falar com um dos homens mais sexys do país. E não inventei isso, já saiu em uma revista mega famosa de Nova York e ele ficou entre os 50 colocados. Mas, acredite, esse não é o emprego dos sonhos. Já vou falar porquê.

Porque, embora Oliver seja lindo e gostoso pra cacete, ele é arrogante, mesquinho e um grande cretino, que faz da minha vida um verdadeiro inferno. Você acha que estou exagerando? Então vou contar uma história sobre o meu trabalho.

Eu era chefe do departamento de T.I da Queen Consolidated, esse sim era o meu emprego dos sonhos. Mas Moira Queen, a mãe de Oliver, resolveu se aposentar e colocar o idiota do seu filho como presidente da empresa, foi ai que tudo desandou. Em uma tarde excepcional, em que eu estava na minha sala, a minha antiga e maravilhosa sala na verdade, Oliver irrompeu pela porta, segurando um tablet e disse “Você é a Felicity Smoak?”

O meu erro não foi responder “sim, eu sou Felicity Smoak”. O meu erro foi ter tirado um nude frontal de Oliver de circulação. Sim, UM NUDE FRONTAL!! E que nude, puta merda! Eu tive 5 segundos de felicidade ao bater meus olhos naquela grande e maravilhosa imagem do meu chefe nu. Mas foram apenas alguns segundos, ou minutos, ou até dias porque não conseguia tirar a imagem da minha cabeça.

Esse mesmo nude arruinaria Oliver e a empresa, e como sou uma gênia da computação, Oliver me pediu para tirar a foto de circulação, até dos confins da deep web, não me pergunte como fiz isso, apenas fiz. A partir desse fatídico dia, Oliver não saiu mais do meu pé, e recebi a maravilhosa — só que não —, promoção. Fui promovida a assistente pessoal de Oliver Queen.

Está bem, eu confesso que achei o máximo. Junto com a promoção, também ganharia um aumento gordo no meu salário. Mas esse aumento não recompensa tudo que já passei nas mãos do meu chefe. Ele é uma pessoa horrível.

Ele já me fez refazer vários relatórios, com a desculpa de que estava mal feito. Desde quando faço algo mal feito na minha vida? Nunca, ele porque implicou comigo. Oliver já me fez ir fantasiada a uma festa que não era de fantasia. Foi um dos piores dias da minha vida. Fora todas a vezes que ele me fez voltar na cafeteria, alegando que o café que havia trazido não era o certo.

Ele é a pior pessoa do mundo, e eu o odeio com todas as minhas forças.

E hoje é só mais um dos dias que terei que enfrentar o meu chefe.

Antes de ir para o meu trabalho, passo no apartamento ao lado. O apartamento das minhas melhores amigas, Sara e Nyssa, elas são casadas e são o casal mais adorável que conheci em toda a minha vida. Toco a companhia, nenhum sinal. Toco novamente, e mais uma vez, até que Sara abre a porta, ela está enrolada em uma toalha, logo atrás dela está Nyssa, também enrolada em uma toalha. Não acredito que atrapalhei o sexo matinal delas.

— Desculpem. — murmuro.

— Tudo bem, Felicity. — diz Sara, com um sorrisinho no canto dos lábios. — Nós ainda estávamos nas preliminares.

Eu seguro a vontade de rir.

— Então, hoje vou ficar até mais tarde na Queen. — digo. — Será que dá para vocês darem uma olhada no Ralph?

— Claro, eu adoro aquele cachorro. — diz Sara.

O cachorro em questão, é o Ralph. Eu realmente amo esse cachorro. Ele é um pastor alemão enorme. O problema é que Ralph não é meu, na verdade ele é, mas não. É confuso. Ralph na verdade é o cachorro de Oliver, mas Oliver disse que precisava fazer uma reforma no seu apartamento e pediu para Ralph ficar comigo até a tal obra acabar. Eu tonta do jeito que sou, olhei para os olhos do cachorro, que ainda era filhote, e falei: Tudo bem, ele pode ficar comigo. Acontece que essa obra está se arrastando por três meses e meio já.

— Obrigada. — agradeço. — Então, agora vou deixar vocês voltarem para o que estavam fazendo. Até mais tarde.

— Felicity, espera. — a voz de Sara me faz girar novamente e encará-la.

— O quê?

— O irmão de Nyssa vem nos visitar nesse final de semana. — pelo seu olhar sapeca e o sorrisinho de Nyssa eu já sei o que vem a seguir.

Sara tem a mania de sempre me arranjar encontros. Fracassados encontros na verdade, porque sempre acontece algo catastrófico. A última vez foi inacreditável, ela me arranjou um encontro com um colega de trabalho dela, ele era enorme, todo musculoso, até que era bonitinho. Mas acabei colocando fogo nas calças do homem, ele nunca mais quis me ver. Por essa e outras, que nunca gosto quando Sara dá uma de cupido.

— Hum... estou atrasada, Sara, preciso ir. Depois a gente se fala.

— Felicity... — grita, mas já estou no fim do corredor.

Caminho até o elevador, tudo que queria era ficar dentro do meu apartamento, curtindo minhas séries e um vinho tinto. Porém, tenho que ir para aquele lugar que odeio.

[...]

Eu não odeio a Queen Consolidated na verdade, é uma empresa fantástica e super tecnológica. Já ganhou tantos prêmios e é conhecida pelo mundo afora. O que eu odeio é o meu chefe, meu cargo e as pessoas que acham que tenho uma espécie de romance com Oliver. Sim, elas acham, só porque ganhei uma promoção da noite para o dia. Elas não sabem o sacrifício que foi pra tirar o pau de Oliver da internet. O pau grande e grosso de Oliver.

CALA A BOCA AGORA FELICITY E TIRE ESSA IMAGEM DA CABEÇA.

Devo confessar que tenho a imagem salva no meu computador e que as vezes até dou uma olhadinha. É quase impossível tirar uma imagem tão bonita da cabeça e do meu computador também. Claro, que apesar de odiar Oliver, não posso dizer que nunca reparei no quanto ele é bonito, até demais.

Eu paro em frente o elevador e aperto o botão. Conto mentalmente 5 segundos, que são exatamente o tempo para o meu chefe parar ao meu lado e me olhar de cima a baixo com o seu olhar cafajeste.

— Bom dia, senhorita Smoak. — ele diz, educadamente. — Está bonita hoje.

— Bom dia, senhor Queen, e obrigada.

As portas do elevador se abrem, e de forma cavaleira, Oliver murmura “primeiro as damas” e me cede a passagem, entro dentro da caixa de metal e logo depois ele entra também, seguido de outros funcionários. Estamos encostados na parede, posso sentir o seu olhar em mim, mas não desvio o olhar do rabo de cavalo da mulher que está logo à frente de mim.

— Vejo que não trouxe o meu café hoje, senhorita Smoak. — ele comenta. — Aconteceu alguma coisa? A cafeteira quebrou ou faltou adoçante?

Eu acho que além de Oliver ser um estupido e um grosseiro, ele também é cego e não viu as pastas de relatório e o tablet em meus braços, não existe possibilidade de existir espaço para o seu copo de café.

Tomo coragem e encaro meu chefe, respondo sua pergunta.

— Sim, parece que alguém quebrou violentamente a cafeteira.

— Humm. — as portas se abriram no 5º andar e todos os funcionários, exceto Oliver e eu, saíram do elevador. — Isso é um grande problema, senhorita Smoak, porque você sabe como é o meu humor logo pela manhã, imagina sem a minha dose diária de cafeína? As coisas tendem a piorar, e você sabe muito bem que isso não é bom para você.

— Maldito.

— O que foi que você disse?

Eu e a minha boca maldita.

— Eu disse que vou dar um jeito no seu café.

Ele esboçou o seu sorrisinho sacana nos lábios. A minha vontade era de dar um soco na cara do meu chefe, mas eu precisava me controlar. As portas se abriram no último andar e Oliver se retirou.

Respirei fundo, e sai do elevador. Estávamos no último andar, o da presidência. Esse lugar sim eu odeio de verdade.

— Então, senhorita Smoak. — ele parou na porta da sua sala e ficou me encarando. — Quais meus compromissos para hoje?

Coloquei todas as pastas sobre a minha mesa e peguei o tablet. Abri a agenda de compromissos do presidente.

— Agora pela manhã você irá ao glades, junto com alguns investidores. Essa visita se estenderá a manhã inteira. E você tem um almoço com os investidores para conversar sobre o projeto de melhoria no glades. — expliquei. — Depois do almoço, você tem uma reunião de portas fechadas na sua sala com Isabel Rochev.

— Ótimo. — ele disse, empurrando a porta. — Mal posso esperar pela tarde.

Ele entrou e fechou a porta, revirei meus olhos. Na verdade, essa reunião com Isabel Rochev, é só mais uma das trepadas que Oliver dá com as funcionárias da Queen em sua sala quase todas as tardes.

Maldito cretino arrogante.

Sento-me em minha mesa e ligo o meu computador. Nem tenho tempo de começar a fazer as minhas coisas e o telefone toca, é Oliver.

— Senhorita Smoak, venha até a minha sala.

Bufo, frustrada por esse emprego ser a única coisa que garante o meu teto e a minha comida.

Entro na sala de Oliver e caminho até a sua mesa. Há uma caixa branca sobre a mesa, que ele estava olhando o conteúdo dentro, mas quando entrei ele a fechou e sentou-se em sua cadeira.

— Você já sabe que hoje irá ficar até mais tarde.

— Sim, você já me falou.

— Falei, só omiti algumas coisas. — disse. — Você não irá ficar aqui na empresa. Sabe o evento que tenho hoje à noite?

— Sei, o evento de caridade.

— Exatamente. — ele ajeitou a postura e me encarou. — Você irá comigo.

— O quê? — indago. — Por que não convida outra pessoa? Aproveita que terá uma reunião com Isabel e chama ela. Por que eu?

— Porque sou seu chefe e estou mandando.

Juro, que se pudesse, faria Oliver comer o meu tablet e depois bateria sua cabeça na sua própria mesa. Ele pode ser o meu chefe, mas não o meu dono. Desgraçado, seu eu pudesse o mataria agora mesmo.

Respirei fundo.

— Okay, mas preciso sair mais cedo para arranjar um vestido e me arrumar.

— Você vai se arrumar aqui. — ele rebateu. — Thea contratou cabelereiro e maquiador para você, e ela também me ajudou escolher um vestido e os sapatos.

Oliver levantou-se e pegou uma sacola em baixo da sua mesa, me entregou e depois me entregou a caixa que estava sobre sua mesa segundos atrás.

— Aí está o vestido e o sapato, espero que seja do seu gosto. — disse. — Agora você pode voltar para sua mesa, tem trabalho a ser feito.

Virei-me de costas e sai pisando duro da sua sala.

— Senhorita Smoak?! – Eu parei na metade do caminho, respirei fundo e me preparei psicologicamente. – Traga o meu café.

Acho que o maior prazer da vida de Oliver Queen é me tratar como se eu fosse um grande nada. Idiota!

— Okay, senhor Queen. – Saí da sala dele, digo, do inferno.

Porque se ele é o demônio, sua sala é o inferno.

Coloquei a caixa e a sacola sobre sua mesa. Por mais que estivesse curiosa para ver o vestido, me controlei. A sala de Oliver é toda de vidro, não quero que ele pense que estou louca para ser a acompanhante dele nesse evento, até porque não estou. E na verdade quero que ele pense que não estou dando a mínima. Voltei para os meus afazeres como secretária de Oliver.

[...]

Os dias que Oliver sai para reuniões são sempre os melhores. Aproveito para dar conta das minhas tarefas sem o Demônio para ficar me ligando a cada minuto. Coloco todos os relatórios em dia e organizo as pastas de futuros investidores, então levo tudo para a mesa de Oliver, porque ele gosta de checar tudo antes. Maldito desgraçado.

Aproveito o tempo livre para ver o vestido que a irmã de Oliver escolheu para mim. Levanto-me e abro a caixa, retiro o embrulho branco e observo o tecido do vestido, apenas tocá-lo me prova que nunca usei algo tão sensível e caro. Tenho até medo de retirá-lo da caixa. Mas tomo coragem e o puxo para cima, deixando-o bem esticado a minha frente. Fico completamente maravilhada ao olhar a peça inteira, até parece uma obra de arte e, de certa forma é, já que é um vestido de uma estilista super famosa.

— Está do seu gosto, senhorita Smoak? – escuto a voz do demônio e dou um pulo.

— Meu Deus. – falo, cobrindo o peito com as minhas mãos.

Meu coração quase saiu pela boca.

Coloquei novamente o vestido na caixa e encarei Oliver, ele parecia o diabo me encarando, nos lábios um sorrisinho diabólico que me fez tremer dos pés a cabeça. Inferno!

— Então? – ele ergueu uma sobrancelha e caminhou até mim. – O gato comeu sua língua?

Engoli em seco. Busquei na memória sua pergunta. Ah sim, era sobre o vestido.

— O vestido é muito bonito.

— Bom, então quer dizer que você gostou? – ele se aproximou e deslizou os dedos pelo tecido do vestido.

— Sim, senhor Queen.

— Ótimo. – sibilou, encarando meus olhos. – Mal posso esperar para ver como ele ficará em você, senhorita Smoak.

Oliver me encarou dos pés à cabeça, fazendo meu corpo inteiro se arrepiar e o meio das minhas pernas se contorcer. Praguejei mentalmente, porque apesar de odiar Oliver Queen, meu corpo, meus desejos, meus hormônios não o odiavam. Ao contrário, eles fazem festa com cada olhar, cada toque e cada comentário besta. E eu me odeio por sentir um resquício de desejo pelo filha da puta do meu chefe.

[...]

Depois que Isabel Rochev e Oliver se trancaram na sala dele, com as persianas abaixadas claro, eu tive mais um momento de paz. Por mais que eu odiasse a presença esquelética de Isabel Rochev e seu nariz empinado, ela conseguia manter Oliver no meio das suas pernas por algumas horas e isso sempre me dá tempo para terminar o meu trabalho.

Organizei toda a agenda de Oliver e liguei para os investidores para marcar uma nova reunião no mês seguinte, Oliver é organizado e apesar dos todos os seus defeitos é um ótimo profissional. Ele cuida da empresa como se fosse sua vida.

Quando a porta da presidência se abriu, fiz questão de encarar a tela do meu computador, odiava ver Isabel dando um beijo de despedida em Oliver e odiava ainda mais o olhar que ela desviava para mim toda vez que tirava a língua da boca dele. Ela é uma cobra, já teve a ousadia de dizer que sente pena de mim e que eu tenho inveja dela, coitada. Se pudesse, teria exterminado sua existência do planeta terra naquele dia. Piranha! Apenas escutei os saltos dela tilintando no piso até o elevador.

— Senhorita Smoak? – revirei os olhos e respirei fundo, continuei encarando a tela do computador.

— Sim, senhor Queen, deseja algo?

— Sim, principalmente que olhe para mim quando estou falando.

Cretino!

Engoli a vontade de matar o meu chefe e o encarei.

Eu costumava ser uma garota calma, que só pensava em coisas boas, agora me pego imaginando como seria se um caminhão arrastasse o corpo de Oliver pela rua.

— Sim, senhor Queen, deseja algo?

Oliver suspirou e assentiu com a cabeça.

— Desejo muitas coisas, senhorita Smoak.

— Okay. – murmurei. – Mas será que o senhor poderia ser mais especifico? – questionei, perdendo a minha paciência. – Ainda não leio mentes.

— O que disse?

Puta merda!!

Não acredito que isso acabou de sair da minha boca. Maldita língua traiçoeira. Ela sempre tem que falar mais do que devia.

— Está ficando malcriada, senhorita Smoak.

— Desculpe. – sibilei.

Oliiver deu alguns passos até a minha mesa, então sentou-se na beirada dela, bem ao meu lado. Rapidamente ele checou a tela do meu computador e sorriu ao ver que o que eu estava observando era um dos relatórios que ele me mandou refazer.

— Você só vai me pedir desculpas? Só isso mesmo?

Eu dei de ombros. Estava cansada da arrogância do meu chefe. Ele já está passando dos limites. E se tem alguma coisa que aprendi com minha mãe, é nunca, independente da minha posição, abaixar a cabeça para um homem. Eu prometi isso para ela, e estou cansada de ser humilhada por esse cretino chamado Oliver Queen.

— O que você quer? – Indaguei, levantando a cabeça e encarando os olhos azuis de Oliver. — Que eu me ajoelhe na sua frente e implore o seu perdão?

Ele reagiu com surpresa. Eu nunca tinha agido daquela maneira com Oliver, e assim como ele, também não estava entendendo a minha súbita coragem de rebater o meu chefe com a mesma intensidade que ele enche o meu saco todos os dias.

— Então, senhor Queen, o que quer que eu faça?

Alguns segundos se passaram, mas dessa vez não desviei meu olhar de Oliver, ao contrário, fixei meus olhos nos dele, sentindo meu peito subir e descer rapidamente. Essa coragem. Ele nunca me viu assim, deve estar pensando na maneira que vai me demitir. Droga, eu não acredito que estou batendo de frente com o meu chefe, isso é libertador.

Claro, que no momento ele deve estar imaginando a minha cabeça em uma estaca e que a partir de agora vou ter que fazer novos currículos, porque com certeza vou ser demitida.