Pov. tomoya

26 de dezembro de 1968

Como nos últimos cinco anos nevava lá fora tudo era coberto por um manto grosso e branco, provavelmente as ruas estariam interditadas, mas isso não impediria minha família de sair para cumprir nosso ritual, respirei fundo me levantando ao mesmo tempo em que era tomado memórias daquela fatídica noite:

Flash back on:

Era quase inacreditável que eu e Nagisa já estávamos casados há um ano, principalmente que dentro de uma semana nossa filha Ushio iria nascer, pela saúde delicada de Nagisa essa gravidez era de risco, mas conseguimos contornar tudo e hoje ela completava o nono mês de gestação, a única coisa que ainda me preocupava era sua teimosia em querer dar a luz em casa com o auxilio de uma parteira, mas se essa era sua decisão me restava apoia-la...

Olhei para o quarto ela ainda dormia, a mão pousava em cima da barriga de uma forma protetora isso fez um sorriso involuntário se abrir em meu rosto. Algo se apertava em meu peito nesse dia, a vontade que eu tinha era de ficar aqui com elas, mas o trabalho me aguardava. Com o coração apertado segui, o que me consolava era que Sane estava lá, olhei para o céu, nuvens escuras estavam cada vez mais próximas logo iria nevar, apertei o passo...

Flash back of.

Se eu soubesse o que iria acontecer nesse dia jamais teria saído de casa e qualquer sinal de alerta com o tempo ou com Nagisa eu a forçaria a ir ao hospital... Entrei no quarto peguei um macacãozinho branco cheio de dangos azuis foi impossível segurar as lagrimas vendo aquela imagem e sentido aquele aroma, suspirei novamente e o deixei em cima da poltrona, sai sem fazer barulho seguindo para cozinha com a intenção de preparar o café novamente as lembranças me tomaram...

Flash back on:

O tempo só foi piorando, por isso, o chefe resolveu nos liberar antes que a nevasca nos prendesse em algum ponto do trabalho ou na agencia, segui rápido para casa ainda me sentia ansioso, mas, antes decidi passar no mercado e levar alguns mimos para minha esposa e sogra não demorei muito, mas o tempo suficiente para a nevasca aumentar consideravelmente já fazendo as botas afundarem no solo.

Ao chegar em casa senti o clima pesar sem pensar duas vezes corri para o nosso quarto Nagisa estava deitada encolhida com Sanae ao seu lado pondo um pano frio em sua testa, droga! Isso só poderia querer dizer febre:

— Nagisa, o que houve?

— aaaa Tomoya-Kun que bom que chegou, Nagisa acordou enjoada e agora está com febre e não consigo fazê-la abaixar já pedi para Aki buscar um remédio – diz Sanae, me ajoelhei delicadamente ao seu lado dando um beijo em sua testa suada, nesse momento seus olhos nublados abriram um pouco:

— Tomoya – Kun bem vindo – e sorriu isso que me encantava em Nagisa não importava o que acontecia seu sorriso e sua fé estavam lá para sempre, não lembrava de uma única vez que ela não me recebeu assim, sorri-lhe de volta.

— como você está?

— um pouco enjoada, um pouco de dor, mas bem no geral.

— quer algo?

— pode fazer seu macarrão, acho que é a única coisa que aguento – disse corando.

— claro e trarei um chá para aliviar

— vou ajudar o tomoya –Kun filha assim iremos mais rápido – ela apenas assentiu voltando a fechar os olhos, eu e Sanae fomos para a cozinha e no começo trabalhamos em silencio.

— Tomoya... Eu... Eu acho... Que a Nagisa dará a luz hoje. - quase derrubei o prato que segurava

— o que? Mas ainda falta uma semana. – disse começando a me desesperar, pela janela só via neve, estava tão escuro que parecia noite lá fora.

— Você sabe que a saúde dela é instável, e alem do mais os noves meses já se completaram, eu não pedi a Aki para buscar remédio e sim a parteira temos que estar preparados para tudo, seja forte Tomoya! – ela disse baixinho, mas aquelas palavras tiveram um peso enorme sobre mim e eu assenti sim eu seria.

Terminamos logo, eu levei as coisas para o quarto enquanto Sanae arrumava algumas coisas que talvez pudéssemos precisar:

— trouxe o que me pediu Nagisa- ela sorriu se apoiando nos braços para se sentar, larguei tudo ajudando-lhe e pondo travesseiros em suas costas para melhor ampara-la, coloquei a comida em sua frente e ela devagar começou a comer sentei-me ao seu lado, o calor de sua pele febril passava para mim, mas fiquei feliz em ver a cor voltar a seu rosto e seus olhos pareciam mais vivos quando terminou.

— ela está agitada, sinta – estávamos abraçados na cama curtindo o silencio, de vez em quando via Nagisa ter espasmos e eu acariciava suas costas até que passassem o único medo que isso me dava era a certeza cada vez mais clara que nossa filha nasceria hoje, Aki também não chegava, mas expulsei esses pensamentos...

Flash back off

O café estava na mesa às roupas separadas dobradas tudo em cima da cama, só faltava esperar a hora certa, sentei na varanda o vento frio soprando em meu rosto me dando uma sensação de paz e melancolia.

Flash back on

As horas passaram as contrações só aumentavam me doía demais ver Nagisa assim, via a dor em seus olhos, mas para não preocupar eu e Sanae ela tentava fazer o mínimo de barulho possível. Meu Deus tira da minha mulher esse sofrimento...

1h – a febre aumentou

2h – anuncio que as ruas são interditadas

3 h- as contrações aumentam

4h- a bolsa estoura

Total desespero é isso que sinto a criança poderia vir a qualquer momento, eu continuava segurando a mão da Nagisa com a intenção de passar conforto e Sanae tentava a todo custo baixar-lhe a febre:

— Tomoya Kun me prometa... Que... Aii. Irá salva-la

—O que você está dizendo, tudo vai ficar bem logo, logo nossa filha estará em nossos braços – eu tinha que acreditar nisso. A porta foi aberta com força e por ela vieram Akio e a parteira que rapidamente se posicionou a nosso lado

— Viu meu amor agora vai ficar tudo bem! – disse acariciando-lhe a bochecha, lagrimas de alivio desciam por meu rosto.

— hum rum... AAAAAAAAAA – O grito foi aterrorizante e minha mão quase esmagada, mas eu não me importava só queria que seu sofrimento parasse.

— Vamos lá querida, vamos trazer essa criança ao mundo – disse já a posicionado com a minha ajuda, a parteira começou a apalpar a barriga da minha esposa e fez uma expressão não muito boa, em seguida viu a temperatura, seus olhos se tornavam mais graves e preocupados e eu só olhava o rosto de minha esposa...

Flash back off

Arrepios percorriam a minha espinha só de me lembrar daquele dia, nunca havia visto tanto sangue de uma vez, depois a noticia de que Ushio estava sentada no útero, mal sabia eu que o pior estava por vir...

Flash back on

Sangue, sangue e mais sangue, nada da nossa filha nascer, eu via as forças de Nagisa irem embora e a parteira me pedia para mante-la acordada, mas estava cada vez mais difícil... Ouvi algo sobre a bebe estar sentada que seria necessário vira-la, olhei de relance e percebi a parteira com meio braço tentando virar nossa filha no útero da mãe, mais sangue saiu encharcando os lençóis o grito de Nagisa foi horripilante sem duvida pode ser escutado de longe, logo depois ela relaxou, mas nenhum som foi ouvido. A parteira e Sanae estavam de costas para nós, eu só via pela fresta entre os corpos algo vermelho que minha sogra segurava, ela levantou-se e saiu do quaro, me virei para Nagisa... Olhos fechados

Flash back off

Estava pronto segui para o carro e abrir a porta do passageiro Nagisa entrou com todo o cuidado ela estava linda com o cardiga e as botas brancas era assim em todos os anos, todos de branco com um único acessório preto e nós dois com um azul. Seguimos pelo caminho silenciosamente cada um com os seus pensamentos.

Ao chegar ao hospital seguimos para a parte de trás onde uma parte da floresta ainda era preservada, nesse momento o sol apareceu fraquinho dando um ar mágico ao local, lá já estavam nossos amigos e família para cumprir o ritual de todos os anos...

Flash back on

Apesar do medo que me tomou ao ver Nagisa de olhos fechados à parteira me garantiu que estava tudo bem era somente o cansaço e a febre, ela pediu para que eu sai-se para que ela pudesse limpa-la e arrumar tudo e eu assenti ainda atordoado com os acontecimentos das últimas horas, dando-lhe um ultimo beijo na testa me retirei. Akio me esperava com os olhos vermelhos...

Flash back off

Foi quando descobri que nosso pequeno anjo não havia sobrevivido, foi muito tempo após a bolsa estourar, além de estar sentada e com o cordão umbilical enrolado no pescoço... Sai das lembranças indo para frente do campo de flores onde Nagisa já começara

— você foi à prova mais linda do nosso amor, nos ensinou tanto em tão pouco tempo, mas não era seu destino ficar conosco que você esteja em paz meu anjinho. – eu a abracei apertado

— obrigada princesa por tudo vc sempre fará parte da nossa grande família dango- Amme e yukki nossos filhos se aproximaram devagar, plantando a nova flor do jardim de nossa menina.

— Como a maré ushio vc foi instável, mas inesquecível – disse Nagisa e assim demos as mãos formando nosso circulo de dangos em homenagem a nossa menina...

Ushio okazaki – instável como a maré inesquecível como o mar – 26 de dezembro de 1963

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.