Interativa - Enquanto As Estrelas Brilharem

A Calmidade Antes Da Tempestade - Parte III


P.O.V Mevans

Jogar truco com o Nick foi revigorante, e nosso treino depois despertou uma sensação em mim que eu nunca tinha sentido antes. Provavelmente pelo fato de que eu realmente estar interagindo com outros humanos, ao invés de evitá-los.

Mesmo assim, quando cheguei na Cabana 2, meus sentimentos ficaram conflitados. Em meio aos cadernos espalhados pelo lugar, sentei na minha cama. Ao mesmo tempo que eu estava feliz por ter finalmente interagido com alguém, minhas memórias começaram a se esgueirar na minha cabeça.

Coloquei minhas mãos no meu rosto e comecei a chorar. Lágrimas que eu não sabia dizer se eram de dor, tristeza, felicidade ou alívio. O pequeno espaço entre minhas mãos e meu rosto virou meu mundo. Nada mais importava, a única coisa que eu conseguia fazer era chorar.

Eu chorava tanto que meus lençóis se encharcavam. Consegui respirar fundo e finalmente parar de chorar, ficando com o rosto vermelho. Eu encarava o teto enquanto tentava entender completamente o que estava acontecendo, o que eu estava fazendo.

Ouvi um barulho vindo do fundo da Cabana e imediatamente peguei meu machado. “Quem está aí?”, perguntei, ainda com a voz um pouco rachando do choro. Não houve nenhuma resposta, e como o fundo da Cabana estava escuro, acendi as luzes.

Ao invés de um Campista curioso, como eu havia pensado, havia um ciclope lá, com um buraco enorme na parede atrás dele. Pulei para trás de susto e vi que ele segurava uma enorme espada em uma mão e um saco na outra. Tentei me virar e sair, mas havia outro ciclope na porta, segurando uma maça gigantesca e um rolo de corda. Investi um ataque nas costelas dele, mas ele desviou o ataque com desdém. O ciclope atrás de mim segurou meu braço esquerdo atrás das minhas costas, causando uma onda de dor ir da minha mão ao meu ombro.

Ouvi uma batida na porta, seguida por Nick perguntando se eu estava aqui. “Nick, me aju-!” minha frase foi cortada pelo segundo ciclope, que colocou uma pedaço enorme de pano na minha boca. Nick entrou muito rapidamente pela porta, e também levou um susto com os ciclopes.

Ele sacou e abriu a espada dupla dele, e ao mesmo tempo soprou uma corneta que estava presa nas costelas dele. Ele atacou o ciclope na minha frente, enquanto o segundo ciclope amarrava minhas mãos uma na outra, já tendo preso o pano na minha boca com um pedaço de tecido.. Tentei resistir e espernear, mas as mãos do ciclope eram muito firmes e fortes. Vi a espada do ciclope passar a um centímetro da cabeça de Nick enquanto o outro ciclope me derrubou no chão.

O ciclope rapidamente amarrou minhas pernas e me carregou nos ombros enormes dele, indo em direção ao buraco na parede onde ele entrou. Eu esperneava em pânico, tentando fazer de tudo para se desvencilhar dos ombros do ciclope, mas os nós que ele fez eram inumanamente apertados.

“Nhrkck!”, berrei, tentando chamar o nome de Nick, mas o som saiu extremamente abafado. Meu coração pulsava cada vez mais rápido, e parecia que eu ia ter um enfarte. O medo dominava meu corpo, e várias possibilidades passaram pela minha cabeça, nenhuma delas boa.

Vi o outro ciclope dar uma cotovelada em Nick, o derrubando no chão. Ele levantou a espada dele com as duas mãos, e investiu em direção a Nick. Fechei os olhos com força, não querendo ver a cena. Ao invés de ouvir um grito de Nick, ouvi o ciclope dar um grunhido de dor. Abri os olhos e vi o ciclope no chão, com uma espada cravada em suas costa, e Nard parado atrás dele, com o peso apoiado em uma perna, mancando, e segurando outra espada.

O ciclope que me carregava acelerou o passo, mas logo foi parado quando Aylee apareceu e deu um golpe nas costelas dele com a lança dela. Eu caí no chão e ela cortou fora as cordas que me prendiam. Eu tremia de tensão e tudo pareceu estar frio. Palavras se recusaram a sair da minha boca, e meu coração parecia que ia saltar fora do meu peito. Entre os murmúrios incompreensíveis que saíam da minha boca, só consegui formular uma frase: “Como isso aconteceu?

P.O.V Hanna

Alguns minutos atrás

Acordei muito confusa. Meus ouvidos latejavam, o que me deu alguns flashbacks daquele dia no orfanato. Eu já achei que havia sentido dor, mas aquele dia conseguiu me provar errada. Abri meus olhos lentamente, tentando entender onde eu estava e o que havia acontecido. Lembrei do que havia acontecido, desde Nard entrando na enfermaria à minha fuga dos ciclopes.

Me sentei e vi que eu estava em um sofá cinza, com um cobertor de mesma cor. Esfreguei meus olhos e observei meus arredores: eu estava em um apartamento pequeno, com paredes brancas. Em frente ao sofá onde eu estava havia um corredor com duas portas, provavelmente um quarto e um banheiro, e à minha esquerda havia uma pequena cozinha.

Ao lado do sofá havia uma mesa de vidro simples, com o meu aparelho e um bilhete em cima. Coloquei o aparelho com cuidado no meu ouvido, grata que seja lá quem me ajudou não o danificou, e li o bilhete. “Você estava com muito sono, e não me disse onde morava, então te trouxe pra cá. A porta está destrancada, você pode sair quando precisar. Ps: têm umas panquecas no microondas caso você queira” estava escrito, com uma assinatura escrito “Marcy” no final.

Me levantei, sentindo um pouco de dor, vendo que meus braços e pernas estavam com alguns ralados, provavelmente por eu ter pulado de um veículo em movimento. Fui em direção à porta, e como ela havia dito, esta estava destrancada. Saí do apartamento, encontrando uma escada enorme na minha frente, me lembrando das escadarias proibidas do orfanato.

Não havia um elevador, então relutantemente desci as escadas, surpresa com o fato de não haver nenhum porteiro na entrada do prédio. Dei uma olhada na rua, percebendo que ela estava praticamente vazia. Reconheci o local onde eu estava, vendo a floresta onde fica o Acampamento logo no final da rua.

Quando cheguei na floresta, dei de cara com um ciclope, que segurava uma espada. Não reagi a tempo e senti a espada fazer um grande corte na minha perna. Berrei de dor, e me caí no chão, segurando minha perna. O ciclope tentou me acertar, mas rolei para o lado, o que causou uma dor enorme no corte.

Dei um chute no ciclope com a minha perna boa, o que o fez cambalear para trás e me levantei. Eu havia memorizado a floresta, então corri em direção ao Acampamento. O ciclope deu um grunhido de decepção, mas não me seguiu. Senti suor descendo da minha cabeça, mas não parei de correr, ignorando a dor latejante na minha perna. Enquanto eu corria, me lembrei do que eu ouvi os ciclopes falarem no furgão. Juntei as peças do quebra-cabeça e entendi o que estava acontecendo, qual era o plano deles. Comecei a ver o limite do Acampamento e corri para o lugar mais próximo à mim: a ferraria.

P.O.V Maggie

Havia um turbilhão de emoções na minha cabeça enquanto eu levava Hanna para a Casa Grande. Eu estava feliz por ter beijado Aurora, envergonhada por Hanna aparecer no nosso momento, confusa pelo motivo de Hanna aparecer e preocupada com o que ela queria dizer para Quíron.

Eu também estava ansiosaa, já que tocaram a corneta emergencial e com um pouco de medo, já que pedi para Aurora ficar na ferraria e eu não sabia se alguma coisa poderia estar por lá. Mesmo com as minhas incessantes perguntas, ela não respondeu nada, e disse que explicaria tudo na Casa Grande.

Ela parecia ignorar completamente o corte enorme na perna dela, o que era ao mesmo tempo impressionante e assustador. Ela abriu as portas da Casa Grande como se estivesse prestes a fazer uma invasão e berrou “Quíron, cadê você?”.

Ele desceu as escadas como um raio e ela desabou na cadeira, provavelmente por causa da perna dela e disse: “Estamos com problemas. GRANDES problemas”. Ele franziu o cenho, e logo depois ela continuou. “Tinham alguns ciclopes que tavam sequestrando Campistas, e por sorte eu consegui fugir deles” ela disse, o que deixou Quíron ainda mais sério. “Então os ciclopes estão por trás de tudo?” ele indagou, encarando ela nos olhos. “Não” ela disse, balançando a cabeça.

“Eu não consegui ouvir direito, mas ouvi eles falando sobre o Everest e a Empusa. Deduzi que ela voltou do Tártaro e que ela conseguiu convencer os ciclopes a se juntarem à ela. Ela tá sequestrando Campistas porque nós somos metade celestiais e ela nos está usando para construir alguma coisa, provavelmente uma fortaleza” ela complementou.

Quíron colocou os dedos no queixo, pensativo e logo eu perguntei: “Mas por que semideuses? Por que não usar, sei lá, generais de exército? Eles teriam muito mais preparo pra aguentar o Everest do que nós”, perguntei.

Ela respirou fundo, e temi ter perguntado algo estúpido. “A gente consegue ver através da Névoa, os mortais não” ela disse, como se fosse uma professora de ensino médio explicando soma para um aluno do jardim de infância. Quíron ficou algum tempo pensativo, e decidi não interferir de novo.

Hanna perguntou a Quíron com quem estava o outro aparelho dela, e ele respondeu que estava com Aylee. Me virei para sair, mas Quíron me chamou. “Maggie… Eu sei que os tempos estão meio complicados… Mas eu queria te pedir uma coisa” ele falou, o que me deixou preocupada e honrada ao mesmo tempo. “Do jeito que as coisas estão, eu não tenho escolha a não ser mandar alguns Campistas para uma missão. Eu estava pensando em chamar uns 5 ou 6, mas como seriam os melhores do Acampamentos, eu precisaria que você pudesse inventar ou construir um sistema de alarme até lá.” ele completou.

“Mas por que eu não posso inventar ele enquanto a missão tiver acontecendo?” indaguei, com uma certa ansiedade na voz. “Porque você é uma das que eu estou pensando em mandar pra missão” ele disse.

Voltei para a ferraria, grata por Aurora ainda estar por lá, e liguei as luzes. “O que foi?” ela perguntou, um pouco confusa, se aproximando. “Quíron quer que eu faça um sistema de alarme o quanto antes” respondi, pegando alguns materiais nas mesas e esquentando a forja da minha prótese.

Ela ficou do meu lado, vendo a mistura de circuitos, pregos e metais na minha frente, com o a cabeça apoiada no meu ombro. “Posso ajudar?” ela perguntou, com os dedos no meu queixo, me virando em direção a ela. “Depende”, respondi sorrindo. “Quanto tempo você consegue ficar acordada?” perguntei brincalhona. O sorriso dela se abriu e a beijei, sentindo o mesmo calor revigorante de antes. Tirei lentamente meus lábios dos dela e disse: “Mão a obra!”