P.O.V Maggie

Enquanto Eve contava sobre o que ocorreu no Acampamento, fiquei em um estado letárgico de incredulidade. Não só havia meu sistema de segurança falhado, como eu havia permitido que os fodidos dos traidores ficassem em um vai e vem no Acampamento como uma volta na praia. Não havia nada pior para uma filha de Hefesto do que descobrir uma falha crítica em uma invenção. Ou pelo menos era isso que eu pensava. Após essa notícia, descobri que havia algo pior sim: descobrir que a consequência dessa falha levou à morte de mais de 100 pessoas. Eu queria cair no chão em lágrimas, mas eu nutria um sentimento de raiva tão forte que eu estava incapaz. Primeiro, Mevans morreu sem eu sequer poder aceitar suas desculpas ou conversar com ele, depois, eu cometi uma falha imbecil que cooperou com o massacre.

Ao mesmo tempo que o relato piorava, vi os olhos de Aurora se arregalaram ao perceber que seu pesadelo tinha se tornado realidade. Além dela, Nick cutucava a bainha da espada nervosamente, Vi cerrava os lábios e Aylee roía as unhas nervosamente. Até mesmo Hipólita parecia abalada, com as sobrancelhas cerradas, embora ela escondesse bem melhor seu choque. Passaram-se segundos, minutos, até que Nick finalmente pronunciou as primeiras palavras nos últimos minutos.

“Vamos tentar apressar o passo. Vamos mostrar pra Empusa. pros ciclopes. Pra todos eles. Eles vão ver, eles vão todos ver… Se depender de mim, aquele maldito monte vai ter um avalanche de sangue”, disse, com raiva na voz

“Eu concordo. Quanto mais cedo chegarmos, mais cedo poderemos vingar o Acampamento e acabar com essa merda de uma vez por todas”, respondi, com um fervor nos olhos. Eles iam ver a raiva de Margarita Maria Dolores Garcia, logo logo.

E assim, sem mais palavras, Hipólita saiu do quarto e foi para o local de controle do barco. Continuamos em uma quietude atônita enquanto ninguém ousava quebrar o silêncio. Senti o barco acelerar e ouvi o barulho de um motor rugindo na distância. Hipólita claramente concordava com o que havíamos dito.

Passadas algumas horas, fiquei no quarto com Vi e Aurora, enquanto ouvia os outros treinando no deck. Enquanto Aurora descansava e Vi tentava estender as mãos para criar raios, eu trabalhava fervorosamente em novos aparelhos. Fiz 4 explosivos à base de engrenagens, e trabalhava em um dispositivo especial, que quando pronto teria mais ou menos o tamanho de um palmo. Era designado para fazer vibrações no chão e com sorte, causar uma pequena avalanche em cima dos ciclopes. Não possuindo uma forja, tive que utilizar da prótese de Hefesto, que só me permitia trabalhar com uma mão, mas os anos de prática haviam me feito uma mestre naquilo.

Enquanto minha forja estava recarregando sua energia, decidi olhar para o estado da minha perna: embora as cores estranhas e o tecido morto tivessem sumido, ainda havia um buraco de tamanho considerável onde a flecha perfurou. Uma costura extremamente bem feita por Hipólita o segurava fechado, mas ainda dava pra sentir uma dor forte lá. Aproveitei a chance para tentar caminhar, o que despertou o interesse de Viren: embora doesse como o Tártaro, eu já conseguia me manter em pé sem nenhum apoio. Mordi meus lábios para segurar a dor e tentei dar um passo. Consegui, mas de forma bem esdrúxula, o que quase fez Viren correr em minha direção para me segurar.

Tive que me apoiar na parede, enquanto tentava andar, mas cada passo que eu dava, parecia que eu me cansava mais. Hipólita subitamente apareceu na porta, com um olhar que não consegui decifrar

"Você é tão determinada quanto um filho de Ares", ela disse, cruzando os braços. "Mas você também precisa aprender a descansar. Repouso é importante para curar ferimentos", completou, arremessando um saquinho de ambrosia em minha direção. O peguei em pleno ar, e, derrotada, sentei-me novamente na cama.

"Você é muito cabeçuda pro seu próprio bem", disse Vi, com um sorriso brando no rosto. Mordi um dos pedaços de ambrosia, e respirei fundo.

"Eu sei.. mas é que eu odeio ser inútil, odeio não poder fazer nada"

"E quem disse que você tá sendo inútil? Você descansar é uma tremenda utilidade, porque quando chegarmos e você estiver recuperada, você vai poder estar a todo vapor. Mas isso vai ficar complicado se você ficar tentando forçar o processo"

Grunhi em concordância, embora não gostasse de que ele estava certo. Era tão irritante o conceito de repouso, eu não gosto de ficar de mãos abanando enquanto coisas importantes aconteciam. Decidi me arrastar para a cama ao lado, onde Aurora dormia pesadamente. Sentei-me na ponta da cama, o que a acordou.

“Bom dia”, ela disse sonolenta. “A gente já chegou?”

“Ainda não. Só queria ver como você tá”

“Melhor que você, sem dúvidas”, ela disse, com um tom jocoso. Me aproximei dela, e gentilmente coloquei sua cabeça no meu colo..

“Gostei desse seu lado”, ela disse, sorrindo.

“Passe tempo suficiente com não só um, mas dois filhos de Afrodite e você começa a mostrar suavidade. Acho que é inevitável”, respondi, enrolando os cachos atrás de sua orelha. Viren decidiu nos dar um momento a sós, e se arrastou para fora do pequeno quarto.

“Estou preocupada com você”, ela disse, pegando na minha mão

“Algo me diz que era pra ser o contrário”, brinquei

“Tô falando sério. Você não consegue para quieta por 1 segundo”

“Como eu acabei de falar pro Viren, eu odeio não fazer nada. É agoniante, doloroso”

“Entendo isso, também fico meio mal por não poder fazer merda nenhuma. Mas eu também aproveito esse tempo pra descansar. Desde que a gente começou essa missão, tivemos pouco tempo para descansar. E agora que estamos a salvo com a Hipólita, essa é a oportunidade perfeita”

“Eu sei, mas… Sei lá, eu nunca tive que ficar tão parada na minha vida”

“Então deixa eu tentar te ajudar”, ela disse, se virando e sentando do meu lado. Ela gentilmente pegou no meu queixo e me deu um beijo. Não foi um beijo exagerado ou gostoso, mas sim um beijo suave, afetuoso. Foi relativamente curto, e sorri quando nos separamos.

“Melhor agora?”

“Definitivamente”