[P.O.V Mevans = On]

Olhei para o aglomerado de rostos curiosos no círculo da luta. Fiquei sentado no teto de um armazém de armas, longe de toda a aglomeração. Qualquer lugar com multidões me assusta. Memórias vêm e eu entro em pânico. O pensamento de estar perto de outras pessoas deperta memórias indesejadas, e já é ruim o suficiente eu ter que dividir beliche com outra pessoa. Olhei para o centro do círculo, onde Nard estava aproximando-se de Quíron. Não gosto muito da vida monótona da Cabana 2, então qualquer "espetáculo" como esse era bem-vindo. Ao contrário do resto da Cabana, eu estava torcendo por Nard, porque acho que torcer para Quíron era fácil demais

Nard começou com uma investida na direção da cabeça de Quíron, com a espada direita, a com a pegada invertida. Quíron levantou a própria espada para bloquear o golpe ao mesmo tempo que a espada esquera de Nard ia em direção às costelas de Quíron. Ele desviou do golpe e deu uma investida em direção ao peito do Nard. Ele usou a espada esquerda para desviar o golpe e quando Quíron levantou rapidamente a espada para outra investida, Nard cruzou as duas espadas e defendeu o golpe.

Nard estava um pouco abalado pela força dos golpes de Quíron e deu vários passos para trás. Quíron começou a trotar rapidamente em direção dele, e investiu a espada na direção das costelas de Nard, mas no último segundo ele levantou um pouco a espada, quebrando a defesa e acertando o ombro de Nard. Nard caiu nos seus joelhos no chão enquanto a manga de sua armadura ficava cada vez mais vermelha. Ele soltou um grito alto de dor e eu me lembrei do dia antes de eu achar o Acampamento.

{Flashback = On}

Eu estava na sala de jantar da casa dos meus tios, no meu aniversário de 17 anos. O lugar era familiar, já fui lá diversas vezes e todas as memórias que tenho do lugar são ruins. Antes de eu conhecer meus pais, eu passei minha vida indo de um orfanato a outro. Eu causava problemas e era popular, mas eu me sentia sozinho a maior parte, porque eu sabia que eu não tinha amigos de verdade, apenas pessoas interessadas na minha popularidade.

Um casal me adotou e cuidou de mim quando eu fiz 10 anos. Me deram de tudo, eu podia ter o que quiser sem esforço. Eles me davam de tudo, menos o que eu precisava: amor e afeição. Mesmo com eles, me sentia sozinho e detestava conseguir tudo de bandeja, sempre quis merecer o que recebia, então passei a recusar as ofertas de presentes de meus pais.

Quando eu fiz 13 anos, meu tio se aproveitou da minha solidão e toda vez que eu ia lá, ele me levava para um quarto escondido e me estuprava. No começo eu não entendia o que acontecia, e ele fazia parecer como se fosse uma “brincadeira”, mas após 2 meses eu entendi o que acontecia, mas ele me proibiu de falar para alguém e me ameaçou caso eu falasse para meus pais.

Enquanto eu encarava a sala de jantar, na poltrona esquerda nas 4 poltronas em volta de uma mesa e olhava as paredes brancas e limpas, o tapete cinza e o lustre no centro da sala, meus pais precisaram sair para comprar algumas coisas para o jantar que eles esqueceram de comprar na ida. Suspirei quando os vi sair pela enorme porta de carvalho e meu tio me chamou para os fundos, falando que precisava de ajuda para trocar uma lâmpada, mas eu sabia sua intenção verdadeira.

Quando ele virou as costas, eu saí correndo para a enorme janela da sala, que estava aberta. Pulei e me preparei para a dor da queda, visto que a casa ficava num morro elevado. Por sorte, caí em um monte de folhas e minha dor foi amenizada. Corri em direção à floresta que havia ao lado, ao mesmo tempo que ouvia a porta de trás ser aberta e meu tio vir correndo em minha direção. Corri o mais rápido que pude e entrei na floresta. Fiquei lá a noite inteira, enquanto despistava meu tio e encontrei por acidente o Acampamento na manhã seguinte.

{Flashback = Off}

Depois de soltar o grito de dor, Nard levantou e foi na direção de Quíron com fúria nos olhos. Depejava ataques cegamente, brandindo as duas espadas no ar o tempo todo. Quíron defendia os ataques de fúria com uma facilidade enorme, quase com desdém. Eu já sabia qual seria o resultado, então suspirei lentamente enquanto os eventos se desdobravam.

Em um determinado momento, Quíron usou sua espada de forma que bloqueou as 2 espadas de Nard e trotou em um círculo, com uma de suas patas batendo no ombro de Nard, o que causou este a ter um ângulo nada normal. Quíron embainhou a espada imediatamente e Nard depencou no chão, ficando inconsciente e quase deitou em cima de uma de suas próprias espadas.

Várias pessoas vieram ajudar e carregaram Nard para a enfermaria com certa dificuldade, por causo do sobrepeso dele. Eu sabia que só o Nick sabia a história completa do Nard, mas eu tinha consciência que ele tinha problemas de ansiedade e que comia quando estava estressado.

No dia seguinte, me voluntariei para cuidar de Nard na enfermaria, visto que eu já estava extremamente entediado na Cabana 2. No caminho, vi os filhos de Hefesto nas forjas, mas não vi nenhum rosto familiar. Quando cheguei na enfermaria, ele era um dos poucos lá. Os outros pacientes eram um menino filho de Afrodite que conseguiu quebrar a perna e o braço num jogo de captura a bandeira e o outro era uma menina filha de Hermes que conseguiu quebrar as duas pernas caindo de uma árvore enquanto tentava arrumar uma pegadinha.

Passei água fria no ombro enfaixado de Nard e vi ele abrir os olhos lentamente. Ele levou um susto ao perceber onde ele estava e tentou se mexer, mas eu o segurei e mostrei o ombro enfaixado. Ele disse que estava com sede e eu trouxe água para ele. Vi os lábios volumosos dele se fecharem enquanto ele bebia a água.

Na maior parte do tempo fiquei conversando com ele, ele contando histórias de aventura da Cabana 5 e eu contando as histórias entediantes da Cabana Três. Depois de um tempo, dei um pouco de néctar e ambrosia para ele, que ele falou que tinha gosto de “paçoca” e “milkshake de doce de leite”, o que eu achei extremamente estranho.

Estávamos contando piadas e rindo, quando vi que ele estava com um sorriso estampado no rosto. Ele pediu para eu chegar mais perto e que ia me contar um segredo. Aproximei minha cabeça da cabeça dele e consegui sentir sua respiração. Estávamos se aproximando cada vez mais e antes de eu sequer perceber, os lábios dele estavam colados nos meus.

No começo fiquei em choque, mas depois de uns 3 segundos, aproveitei e retribuí o beijo, e ficamos assim até eu ouvir passos e eu me afastei rapidamente. Depois de um enfermeiro passar, o olhei e vi um sorriso travesso no rosto dele.

—Eu achei que você gostasse daquela menina filha de Afrodite… - eu disse

—Eu sou bissexual cara… E sinceramente ela era bem entediante, você pelo menos conversa bem…

Eu corei um pouco com o comentário e saí da enfermaria com um sorriso besta no rosto. Fui para a Cabana 3, que estava vazia e deitei na cama pensando no que tinha acabado de acontecer. Eu estava extremamente feliz e estava delirando um namoro quando ouvi alguém falando do lado de fora falando que chegaram mais pessoas no Acampamento. Saí da Cabana e fui ver quem eras os próximos sortudos.