- Veja, está nevando - disse Loou, debruçando-se sobre o parapeito da janela. Lá fora estava tudo branco. As árvores e casas estavam cobertas pela neve, e não se via quase nenhuma cor.

Adam aproximou-se, sonolento. Havia acabado de acordar, e eles haviam dormido em quartos separados - Adam no quarto de hóspedes. Loou não conseguia não sentir vergonha com a ideia dos dois dormindo juntos.

- Que lindo! Vamos, pegue suas botas e luvas, quero ir lá para fora.

Loou obedeceu. Pegou seu casaco de neve, suas botas e luvas. Estava congelando. Adam foi trocar de roupa e, quando voltou, usava apenas uma blusa de manga comprida, calças escuras e botas.

- Não está morrendo de frio? - perguntou Loou.

- Não sinto muito frio - respondeu ele. - Você está tão bonitinha - disse, olhando Loou, que estava com as bochechas e boca vermelhinhos por causa do frio.

- Não fale bobagem. Vamos sair. - disse a garota, vermelha. Abriu a porta e, quando pisou na neve, seus pés afundaram alguns centímetros. Ouviu Adam rindo às suas costas.

- Deixa eu te ajudar - disse ele, pegando a mão de Loou e andando com ela até a rua. Ele achava muito engraçado o fato de ser tão mais alto do que ela.

Ambos foram andando até uma árvore e sentaram no chão, à sombra dela.

- Estou com tanto frio... Como você não sente isso? - reclamou a garota.

- Não sei... Acho que tem a ver com os meus poderes. Mas de uma forma ou outra, eu estou sempre quentinho. Veja só - Adam colocou uma das mãos sobre a bochecha de Loou.

- Que inveja.

Loou começou a pensar se deveria tentar descobrir mais sobre ele em momentos a sós como aquele. Mas ela tinha tanta vergonha de perguntar... Bem, não havia nada a perder.

- É estranho como eu consigo contar pra você todas essas coisas íntimas sobre mim...

- Talvez eu só ganhei a sua confiança rápido, não é? - riu ele.

- Mas... Você sabe tudo sobre mim e eu não sei nada sobre você... Porque?

Adam ficou em silêncio por alguns segundos. Loou reunira toda a sua coragem para fazer uma pergunta do tipo, ela queria que ele respondesse direito.

- Bem, você nunca me perguntou.

- É que... isso ia fazer com que eu me sentisse mais próxima de você, sabe? - disse ela, corando. Na verdade ela adorava o fato de que Adam não se incomodava com quase nada. Era quase impossível deixá-lo irritado ou tirá-lo do sério.

- Então deixa eu te contar. Veja só, eu e meus pais éramos uma família muito unida e feliz. Eu nunca havia mostrado nenhum tipo de habilidade sobrenatural. Mas quando eu fiz uns sete anos, eu comecei a mostrar indícios de meus poderes. Do tipo... conseguir acender velas apenas encostando nelas, conseguir fazer flores brotarem no chão ou frutos crescerem do nada nos galhos das árvores. Meus pais acharam muito estranho, mas começaram a se irritar quando outras pessoas perceberam isso. Eles sempre tiveram esse complexo de 'família perfeita', e algo como as minhas habilidades estranhas ia estragar tudo. Assim, chateados, eles começaram a me maltratar. Eu me deixei ser machucado por um tempo, mas um dia eu simplesmente bati de frente com eles e reclamei. Porque não era justo. Então meu pai me jogou no carro e me deixou naquele bosque, mandando eu nunca mais voltar.

- Que... Que horror - Loou franziu a testa, irritada com os pais de Adam, mesmo sem tê-los conhecido.

- Pois é. Bem, eu percebi que havia uma escola próxima de onde eu ficava, mas por muito tempo não dei muita atenção. Fui me adaptando àquele bosque, utilizando apenas de meus poderes para sobreviver. Mas quando eu fiz mais ou menos onze anos, resolvi que deveria estudar e pensar no meu futuro. Fui até o internato, conversei com a Sra. Morron e ela me aceitou como bolsista. Ela geralmente faz isso com os órfãos.

Loou nunca havia pensado em como estava pagando seus estudos. A Sra. Morron apenas perguntou se ela era órfã, nunca tocara no assunto do dinheiro. Loou tinha que agradecer àquela mulher.

- Nossa, eu... sinto muito...

Loou queria que ele soubesse que podia contar com ela quando se sentisse triste por algum motivo. Mas ela não conseguia simplesmente dizer isso a ele. Era difícil, para ela, colocar todo o carinho que sentia por Adam em palavras. Mesmo em gestos, ela sempre sentia um pouco de vergonha ou timidez. Apenas encostou a cabeça em seu ombro e fechou os olhos.