Poncho’s POV

A sexta-feira infelizmente havia chegado. Era o último dia de Dulce e Julia em Los Angeles, antes que elas retornassem para a capital do México. Eu havia decidido deixar de lado os problemas que tínhamos, esquecer um pouco de todo o lance do divórcio, separação e tudo que fazia Dulce e eu brigarmos, para conseguir aproveitar em paz aqueles últimos dois dias que teríamos desde que conversamos sobre o fim do nosso casamento.

Passamos esses dias sem nos falarmos muito, mas também sem entrarmos em nenhuma briga ou discussão. Direcionei toda a minha atenção à Julia, afim de curtir o pouco tempo que nos restava juntos. Eu tentava vê-la pelo menos uma vez ao mês, mas com todos os compromissos com a série e diversos outros projetos paralelos, muitas vezes não conseguia. A saudade que eu sentia dela era tanta que muitas vezes eu me pegava realmente cogitando a possibilidade de largar o que estava fazendo e ir correndo para o México para estar com ela. Mas, apesar de me evitar, Dulce fazia um esforço danado para me colocar em contato com a baixinha, e eu sempre acabava passando horas no FaceTime com ela toda semana.

Queria muito ter passado esse último dia com ela e com a Julia. A pequena várias vezes reclamava, não só comigo, mas também com Dulce, que gostaria de passar mais tempo com nós dois, que achava chato sempre ter que estar com nós separados, e isso apertava o meu coração. Tentávamos explicar que o papai e a mamãe não estavam mais juntos, e que como morávamos em cidades diferentes, acaba ficando muito difícil, mas com pouco mais de 2 anos, era complicado para ela entender. E com a minha última tentativa no jantar arruinado pela minha explosão com Ju, queria tentar recompensar. Até conversei com Dulce, mas ela disse que era impossível sair cedo hoje, pois ainda tinha muitos detalhes pendentes no estúdio e ficaria trabalhando até tarde. Me irritava só de pensar que ela ficaria esse tempo todo com Noriega. Eu ainda tinha uma pulga atrás da orelha após a cena que presenciei no outro dia.

Decidi levar Julia para dar um passeio no shopping, após o almoço, tentando fazer um programa mais leve com ela que já reclamava de tantas saídas e tantas coisas para fazer após uma semana cheia. Passamos por uma loja de doces e foi impossível tira-la de lá sem antes comprar uma dezena de guloseimas das mais variadas cores e sabores. Ela então decidiu que queria brincar no playground do shopping e eu a levei, fazendo tudo o que ela queria.

Papai, posso ir na piscina de bolinhas? Por favorzinho. — ela perguntava quase dando pulinhos de alegria ao ver aquele que não era apenas uma piscina, mas um castelo de bolinhas, com tubos cruzando-o por todos os lados.

Sim filha, vamos lá comprar uma ficha.— sorri para ela, que saiu saltitando serelepe em direção ao caixa, fazendo meu sorriso aumentar, ao perceber a sorte que eu tinha de ter aquela pequena na minha vida.

Julia passou quase 1 hora dentro daquele gigantesco mar de bolinhas. Em alguns momentos meu coração disparava ao não encontra-la com o olhar, enquanto eu já estava a ponto de chamar alguém para procura-la e tira-la de lá, mas antes que eu pudesse ter qualquer reação, ela ressurgia toda alegre brincando com amiguinhos que havia feito durante o tempo em que estava lá.

Tirei fotos com alguns fãs que paravam de vez em quando e me reconheciam, mas a maior parte do tempo passei navegando na internet pelo celular. Às vezes abria a janela de Dulce, pensando em implorar para ela passar um tempo com a gente, mas logo desistia da ideia. Era melhor não. Eu provavelmente terminaria a noite chorando, pedindo pra ela voltar pra mim, e eu já estava cansado disso. Não que eu já tivesse desistido do nosso casamento, como ela havia feito, mas não achava vantajoso dar qualquer outra investida nessa semana, após a conversa de dois dias atrás. Foi pesada, difícil, reveladora, esclarecedora. A primeira e única vez que conversamos sobre tudo o que havia acontecido, e eu sabia que precisava dar um tempo a ela.

Julia pediu para tomar sorvete, mas já estava tarde, e a convenci a deixar o sorvete como sobremesa após o jantar. Jantar aquele que seria em algum fastfood que ela escolhesse no caminho para a casa. Acho que depois dessa semana, Dulce vai restringi-la por uns 6 meses de chegar perto de um fastfood. Mas fazer o quê? Era o que ela queria, e eu não conseguia negar.

Depois de se entupir de hambúrgueres, refrigerante e sorvete, Julia acabou dormindo no caminho para casa, me fazendo carrega-la nos braços até a cobertura. Logo a coloquei em sua cama, depositando-lhe um beijo em sua testa e sorrindo bobo, pela última vez ao ve-la dormir ali.

Quando saí de seu quarto, fui direto para a sala, ligando a TV afim de relaxar um pouco. Olhei o celular e o relógio já marcava 21:00. Nada de Dulce, nenhum sinal, nenhuma mensagem, nenhuma ligação. O dia inteiro. Achei estranho, pois ela nunca havia ficado sem se comunicar conosco em nenhum dia. Respirei fundo, imaginando que estava se divertindo com o assessorzinho. Seria cômico se não fosse trágico, eu te-la traído com minha assessora, e agora ela estar de gracinhas com o seu assessor.

Tentei prestar atenção na série que passava na TV, mas sem sucesso. Me bateu uma vontade de fumar e decidi ir até a varanda, mas o vento batia forte demais, me irritando a cada vez que eu tentava acender o cigarro. Decidi então descer até o estacionamento do prédio, e de lá pude observar um carro parando em frente a portaria, e logo reconheci Dulce dentro dele. Bufei, irritado, ao ver que quem a trazia era Noriega. Sabia, ela estava outra vez com esse cara.

Dei uma tragada forte no cigarro, tentando sugar a maior quantidade de fumaça possível, como se aquilo fosse uma droga que me fizesse esquecer todos os problemas que pairavam em minha cabeça. Mas era apenas cigarro, e tudo o que eu senti foi minha pressão caindo um pouco, me fazendo encostar na parede, respirando fundo, enquanto ainda encarava o carro do outro lado, de onde Dulce não havia saído. Curioso com aquela demora, apaguei o cigarro e fui andando em direção a portaria sorrateiramente, para evitar que eles me vissem. Uma péssima ideia.

Tudo o que eu mais temia, de repente se concretizou. Lá estava ela, beijando uma boca que não era minha. Lá estava ela, se entregando para um cara que não era eu. Lá estava ela, seguindo em frente, antes mesmo do divórcio, enquanto a única pessoa em que eu conseguia pensar e ter olhos para, em todo esse ano, era apenas ela. Dulce estava beijando Noriega, e eu não conseguia acreditar naquilo.

Eu senti uma tensão correr por todo o meu corpo, como se meu sangue estivesse fervendo e eu fosse explodir a qualquer momento. Amassei com força o maço de cigarro que estava em minha mão, tentando controlar a raiva que latejava em meu ser. Fui em direção ao elevador, a passos pesados, querendo esmurrar a primeira porta que aparecesse na minha frente.

Logo eu já estava de volta em meu apartamento, na varanda, ao lado da piscina, sentindo minha respiração ficar mais pesada e um nó na garganta se formando como se fosse me sufocar. Não demorou muito para eu ouvir a porta da sala batendo, e em poucos minutos escutei sua voz, me chamando pelo apelido.

Poncho? O que faz aí?

E foi a faísca que eu precisava para explodir.

~

Dulce’s POV

Aqueles 12 andares nunca pareceram tão grandes quanto naquele dia. A sensação que eu tive foi que aquela pequena viagem demorou 2 horas para ser feita, e não apenas 1 minuto. Eu não conseguia parar de pensar no que havia acabado de acontecer. Como Noriega foi capaz?

Início do Flashback.

— Está entregue, pela última vez. – ele sorriu, enquanto parava em frente ao prédio.

— Ah, vou sentir falta dos nossos jantares. Quando você volta para o México?

— Na próxima semana devo estar lá, apenas tenho que terminar de resolver algumas questões com o estúdio e a gravadora.

— Temos de marcar um jantar quando você voltar então. Terminar de colocar o papo em dia. Esse trabalho todo quase não deixa a gente falar de outra coisa. – esbocei um sorriso, enquanto tirava o cinto. – Bom, melhor eu subir, que amanhã nosso voo é bem cedo. Obrigada Rod, por tudo o que você fez por mim essa semana. – lhe dei um abraço demorado.

— Qualquer coisa que precisar, é só me avisar. – ele depositou um beijo em minha testa. – Não deixa de me ligar, María.

— Pode deixar. – pisquei pra ele, e levei a mão à porta com a intenção de achar a maçaneta, mas logo senti sua mão me impedir.

— Dulce... – ele murmurou, enquanto eu voltava a mira-lo. Mas sem ter tempo de qualquer reação, senti seus lábios colarem aos meus, enquanto ele deslizava sua mão pela minha cintura, me puxando para mais perto.

Por um momento eu estava em choque. Não conseguia afasta-lo, não conseguia retribuir o beijo, estava apenas lá, parada, igual uma idiota. Jamais imaginei que Noriega pudesse estar desenvolvendo algum tipo de sentimento por mim além de amizade, portanto, eu estava extremamente surpresa. Será que havia passado alguma ideia errada? E o que eu estava fazendo, começando a retribuir o beijo?

Sem pensar muito, quando vi, já estava dando espaço para ele em minha boca, que logo foi invadida por sua língua que procurava calmamente a minha. Levei minha mão ao seu rosto, acariciando, enquanto... o que você está fazendo, Dulce María???

Subitamente, o afastei, finalizando aquele beijo que já começava a me agradar mais do que deveria. Eu estava ficando louca, não?

— Rodrigo... – murmurei enquanto me afastava dele.

— Dulce, desculpa. – ele fechou os olhos por alguns segundos. – Eu não deveria ter feito isso, me perdoa. – falou, voltando a me olhar.

— Eu preciso ir.

Fim do Flashback.

E foi pensando na merda que eu havia feito, que entrei no apartamento, batendo a porta mais alto do que deveria. Logo avistei Alfonso na beira da piscina, de costas, imóvel. Avistei de longe o maço de cigarro em suas mãos, e respirei fundo, me controlando para não reclamar. Não era mais minha função me preocupar com ele.

Quando vi que ele não se mexeu um centímetro desde que eu havia entrado no apartamento, resolvi ver o que se passava com ele. Caminhei até a varanda, o chamando, mas 5 segundos depois, me arrependi.

É por isso que você quer o divórcio, não é?— ele perguntou, ainda de costas, e eu semicerrei os olhos, sem entender sobre o que ele falava.

Poncho, do que está falando?— me aproximei, cautelosa. Não é possível que...

Você quer se livrar logo de mim, para ficar com ele, não é?— ele virou abruptamente e eu consegui enxergar a tensão que passava por todo o seu corpo.

Poncho...— tentei encontrar alguma coisa para responder, mas continuava meio perdida.

Não adianta negar, não na minha cara, Dulce!— ele gritou, me assustando. – Eu vi vocês dois agora há pouco!— eu dei dois passos para traz, meio desequilibrada com seus gritos repentinos.

Poncho...— fechei os olhos, tentando organizar os pensamentos. – Não é nada do que você está pensando...

Eu juro que não sei porque ainda estou tentando fazer as coisas darem certas entre a gente!— ele balançou a cabeça, inconformado. – Agora eu entendo o porquê de você não querer falar comigo, não querer resolver as coisas...— as lágrimas já começavam a brotar em seus olhos e eu tentei me aproximar, mas ele me afastou. – Não! Não adianta querer arranjar alguma desculpa agora, Dulce!

Poncho, você está louco! Para com isso! Me deixa falar!— eu me estressei, já sentindo um nó se formar em minha garganta. Por que ele tinha que armar essa discussão justo hoje?

Eu não quero ouvir nada do que você tenha a falar Dulce, porque nada vai mudar os fatos!— ele me encarou. – Você nunca vai deixar de ser aquela menina fácil, não é? Sempre pulando para os braços do primeiro homem que passa. Foi assim com o Memo, foi assim com o Pablo, foi assim com o Rodrigo. Não sabe viver sem um macho aos teus pés.— ele falou, impiedoso, e logo eu senti minha mão arder devido ao tapa que eu lhe dei com toda força no rosto.

Você não se atreva a falar assim comigo!— eu o empurrei, furiosa. – Quem você acha que é para falar isso de mim?— eu continuava empurrando-o, quando ele segurou meus pulsos. – Me solta!— eu gritava em sua cara, tentando me desvencilhar de seus braços enquanto o esmurrava no peito. – Me solta, Alfonso!

Cala a boca, Dulce!— ele gritava comigo, segurando mais forte em meus pulsos. – Para!

Não! Me solta, seu canalha!— eu tentei empurra-lo novamente, mas em um piscar de olhos, ele calou meus lábios com os dele, começando um beijo furioso entre nós. Nossas línguas quase brigavam uma com a outra, enquanto ele descia suas mãos para a minha cintura, me puxando mais forte contra si.

Quando me dei conta do que estava fazendo, o empurrei novamente, reunindo todas as forças que ainda me restavam, esbofeteando-o em seguida.

Ele cambaleou para trás com o tapa, colocando a mão no rosto.

Você nunca mais encosta em mim, está me ouvindo?— eu não parava de gritar. – E esquece o resto de amor e carinho que eu ainda tinha por você, porque a partir de hoje, aqui não resta nenhum sentimento bom ao seu respeito! Eu te odeio, Alfonso!— cuspi as palavras em sua cara, enquanto ele me olhava fixamente nos olhos, deixando algumas lágrimas caírem. – A única coisa que vai nos ligar é Julia, e apenas ela! De resto, eu não quero olhar pra tua cara nunca mais!

Eu queria esgana-lo. Como ele conseguia continuar estragando tudo o que havia entre nós? Ele não era capaz de me deixar explicar o que havia acontecido! E eu não conseguia olhar para a cara dele nem por um segundo mais.

Dulce, você está com ele?— ele perguntou, quando eu já estava na porta da varanda, com a voz embargada, a ponto de desabar. Eu engoli em seco, controlando a vontade que tinha de chorar. E com os nervos à flor da pele, decidi machuca-lo ainda mais.

Sim, estou!— menti, antes de me atirar para dentro do apartamento, procurando uma cama em um quarto escuro para chorar.

~*

Mamãe, mamãe!— estava no mais profundo sono, quando senti duas mãozinhas me balançarem. Resmunguei, querendo continuar dormindo e me virei para o outro lado. Logo senti a cama se mexer, enquanto ela subia na mesma e ficava de joelhos na minha frente. – Mamãe, acorda!— ela chacoalhou meus ombros. – Acorda, ardilla dorminhoca.— senti ela depositar um beijo em minha bochecha e não consegui segurar o sorriso. – Mamãe!— ela riu, me observando abrir os olhos.

Princesa, o que foi?— esfreguei os olhos. – Que horas são?— peguei meu celular no criado mudo, tentando enxerga-lo, mas com dificuldade.

7 horas mamãe. Acorda logo pra gente ligar pro papai!

Julia, você tinha que me acordar a essa hora só para ligar pro seu pai? Não podia esperar até mais tarde?— respirei fundo e me sentei na cama, arrumando o cabelo emaranhado.

Mas é o aniversário dele! Quero ser a primeira a ligar!— caramba, o quê? Eu havia esquecido completamente que dia era hoje. 28 de agosto. Poncho estava fazendo 37 anos.

Filha...— passei a mão pelo rosto, tentando pensar. – Lá ainda são 5 da manhã, você vai acordar o seu pai se ligar agora.

Não mamãe!— ela pulou no meu colo, me fazendo encostar na cabeceira da cama. – Ele me disse que ia acordar cedinho para trabalhar!— ela colocou as duas mãos em minhas bochechas. – Deixa mamãe, por favorzinho.

Ok, meu amor.— suspirei vencida, a puxando para um abraço carinhoso.

Peguei o celular, discando o número de Alfonso, encarando a foto do contato por alguns segundos. Não falava com ele há três semanas, desde a briga que tivemos na noite anterior ao nosso retorno para o México. Ainda estava extremamente magoada com ele por tudo o que ele havia insinuado, e ele provavelmente estava magoado comigo por ter mentido estar com o Rodrigo.

— Papá? – já havia entregado o celular para Julia, que já tagarelava alegre pelo quarto.

Me levantei, indo direto ao banheiro para fazer minha higiene matinal. Apesar de ser muito cedo, achei melhor já aproveitar para adiantar algumas coisas por fazer. Tinha uma reunião com meu advogado pela tarde, mas antes almoçaria com Noriega, por questões de trabalho. Ele havia voltado há duas semanas, mas apenas trocamos mensagens com relação ao disco. Nenhum dos dois quis falar sobre o elefante na sala, e isso me deu um tempo para pensar em tudo.

Eu não gostava dele daquela forma, eu acho. Ele me fazia muito bem, de verdade. Aquela semana em Los Angeles tinha tudo para ter sido um desastre total, e apesar de todas as brigas com Alfonso, Noriega conseguiu me distrair bastante, tanto com o trabalho, quanto com as conversas que tínhamos. Quando estava com ele, era como se todos os problemas em casa desaparecessem, e eu apenas aproveitasse aquele momento sem culpa, sem preocupação. Mas eu não estava atraída por ele... ou estava?

Ele era bonito, não podia negar. Mas nunca passou pela minha cabeça que algo entre nós pudesse acontecer. Digo, nunca mesmo. Nem antes, nem durante, nem depois de Alfonso. Mas aquele beijo, eu não sei! Acabei aproveitando o momento e retribuindo, mas não conseguia entender o que realmente significava para mim. Estava confusa, pensava em todos os problemas que ainda tinha com Alfonso, o divórcio chegando e argh! Não queria complicar mais as coisas.

Mamãe, aqui ó.— Julia me entregou o celular assim que eu saí do banheiro e eu percebi que a ligação continuava. Olhei para, ela sem entender. – Fala aí, mamãe.— ela já saía do quarto, me deixando com cara de tacho. Respirei fundo, antes de levar o celular à orelha.

Alfonso?

Dulce...— eu fechei os olhos ao ouvir sua voz rouca do outro lado. – Eu só queria avisar que vou para o México no próximo fim de semana e gostaria de ficar com a Ju. Tem algum problema?

Não. Aliás, desculpa ter ligado a essa hora, mas ela insistiu...

Não tem problema, eu já estava no estúdio, precisávamos gravar algumas cenas noturnas.— um silêncio pairou por alguns segundos enquanto eu pensava no que falar – Bom, eu preciso ir. Até mais, Dulce.

Poncho?— falei rápido, antes que ele desligasse.

Sim?

Feliz cumpleaños.

Gracias, ardilla. Bye!— ele respondeu, tratando logo de desligar a ligação.

~

Depois da reunião com o advogado, fui para a casa dos meus pais com a intenção de buscar Julia, mas a danadinha não quis voltar comigo, pois queria ficar brincando com as primas que estavam na cidade por alguns dias. Meus pais me convenceram a ficar um pouco também, para aproveitar a estadia da minha irmã que logo voltaria para a Itália.

Mas a verdade é que eu não estava com muita cabeça para toda a confusão que acontecia lá enquanto as crianças corriam e gritavam para todos os lados. Volta e meia eu me pegava pensando no que havia acontecido no almoço, algo que, na real, havia ocupado a minha mente a tarde inteira.

Início do Flashback.

— Dulce? – Noriega correu até o meu carro, pouco tempo depois de nos despedirmos na porta do restaurante.

— Oi? – me virei depois de abrir a porta e jogar minha bolsa no banco.

— Posso te perguntar algo? – ele riu, meio tímido, e eu sorri com seu jeito fofo.

— Sim, claro. – o encorajei.

— Você aceitaria jantar comigo amanhã? – ele ficou me encarando, esperando uma resposta, enquanto minha mente dava um nó e eu não conseguia clarear meus pensamentos. – Dulce?

— Sim. – respondi, em um impulso. – Eu acho que seria legal, mas Rod... – respirei fundo, me aproximando mais dele. – Eu não quero confundir o que há entre nós. Eu estou passando por um processo de divórcio e... é complicado! Eu não sei se estou pronta para começar algo novo, mas eu gosto muito da sua companhia. Você tem sido um bom amigo. – forcei um sorriso, e ele agarrou minha mão.

— Dulce... – ele a acariciou. – Eu sei o quanto deve estar sendo louco para você, não tem problema. Vamos jantar como bons amigos que somos, e dar tempo ao tempo, tudo bem? Sem nenhuma pressão, prometo. – ele depositou um beijo em minha mão, me fazendo rir com seu jeito galanteador.

— Combinado, então.

Fim do Flashback.

Uma moeda por seus pensamentos.— a voz da minha irmã me despertou de minhas reflexões, enquanto ela se sentava do meu lado na beira da piscina.

Oi Clau.— sorri fraco, colocando meus pés dentro da piscina.

O que a caçulinha tem agora?— ela bagunçou meu cabelo, me tirando uma risada.

Ah, os mesmos problemas de sempre. Você sabe.— comecei a mexer os pés dentro da água, enquanto evitava encarar Cláudia.

Alfonso?

Também.— suspirei. – Mas não só ele.

Hum...— ela murmurou, desconfiada. – Tem mais alguém nesse jogo? Como assim, Dulce María? Me conta logo!

Ai Cláudia, cala a boca!— dei um tapa em sua perna ao ve-la aumentar o tom de voz. – Não é nada assim... Mas aconteceu algumas coisas com o Rodrigo e eu estou meio que sei lá.

Como assim você está vendo o seu ex?— ela perguntou, assustada.

Não é o Luis Rodrigo!— comecei a rir da sua confusão. – O Noriega menina, meu assessor.

Ex da Paty?— ela perguntou ainda mais assustada.

Shiu. Para de gritar, que eu não contei isso para ninguém. E sim, ele mesmo.

Dulce, você é louca? Como você está querendo ficar com o ex da sua amiga?

Ai Clau, primeiro que eu não estou querendo ficar com ele. Você nem me deixou explicar o rolo ainda. Segundo que...— abaixei meu olhar, triste. – Faz tantos anos que não falo direito com a Paty...

Ai, sem chororô.— ela me deu um leve empurrão. – Me conta, o que aconteceu com ele?

Ai, na minha última noite em Los Angeles, ele me beijou... — ela abriu a boca em um “O”. – E hoje ele me chamou para jantar com ele...E sei lá. Eu acabei retribuindo o beijo em LA, mas logo que percebi o que estava fazendo, o afastei. Ele me faz bem, mas não é dessa forma, sabe? Meu coração é todo do Poncho ainda, infelizmente.

Dulce...— ela se virou para mim, arrumando a postura e me encarando séria. – O que você vai fazer no próximo mês com relação ao Alfonso?— ela esperou que eu respondesse, mas tudo o que eu fiz foi abaixar a cabeça. – Divórcio, Dulce. Você vai se divorciar dele. E como você mesma insiste há tanto tempo, dessa vez é pra sempre.— eu já começava a sentir as lágrimas quererem pular de meus olhos, quando ela segurou minha mão. – Dulce, minha irmã... Você precisa seguir em frente. Quem sabe esse Rodrigo não seja o seu recomeço? Você precisa se dar uma chance, tentar de novo.

Mas Clau... — voltei a encara-la – O divórcio nem saiu ainda! Eu tenho medo de estar indo rápido demais.

Dul, você não precisa casar com ele agora, né?— ela riu. – Usa esse tempo para vocês se conhecerem melhor. Dê tempo ao tempo. Vai vendo como as coisas se saem. Se você ver que não é isso o que você quer, dá um pé na bunda dele e pronto. — comecei a rir com suas palavras. – Mas sério, irmãzinha, se permita ser feliz.— ela me lançou um sorriso reconfortante e eu logo a abracei. Como eu sentia falta dela na minha vida!

~

Estava quase chegando em casa quando vi meu celular vibrar no banco do passageiro. Olhei e de relance vi uma notificação com o rosto de Poncho. Suspirei, olhando para o relógio e vendo que já passava das 21:00. Me controlei para não olhar a mensagem naquele mesmo momento e esperei até que chegasse em casa.

Estacionei rapidamente em minha vaga e fui às pressas para o elevador. Quando cheguei em casa, joguei a bolsa de qualquer jeito em um sofá e me joguei no outro, pegando rapidamente o meu celular. Ignorei a mensagem de Poncho por alguns minutos, respondendo outras pessoas.

Por fim, tive coragem de abrir a sua janela, dando de cara com um link para o site da revista TVyNovelas.

“Dulce María com novo namorado? Veja abaixo as fotos em que flagramos Dulce com um homem misterioso, cheios de carinhos após sair de um restaurante badalado na capital.”

Caramba.

Deslizei a tela, onde pude ver várias fotos do momento em que conversava com Noriega na saída do restaurante. Ele segurando em minha mão, dando um beijo na mesma, eu sorrindo enquanto conversava com ele.

Fiquei extremamente frustrada com aquela invasão de privacidade. Já estava xingando meio mundo quando lembrei da mensagem de Poncho. Voltei para sua janela, terminando de ler a mensagem que ele havia mandado.

“https://tvynovelas.com/DYp18

Obrigada pelo grande presente de aniversário. Espero que esteja feliz. :)”

Será que esse tormento nunca acabaria?