No que você está pensando?— perguntei, enquanto subia minha mão pelo seu peitoral, me aninhando mais em seu abraço.

Ah... — ele me abriu aquele sorriso que eu tanto amava. – Não é nada. — ele se inclinou e depositou um beijo em minha testa.

Poncho, me conta. — insisti.

Não, melhor não. — ele riu.

Conta logo. — dei um leve tapa em seu peito, só fazendo-o rir mais.

Eu só estava lembrando de quando nos encontramos novamente, aqui em LA.— ele me fitou, rindo, enquanto eu sentia minhas bochechas ruborizarem. – Agora você fica com vergonha, é? — maldito.

Início do Flashback

Los Angeles, Fevereiro de 2014

Era final de fevereiro quando eu finalmente me mudei para Los Angeles, depois de tantas semanas de planejamento e organização. Já fazia uma semana que eu havia me instalado em um pequeno apartamento em um bairro nobre e bem localizado, que me permitia ir e voltar para o estúdio da Univision sem muitas dificuldades, meu principal projeto ali.

Não havia tido muito tempo de curtir o que a cidade tinha para oferecer, principalmente por ter tido que lidar com todos os detalhes da mudança e ao mesmo tempo não poder deixar de lado os compromissos de trabalho. E naquela sexta-feira, eu só queria chegar em casa, entrar na minha banheira, com um bom vinho e um bom livro, e relaxar. Mas quem disse que seria tão fácil?

Minhas duas amigas, Zoraida e Sam, apesar de todo o esforço que eu havia feito em dizer não, haviam insistido em viajar para LA nessa primeira semana para que aproveitássemos um pouco as coisas boas que a cidade tinha para oferecer.

— Eu não quero sair, gente! – eu dizia.

— Você precisa curtir, Dulce! – elas rebatiam.

— Eu só quero ficar quieta, curtindo o meu apê! – eu insistia.

— Dulce, você não vai ficar choramingando por aí por causa do Rodrigo. Precisa arranjar umas bocas novas pra beijar. – era inútil discutir.

Havia terminado meu relacionamento com Luis Rodrigo há pouco tempo, quando decidi me mudar de país. Apesar de gostar muito dele, não estava disposta a manter esse relacionamento a distância. Já era difícil quando morávamos na mesma cidade, imagina em países diferentes?

Foi assim que acabei sendo arrastada para uma das boates mais badaladas de Beverly Hills. Confesso que estava sendo a amiga chata que quer ficar sentada até as outras decidirem ir embora, mas algo me chamou a atenção.

— Zori, Sam. – chamei-as para que se aproximassem mais. – Aquele não é o Poncho?

— Quem? – Zori gritou, já meio alterada pela bebida.

— Olhem pra lá! – fiz com que as duas se virassem e avistassem, do outro lado do salão, em meio a um mar de gente, aquele rosto que eu poderia reconhecer em qualquer lugar.

Enquanto elas tentavam enxerga-lo, eu o acompanhava com o olhar, já sentindo um arrepio percorrer pelo meu corpo. Fazia um bom tempo que não nos encontrávamos, desde um beijo que ele tinha me roubado no começo do meu namoro com Rodrigo. Desde então, fiz o que pude para não encontra-lo, porque eu sabia que era impossível resistir a ele, e não queria causar nenhum dano na minha relação.

— Hum, hoje tem hein! – Zori exclamou, após finalmente avista-lo. – Vai lá falar com ele! – ela tentou me empurrar, mas me mantive firme.

— Não, Zori, para. É girls night, não? – questionei.

— A gente te libera, María! – Sam respondeu, rindo.

Elas passaram algum tempo fazendo piadinhas e insistindo para que eu fosse falar com ele, mas eu bati o pé e me recusei. Hoje não.

Ainda assim era difícil desviar meu olhar de sua presença, e eu o acompanhei por algumas músicas. Estava com alguns amigos, e pelo o que eu pude reparar, desacompanhado.

Zori não parava de beber, e quando achei que ela já havia passado, e muito, dos seus limites, insisti para que Sam cuidasse dela enquanto eu ia ao bar pegar água. Foi um caminho meio tortuoso e difícil, devido às várias pessoas suadas pulando ao som da música eletrônica alta que preenchia todo o ambiente. Quando cheguei ao bar, tive que me inclinar no balcão para conseguir falar com o bartender, e senti alguns olhares em mim. Suspirei, arrumando minha blusa, tentando fazer o decote menos atrativo do que era.

— Você não vai falar comigo? – senti duas mãos em minha cintura, e me virei pronta para atacar, mas ao dar de cara com aquelas duas esmeraldas me encarando, parei instantaneamente.

— Poncho. – murmurei, enquanto ele se aproximava mais.

— Hola, Ardilla. – ele abriu um sorriso enorme, me tirando uma risada. – Cadê seu namoradinho?

— Nós terminamos. – respondi, e vi aparecer um brilho em seus olhos que há tempos eu não via.

— Então está aqui sozinha? – ele encostou seu corpo no meu, me fazendo apoiar no balcão. Argh, porque ele tinha que ficar tão perto assim?

— Nã-ão. – gaguejei, meio desconcertada com a sua aproximação. – Sam e Zori estão aqui. O que faz aqui?

— Ué, eu moro aqui, Ardilla. Esqueceu? – ele riu, levando uma mão em minha bochecha, acariciando-a.

— Não. – fechei os olhos ao sentir o seu toque, levando minhas mãos ao seu peito. – Acho que essas notícias não chegaram até mim. – abri os olhos novamente, olhando diretamente no seus.

— E você? Nem pra me avisar que havia se mudado, hein? – ele respondeu, ignorando o que eu havia falado. – Tive que descobrir pelo twitter que uma certa ruiva habitava novamente a mesma cidade que eu.

— Desculpa. – murmurei, fitando-o. – Não vai acontecer novamente.

— Sabe o que eu acho? – ele sorriu, aproximando seu rosto do meu, enquanto encaixava minha cintura na sua. – Hoje é um ótimo dia para um remember, não? – mordi meu lábio inferior ao escutar suas palavras, suspirando, sabendo que eu jamais teria forças para impedir o que logo aconteceria entre nós.

~

— Você tem camisinha? – perguntei, ofegante, enquanto sentia a língua de Poncho trabalhar por todo o meu pescoço e meus ombros, as alças do vestido já abaixadas.

— Sim. – ele murmurou, sem deixar os beijos cessarem.

— Me da. – o afastei um pouco, e ele fez uma cara desgostosa.

— Dulce... – ele respondeu em um tom suplicante, chateado por eu ter interrompido seu trabalho.

— Anda, Ardilla. – eu ri, enquanto observava ele procurar sua carteira. – Você trancou a porta? – olhei para a porta do banheiro, um pouco receosa em ser flagrada.

— Sim, eu disse que sim. – ele jogou a camisinha em cima da pia, me puxando pela cintura, seus lábios procurando pelo meu pescoço desesperadamente.

— Poncho. – eu ri de seus avanços desesperados, pegando a camisinha que ele havia jogado, puxando-o pela camisa já aberta e fazendo-o olhar para mim. – Calma, que tem muita Dulce pra você aqui, ok?

E então eu o beijei, deslizando minha mão livre pelo seu peitoral e abdômen, até encontrar o botão de sua calça, que foi aberto em poucos segundos, deixando que a mesma caísse pelas suas pernas enquanto ele me pegava pela cintura e me colocava em cima da pia, momentos antes de matarmos aquela saudade que tanto sentíamos um do outro.

Fim do Flashback.

Eu não acredito que você me convenceu a transar no banheiro daquela boate.— eu escondi meu rosto com as mãos, ouvindo sua risada incessável. – Para de rir, por Dios!

Você fala como se eu tivesse pressionado você para transar lá, né? Você esqueceu de quem estava louca atrás da camisinha, porque não aguentava mais?— ele puxou meu corpo mais perto do dele, e eu neguei.

Não, para.— ele riu ainda mais. – Que vergonha, meu Deus. Imagina se alguém tivesse visto aquilo?— me virei de bruços, enfiando a cabeça no travesseiro, já começando a rir. – Você me fazia agir como uma louca, às vezes.

E você gostava.— ele sorriu, se aproximando de qualquer jeito. – O importante é que foi aí que começou...— ele subiu sua mão pelas minhas costas desnudas, me arrancando um suspiro. - ... nossa nova etapa.

É isso o que você acha?— sorri para ele. – Eu sempre considerei aquela premiação como nosso reinício, um mês depois.

Início do Flashback.

Los Angeles, Março de 2014

Um mês havia se passado desde o nosso reencontro na boate. Não havíamos nos falado desde então, nem por mensagem, nem pessoalmente, nada. Isso não me incomodava tanto, afinal, era sempre assim com a gente. Ficávamos um tempo sem nos ver, aí tinha o reencontro, os beijos, a transa, e depois o ciclo se iniciava novamente. Era nossa “rotina”, aquele desapego apegado, sabe? Deixar ir, mas no fundo, não se esquecer. Fazer de conta que seguiu em frente, mas na primeira oportunidade, estar de volta. E de alguma forma os dois pensavam que era melhor deixar assim, sem compromisso, sem complicação, porque, segundo o que acreditávamos, nunca daria certo.

Mas dessa vez havia sido diferente. Não, eu não ousei correr atrás dele, mas confesso que não o tirei de meus pensamentos durante aquele mês inteiro. E isso me deixava extremamente ansiosa para o meu próximo compromisso: uma premiação de um canal famoso da TV americana, e que eu sabia que Poncho estaria. No fundo, eu ansiava por vê-lo, por me jogar em seus braços, por sentir suas carícias, que mesmo depois de tantos anos, ainda me deixavam louca, como se fosse a primeira vez.

E foi com essa angústia que eu passei pelo red carpet, um pouco avoada, tentando procura-lo com o olhar, mas sem sucesso. Conversei um bom tempo com alguns colegas nos bastidores, e nada do Herrera. Quando fomos aos nossos lugares, Iliana reparou que eu estava inquieta, mais do que o normal.

— Dulce? O que você tem?

— Nada. – respondi, enquanto fazia uma varredura pelo local.

— Se era o Alfonso que você procurava, não precisa mais. – ela inclinou a cabeça pro lado oposto e eu me virei, um pouco rápido demais, um pouco ansiosa demais, me fazendo ter um baque mais forte do que deveria. Lá estava o bonito, acompanhado de uma morena de deixar qualquer homem de queixo caído.

Fechei os olhos, respirando o mais fundo que eu conseguia. Por que eu insistia em nutrir alguma esperança com ele?

~

— Dulce, hey. – ouvi a voz de Poncho atrás de mim, enquanto me dirigia ao banheiro, durante o after party depois da premiação. – Dulce! – poucos segundos depois, senti meu braço sendo segurado pelas suas mãos.

— Oi, Alfonso. – respondi, seca.

— Hey. – ele me olhou, perdido com aquele tratamento frio. – O que foi? – ele tentou tocar em meu rosto, mas me afastei.

— Eu preciso ir ao banheiro...

— Dulce. – ele segurou minhas mãos, me puxando para um canto mais reservado. - Sério, me diz, o que você tem? – ele deu uma risadinha confusa.

— Poncho, você não tem um par para voltar não? Your date is waiting for you, honey. – sorri irônica, arrancando-lhe uma risada.

— Você está com ciúmes, é isso? – ele não conseguia parar de rir.

— Para, Alfonso! – dei-lhe um leve empurrão, o que o fez me puxar pela cintura. – Me solta, idiota!

— Dulce, amor, para com isso. – ele levou sua mão ao meu rosto, colocando uma mecha de meu cabelo atrás da minha orelha. – É só uma colega de elenco, nada demais.

— Bom pra você. – respondi, empurrando-o novamente, cruzando os braços em seguida. – De qualquer forma, não é da minha conta. Com licença. – tentei sair dali, mas seus braços me impediram novamente.

— Dul... – ele murmurou. – É sério, eu não tenho nada com ela, nem com ninguém.

— Poncho, de verdade, não me importa. – suspirei.

— Ah é? Você não se importa? Nem um pouquinho? – ele já começava a aproximar seu rosto do meu, me deixando desconcertada.

— Sim... não... sei lá. – ele sorriu ao me ouvir.

— Você também não conseguiu parar de pensar em mim, assim como eu não consegui parar de pensar em você, depois daquele dia? – seu olhar ia dos meus lábios para os meus olhos, e vice versa.

— Poncho... – suspirei. – Você sabe que é quase impossível parar de pensar em você. Infelizmente.

— Infelizmente? – ele apertou suas mãos em minha cintura, sorrindo. – Até parece, Ardilla.

— Argh! Eu odeio que você tenha tanto efeito sobre mim, mesmo depois de tantos anos. – o puxei pelo paletó, quase encostando meus lábios nos seus.

— Desculpa. – ele sorriu, debochado. – Você sabe que tem o mesmo efeito sobre mim. – ele acariciou minha bochecha. – Mas da última vez, foi diferente. Me fez querer de novo, me fez querer mais. Me fez querer te ter todos os dias.

— Poncho. – neguei com a cabeça. – Já conversamos sobre isso milhares de vezes. Você sabe que não vai dar certo. Melhor nem tentarmos.

— Dulce, de que adianta falarmos isso, e fazer, sei lá, 6 anos que ficamos nessa de que não vamos dar certo, mas também não rompermos por completo? – ele respondeu, impaciente. – Você já teve dois namorados desde a última vez que tentamos, eu também já tive duas namoradas, e mesmo assim, nada. Traímos os quatro, você lembra disso? – respirei fundo, ouvindo o que ele falava. – Se você quiser realmente declarar que isso nunca vai dar certo, então a gente vai fazer um trato de nunca mais ter nada. É isso o que você quer? Você está pronta pra encarar essa realidade? – ele me olhou, esperando uma resposta que eu tardei a dar. – Hein?

— Não. – murmurei, finalmente preenchendo aquele espaço que ainda restava entre nós, iniciando um beijo terno que tanto precisávamos naquele momento, e que mal sabia eu, mas mudaria o rumo de nossas vidas.

Fim do Flashback.

Hum...— ele me olhou, pensativo. – Mas de certa forma, foi o encontro anterior que nos levou a isso tudo.

Sim, mas na minha visão... quando realmente mudou tudo, foi nesse dia. Mas enfim, não importa tanto agora.— sorri. – O que importa é que, no fim, tudo deu certo.

Você lembra quando te pedi uma nova chance?— ele sorriu bobo.

Logo quando eu ia sair em tour?— soltei uma risada.

Oras, o amor não tem muito timing.— ele me puxou novamente para o seu abraço e eu enterrei meu rosto em seu pescoço, sentindo aquele perfume que logo começaria a me fazer falta. – Mas o importante é que você pensou, e continuamos levando, até que finalmente tudo se encaixou.

E você me pediu em namoro.— fechei os olhos, começando a me lembrar daquele dia.

Início do Flashback.

Los Angeles, Junho de 2014

— Poncho, por Dios, aonde você está me levando? – eu reclamava, de olhos vendados, enquanto ele me guiava. – Você dirigiu tanto, onde estamos? Você sabe que eu preciso viajar amanhã, então não posso chegar tarde em casa.

— Ya Dulce, são 17:55 ainda. Pare de reclamar. – ele se encostou mais em mim e pude sentir algo em suas costas.

— O que é isso? – perguntei, enquanto tentava apalpar, sem sucesso, o objeto que ele carregava.

— Dulce, não. Para, vai estragar a surpresa. – ele respondeu, ainda muito paciente.

Continuamos caminhando por mais alguns minutos, quando comecei a sentir a areia debaixo dos meus pés e o barulho das ondas quebrando a poucos metros de nós.

— Poncho, você me trouxe para Santa Mônica? Eu vou te bater.

— Ai meu Deus, cala a boca. – ele estava rindo. – Fica aí. – ele parou de caminhar, segurando meus braços.

Suspirei, impaciente, enquanto sentia ele se afastar aos poucos.

— Já posso tirar a venda?

— Eu tiro, espera. – ouvi sua voz atrás de mim e logo senti suas mãos em minha cintura, me abraçando. – Eu descobri essa parte de Santa Mônica pouco tempo depois que cheguei aqui e fiquei maravilhado. Sabia que precisava compartilhar isso com alguém, e sabia que tinha que ser alguém especial. Acho que eu só estava esperando você voltar pra minha vida. – senti ele depositar um beijo em meu ombro, me arrepiando por completa, e então ele tirou a venda dos meus olhos.

Era o pôr do sol mais lindo que eu já havia visto toda a minha vida. Aquele horizonte que parecia infinito, todas aquelas cores se misturando, simplesmente me fizeram perder o ar. E se já não bastasse a vista, pouco tempo depois, comecei a ouvir as cordas de um violão, e me virei para Poncho, totalmente surpresa. Ele estava com nada menos do que o meu precioso amigo, já um pouco desgastado devido ao tempo. Se fosse qualquer outro momento, eu estaria brigando com ele por tê-lo pego sem minha autorização, mas vê-lo ali, dedilhando um pouco sem jeito, me fazia esquecer tudo.

https://www.youtube.com/watch?v=NfgdE_wUJ5k

— Mis besos ya no quieren esperar en esta noche fría enciéndeme el aire. – ele entoou aquela voz rouca, me fazendo arrepiar. - Y solo tu podrías domar, mi corazón ingobernable. – ele levantou o olhar, encontrando o meu, sorrindo.

Eu não podia acreditar no que ele estava fazendo. Se eu não estava louca, ele não cantava desde o nosso último show com o RBD. Sempre insistiu que não gostava, que não era sua praia, mesmo que eu cansasse de dizer o quanto eu amava a sua voz. Mas ele nunca cedia.

— Tuve miedo de mi, quise escapar de ti, quise apagar con gasolina el fuego. – eu sentia meus olhos se encherem de lágrimas, enquanto ele entoava aqueles versos tão conhecidos. - Vas desafiando con tus alas a la gravedad, con tu fuerza infinita, con esa forma de besarme que mi boca necesitas. – ele se aproximou mais de mim, me arrancando um sorriso. - Que me pierdo entre tus ojos y me vuelve a encontrar que mi alma, me lo evita, eres mi tormenta favorita. – ele foi finalizando, mas as lágrimas já desciam pelo meu rosto.

— Poncho... – murmurei.

— Hey. – ele voltou o violão para suas costas e se aproximou, segurando em minhas mãos. – Você lembra quando ouviu essa música pela primeira vez e logo a enviou para mim, debochando que parecia ter sido feita para nós? Eu nunca esqueci. – dei uma leve risada, enquanto sentia sua mão passar pelo meu rosto, enxugando minhas lágrimas. – Eu não poderia deixar você ir, novamente, para longe de mim, sem antes te dizer que... – ele olhou no fundo dos meus olhos. – Sem te dizer que eu cansei desse vai-e-vem. Eu cansei de fingir que algum dia amadureceríamos e seguiríamos em frente, porque não vamos. Porque eu não quero. E eu sei que você não quer também. É com você que eu quero estar. Eu quero que você vá, mas vá sabendo, tendo a certeza, de que quando voltar, eu estarei aqui esperando por você. – ele levou suas duas mãos ao meu rosto, e eu fechei os olhos, sentindo sua respiração tão próxima. – Eu te amo, Dulce. Eu sempre amei. E hoje, eu tenho a certeza, que sempre vou amar. Você aceita, novamente, ser minha namorada?

— Você ainda tem alguma dúvida sobre essa resposta? – eu abri um sorriso, encostando meu nariz no dele. – É claro que sim. Eu te amo, e essa é uma das poucas certezas que tenho na minha vida.

Fim do Flashback.

Acho que esse foi o pedido de namoro mais bonito que você me fez em todos esses anos.— toquei em seu rosto, fazendo-o me fitar.

Você sempre foi minha tormenta favorita.— ele sorriu, antes de me beijar.

~

Estava no sono mais gostoso que havia tido nos últimos dias, quando senti a cama se mexendo após um celular começar a tocar. Entreabri os olhos para observar que não era o meu, que estava no criado mudo à minha frente, e suspirei ao lembrar de Poncho. Me virei e o encontrei sentado no colchão, falando baixo ao telefone.

O que foi?— perguntei, quando ele desligou, observando-o passar as mãos pelos cabelos.

Nada de importante. Coisas com o estúdio.— ele deu de ombros.

Que horas são?

07:30. Por quê?

Nossa.— me sentei, me enrolando no lençol. — A audiência é às 10:00, não?

Sim.— ele me fitou, pensativo. – Lembrando disso, acho melhor ligarmos para os nossos advogados e avisar que eles podem cancelar isso, não?

O quê? — perguntei, surpresa. Droga, o que eu tinha feito noite passada?

Oras, não faz sentido irmos lá, agora que nos acertamos. — eu respirei fundo, levando as mãos ao rosto. – Dulce?

Poncho... isso não foi um acerto. — voltei a mira-lo, um pouco receosa com sua reação.

O que você está querendo dizer?

Que isso foi... uma despedida. — observei ele levar as mãos ao rosto, começando a ficar irritado, e eu me inclinei em sua direção, tentando me aproximar mais. – Me desculpa se dei a entender alguma coisa diferente, Poncho. Achei que estivéssemos na mesma página aqui. Foi maravilhoso o que aconteceu entre nós noite passada, e eu jamais irei esquecer. — ele levou as mãos ao cabelo, visivelmente frustrado. – Nos lembramos de momentos inesquecíveis pelos quais passamos juntos, mas é isso. A partir de hoje, eles serão lembranças.

Eu não consigo acreditar em você.— busquei suas mãos, mas ele se afastou abruptamente. – Não Dulce, não! Para! Agora quem cansou da sua palhaçada sou eu!— ele se levantou, irritado, procurando suas roupas jogadas pelo chão. – Você não decide o que quer, caramba! Você tem noção do que aconteceu aqui ontem, e do que tudo significou para mim?— ele já colocava sua calça, enquanto eu me enrolei mais no lençol, sentindo meus olhos arderem pelas lágrimas. – Sério, é inacreditável o quanto você brinca comigo.

Poncho, não foi assim...— minha voz saía embargada.

Ah, o que você achou que eu fosse pensar depois dessa noite?— ele calçava os sapatos. – Só nessa sua cabeça idiota que isso foi uma despedida! Você fala tanto de mim, mas não mede tuas atitudes ao meu respeito. Você não sabe o quanto consegue me machucar. Você continua sendo uma menina confusa. — ele tentava abotoar a camisa, mas estava nervoso demais para acertar de primeira os botões.

Poncho, por favor, não fala assim comigo.— eu me levantei, tentando me aproximar dele.

Que merda.— ele falou irritado, enquanto puxava com tudo sua camisa, fazendo-a desabotoar novamente. – Dulce, não chega perto de mim, por favor!— ele desistiu de abotoar corretamente a camisa, simplesmente colocando o paletó por cima e marchando em direção a porta. – Saiba que se era o divórcio que você queria, será o divórcio que você conseguirá. Eu cansei de insistir. Se você quer tanto ir, vá.— ele abriu a porta, sem ao menos olhar na minha cara. – Não se preocupe com nada, não vou tirar a Julia de você, nem vou mexer em nada do acordo que você mandou. Vou assinar tudo do jeito que você queria. Você venceu, Dulce. Parabéns. Passar bem. — ele bateu a porta. Eu sabia que dali não teríamos volta.