P.O.V Nick

Joder!”, berrei em frustração para a lancha se aproximando cada vez mais de nós. A medida que os ciclopes se aproximavam, o cheiro de morte parecia segui-los, ficando cada vez mais perto. Engoli a bile que se acumulava em minha garganta, e pedi para Viren controlar o veículo. Trocamos de posição, e desembainhei minha espada, fazendo o movimento em meia lua que a abria em duas lâminas. Fiquei em pé, um pouco sem jeito, me preparando para pular. Eu sempre tinha achado que o treinamento de equilíbrio em cima de troncos era inútil, mas a situação me provou ao contrário: se eu não tivesse passado horas treinando para me equilibrar em superfícies finas e instáveis, eu provavelmente teria caído.

Aylee fez o mesmo, com a lança em mãos, enquanto Eve estabilizava o jet-ski. Vi de relance Maggie apertar alguns botões no console do próprio veículo, enquanto Aurora preparava seu arco. Respirei fundo enquanto a máquina vermelho-sangue se aproximava cada vez mais. O salto teria que ser preciso, qualquer erro poderia acabar catastroficamente. Respirar, esperar. Mais perto, mais perto. Quase lá… Três… Dois…

Fechei os olhos e pulei para o lado e para cima, com o coração batendo a mil por hora. Ao invés de uma superfície de água, pousei exatamente no chão da lancha, que era de uma madeira escura. Aylee também consegui acertar o pulo, embora nós dois tínhamos caído de barriga do casco da lancha. Quatro dos ciclopes vieram em nossa direção, cada um com sua própria arma. O ciclope maior controlava o barco como se nos ignorasse, e o sexto ciclope mirava o arco nos jet-skis. Me levantei e fui na direção do ciclope com duas espadas, e o que tinha uma lança se juntou a ele, enquanto Aylee ia em direção aos ciclopes com a maça e com o machado.

Dei um golpe na direção de um dos ciclopes, e me abaixei para não ser perfurado pela lança do outro. Defendi um golpe enquanto me levantava, para logo depois ter que aguentar mais dois. Olhei de relance para Aylee, que desviava de uma investida do machado, e esse erro me causou um golpe no queixo. Por sorte, apenas o cabo da lança me acertou, mas o gosto de sangue invadiu rapidamente meu paladar. Senti uma forte vibração no braço quando defendi ambas as espadas de um dos ciclopes, e precisei pular para evitar um golpe do outro. O cheiro de suor, quando misturado com o de carniça não fez um bom efeito, e era difícil focar na luta com aquilo. Uma das espadas do ciclope pegou de leve no meu braço, e quase perdi o pé pela lança do outro, com apenas um poucos centímetros entre meu calcanhar e os espinhos da arma.

Enquanto eu defendia um golpe da lança do ciclope, não percebi a espada descendo em direção à minha cabeça, até que uma flecha acertou esse ciclope bem no olho. Ele caiu no chão, deixando ambas espadas caírem no chão com um estrondo. Saía sangue de onde a flecha dourada o acertou, e depois de poucos segundos se convulsionando, ele parou de se mexer. Enquanto eu me distraía com o ciclope morrendo, o outro quase me acertou, e se não fosse por Aylee, eu estaria morto. Rodei a minha espada em mãos, e logo depois dei outra investida no ciclope, acertando de leve em sua perna. Ouvi um grito alto na distância, mas não soube dizer de quem foi em meio ao caos que eu estava. Eu e Aylee trocamos de lugar enquanto defendíamos golpes, de uma forma quase cinemática.

O ciclope com o machado tentou me acertar, enquanto Aylee defendia o golpe da maça do outro ciclope. Defendi o golpe de lança e outro de machado ao mesmo tempo, e uma das flechas douradas quase pegou um dos três ciclopes. Dei três golpes sucessivos em um dos ciclopes, sem sucesso. O outro ciclope me pressionou até a ponta da lancha, e tive que tomar muito cuidado para não cair na turbina do veículo. Eu estava prestes a dar um golpe no ciclope na minha frente, quando o ciclope gigante berrou “Chega!”.

Ele tinha um punhal na garganta de Viren, e o ciclope arqueiro segurava a ponta de uma flecha no pescoço de Aurora. “Hijo de puta!”, praguejei em voz baixa, enquanto os outros ciclopes traziam o resto do grupo para dentro da lancha. Quase vomitei quando trouxeram Maggie para dentro do veículo: uma flecha escura estava atravessada em sua coxa, com sangue derramando em sua perna. Seu rosto estava pálido como neve, e Aurora se debatia nos braços do ciclope, tentando alcançar a namorada ferida.

“Suas armas, por favor”, disse o ciclope líder, com um claro desdém na voz. Olhei enraivecidamente para ele, e joguei minha espada no chão, querendo atirar a espada nele, e vi que Aylee tinha um sentimento mútuo. O ciclope que me atacava amarrou minhas mãos para frente, e o mesmo procedimento foi feito com todos. Ele me jogou junto com os outros na parede do exterior da cabine do veículo, sem nenhuma delicadeza. “Eu já tenho assuntos a resolver com o menino cobra, depois eu decido o que fazer com vocês”, disse o ciclope gigante, praticamente arrancando Vi do chão. Corremos em direção à Maggie, que ainda sangrava. “Mierda, mierda…. Aguanta Maggie, esto va a doler mucho”, eu disse, quebrando a flecha que a atravessou ao meio. Ela deu um grito baixo, e puxei os dois pedaços para fora de sua perna.

Ouvi um grito vir da cabine, e procurei por um curativo. Por sorte, os ciclopes não haviam jogado fora nossas mochilas, então peguei um pedaço enorme de gaze, enquanto Aurora pegava um pomada para dor. Aurora passou um pouco de pomada no ferimento aberto de Maggie, que sibilava de dor. Enrolei a gaze ao redor, enquanto Aylee aplicava pressão, para impedir o sangramento. Mais gritos vieram da cabine, e usamos um cinto que Eve tinha na mochila para apertar a gaze, o suficiente para parar o sangue, mas frouxo para não parar sua circulação por completo.

Ainda havia ambrosia na minha mochila, e eu dei um pedaço para ela, enquanto Eve e Aurora a ajudavam a se encostar na parede. “E de pensar que duas semanas atrás eu que tava na sua posição”, ela disse em um tom rouco, sorrindo para Maggie. “Acho que o universo tem uma tendência irônica no seu propósito”, completou. Aurora riu nervosamente e a beijou, enquanto eu guardava as coisas na mochila. “Teu braço”, disse Aylee, apontando o corte que o ciclope havia feito, com um pouco de preocupação na voz. “Já tive piores”, respondi, tentando animar um pouco a atmosfera extremamente pesada que já estávamos. “Qual o plano?”, perguntei, a deixando um pouco confusa.

“Que plano?”, indagou, com uma expressão confusa. “Bom, se vocês de Atena já conseguem fazer um plano militar pra um jogo de ‘capture a bandeira, com certeza você consegue fazer um plano de fuga daqui”, expliquei, vendo um brilho emergir de seus olhos. Ela começou a enrolar o cabelo ruivo com os dedos, algo que eu já tinha aprendido a interpretar como sua expressão pensativa. Eram nesses momentos “parados” que eu conseguia notar o quão bonita ela era. Não que eu desse muito foco para isso, eu normalmente fico amigo de uma pessoa pela personalidade, mas o contraste do cabelo avermelhado com os olhos castanhos era algo difícil de se ignorar

Ela começou a fazer algumas anotações em seu caderninho, enquanto Aurora e Maggie separavam os lábios. Algo mais inacreditável que Deuses gregos e criaturas mitológicas era o fato que o caderninho dela ainda estivesse inteiro, depois de tudo o que aconteceu. Eve se aproximou, mas não falou nada, como se apenas esperasse uma solução mágica. Aylee ficou um bom tempo escrevendo em seu caderno, até que em um dado momento ela estalou a língua: “Acho que tem um jeito da gente sair daqui, com tudo e todos”.