Inteiramente amados

Capítulo 10 - Final


O modelo ia dizer algo, mas foi interrompido por batidas na porta.

— Oi, seu motorista já chegou, Adrien. — Disse Sabine, que logo percebeu o estranho silêncio dos dois.

— Ah, avise que vou demorar alguns minutos, por favor. — Disse o loiro.

— Não precisa avisar, mãe, ele está indo agora. — Falou a azulada, surpreendendo a mulher e o menino. Adrien a encarou e percebeu que não conseguiria nada se continuasse ali, ela precisava de um tempo para pensar e ele também. O modelo assentiu e, sem dizer uma palavra, saiu do local, descendo as escadas e caminhando até o carro, sem notar que tinha deixado o talismã em cima da mesa. Sabine olhou para a filha antes de sair e a menina apenas balançou a cabeça em sinal positivo, como se dissesse que estava tudo bem, mas isso era mentira, ela apenas queria ficar um tempo sozinha, ou quase isso.

— Marinette… — Disse a kwami, secando as lágrimas que começavam a percorrer o rosto da azulada.

— Eu ainda não acredito que foi assim, que… foi tão cedo. — Fez uma longa pausa, sentido as mãos do pequeno ser vermelho em sua bochecha. Tikki, naquele momento, queria apenas ser maior para conseguir envolver a azulada no abraço que ela tanto precisava.

***

Adrien chegou em seu quarto e caminhou até a janela, observando as luzes da cidade. Respirou fundo, tentando diminuir o ritmo de seus batimentos cardíacos, que ainda não tinham voltado ao normal desde que entrara no carro. Sem que percebesse, uma lágrima percorreu seu rosto e, em poucos segundos, suas tentativas de permanecer calmo se tornaram inúteis, o que chamou atenção do kwami.

— Adrien? — Ele o chamou, notando os olhos vermelhos do modelo. Plagg sentiu que não conseguiria ajudá-lo a resolver aquele problema "Ah, Tikki, seria tão bom se você estivesse aqui… você é muito melhor que eu quando se trata de sentimentos", pensou. Sem saber muito o que fazer, resolveu seguir o instinto e abraçar o amigo. O loiro agradeceu e respirou fundo, tentando se recuperar.

— Eu devia ter te escutado, Plagg… — Sentiu mais uma lágrima teimosa percorrer seu rosto, mas logo a impediu de terminar o rastro em sua face — Você me disse para esconder a identidade, sempre me disse o quanto era importante manter esse segredo, não só você, a Ladybug também me falou e… eu não ouvi. Estava tão obcecado para pôr um fim nas máscaras que não imaginei as consequências que isso iria trazer. Me desculpe, eu…

— Não precisa se desculpar, Adrien. Acho que eu faria o mesmo em seu lugar, deve ser realmente muito complicado amar uma pessoa e não saber quem ela é. E… agora não tem mais volta, não adianta ficar pensando nesses erros passados, você e a Marinette precisam decidir como vai ser daqui para frente e resolver isso tudo.

— Você a escutou, ela está com muita raiva e perdeu completamente a confiança que tinha em mim.

— Ela disse aquelas coisas porque estava nervosa, você sabe que as pessoas acabam falando o que não querem quando estão de cabeça quente. Tenho certeza de que amanhã ela estará mais calma e você vai conseguir esclarecer tudo.

***

A azulada chegou na sala dez minutos atrasada e ouviu a professora dizer algo, mas seus olhos estavam voltados para o modelo que, desta vez, também a encarava. A menina foi para seu lugar, supreendendo-se ao perceber que Alya não estava sentada ao seu lado. Pensou em perguntar para Nino, mas, se fizesse isso, acabaria olhando para Adrien e estava tentando evitá-lo depois de tudo o que aconteceu, talvez fosse melhor assim. Lembrou-se da conversa que teve com Tikki na noite anterior, a kwami disse que a azulada e o loiro deveriam conversar novamente e esclarecer tudo. Marinette sentiu-se mal por não ter deixado o modelo explicar, tinha que admitir que foi um pouco dura e injusta com ele, deveria ter escutado o outro lado da história, pois, como Tikki falou, talvez a menina tenha entendido errado. Depois de todo aquele tempo conversando com a kwami, a azulada ficou um pouco sozinha, refletindo sobre seus sentimentos e chegou à conclusão de que a raiva passaria no dia seguinte, mas, assim que olhou para Adrien, todo aquele ódio que ela lutava para não aparecer voltou a atormentá-la. Sentiu que devia evitar ao máximo o menino para não causar mais problemas e foi isso o que ela fez, ou melhor, que tentou fazer. De vez em quando, seus olhos teimavam em ir na direção dele, o que trazia um misto de raiva e arrependimento. Raiva por conta da traição e mentiras do loiro e arrependimento por tudo o que ela tinha dito na noite anterior, se não tivesse começado aquela conversa, nada daquilo estaria acontecendo. Marinette percebeu que precisava conversar com alguém, talvez ajudasse a entender melhor aqueles sentimentos e decidir o que ela deveria fazer. "Alya, você tinha que faltar justo hoje?", pensou, sentindo-se sozinha.

Assim que levantou de sua cama, Adrien resolveu que falaria com a azulada de qualquer jeito, precisava esclarecer toda aquela confusão de uma vez, senão nunca teria a confiança da menina de volta. Porém, assim que ela entrou na sala, atrasada como de costume, e o encarou, ele pensou em desistir. Ao contrário do que Plagg tinha dito, ela não parecia mais calma, aquele olhos azuis pareciam querer tirar seu coração do peito e esmagá-lo. Quando aquela tortura acabou, o loiro percebeu que tinha ficado sem respirar durante todo aquele tempo. Ele tentou lutar contra as memórias da azulada na noite anterior, mas elas sempre voltavam a assombrá-lo e isso servia para alimentar o medo que estava sentindo daquela figura sombria que a menina tinha se tornado. Na hora do intervalo, Kim e Max chegaram para conversar com Nino e Adrien, mas o modelo não prestava nenhuma atenção à conversa, pois estava perdido em seus pensamentos enquanto observava Marinette desenhando algo em seu caderno, sentada em um degrau. Ele resolveu falar com a menina, mas, enquanto se aproximava, o sinal anunciou o fim do intervalo e a azulada, o encarando, fechou o caderno e foi diretamente para a sala, furiosa. "Vai ser muito mais difícil do que eu imaginava", pensou.

Para Marinette, o tempo parecia não passar, além de ser obrigada a encarar o loiro, ela ainda não tinha ninguém para conversar, na verdade até tinha, já que conversava com várias pessoas de sua sala, mas queria falar com Alya. Durante vários momentos daquela manhã, o loiro tentou chamá-la, mas a menina o ignorou, pois, embora não quisesse, ainda sentia raiva dele. Quando finalmente o sinal que anunciava o fim das aulas tocou, a azulada sentiu-se aliviada, finalmente poderia ir para casa e colocar os pensamentos em ordem, mas acabou se atrasando para guardar o material e, na hora que iria sair da sala, ela foi impedida pelo loiro, que ficou na frente da porta, como uma barreira.

— Marinette, por favor, nós precisamos conversar. — Ele disse.

— Não temos nada para conversar. — A azulada respondeu e tentou sair.

— Por favor, eu preciso esclarecer tudo.

— Para mim está tudo bem claro, Adrien.

— Olha, só vai levar um minuto, é sério. — Ela suspirou impaciente e assentiu, encarando o celular em suas mãos.

— Já pode começar. — Disse, séria, mas não o encarou, continuando a olhar para o aparelho.

— Espera, isso é sério? Você vai me deixar falar? — A menina não respondeu e o modelo a encarou durante alguns segundos, incrédulo, só despertou do transe quando percebeu que teria pouco tempo para esclarecer aquele mal entendido, pois iriam chamá-los para sair dali — Eu… queria falar que você entendeu errado, quer dizer, as coisas não foram do jeito que você pensou. Eu não te espionei, nunca faria isso, você sabe… — A azulada continuou olhando para o celular — Sim, eu fui até sua varanda e perdi o amuleto, mas não foi para descobrir quem você é e… — Foi interrompido.

— Seu tempo terminou. — Disse ela, querendo sair dali, sentindo que uma lágrima estava prestes a percorrer seu rosto.

— O quê? Mas… — Ela começou a caminhar para fora do local — Eu sabia que você gostava de mim. — Marinette encarou o modelo.

— E mesmo assim decidiu acabar com a confiança que eu tinha em você. — A menina voltou a andar na direção da porta.

— Eu também gosto de você, eu… te amo. — Ela ouviu, mas continuou caminhando.

***

Marinette entrou em seu quarto e resolveu mexer no computador na tentativa de esquecer tudo o que aconteceu, porém, assim que a tela ligou, viu inúmeras fotos de Adrien. A menina desviou o olhar, encarando a mesa e percebeu que o loiro tinha esquecido o talismã ali. "Talvez tenha sido de propósito, para que eu pudesse devolver e ele conseguisse falar comigo", pensou. A azulada, passando os dedos sobre o amuleto, decidiu parar de resistir e pensar em tudo o que vinha acontecendo, desde a noite em que vira o modelo em sua varanda até a conversa que teve com ele na escola. Ao lembrar de tudo o que o menino falou, uma lágrima começou a percorrer seu rosto, deixando um rastro que marcava seu arrependimento. Agora que estava mais calma, ela tinha percebido o quanto foi injusta com ele de novo e, ao lembrar da promessa que fez para si mesma que iria resolver aquilo sem problemas, mais uma lágrima caiu.

— Posso ajudar? — Disse a kwami, imitando uma vendedora na tentativa de fazer a azulada sorrir.

— Só se puder me fazer voltar no tempo, Tikki.

— Ah, Marinette… — Voou até a menina e abraçou sua bochecha, ficando em silêncio durante alguns segundos — O passado você não pode mudar, mas o futuro é todo seu.

***

A azulada sentou-se em um degrau que ficava na frente da Torre Eiffel, aquele lugar sempre lhe dava inspiração para seus desenhos. Enquanto colocava os primeiros traços no papel, a menina pensava em tudo o que Tikki tinha dito no dia anterior e concluiu que deveria conversar com Adrien na segunda-feira, mas, desta vez, seria mais justa. Colocou os fones de ouvido e continou o desenho, ainda perdida em seus pensamentos sobre o modelo. Ela percebeu que alguém tinha sentado ao seu lado, mas não deu muita importância, talvez fosse algum curioso querendo saber o que ela tanto rabiscava naquela tarde de domingo, mas surpreendeu-se quando viu que era Adrien. A azulada tirou os fones e parou de desenhar, para mostrar que, dessa vez, escutaria o menino, mas, ao contrário do que imaginava, o loiro permaneceu em silêncio, encarando a Torre Eiffel, e ela resolveu fazer o mesmo.

— Lembra da nossa luta contra o Coração de Pedra? Parece que foi ontem… — Disse ele e continuou encarando o monumento com um olhar nostálgico, sem dizer nenhuma palavra.

— Você… não vai falar mais nada? — A menina perguntou.

— Você quer ouvir? — Ela assentiu — Mas é uma história longa, acho que dá até para fazerem um filme… — A azulada sorriu — Bom, depois desse sorriso, acho que dá para fazer um resumo. Tudo começou quando eu cheguei em casa depois da gravação do clipe e fiquei pensando no que aconteceu lá, percebendo as atitudes estranhas de uma determinada garota, atitudes parecidas com as minhas, com as de alguém que quer guardar um segredo. Após horas e horas pensando, cheguei à conclusão de que a menina com as atitudes estranhas era a mesma pessoa com quem eu lutava contra os vilões da cidade. Depois disso, pensei em conversar com a tal garota e confirmar minha teoria, mas esqueci que já devia ser umas duas da madrugada e que ela estava dormindo. Com isso e com a probabilidade de ela ter me visto, resolvi voltar para casa, mas acabei deixando uma coisinha para trás, uma coisa que poderia mudar não só a minha sorte, mas algo que eu tinha muito medo de perder: a tal menina que eu falei antes. Acho que o resto da história você já sabe, não é? Só que tem um detalhe muito importante: a menina com atitudes estranhas é apaixonada por um modelo, um garoto famoso, que está na capa de várias revistas, um garoto educado, obediente e "perfeito". E eu sou apaixonado por uma garota mascarada, que luta comigo contra os vilões e, embora goste muito da menina incrível, desastrada e artista por trás do disfarce, saber que as duas são a mesma pessoa é muito difícil. A verdade é que nos apaixonamos apenas por uma parte de nós, pelas máscaras. Eu, pela super-heroína mascarada e você, pelo garoto "perfeito". Para que tudo dê certo, nós precisamos conhecer nossos outros lados.

— Isso aí foi ensaiado? — Disse ela, rindo.

— Um pouquinho. — Continuaram as risadas, o clima agora estava mais leve. — Sinto muito, Marinette, eu sei que errei ao descobrir quem você é antes da hora e… — Foi interrompido.

— Eu também quero pedir desculpas, fui muito injusta com você, deveria ter entendido um pouco seu lado. — Os dois sorriram e voltaram a encarar a torre Eiffel. — É sério aquilo que você disse ontem? Sabia que eu gostava de você?

— Bom… era meio óbvio.

— Ei! — Ela deu um leve tapa no braço do menino e ele riu.

— Agora que está tudo esclarecido, podemos nos apresentar? — Disse o modelo, levantando-se e deixando a azulada confusa. — Prazer, sou Chat Noir. — Ela riu, incrédula, mas resolveu participar da brincadeira.

— E eu sou Marinette. — Apertaram as mãos — Isso foi ridículo. — Voltaram a rir.

— Agora que estamos devidamente apresentados, podemos nos conhecer melhor… — A menina sorriu.

— Mas antes, tenho que te entregar uma coisa. — A azulada pegou o talismã e colocou nas mãos do modelo, que agradeceu.

— Quem diria que uma coisinha tão simples poderia causar tantos problemas? — Ela sorriu e o abraçou, visivelmente feliz por tudo ter ficado bem — É, acho que esse amuleto realmente traz sorte.

Depois de todos aqueles problemas, os dois aproximaram-se ainda mais e se surpreenderam ao conhecer o outro lado da pessoa que diziam ser apaixonados. Adrien e Marinette começaram a esperar ansiosamente por cada momento que passariam juntos e estavam gostando muito de terem a companhia um do outro, o lugar e a hora não importava, eles queriam apenas compartilhar seus pensamentos e sentimentos um com o outro.

Finalmente, os dois perceberam que, para serem inteiramente amados, deveriam gostar da pessoa que estava por trás da máscara, seja ela um garoto extrovertido ou uma menina desastrada, pois só se ama de verdade uma pessoa quando você a conhece completamente.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.