Inteiramente amados

Capítulo 3 - A pista


Marinette, já adormecida, escutou vozes, uma desconhecida e outra que parecia bem familiar, mas resolveu ignorá-las e continuar dormindo, talvez fossem seus pais ou os vizinhos conversando. As vozes pareciam estar discutindo, e estavam ficando cada vez mais altas, sem paciência, resolveu ver o que era e, com a visão um pouco embaçada por causa do sono, olhou na direção da varanda, que era de onde o barulho estava vindo, e surpreendeu-se ao ver aquela pessoa, que a menina julgava reconhecer de longe.

— Adrien? — Ela falou, esfregando os olhos logo em seguida, para certificar se aquilo era real, mas, quando olhou de novo, não havia ninguém lá. Imaginando ser uma alucinação por conta do cansaço, a menina voltou a dormir, embora quisesse ir até o local para ter certeza.

Já transformado em Chat Noir, e escondido no telhado, o menino torcia para a azulada não vir até a varanda e olhar para cima. Ficou alguns minutos parado ali e depois saiu, pensando o quanto tinha sido arriscado ir até lá. Assim que chegou em casa, ouviu inúmeras perguntas e reclamações de Plagg, mas nem prestou atenção e logo entregou um enorme pedaço de queijo para o kwami ficar em silêncio. O modelo jogou-se na cama e não conseguiu pensar em nada, deixou o sono dominá-lo.

***

A azulada ouvia as palavras da professora de química, mas estava muito sonolenta para conseguir entender. Resolveu fazer os exercícios que a professora tinha pedido, talvez isso ajudasse, se ela não tivesse dormido em cima do livro assim que leu a primeira questão. Para sua sorte, a mulher só percebeu no fim da aula, quando a outra professora chegou, então a menina não precisou escutar reclamações.

— Nossa, Marinette, você dormiu a aula inteira! Ainda bem que a Sra Mendeleiev estava ocupada explicando os exercícios para os alunos e não reparou, você sabe como ela não suporta que durmam nas aulas. — Disse Alya e a azulada bocejou.

— Eu tive muita sorte mesmo. — Respondeu. — Mas então, o que eu perdi?

— Nada demais, só a Chloè reclamando como sempre, o Max acertando todas as questões…

— Tudo normal. — Falou Marinette

— Nem tudo. — A morena olhou para os lados e aproximou-se do ouvido da amiga — O Adrien não parava de te olhar, parecia preocupado que a professora te visse, ele inclusive ficou na sua frente para ajudar a te esconder quando a Sra. Mendeleiev olhava.

— Sério? — Disse a menina, mais alto do que imaginava.

— Repara. — Sussurrou Alya e continuou copiando o que a professora de Literatura escrevia na lousa.

As aulas foram passando e Marinette percebeu que a amiga estava certa, o modelo não parava de encará-la. O sinal do intervalo tocou e a menina sentia seu coração acelerar cada vez que seus olhos se voltavam para seu amado e percebia que ele também estava olhando.

— Depois de todo esse romance, me deu vontade de assistir a um filme. — Disse Alya. — Vamos ao cinema mais tarde? — A azulada assentiu e continuou encarando o modelo, fazendo a morena rir — Amiga, para de olhar, já está ficando esquisito.

— Tem alguma coisa estranha, ele nunca fez isso.

— Talvez ele esteja pensando em como você ficou incrível ontem na gravação do clipe. Aquela roupa ficou perfeita! Era idêntica ao uniforme original! E além disso, vocês estavam tão lindinhos juntos.

— Ainda não acredito que fiquei tão perto dele. — As meninas continuaram conversando e nem repararam que dois olhos verdes estavam voltados para uma delas.

Adrien não conseguia parar de pensar naquela possibilidade, tudo fazia tanto sentido, mas… e agora? Ele não poderia falar que sabia a verdade para Marinette, pois talvez estivesse errado e acabaria revelando sua própria identidade à menina. Também não poderia falar com Ladybug, sua parceira tinha pedido para guardarem segredo e ficaria furiosa se ele dissesse que sabia quem ela era por trás da máscara. "Por que tudo tem que ser tão difícil?", pensou, "eu não poderia simplesmente falar: oi my lady, eu sei que você é a Marinette e ela dissesse: sou mesmo, como você adivinhou?" O sinal do fim do intervalo tocou, tirando o menino de seus pensamentos.

***

Assim que chegou da escola, a azulada avisou para seus pais que iria ao cinema com Alya mais tarde.

— Antes de ir, você poderia arrumar o quarto, está uma bagunça. — Disse Sabine

— Ah, mãe…

— Se eu encontrar um diário ou algo assim você sabe que eu vou ler não é? — Falou a mulher, para convencer a filha.

— Você viu a vassoura? — Respondeu Marinette, arracando risadas dos pais e indo direto para o quarto. Chegando lá, percebeu que a mãe não estava exagerando, o local realmente estava bem bagunçado. Começou a arrumar tudo enquanto escutava as músicas dos seus artistas favoritos. Olhou para as fotos de Adrien na parede "ele estava tão diferente hoje, nunca ficou me olhando desse jeito, que estranho…" De repente, os acontecimentos da noite anterior voltaram à sua mente, as vozes, aquela sombra que parecia tanto com a do seu amado… Marinette realmente tinha pensado que o modelo estava em sua varanda naquele momento, mas quando olhou de novo ele tinha sumido, então acreditou que tinha sido apenas um sonho.

***

Adrien tentava tocar uma nova música no piano, mas seus pensamentos certamente não estavam ali, a memória da noite passada não o abandonava de forma alguma, não conseguia parar de pensar em como tinha sido impulsivo. "O que eu estava pensando? Que ia chegar na casa dela às duas da manhã e falaria: e aí gata, eu acho que descobri seu segredo, não tenho certeza não… Qual é o meu problema?" Errou uma nota no instrumento e suspirou, impaciente.

— Nossa! Que barulho é esse? Será que não dá para comer queijo em paz neste lugar? — Reclamou Plagg, mas parou assim que viu o semblante do modelo. Adrien olhou para o kwami, sabia que poderia contar qualquer coisa para ele, era um verdadeiro amigo, mas, desta vez, o menino não falaria. Quando enfrentaram o Coruja Negra, Plagg tinha visto quem era Ladybug e Adrien tinha certeza de que o kwami nunca lhe contaria a identidade dela. Se o modelo dissesse que achava que era Marinette, poderia ter diversas respostas, mas nenhuma seria confirmação, conseguia até imaginar a risada do kwami caso sua teoria tivesse errada. Mesmo que fosse Marinette, Plagg não falaria, as identidades precisavam ser secretas. O loiro suspirou e voltou a tocar o piano.

***

Assim que terminou de organizar o quarto, a azulada olhou o relógio digital de seu celular e concluiu que ainda dava tempo de varrer a varanda antes de ir ao cinema com Alya. A menina só não esperava encontrar o amuleto que deu para Adrien, o mesmo objeto que o menino dissera que sempre estava com ele.