Loou caminhava pela escola, procurando seu quarto com os olhos. Mas via apenas salas de aula. Estava imaginando se os quartos ficavam em outro alojamento...

Os alunos ainda estavam em aula. Não havia uma alma viva nos corredores. A garota procurou não ligar, porque ela não estava perdida e não precisava de ajuda. Ou talvez fosse só muito orgulhosa. Loou seria capaz de passar fome e sede só para não pedir favores para ninguém.

Ouviu passos apressados às suas costas e não quis olhar. Tinha um pouco de medo do que iria encontrar naquela escola, que parecia ser tão diferente quanto seus alunos. Loou havia praticamente esquecido como se relacionar com as pessoas, depois de dois anos afastada de sua escola.

Uma gata preta passou rápido por entre as pernas de Loou. A garota gritou de susto. A gata deslizou pelo corredor e virou à esquerda. Loou ouviu, ofegante, os passos que ouvira se aproximarem.

- Nikki! Nikki! Por favor, volte aqui!

A voz era doce e meio infantil. Loou não resistiu e olhou para trás, ainda que meio hesitante.

Era um garoto, que vinha correndo. Era uma figura absolutamente adorável. Tinha cabelos cor de chumbo, lisos e mais compridos na parte da frente (fazendo com que ele parecesse vagamente com uma garota). Olhos bizarramente cor de rosa, grandes e muito bonitos. O menino não era muito alto, e usava uma blusa social branca e jeans.

Ele corria atrás da gata mas, quando Loou se virou, os dois trombaram, caindo ambos no chão. A tiara que Loou estava usando no cabelo caiu no chão.

- Desculpe, desculpe! - disse o garoto, levemente corado.

- Tá. Olhe por onde anda.

Loou levantou-se e olhou o corredor, lembrando-se da gata. Pegou a tiara no chão e um espelho no bolso, para olhar-se enquanto arrumava o cabelo de novo.

- A gata preta é sua? - perguntou ela, indiferente.

O garoto explicou que a sua gata, Nikki, gostava muito de brincar com ele, fazendo-o correr atrás dela pelos corredores da escola. Ela fugira da sala de aula e ele a havia perseguido até lá.

- Animais... na sala de aula? Pode, isso?

- Bom, não sei se pode com todo mundo, mas comigo eles deixam. Acho que só eu tenho um bicho de estimação, aqui - respondeu o menino. - eu... ah!

Ele gesticulava enquanto falava e, em um desses gestos, derrubou o espelho de Loou, que se espatifou.

- Seu desastrado!

O garoto se desculpou e, de cabeça baixa, pôs-se a catar os cacos de espelho espalhados no chão.

- Ah, não precisa fazer isso - disse Loou - você vai se...

- Ai!

O garoto largou os cacos de espelho e levou um dedo cortado à boca. Loou revirou os olhos. Que menino mais azarado.

- Qual é o seu nome? - perguntou ela.

- É Jynx - sorriu o menino, tímido.

- Nome legal. Eu sou Loou. Sabe, li em um livro que Jinx significa azar.

- Meu nome é com y. Mas, ainda assim, acho que combina bem comigo.

Pela primeira vez no dia, Loou sorriu. Pediu direções ao menino, que lhe explicou como chegar a seu quarto.

- Obrigada, Jynx.

- Não foi nada, Loou. Ei, a Nikki já deve estar longe... é melhor eu ir.

- Tudo bem. Tente não se machucar mais - sorriu ela.

- Vou tentar - ele riu - Ah, seja bem vinda!

O garoto continuou a correr atrás da gata, tropeçando nos próprios pés.