P.O.V Mevans

A ausência de Nick no local era entristecente. Eu não sabia explicar porque, mas estar perto dele me fazia sentir melhor, mais calmo. Claro que eu nunca estava 100% calmo, eu quase sempre estava taciturno e sendo grosseiro com os outros. A minha presença era desagradável, eu sabia disso, mas eu não conseguia fazer muito a respeito.

Desde que o ciclope me atacou a noite, eu não conseguia me sentir seguro em nenhum lugar. Só quando eu fingia estar bravo ou sério que eu conseguia afastar a insegurança momentaneamente. Se não fosse por isso eu ficaria o dia inteiro chorando no banheiro.

Eu não gosto de ser babaca, eu realmente detesto, mas esse foi o único jeito que encontrei para extravasar todos os sentimentos engarrafados dentro de mim. E o pior disso tudo era que eu não conseguia me abrir para ninguém, e mesmo se o fizesse, tinha medo de que me julgariam. De uma certa forma, minhas ações são muito egocêntricas e arrogantes, e eu detestava que as coisas fossem assim, mas eu não sabia o que fazer.

Até mesmo com Nick, eu não sabia o que falar. O que eu diria, “ah, eu fui estuprado por 6 anos pelo meu tio, quase matei uma pessoa e fui atacado por um ciclope no único lugar seguro que eu conhecia”? Não, não acho que isso mudaria alguma coisa. Assim, fiquei encarando as lajes do chão enquanto esperava ele voltar.

Estávamos em uma sala semelhante à de antes: lajes vermelhas no chão, madeiras de pinho nas paredes e um fraca luz vinda de pontos no teto. O diferencial era que haviam bancos velhos no lugar e as lajes tinham pequenos padrões ao invés de serem completamente lisas.

Aurora estava em um banco do lado oposto da sala, afiando suas flechas depois de tê-las atirado nas paredes de metal do anfiteatro e Aylee revisava as notas que fez em seu caderno. Nossas instruções eram claras: se eles não voltassem em uma hora, iríamos atrás deles. Como eles haviam saído a pouquíssimo tempo, os outros não tinham pressa.

Eu estava um pouco ansioso, mas não por eles terem que sair, mas sim por eu ter que ficar junto da pessoa que quase matei a menos de uma semana atrás. Eu sabia que mesmo depois de nossa conversa na enfermaria, que um mínimo de raiva ainda estava dentro dela. Toda vez que eu a via, só conseguia lembrar do peso da faca na minha mão pouco antes de eu jogá-la.

E o pior era que eu sabia que Maggie tinha bastante raiva de mim, mesmo querendo me ajudar em momentos como antes da missão. Meu comportamento ultimamente não ajudou a dissipar essa emoção que ela tinha, e eu não a culpava. Eu nunca tive uma chance de me desculpar antes da missão, e fiquei quieto durante a missão inteira.

Eu tentava fazer alguns gestos mudos, como ter entregado a gaze mais cedo, mas dava para ver a raiva nos olhos de Maggie toda vez que trocávamos olhares. Eu queria muito me aproximar de Aurora e pedir desculpas novamente, mas eu sabia que além de redundante, eu não conseguia ver um cenário que não terminasse com eu chorando como um bebê.

Meus pensamentos não duraram muito tempo, Avery apareceu carregando Vi nos braços, seguidos por Maggie e Nick conversando em espanhol, ambos preocupados. Não dava para saber se Viren estava apenas inconsciente, ou se estava morto, mas era possível ver que as costas e seu braço esquerdo estavam quebrados..

Me controlei fortemente para não vomitar com a quantidade de sangue que havia no corpo de Vi, e Avery o colocou delicadamente no chão, e colocou os dedos embaixo do queixo dele, procurando uma pulsação. Pela reação dele, Vi ainda estava vivo, o que deixou a atmosfera do lugar bem mais leve.

Perguntei a Nick o que havia acontecido, e aparentemente ele estava tão confuso quanto eu, já que ele disse que eles apenas acharam Viren naquele estado. Sem querer, acabei encarando os cabelos dele por mais tempo do que o necessário, o que o deixou um pouco desconfortável. Me virei rapidamente, vermelho de vergonha e ele foi falar com Aylee, provavelmente pra pedir sugestões sobre o que fazer com Viren. Eventualmente, eu estava sozinho de novo no banco, encarando as lajes.

Há pouco tempo atrás, eu estaria extremamente feliz de estar sozinho, mas a partir do momento que comecei a passar tempo com Nick, eu começava a lamentar os momentos que eu ficava sozinho com meus pensamentos, e eu até ansiava as próximas vezes que me encontrava com ele. Mas claro, durante minha “taciturnia” não havia muito o que eu pudesse fazer para conversar com ele. Mas até mesmo minha válvula de escape era difícil de controlar: havia momentos que eu apenas quebrava, como no posto de gasolina.

Por mais que Viren tivesse me consolado, eu ainda estava bravo pelo fato de ele ter exposto que eu estava chorando. Bom, melhor ele do que o Avery, que eu tinha certeza que era o que menos queria que eu estivesse. Para ele eu provavelmente devia ser um peso morto, um fardo a ser carregado, e eu provavelmente era. Eu não conseguia nem segurar meu machado direito, quem dera ser útil para o grupo.

Eu queria muito me abrir para Nick, mas pela natureza de “filho de Ares” dele, eu não sabia se a reação dele ia ser exatamente boa. Maggie também estava fora de questão, e eu mal conhecia Aylee para conversar com ela. Avery provavelmente preferiria conversar com uma pedra do que comigo, e minha única opção “menos pior” era Aurora.

Me levantei, mas antes de dar um passo, hesitei. Eu não sabia o que falar, e se de longe eu já me agonizava com a facada, eu não saberia o que falar. “Foda-se”, pensei, e apenas continuei a ir em direção à ela. Ela levantou a cabeça quando me aproximei, e respirei fundo, preparado para vir o furacão. “Posso conversar com você por um segundo? Em particular?”, perguntei meio sem jeito. MUITO sem jeito provavelmente, mas tentei ignorar a sensação o máximo possível. Ela ficou confusa momentaneamente com a pergunta, mas depois de dar uma olhada em Maggie, que ajudava Avery a cuidar de Vi, respondeu “ok, mas que seja rápido”.

Fomos para o outro lado do lugar, e Aylee nos deu um olhar confuso ao nos ver, mas depois ignorou. “Primeiramente eu queria pedir desculpas por ter sido um completo babaca durante esse últimos dias”, comecei, tentando colocar o máximo de sinceridade na voz. “Eu nem vou me explicar, porque sei que não é importante. Mas o que eu realmente queria falar eram duas coisas: um, eu quero pedir desculpas novamente pela facada. Mesmo com a nossa conversa, eu sei que você ainda tem um pouco de raiva, e eu te acharia anormal se você não estivesse. A segunda coisa, é que eu sinceramente preciso da sua ajuda. Eu sei que eu tô sendo um peso morto pro grupo, e que o Avery só me aguenta por obrigação e que a Maggie ainda tem raiva de mim porque… Bom, você sabe. Eu queria conseguir arranjar um jeito de conseguir pedir desculpas pra todo mundo, e tentar ser mais agradável pra todo mundo.”

Ela olhou fundo nos meus olhos, provavelmente analisando minhas emoções. Ficou pensativa por um tempo, como era de se esperar. “E de brinde quer que eu te dê dicas pra você se declarar pro Nick?”, ela perguntou, em um tom levemente brincalhão. “O que? NÃO! Ele é legal e tal, mas a gente só é conhecido…”, respondi completamente morto de vergonha, pego de surpresa. “Ok, isso é entre vocês dois”, ela disse, e vi que o tom dela era sincero e brincalhão ao mesmo tempo. “Sinceramente cara, eu tava esperando você se tocar que ficar ‘bravinho’ pra esconder a insegurança não é algo que dá certo. E sim, desde aquele dia da seleção, era bem fácil de perceber a sua agonia.”

“Pra ser bem sincera, eu não sei muito o que te dizer. Sim, eu ainda estou um pouco de raiva de você, mas pelo menos você já sabe disso. Eu acho que a melhor coisa que você pode fazer é ir lá e falar pra eles igual você falou comigo. O pior que pode acontecer é eles te ignorarem, mas nesse caso, tu já vai ter feito sua parte e vira problema deles”, ela completou, me dando um tapinha nas costas. Ela voltou a afiar suas flechas, e decidi fazer o que ela me sugeriu.

Fui ao centro do local, vendo que Avery e Maggie haviam coberto as feridas de Vi com gaze e feito uma tala para o braço dele. Respirei fundo, e comecei a falar. Para minha surpresa, foi surpreendentemente fácil explicar para eles a situação, mesmo com a audiência grande. Quando terminei de falar, todos apenas voltaram a fazer o que estavam fazendo antes, mas eu não estava surpreso. Eu não era iludido o suficiente para esperar uma salva de palmas, e eles provavelmente achariam irrisório se eu continuasse a missão taciturno ou normal. Mesmo assim, Aurora me deu uma piscadela aprovadora, e Nick me deu uns tapinhas nas costas, falando que estava orgulhoso.

Vi despertou, e vi de de relance Eve lhe dando algumas palavras de consolo. Olhei para o canto do lugar onde eu estava: era vazio e espaçoso, então decidi pegar meu machado. Mesmo tremendo um pouco, consegui segurá-lo. Nick viu o que eu estava fazendo e me ajudou: de uma certa forma, a espada dupla dele lembrava um machado quando não estava aberta. Enquanto treinava, lembrava das palavras que Quíron me quando me chamou para a missão: “seu maior desafio não vão ser ciclopes e monstros. Seu maior desafio vai ser você mesmo”.

Eve pegou um Viren semiconsciente nos braços, e disse que precisávamos continuar em frente. Não reclamei, apenas devolvi meu machado à minhas costas e parti a caminhar. Peguei minha mochila com a mão, e a segurei com um ombro só para ela não ficar raspando o machado. Fomos saindo do lugar, e podia jurar que eu ouvia risos distantes. Afastei o que pensava, isso devia ser apenas um truque do lugar.

No próximo lugar, o contraste era visível: o local parecia uma floresta esquecida. Árvores enormes e retorcidas estavam espalhadas pelo enorme lugar, embora tivessem algumas formas que pareciam seres humanos em seus troncos. Em contraste com a luz parcial dos outros cômodos, esse local parecia ser no exterior, com uma forte luz iluminando bem tudo. Ao mesmo tempo que a luz forte facilitava a visão, as enormes árvore causavam sombras grandes, e não era possível saber se alguma criatura estava se esgueirando.

Andamos por um bom tempo, com Eve na frente carregando Viren, e Nick no fundo, com olhos de águia procurando inimigos. Aurora conversava alguma coisa com Aylee, e Maggie parecia estar aproveitando o máximo de luz para fazer algum dispositivo maluco. Os minutos se prolongaram por horas, e perdi completamente a noção de tempo em meio às árvores infinitas, esperando que a cada galho retirado da frente, que chegássemos logo no final. Talvez fosse coisa da minha cabeça, mas os formatos humanos nos troncos das árvores estava me deixando com um mau pressentimento.

Em um dado momento, chegamos em uma clareira, e aproveitamos para descansar lá. Troncos caídos ofereciam bancos, e aproveitei para sentar. Aproveitei a oportunidade para afiar meu machado, algo que eu nunca havia feito antes. Nick me auxiliou a utilizar o afiador, e Maggie ajudava Aurora a prender a corda do arco após esta arrebentar depois de prender em um galho,

Mesmo com a sensação de algo espreitando nas sombras, o lugar era relaxante. Definitivamente era o mais bonito que havíamos encontrado no labirinto, e a pausa depois da longa caminhada era revigorante. A grama em nossos pés era macia, mas causava uma certa dormência ao ser andada por muito tempo. Mas nosso descanso não durou muito tempo, um urro animal soou muito perto de nós.

Do meio das árvores em frente a nós, estava um animal que eu só havia visto em contos: tinha as patas dianteiras de dragão, pequenas asas nas laterais, e duas cabeças, uma de leão e outra de cabra. Suas patas traseiras eram de cabra, e a criatura tinha trẽs rabos, um para cada animal representado. Estávamos em frente a um Quimera.

Mas ao contrário dos Quimeras tradicionais, este era bípede, e de alguma forma conseguia segurar um enorme cajado de madeira na “mão” esquerda. Fogo saía das narinas de ambas as cabeças, e notava-se que ambas discutiam entre si, A cabeça de cabra aparentava ser contra violência, mas a de leão parecia ser a “dominante”. Nick se aproximou já de espada aberta correndo em direção à criatura, e tentou dar um golpe perfurante.

No momento que o cajado da criatura tocou na espada de Nick, ele voou uns 3 metros para trás, batendo em uma árvore e ficando um pouco tonto. Os galhos da árvore começaram a ter vida própria e a segurar Nick no lugar. O lugar definitivamente não era mais bonito como eu pensava. Aylee correu em direção à Nick, cortando os galhos que o prendiam no processo. O Quimera tentou atacar Eve, que ainda segurava Vi, mas dei uma machadada nas costelas da criatura, o que a fez errar por poucos centímetros o golpe em Eve.

Eu sabia que não deveria em hipótese alguma deixar que o galho do bicho me tocasse, então fiquei desviando de todos os golpes. Aylee se juntou a mim para atacar a criatura, enquanto Aurora mirava um flecha. Maggie fez sua prótese produzir um enorme martelo, e também foi para a ofensiva. Aurora parecia estar tendo dificuldades em mirar, mesmo com o aparelho de Maggie, então ela largou o arco, pegou as adagas gêmeas e também foi em direção à criatura. Eve deixou Vi no chão e pegou seus leques, lançando um olhar desafiador para a fera.

O bicho parecia estar surpreso com o número de oponentes, e soltou um rugido com ambas as cabeças. Outros dois Quimeras apareceram, um que era uma mistura de lobo e águia, e outro que era a mistura de vaca e tubarão. Esses quimeras não empunhavam uma arma, mas ainda eram ameaçadores. Voltei a focar no Quimera principal, que parecia sorrir com a cabeça de leão. Rolei para a esquerda para evitar ser esmagado pela clava do bicho, e consegui acertar um golpe em uma das patas, o que o deixou mais raivoso ainda.

Vi de relance Aylee acertar o coração de um dos outros quimeras com a lança, e vi Maggie esmagar as cabeças de outro com o martelo. Todos voltamos a nossa posição anterior, cercando o Quimera. Senti uma leve tremida no chão e pulei para o lado rapidamente. Os outros não reagiram tão rápido, e enormes raízes saíram do chão em um movimento extremamente rápido, os arremessando vários metros para cima.

Eles caíram no chão com uma tontura enorme, e vi os galhos das árvores os segurarando. Vi a criatura focar em mim, e mesmo sendo um processo lento, dava para ver que as árvores estavam “absorvendo” os outros, o que explicava os formatos de antes. Outras duas raízes surgiram do solo, mas desviei delas facilmente, as cortando na ascendência. Desviei de outro golpe da criatura, que causou o chão a rachar quando o acertou, deixando a clava fincada lá. Enquanto o quimera tentava tirar a clava, dei a volta ao redor dele, o que me dava a oportunidade de um golpe certeiro nas costas.

Hesitei um pouco, e ao invés de acertar ele nas costas, mirei na cabeça de leão e a cortei fora. Vomitei segundos depois, mas a criatura parou de atacar. O animal, agora sem nenhuma arma em mãos olhou para mim e seus olhos de cabra me lançaram um silencioso olhar de agradecimento. Sorri, e enquanto isso a clava presa no chão foi absorvida pela grama e o resto do grupo era libertado. Mal pude apreciar o momento de vitória quando uma flecha surgiu de lugar nenhum e acertou o animal no olho.

Olhei para trás, e vi o grupo de ciclopes que nos perseguiu mais cedo no outro lado da floresta. Eles estavam com dois a menos, e pude ver melhor o ciclope maior: ele antes tinha um olho em cima do outro, mas agora a cavidade inferior estava coberta de bandagens, o que imaginei ser cortesia de Vi.

“Corram!”, gritei para os outros, que ainda estavam um pouco tontos da queda. Corremos pela floresta, com um certo medo de não achar uma saída. Flechas vindas dos ciclopes voavam a poucos centímetros de nós, as pontas negras batendo nas árvores ao nosso lado. Um tronco estava muito inclinado, aproveitei para cortá-lo, atrasando os ciclopes.

Finalmente saímos da floresta, dando de cara com outro cômodo: paredes azuis de cristal pareciam emanar luz própria, e o chão era feito de obsidiana, dando um contraste com as luzes de cristal. Os ciclopes apareceram logo depois, e alguns de nós ainda estavam muito tontos do encontro com os quimeras. Continuamos correndo, e eu já sentia meus pulmões começarem a doer. Os ciclopes nos encaravam como peixes indo do mar para o aquário, mas nós já estávamos prontos para voltar a atacar.

Depois de deixar Vi no chão de novo, Eve pegou os leques e partiu em direção à o ciclope da esquerda, que segurava uma maça enorme. Maggie pegou dois martelos e foi em direção a o ciclope da direita, que segurava uma lança. Aylee foi em direção à o ciclope do centro a esquerda, que segurava um machado de guerra e Aurora trocava tiros com o ciclope que usava um arco. Eu e Nick fomos em direção ao ciclope do centro a direita, que segurava duas espadas gigantescas.

Defendi um golpe descendente do ciclope enquanto Nick o atacava pelo outro lado. O ciclope defendeu o golpe de Nick e virou para atacá-lo, e tentei dar um golpe nele, sem sucesso. Aurora conseguiu acertar uma flecha no ombro do outro ciclope, e Eve defendia com suor no rosto os ataques do ciclope com a maça. Aylee conseguia atacar o outro ciclope, mas parecia ficar mais cansada a cada segundo.

Voltei meu foco para o ciclope na minha frente, que tentou me dar um ataque com ambas as espadas. Nick aproveitou o momento para acertar um corte nas costelas dele, que caiu segurando o ferimento. Aylee conseguiu acertar a perna do outro ciclope, e Eve consegui cortar levemente o braço do que o atacava. Maggie consegui dar dois ou três golpes de martelo no ciclope a sua frente, e aproveitamos a margem de dor deles para continuar correndo.

Eu já ignorava a dor latejante nos meus pulmões, e simplesmente continuei correndo. O lugar começou a transicionar de novo, e plantei os pés no chão ao ver onde chegamos. Havia um buraco no meio do chão de azulejos, parecendo uma piscina. Uma tábua de mais ou menos 1 metro e meio de largura dava uma passagem para o outro lado, sem cair no buraco. Mas o problema era o que estava no buraco: uma multidão. Por mais que fossem apenas espectros sem vida, a enorme aglomeração me impedia de me aproximar, quem dera atravessar uma tábua estreita.

Todos começaram a atravessar ignorando os hollows do fosso, mas Nick parou ao ver que eu não conseguiria ir. “Vamos cara, tu consegue”, ele disse, em um misto de desespero e encorajamento. “Cara, eu não conseguiria passar aí nem que me forçassem. Eu sou esperto o suficiente pra saber que aqui é o fim da linha pra mim”, eu disse, sentindo pequenas lágrimas começarem a descer.

Ele também começou a chorar um pouco, provavelmente por saber que era verdade. “Relaxa, só o fato de você estar seguro, mesmo que por pouco tempo já vai me deixar eu feliz”, eu disse,sentindo ainda mais lágrimas no meu rosto, e vendo que acontecia o mesmo com ele. “Eu não entendo… Porque essa preocupação toda só pra poder ME deixar protegido? Por que EU?”, ele indagou, em meio às lágrimas.

Não aguentei e corri na direção dele, lhe dando um abraço forte. Ele retribuiu, e nós já nem tentávamos mais disfarçar as lágrimas. “Porque eu te amo, seu idiota”, eu disse, apertando o abraço. Ficamos naquela posição por algum tempo, e ele ainda tentava compreender as palavras que eu havia acabado de falar. Saímos do abraço e eu só disse “agora vai”, para ele logo depois se virar, cabisbaixo. Me virei, enxuguei as lágrimas e me preparei para a vinda dos ciclopes, vendo que Nick quebrou a tábua de passagem após chegar ao outro lado.

Não demorou muito, poucos segundos depois eles apareceram na minha frente. Os segurei o máximo possível, mas eu sabia que não era uma batalha na qual eu poderia ganhar. Eventualmente, um deles cortou minha panturrilha, e caí de joelhos. Era estranho: antes eu temia a morte, mas agora eu estava quase a cumprimentando como uma velha amiga. Fechei os olhos, e a última imagem que vi antes de entrar em sono profundo foi o rosto sorridente de Nick.

Foto Do Mevans