Internato Limoeiro

Capítulo XI - Descanso


O cansaço do dia anterior havia feito com que praticamente todos os jovens do internato acordassem mais tarde. Isso fez com que a primeira refeição do dia de muitos fosse o almoço.

O refeitório possuía adolescentes famintos e ainda cansados que falavam alto e até riam do trote. Muitos grupinhos estavam reunidos, mas tinha uma pessoa que preferiu não se juntar a nenhum, e sim comer na cozinha junto com as cozinheiras.

"Sofia, você saiu daquele grupo lá. E agora? Vai ficar sozinha por aí?" uma das cozinheiras perguntou enquanto secava as mãos.

Sofia a olhou surpresa.

"Vocês já 'tão sabendo disso?" perguntou e elas riram.

"As notícias também chegam aqui." a adulta respondeu e a outra suspirou.

"Não sei. A Denise e algumas pessoas do time ficaram do meu lado." ela disse.

"Tem uns aqui hoje. Por que não está com eles?" outra cozinheira perguntou.

Sofia suspirou.

"Acho que Toni não 'tá tão errado assim, eu não caibo naquele grupo." respondeu.

"E por que não?" umas das adultas perguntou.

"Eu não sou atleta como eles, e não quero que eles sejam perseguidos pelos bullies que 'tão falando sobre mim por aí." ela confessou.

As cozinheiras se entreolharam.

"Sofia, eu duvido que esses atletas teriam problemas com isso. Ano passado saíram uns boatos por aí sobre gente do time…" uma delas dizia até a adolescente negar com a cabeça.

"Eu sei que eles não ligam, mas tem um monte de coisa envolvida. Não quero trazer mais um problema!" a moça respondeu voltando a comer e as cozinheiras deram de ombros.

"Os adolescentes daqui são complicados demais." uma delas comentou.

*

Fora do internato, em uma mesa farta, Cebola comia enquanto observava seus pais falando com Maria Cebolinha sobre o rendimento da menina em uma atividade escolar.

"Foi legal ganhar uma medalha da tia!" Maria falou com um sorriso e os pais sorriram mais.

"Certeza que virão muitas outras!" a mãe comentou.

"E você, Cebola? Como andam as coisas no internato?" o pai mudou o foco.

"A mesma coisa." o filho respondeu sem muito ânimo.

"Como assim mesma coisa? Ainda está mexendo com monitoria? Continua sendo o primeiro da turma?" a mãe perguntou séria.

O adolescente deu de ombros.

"Sim, ainda mexo com monitoria. E não sei se ainda sou o primeiro da turma, tem gente muito aplicada na sala que nem vai embora aos fins de semana e estudam mais que eu." respondeu se arrependendo em seguida, por conta da expressão feia que os mais velhos fizeram.

"E o senhor não vai fazer nada? Estude mais que eles, seu futuro vai ser ainda mais promissor! Se necessário, fique aos fins de semana, é um internato no fim das contas." o pai falou.

O mais novo abandonou os talheres no prato.

"Talvez eu realmente devesse." ele disse.

A caçula balançou com a cabeça negativamente.

"Não, Cebolinha! Eu fico com muita saudade!" Maria exclamou.

"Maria, querida, não se intrometa nesse assunto. Você também precisa se esforçar mais, a filha da vizinha já 'tá até cantando muito bem em inglês!" o pai repreendeu.

Cebola riu sem humor enquanto arrastava sua cadeira para trás.

"Não acredito que eu 'tô ouvindo isso… eu perdi a fome! Vou dar umas voltas, com licença." falou deixando a mesa e os pais apenas o encararam, mas não disseram nada já que seus celulares de trabalho começaram a tocar.

O rapaz foi até seu quarto, pegou sua carteira e seu celular e saiu de casa a pé.

*

Um pouco distante dali, Magali respirava fundo pela terceira vez enquanto ajudava a mãe a cortar alho. O pai havia se dado o trabalho de ir até a cozinha para reclamar ao telefone com um funcionário.

"Eu já disse! É inadmissível que aquele bando de adolescentes tomem meu colégio daquele jeito! Não me importa se eles ameaçaram atacar funcionário ou a avó deles, vocês falharam!" Carlito gritava enquanto andava de um lado para o outro.

Os barulhos na cozinha pareciam mais altos, tanto que Magali não ouvia direito o que sua mãe falava, o que era intencional já que a mais velha resmungava. Mas o som alto da faca que cortava um pepino demonstrava a raiva que a mulher parecia sentir.

"Carlito, por favor! Vai falar com essa pessoa fora da cozinha! 'Tá atrapalhando!" a mãe de Magali reclamou brava.

O homem olhou para ela.

"Estou falando com um funcionário aqui! Eu já te disse o que aconteceu ontem!" ele disse colocando o aparelho perto do peito para que o interlocutor não o escutasse.

A esposa cruzou os braços, ainda segurando a faca.

"E o que meu almoço tem a ver com isso? Por acaso estou cozinhando naquela droga de internato?" ela retrucou.

"Tem muito a ver! Se vaza que não controlo meus alunos, o dinheiro que paga nosso almoço não entra!" ele disse e ela largou a faca na pia.

"Como você é exagerado… Quer saber? Não vou fazer almoço nenhum! Se vocês quiserem comer, sintam-se livres pra fazer!" ela exclamou tirando o avental.

"Eu vou comer na minha mãe! Não, não 'tô falando com você!" ele disse se voltando para o celular ao fim.

Magali colocou os cabelos para trás.

"Vou ver se a Mônica topa almoçar comigo no shopping. Preciso de dinheiro." ela enfim se manifestou e a mãe apontou com a cabeça para o marido.

"Pede pro senhor me importo com boatos ali." ela disse deixando a cozinha e o homem bufou apoiando o celular entre o ombro e o pescoço e tirou vinte reais de sua carteira.

"Com esse dinheiro você compra o necessário pra não sair da dieta." ele disse e a moça não quis discutir, apenas pegou o dinheiro e desbloqueou seu celular.

"Oi, Mô, pode almoçar comigo no shopping?" a morena enviou um áudio para a amiga enquanto deixava a cozinha.

X

Mônica aceitou o convite de Magali sem problemas, também queria espairecer. Após almoçarem, as duas decidiram dar algumas voltas pelo local.

"Obrigada de novo por ter vindo, Mô!" Magali agradeceu.

"De boa. Meus pais me perguntaram que tanto de assunto eu tenho com a pessoa que eu vejo a semana toda, mas tudo bem." disse com um riso que foi acompanhado pela amiga.

"Ainda 'tô cansada por ontem. E hoje meu pai 'tava furioso com os funcionários." a outra comentou.

"Doeu no bolso, né? Ai! Desculpe, Magá! Eu sempre acabo xingando o diretor e ignoro o fato de ele ser seu pai." Mônica disse.

A de cabelos longos deu de ombros.

"Ah, eu nem ligo mais pra isso. Meu pai é uma boa pessoa, mas essa posição de diretor de internato transformou ele." falou e a amiga assentiu sem saber o que dizer.

"Foda isso, amiga! E ontem? O Cebola e Cascão correndo com a gente?" Mônica mudou de assunto.

"Será que o Cascão vai mesmo falar pra Gabriela sobre a gente?" Magali perguntou e a outra riu.

"Não duvido nada! Eles ficam no IL, né?" a de cabelos curtos comentou e a amiga assentiu.

"Sempre me perguntei o que será que acontece lá aos fins de semana. Será que é tranquilo ou cheio de trote?" Magali perguntou.

"Se a filha do diretor não sabe… imagina eu! Mas não sei se quero descobrir. Ficar na escola até aos fins de semana deve ser uma tristeza!" Mônica disse e outra riu.

"Ah, sei lá. Quem fica não parece ser tão infeliz assim com isso." Magali observou.

"Vejamos dois exemplos: Cascão é amigo de todo mundo e Gabriela estuda que nem condenada e tem a companhia da Milena, que é outra que vive estudando. Se você fosse pra lá sozinha, o que iria acontecer?" Mônica perguntou.

Magali tombou com a cabeça enquanto fazia uma careta.

"Ficaria solitária! Afinal, sou a cagueta que iria embaçar os esquemas que, com certeza, acontecem." respondeu.

As duas continuavam falando disso quando reconheceram um rapaz caminhando com o olhar perdido. No mesmo momento, Mônica puxou Magali para trás de um manequim que estava do lado de fora de uma loja.

"Que isso, Mônica?" Magali perguntou.

"Olha ali o Cebola! Não quero estragar meu dia vendo a... Ué, mas cadê a Penha?" Mônica comentou olhando ao redor do rapaz.

"Vai ver ela 'tá…AHH!" Magali disse enquanto se inclinava para tentar ver e, de súbito, se desequilibrou e trombou com o manequim fazendo com que Mônica o derrubasse ao tentar, ironicamente, impedir a queda.

O som alto fez com que não só Cebola, mas também outras pessoas olhassem na direção delas, fazendo com que ambas sorrissem amarelo.

"Desculpinha, he-he." Mônica disse se levantando e Magali a acompanhou com um riso sem graça.

"Não foi nada…" a vendedora da loja disse com um sorriso forçado.

As duas saíram rapidamente dali e Cebola riu quando se aproximaram dele.

"Imagina se fosse a Denise vendo essa cena maravilhosa." ele comentou com um sorriso.

"Nem pense em falar pra ela, Cebolácio!" Mônica exclamou apontando o dedo indicador para ele.

"Relaxa, vocês já passaram vergonha suficiente." o rapaz disse divertido.

As duas se entreolharam surpresas, alguém do grupo dele que perdia a chance de zombar de alguém era ligeiramente estranho.

"Cebola… a Penha vai concordar com essa… ér… ausência de zombaria?" Magali perguntou.

Cebola a encarou sem entender.

"O quê? O que a Penha tem a ver com isso?" perguntou.

"Sei lá, quando ela aparecer aqui pra te encontrar…" Mônica disse de braços cruzados.

O rapaz deu de ombros.

"Ah, eu não 'tô com ela. Literalmente." respondeu falando o final em voz baixa, mas elas ouviram.

"Literalmente? Como assim? Vocês terminaram?!" a de cabelos curtos comentou alto.

O moreno, novamente, subiu os ombros.

"Vocês vão ficar sabendo disso na segunda. Cuidado com os manequins, eles não fizeram nada a vocês." disse e se afastou com um riso.

As duas se entreolharam abobadas.

"Gente… esse menino tem dupla personalidade? Na escola é um cu e aqui fora ou no reforço é uma pessoa de boa!" Mônica disse incrédula.

"Vai ver os amigos dele são o problema. Vamos indo, acho que ainda tem gente rindo da nossa cara." Magali comentou e Mônica a acompanhou pensativa.

*

Distante dali, Penha ajudava a mãe a guardar a louça já seca quando seu celular vibrou. Era uma mensagem de Nikolas dizendo estar a caminho.

"Daqui a pouco o Nikolas chega." ela disse secando as mãos em um pano de prato.

A mãe da moça olhou sem entender.

"Nikolas? Seu namorado não era aquele tal de Cebolácio?" perguntou.

"Não 'tô namorrando com o Nikolas e não mais com o Cebola. A gente terminou ontem." a filha respondeu e a outra levantou a sobrancelha.

"Terminou o namoro? E por que não parece mal com isso?" a mais velha perguntou e Penha deu de ombros.

"Não sei. Deve ser porque minha cabeça 'tá em outros assuntos da escola." respondeu.

"Ah, queria falar sobre isso. Estive falando com o diretor… ele quer que você faça algum estudo avançado." a mãe disse e a outra arregalou os olhos.

"Ele quer o quê? E desde quando ele que decide?" Penha perguntou incrédula.

"Não sei se você conhece algum outro bolsista, mas todos geralmente são bem atarefados. Escolhe a disciplina que você mais gosta e vai fundo." a mãe respondeu simples.

"Não é assim também! Já começou faz tempo! Todo mundo vai prestar atenção em mim nas aulas." a adolescente disse.

"Ué, não é disso que você e seu grupo gostam? Chamar atenção?" a mais velha questionou.

"Não esse tipo de atenção!" Penha exclamou.

A mãe revirou os olhos.

"Deixa disso, garota!" exclamou e logo em seguida o celular da moça vibrou novamente.

"É o Nikolas! Ér… pode fazer alguma outra coisa pela casa." ela disse e a mãe bufou.

Penha saiu rapidamente e o moreno desceu do uper. Ele nem teve tempo de reparar na fachada quando ela o puxou para dentro.

"Vamos logo com isso que tenho muita coisa pra fazer." ela disse.

"Vai com calma, Penha. Eu cancelei um compromisso divertido pra te ajudar, então espero que leve a sério." ele disse.

"Clarro!" ela disse e os dois entraram de vez.

Nikolas não pôde evitar de olhar em volta, era bem diferente do que imaginava, tanto pelo lugar, um bairro de classe aparentemente média e bastante barulhento, quanto pela simplicidade da casa.

"Aqui é a casa da minha tia! A minha é uma mansão que 'tá sendo…'tá sendo… limpa!" a morena mentiu e o rapaz olhou sem acreditar nas palavras.

"Se você 'tá dizendo…" falou enquanto tirava sua mochila das costas.

A mãe de Penha apareceu secando as mãos no avental e a moça engoliu em seco.

"Essa é a minha ti..." apresentava quando a mulher tomou a frente e estendeu a mão para o rapaz com um sorriso.

"Oi! Sou a mãe da Penha! Você deve ser Nikolas, o monitor de matemática, certo? Aceita uma água?" ela perguntou e o rapaz apertou sua mão.

"Não precisa se incomodar. E é isso mesmo, sou o monitor!" o rapaz falou.

"Não sei o que ela fez pra você aceitar ajudar fora do horário de aula, mas, por favor, ajuda ela a ter umas notas melhores na matéria!" a adulta pediu sorridente enquanto juntava as mãos.

Nikolas riu e Penha escondeu o rosto com a mão.

"Farei o possível! Tenho a impressão de conhecer a senhora de algum lugar..." ele disse tentando lembrar.

Penha bateu uma palma.

"Vamos logo com isso? Temos muito trabalho pela frente!" ela disse tensa.

"Não vou mais atrapalhar. Ah, fique à vontade e não repare na bagunça da nossa casa, Nikolas." a mãe disse deixando a sala.

A moça olhou para o dono dos dreads.

"Legal sua casa e sua mãe. Quer dizer, a casa da sua tia e sua tia." ele disse zombeteiro e ela franziu o cenho.

"Escuta aqui, se você falar…" ela falava quando ele revirou os olhos.

"Se eu falar pra alguém, eu 'tô ferrado. Eu já sei! Temos um acordo, não? Mesmo eu não sabendo se você fez ou não sua parte. Enfim, posso colocar minhas coisas na mesa?" o rapaz perguntou apontando para a mesinha da sala.

Penha olhou em direção à cozinha.

"Vamos pra cozinha. A mesa é maior." sugeriu e os dois foram até lá.

Os dois se sentaram em cadeiras distantes, e ele colocou alguns cadernos em cima da mesa e pegou uma pasta que tinha uma ficha sobre Penha e várias outras folhas.

"Pelo visto você não falou com a professora de matemática sobre esse reforço de sábado. Ela veio falar comigo e eu tive que explicar a situação." ele disse sem a olhar.

"E o que você disse?" ela perguntou amedrontada.

"Só que você não se sentia confortável no reforço em grupo. Mas tem um porém, ela disse que essa monitoria precisa ser extremamente produtiva." respondeu enquanto escrevia algumas coisas.

"Ah! 'Tá bom." ela respondeu.

O rapaz finalmente parou de escrever e a olhou.

"A professora colocou aqui que você tem um sério problema com equação de segundo grau." ele disse a moça fez uma careta.

"Nem sei o que é isso…" a moça balbuciou.

"O quê?" ele perguntou.

"Não sei por que ela diz isso! Eu entendo de matemática, não igual a você que tem aula extra com ela e é um nerd, mas eu entendo muito!" a morena disse convencida.

O rapaz levantou a sobrancelha.

"É mesmo? Então não vai ser problema pra você fazer esses cinco exercícios." ele disse entregando uma folha com as questões, folha de rascunho e emprestou seu lápis e borracha.

Penha o olhou surpresa, não esperava que teria que fazer algo de cara.

"E você não vai fazer nada? Se é pra ser assim, eu assisto vídeo aula." perguntou e o rapaz suspirou.

"Eu preciso saber onde você tem dificuldade. Você tem meia hora e essas respostas vão pra professora, 'tá?" ele disse e a moça bufou e começou a fazer.

Nikolas usava o celular enquanto isso, já que ela poderia se sentir pressionada se ele ficasse olhando. Quando ela acabou, após dez minutos, o rapaz conferiu e arregalou os olhos pouco antes de encará-la.

"Eu não disse que sabia?" ela disse presunçosa e ele forçou um sorriso.

"Olha… você tem algum compromisso hoje?" Nik perguntou e ela o olhou sem entender.

"Não… por quê?" perguntou.

"Porque você precisa de uma revisão de muita coisa!" ele respondeu e a moça bufou.

"Revisão? Você 'tá é querrendo ganhar ponto extra com a professorra pra dizer que é o monitor fodão!" ela exclamou e foi a vez de Nik bufar.

"Penha! Você acertou os valores, mas suas contas não fazem sentido nenhum!" ele apontou.

"Você não entendeu e eu que preciso de reforço? Palhaçada! A conta do gabarrito que 'tá errada!" ela se defendeu negando a aceitar que estava errada.

O dono dos dreads olhou incrédulo e respirou fundo.

"Penha, eu não posso te ajudar se você não aceita que precisa de ajuda." ele disse.

"Quem precisa de ajuda é aquela professorra que não sabe corrigir prova! E não se esqueça que a gente tem um acordo, você não vai pular forra assim!" ela exclamou.

"Esquece o acordo por um momento e pensa na sua situação. Eu sei que seu grupo se safa de muita coisa, mas a professora 'tá no seu pé, colar vai ser muito mais difícil." o rapaz disse sério e ela o encarou surpresa.

"Eu não vim até aqui pra te julgar, eu vim pra te ajudar como nós tínhamos combinado, mas não vou ficar aqui sendo feito de otário! Ou você leva a sério, ou a gente finge que nunca existiu esse acordo, nunca mais nos falamos e finjo que não sei nada sobre a sua vida. Eu me resolvo com a professora." ele disse em tom calmo, porém firme.

Penha se calou. Ao pensar em sua situação, viu que não estava em condições de negar a ajuda de alguém que sabia muito sobre si e parecia não se importar com isso. Além disso, Nikolas parecia ter perdido o medo de seu tom de voz e olhar de desprezo.

"Tudo bem. Eu querro sua ajuda! Mas… não fala pra ninguém." ela pediu com a voz tensa.

"Por que você tem tanto medo que eu fale pra alguém? Acha tão vergonhoso assim não entender matemática?" ele perguntou o que há tempos queria saber.

A moça suspirou.

"É! Pra mim é." respondeu apenas omitindo outras coisas e o rapaz assentiu e, para a surpresa dela, mudou de lugar ficando ao seu lado.

"Ok. Vamos começar: exercício um é só aplicação da fórmula. Não sei o que você fez, sinceramente." ele disse.

Penha riu.

"Sérrio que você não sabe? Eu vi as respostas finais e dei um jeito de chegar nelas. Você moscou ficando no celular." ela disse e o rapaz não evitou o riso.

"Você fala isso com orgulho?" ele perguntou e a moça deu de ombros.

"Eu passei de ano colando do Cebola. Nunca entendi nada dessas coisas aí, mas também nunca tentei." ela disse.

"Ser popular é muito bom mesmo, se eu fizesse isso teria me dado muito mal. Enfim, aqui temos essa equação de segundo grau e precisamos achar as raízes. Pra isso usamos a fórmula de delta e a fórmula de Bhaskara." ele falou calmo e ela o encarou.

"Você sabe que eu não sei nem por onde começar, né?" ela perguntou e ele assentiu.

"Por isso estou aqui! Vamos por partes." falou colocando as fórmulas na folha e explicando devagar como devia ser feito.

Após um tempo, os cinco exercícios haviam sido feitos e Penha, para a sua própria surpresa, havia entendido.

"Mon Dieu, Nikolas! O que foi isso? Eu realmente consegui fazer isso sem colar? Aqui tem raiz quadrada e mais um monte de letra com númerro! E eu fiz!" ela exclamou sorridente e o rapaz sorriu.

"Viu? Não é impossível. Mas me responde uma coisa… você cola em todas as matérias?" ele perguntou.

Penha negou.

"Não, eu só não entendo muito de matemática, então o que usa matemática eu me ferrarria se não colasse. Mas quando eu 'tô com preguiça, eu colo. Não sou essa burra que você acha que sou." ela respondeu.

"Não acho que você seja burra. Você só tem problemas com matemática, como muita gente. Enfim, quer continuar a fazer os exercícios ou quer ver um pouco de equações do começo? As de primeiro grau também?" ele disse.

"Querro do começo!" pediu e ele assentiu.

Após horas, os dois finalmente acabaram os exercícios que a professora havia mandado para Penha. A moça não queria assumir em voz alta, mas havia gostado de passar aquele tempo aprendendo a matéria com Nikolas, isto é, com alguém que fosse de fora de sua roda de amigos.

"Bom, é isso. Espero que tenha entendido tudo." ele disse e ela sorriu.

"Ah, eu entendi, sim! No reforço em sala também é assim?" ela perguntou.

"Mais ou menos. Tem a lousa e a professora pode me dar uma ajuda em vez da internet. Só dá pra descobrir lá." respondeu e ela sorriu sentindo um leve desejo de estar lá, mas foi aí que um pensamento a acometeu: ela ainda era uma popular que não podia demonstrar que tinha problemas como qualquer outra pessoa.

"Ér… a gente se vê sábado que vem." ela disse tentando manter a voz fria.

Nikolas percebeu a mudança brusca da voz dela, mas assentiu.

"Ok. Tchau, Penha." ele disse passando pelo portão e entrando no uper, que havia acabado de estacionar.

O rapaz entrou no carro e cumprimentou o motorista meio aéreo, estava pensando no tom de voz final de Penha.

"No fim das contas, sou só o monitor. Nem colega dela eu sou." balbuciou.

*

Longe dali, Denise estava na sala com sua amiga Carmem, uma loira de cabelos ondulados e olhos claros, que não via há um tempo. As duas assistiam séries há horas, mas só naquele momento decidiram falar sobre a vida escolar.

"Como andam as coisas no IL, Dê?" a loira perguntou.

"Estranhas. Os novatos 'tão muito saidinhos e ando tão ocupada que quase não faço trote. Além disso, Sofia saiu do grupo e me fez prometer que não vou tentar descobrir nada sobre o cara que eu mais queria descobrir sobre a vida." Denise respondeu.

"Nossa. E quem é esse boy?" a outra perguntou.

Denise desbloqueou o celular, entrou em uma rede social e mostrou uma foto.

"É esse aqui." falou e Carmem olhou para a foto e depois sorriu maliciosa.

"É gatinho, Dê! Quer descobrir sobre ele pra pegar?" perguntou e a ruiva riu.

"É bonito mesmo, mas é perfeitinho demais e já tretamos, miga. Sem chance! Enfim, Sofia ama aquele menino, então tenho que aturar." Denise respondeu.

"Ama? Como assim?" a outra perguntou.

"Não no sentido de paixão, o trauma com o arrombado lá fez ela desencanar de crush. É amar no sentido de se sentir bem perto dele, porque ele é legal com ela." a ruiva explicou e a amiga assentiu.

"Ah, sim… falando em ser legal, como 'tá o Nikolas?" a loira perguntou e a outra riu.

"Como você ligou a palavra legal ao Nikolas? Você nunca foi legal com ele e ele não tem nada de interessante, vive escondido na biblioteca. Hoje em dia menos, já que virou amiguinho do Tikara e outro pateta." Denise falou.

"Denise, não fala assim! Eu me arrependo muito de ter feito o que fiz com ele! Na verdade, me arrependo de todos os trotes que participei, nunca completaram em nada, só serviam pra tratar mal alguém que já 'tava numa situação ruim. O jornal também entra nessa." Carmem disse.

Denise franziu o cenho.

"Não 'tô entendendo vocês ultimamente. Não é como se as notícias do meu jornal fossem tão destrutivas assim!" exclamou.

"Ah, não? Me fala quantas das pessoas que apareceram no jornal ficaram felizes com isso?" a loira questionou.

A ruiva deu de ombros.

"Eu gosto de informação e manter todos informados. Esse é o objetivo do jornal, Carmem." ela disse e a loira suspirou.

"Do jornal ou da sua vida?" perguntou e a outra deu de ombros enquanto mudava de assunto.

A conversa delas continuou, mas o que não sabiam era que Tikara havia ouvido a parte que falava de seu amigo e ficou curioso acerca disso, mas iria perguntar pessoalmente.

*

De volta ao internato, em um corredor, Cascão estava sentado no chão e forçava um sorriso enquanto ouvia Gabriela falar sobre o time. Queria falar sobre o relacionamento.

"Eu acho que vou aumentar a intensidade do treino, o que acha? Tem muita gente fazendo corpo mole!" ela disse.

"Acho legal, Mônica e Magali estavam péssimas ontem." ele lembrou.

"Como você sabe?" a moça perguntou com um riso.

"Fugi do terceirão com elas e o Cebola." o rapaz respondeu.

"Cebola? Devia ter deixado sofrer!" ela exclamou.

"Ele não é tão chato assim." Cascão defendeu.

"Ah, não? Até onde sei, Denise tem problemas com a Milena por culpa dele!" a loira lembrou.

"Ué, mas foi a Denise que ficou no pé da Mi, não o Cebola. Eles pararam de ficar e a vida seguiu." ele disse.

"Seguiu tanto que ele nunca desmentiu os boatos que correram sobre ela." Gabriela afirmou e Cascão se calou, nisso ela tinha razão.

"É… mas chega de falar dele." ele disse e a loira sorriu se aproximando.

"Verdade! Vamos falar de nós! Eu tenho que me desculpar, aquele dia eu surtei por causa do jogo, mas como vamos deixar as coisas mais sérias, temos que ter uma comunicação melhor, e não foi o que eu fiz..." a moça falava e Cascão parou de ouvir quando ela falou sobre deixarem as coisas mais sérias.

"Espera aí… como assim deixar as coisas mais sérias?" ele perguntou.

Gabriela levantou os ombros como se fosse óbvia a resposta.

"Ué, Cascão, a gente 'tá ficando desde as férias, dá a entender que temos que dar um passo na relação." respondeu.

Cascão levantou.

"Opa! Gabriela, tu é foda pra caramba, mas eu não quero namorar com você." ele falou sem pensar no peso das palavras, em sua cabeça não soou rude.

A loira arregalou os olhos.

"Como que é? Você 'tá me enrolando desde as férias pra nada?!" ela questionou se levantando e cruzando os braços.

"Eu não 'tava te enrolando! Nem sempre a gente quer namorar." o rapaz falou e a moça riu sem humor.

"Agora entendo porque você defende o Cebola, você é igualzinho ele! Ilude e vaza!" a loira disse se virando e já ia sair quando Cascão tocou em seu ombro.

"Gabi, espera! Vamos falar sobre isso pra gente não sair disso tretado!" ele sugeriu

Gabriela o encarou bem.

"Disso? Não tem nem um nome pra você? Se sua preocupação é nossa relação na quadra, relaxa! Eu consigo ser profissional." ela disse apontando para si mesma.

"Gabi…" Cascão chamou e ela quis chorar.

"O quê?! Quer me falar palavras bonitas pra tentar diminuir minha dor? Quer me dizer o quanto eu sou legal e tudo mais pra eu me sentir melhor? Eu demorei um tempão pra ver que o cara que eu gosto não gosta de mim do mesmo jeito, Cássio! Me deixa sozinha!" ela exclamou com a voz embargada e saiu rapidamente.

Cascão respirou fundo e deslizou as costas na parede até chegar no chão.

"Devia ter ido embora do IL esse fim de semana…" comentou consigo mesmo enquanto colocava as mãos no rosto.

*

Na área verde, Toni estava entediado. Desde que deixou o dormitório de manhã, já vazio por conta de Jeremias e Do Contra acordarem antes e não reapareceram por lá, teve que lidar com várias pessoas que tentavam agradá-lo para que fossem convidados a entrar no grupo.

No momento, o loiro estava sentado no gramado com as costas apoiadas em uma árvore. Enquanto olhava ao redor, entendeu um pouco o que Sofia havia dito: era solitário ficar ali sem nenhum amigo. Embora tivesse os bajuladores, nenhum deles de fato se importava com Toni, e sim com sua posição.

"Cara… nunca mais fico aqui em fim de semana." comentou consigo mesmo e olhou para o muro.

"Será que alguém já pulou esse muro? Não é tão alto…" mediu com os olhos enquanto esticava a perna.

Foi só Toni fazer isso que sentiu uma pessoa tropeçando em sua canela e caindo na grama. Era Gabriela.

"Olha por onde anda, garota!" reclamou ajeitando a perna.

"Vá à merda!" ela exclamou ainda zangada com Cascão enquanto se levantava e ele olhou incrédulo, ninguém nunca falava assim consigo.

"Ei! Quem você pensa que é pra falar assim comigo?" perguntou e ela bufou, estava tão irritada que sequer pensou antes de falar.

"Vocês desse grupo só sabem falar isso? Vocês se acham melhor que todo mundo, mas não são merda nenhuma! 'Cês são um poço de futilidade e prepotência, vai se ferrar!" ela xingou sem nem prestar atenção, só estava zangada e descontou no primeiro que apareceu.

"Por que 'tá tão nervosa? Eu não fiz nada pra você! Eu só disse pra olhar por onde anda!" ele exclamou e a moça suspirou tendo um breve lapso de consciência, de fato havia exagerado com o rapaz que não tinha nada a ver.

"Só sai da minha frente, Toni." disse e saiu rapidamente.

O loiro encarou a moça se afastar sem entender nada, mas as palavras dela haviam ficado em sua cabeça, mesmo que não quisesse. Diante disso, balançou a cabeça, pegou seu celular e viu que tinha duas mensagens, uma de sua mãe e outra de seu pai.

"Oi, querido, seu pai disse que você ficou no IL. Aconteceu alguma coisa? 'Tá bem aí? Qualquer coisa me liga! Te amo!" a voz de sua mãe soou desencadeando em Toni um sorriso que quase ninguém conhecia, era um sorriso doce e despido de qualquer malícia ou zombaria.

"Oi, mãe! Eu 'tô bem. Eu quis ficar pra estudar umas coisas e… pensar um pouco na vida. Também te amo." respondeu com outro áudio sentindo uma certa saudade da mãe, não a via há um tempo.

O rapaz deslizou o dedo na tela e suspirou antes de ouvir o áudio do pai.

"Tua mãe me encheu aqui pra te mandar mensagem. Não sei o que ela quer com isso, então fala qualquer coisa pra ela." a voz do pai soou rude e Toni apenas revirou os olhos e enviou um "joia" como resposta, já sem seu sorriso.

O rapaz olhou para o céu azul e fez o que havia dito para a mãe que faria, pensou em sua vida, mas não a de dentro do internato e sim a espinhosa do lado de fora.

*

Milena estava com Jeremias e Titi em uma mesa do refeitório apenas passando o tempo. Estavam entediados.

"Vamos jogar vôlei igual semana passada? 'Tá chatão hoje!" Titi sugeriu com a cabeça deitada na mesa.

"Ainda 'tô cansada do trote de ontem." a moça comentou.

"Capitã, capitã… 'Tá fora de forma." Jeremias brincou e ela riu.

"Em minha defesa, eu 'tava com sono. Eu não te vi ontem, Jeremias, se escondeu?" ela perguntou e o rapaz sorriu.

"Sim, mas eu não 'tava sozinho." ele disse e os dois o olharam curiosos.

Antes que ele falasse mais alguma coisa, uma garota do terceiro ano apareceu deslizando a mão nas costas dele.

"Oi, Jerê!" ela cumprimentou depositando um beijo na bochecha do rapaz.

"Oi, Maria." respondeu e ela sussurrou algo em seu ouvido antes de deixar a mesa e o rapaz rir.

Titi e Milena se entreolharam.

"O cara 'tá pegando." ele comentou e a moça riu.

"Cuidado, Jerê. Maria Melo é do jornal, qualquer coisinha é motivo pra ser exposto." ela alertou.

"Como você sabe? Já foi exposta por ela?" Jeremias perguntou.

"Não por ela, mas pela Denise. E todo mundo desse jornal é da mesma laia." a moça respondeu.

"Aí eu já tenho que discordar de você, Milena. Tem umas pessoas no jornal que são de boa." Titi disse e ela deu de ombros.

Cascão apareceu na mesa cabisbaixo.

"Salve, galera." cumprimentou desanimado e se sentou.

"O que aconteceu, Cascão? 'Tá com uma cara…" Jeremias perguntou.

"Ah, eu dei um fora na Gabriela e ela ficou triste." ele respondeu e Milena arregalou os olhos.

"Como você deu o fora nela?" ela perguntou séria.

"Porque eu não queria namorar com ela, ué." Cascão respondeu.

"Eu perguntei como, não por quê." a cacheada disse grossa e os demais, exceto Cascão, riram.

"Calma, Milena. O cara 'tá mal." Titi falou.

"Foi mal, Cascão, mas de que jeito você deu o fora? Porque eu sei que ela gostava muito de você!" ela disse.

"Acho que de um jeito ruim, ela saiu chorando e me xingou. Mas espera aí! Você sabia que ela queria um namoro comigo?" o rapaz perguntou.

"Quem não sabia, Cascão? Enfim, cadê ela?" a moça perguntou se levantando.

"Eu não sei, não tive coragem de ir atrás dela." ele respondeu.

A moça apenas levantou e saiu rapidamente. Titi sorriu enquanto a observava se afastar.

"Ah, se não fosse ex do meu amigo... Já tinha chegado junto." ele comentou dando cotoveladas em Jeremias, que o encarou.

"Que isso, Timóteo?" questionou.

"Ah, vai dizer que nunca reparou nela, Jeremias? Enquanto Cascão 'tava enrolando a Gabriela, eu 'tava só curtindo e comentando todas as fotos da Mileninha. Mas acho que ela não pegou a indireta. Felipe vacilão…" o de cabelos lisos disse.

"Eu não 'tava enrolando a Gabriela! E não entendi essa história de que todo mundo sabia que ela queria namorar comigo, menos eu." Cascão disse.

"Sério que você não sabia, Cascão? Até eu já tinha reparado." Jeremias disse e Titi assentiu.

Cascão revirou os olhos e apoiou o rosto na mesa.

"Que belos amigos que eu tenho! Nem pra me dizer!" reclamou.

"Ih, irmão, isso você tem que descobrir sozinho. Mas voltando ao que eu dizia, Felipe é um idiota em deixar uma mina dessas escapar. Desde o ano passado eu quero pegar ela." Titi falou.

"Ano passado você 'tava de rolo com Ana, Timóteo." o outro veterano lembrou sem ânimo.

"É, mas Milena e Gabriela, com todo respeito, eram novatas, extrovertidas e gatas, chama a atenção. Tipo agora! Aquela Ramona só chama a atenção de uma traça! Já a Mônica, eu pegava se não fosse pelas más companhias." Titi falou com um riso.

Cascão franziu o cenho e se sentou direito.

"Más companhias? Ela anda com a Magali! Onde que aquela menina é má companhia?" perguntou.

"Cascão, ela é filha do diretor. É a cagueta daqui." ele disse.

"Ela nem é cagueta! Você que é bobo em acreditar em qualquer boato que vem do jornal da escola, aquilo lá é tudo manipulado, Titi." o outro rebateu.

"Tá defendendo demais, hein, Cascão? O que 'tá rolando entre você e a Magali?" ele perguntou subindo e descendo as sobrancelhas.

"Nada! Vou sair daqui!" Cascão respondeu deixando a mesa.

*

Já era noite quando, no dormitório 226A, Jeremias conversava com Do Contra, pela primeira vez, sobre um assunto que não envolvia bullying.

"Esse ano eu diria que tem sido interessante. Se ainda tivesse o grupo de música, seria melhor." o de cabelos lisos disse.

"Aqui tinha um grupo de música? Que foda!" o outro falou.

"Sim, mas foi cortado porque o diretor falou que música não dá futuro. Bem escroto." Do Contra disse.

"Que horror. Mas pelo que Isadora disse, o grupo de teatro quase foi cortado também." Jeremias lembrou.

"Sim, o diretor tem uma ideia muito reduzida de muita coisa. Sinto saudades de passar pelo menos uma tarde com minha bateria." o veterano disse e o outro riu se deitando.

"Talvez seu erro foi não fazer o que Isadora fez: lutar com unhas e dentes." o novato brincou, mas Do Contra pareceu pensativo.

Antes que falassem algo, Toni entrou no quarto com um sorriso enquanto lia uma mensagem de Narcisa. Ela havia descoberto algo de Jeremias.

"Olha só quem 'tá aqui! Não vi vocês o dia todo, se esconderam com medo de mim?" o loiro perguntou e os dois franziram o cenho.

"Por que eu teria medo de você?" Do Contra perguntou.

"É… você é veterano e estranho demais, não tenho muito o que fazer com você. Já o outro…" respondeu e sorriu zombeteiro ao fim.

"Ontem mesmo eu já mostrei que não tenho medo de você, Toni. E espero que não esteja agredindo outras pessoas por aí." Jeremias disse.

"Muito legal que você seja um defensor dos fracos e oprimidos. Mas não se esqueça que você ainda tem um passado." o loiro disse e o novato franziu o cenho.

"O que quer dizer com isso?" perguntou sem entender, mas Toni apenas entrou no banheiro rindo.

Jeremias trocou um olhar com Do Contra.

"E ainda dizem que eu que sou estranho. Acho que isso foi ameaça, Jerê." o de topete comentou e o outro deu de ombros.

"Não vou levar esse cara a sério. Alguém que trata os outros como ele trata não merece minha atenção." Jeremias comentou e o outro assentiu.

Do banheiro, Toni ria ao ler a mensagem de Narcisa novamente. Mal podia esperar que chegasse segunda-feira.