A lua cheia iluminava o céu daquela noite. Ela sempre brilhava vigorosamente, porém sua beleza era aumentada mil vezes quando refletida no sorriso da jovem de 17 anos.

Camila sempre fora muito inteligente e responsável, quase uma mãe para os amigos e, ainda assim, nunca foi capaz de explicar para si mesma essa conexão, que chegava a até mesmo ser sobrenatural algumas vezes, entre ela e o céu noturno. Para ela, a lua sempre tivera muita importância. Quando a olhava, ela sentia que estava em mundo completamente diferente, cheio de magia e com esperança, um mundo onde ela sempre desejou viver. Um mundo onde ela seria normal. Ela não sabia dizer o porquê, mas algo a atraía para aquela escuridão que era basicamente iluminada por apenas um elemento: a sua lua.

— Camila! — Uma mão balançou na frente de seu rosto a despertando do devaneio — Você realmente não tá me ouvindo, né?

— Claro que estou! — Ela mentiu. Victoria era sua melhor amiga desde que ela se conhecia por gente então quando ela aparecera naquela noite em sua casa a chamando para sair, Camila não teve como não aceitar.

— Certo, então sobre o que eu estava falando?

— Hãn... Sobre a festa? — Ela chutou — E sobre o quanto você finalmente vai falar com aquele cara?

— Okay, certo, talvez você estivesse prestando atenção. — Camila suspirou aliviada por não obter uma resposta negativa da amiga e agradeceu por sua perspicácia — Bem, como eu estava dizendo...

Ela voltou a escovar os cabelos e ignorou o resto da conversa. Veja bem, não é como se ela não se importasse com a amiga, mas ela realmente não estava nem um pouco a fim de ouvir sobre um interesse romântico que passaria em poucas semanas. Em vez disso, ela apenas continuou a admirar a lua.

Depois de alguns segundos, no entanto, a garota começou a sentir um pouco de náusea. De repente, sua cabeça estava ardendo como se estivesse literalmente pegando fogo. Tudo ao seu redor começou a girar e ela teve que se apoiar na parede para não cair. Droga, isso não podia estar acontecendo de novo. A garota cambaleou até a penteadeira de seu quarto e repousou a escova sobre ela, tentando inalar o máximo de ar possível. Ela tinha consciência de que Victoria ainda tentava chamar sua atenção, mas ela mal conseguia se manter em pé, quanto mais ouvir a amiga.

Ao subir o olhar para o espelho pendurado na parede e se deparar com o próprio reflexo, no entanto, teve de prender a respiração que tanto lutara para manter. Seus olhos estavam idênticos à lua, brilhando intensamente e prateados. Ela pensou que estava ficando louca. Era a única explicação. Essa já era a quinta vez só essa semana que isso acontecia. Mas foi só quando ela começou a escutar vozes, sussurros na verdade, dentro de sua cabeça, que ela gritou. Gritou tão alto que fez sua amiga no outro canto do cômodo dar um pulo com o susto.

— O que aconteceu Mila? — Victoria perguntou correndo para ela e lhe segurando pelos ombros.

— Estou escutando vozes! Era só o que me faltava! Vozes, Vic! Meu Deus, minha cabeça está fervendo. — Disse Camila ainda assustada e tentando ao máximo não desmaiar.

— O que? Que vozes, Camila?! Do que diabos você tá falando?

Claro que foi nessa hora que sua mãe abriu a porta do quarto. Desde pequena, Camila sabia que era diferente, e é obvio que sua mãe também percebera. O assunto “lua” era proibido em sua casa. Ela sempre fizera o máximo para não preocupar a mãe, mas, ao longo dos anos, esconder esses sintomas estava ficando cada vez mais difícil.

— O que houve? Eu ouvi você gritar, filha. — Sua mãe estava começando a entrar no cômodo quando foi parada.

— Nada! — Camila disse tentando não gaguejar — Eu apenas bati com o pé. Certo, Vic? — Ela olhou para a amiga quase que implorando para que ela confirmasse a história.

— Tem certeza? — A mais velha olhou para as duas meninas, que logo se apressaram em concordar. A mãe suspirou como se aquilo não a tivesse convencido, mas ainda assim foi em direção à saída — Certo, qualquer coisa me avisem.

Assim que ela saiu, Camila se jogou na cama exausta e fechou os olhos. Por que isso tinha que acontecer com ela? O que ela tinha feito pra nascer assim?! Pela primeira vez, ela não sentiu vontade de olhar para a lua; pelo contrário, ela queria distancia da sensação que tivera há pouco.

— Eu acho que eu estou ficando louca. — Bufou.

— Quanto mais louco o amigo, melhor; é o que eu sempre digo! — A amiga brincou, rindo da própria piada — Vamos, Mila! Relaxa! Deve ter sido só uma dorzinha de cabeça. Nada que um comprimido não resolva.

— É, deve ser. — Ela encarou o teto do quarto e suspirou — Eu ainda tenho que ir naquela festa? — A pergunta saiu como um sussurro e ela não pode deixar de se sentir mal quando viu o olhar decepcionado da amiga — Olha, me desculpa, de verdade, mas eu realmente não to me sentindo muito bem.

— Tudo bem Mila. Eu nem queria ir tanto assim. — Deu de ombros, claramente mentindo — Mas acho que já vou indo. Está ficando tarde. — Acrescentou a menina.

— Oh, tudo bem. Você sabe que eu te adoro, né? — A garota sorriu — Até mais. — Antes que a garota saísse do quarto, porém, Camila a parou e a puxou para um abraço — Desculpe por ser essa bagunça.

— Sem problemas. É pra isso que eu estou aqui!

Depois que a garota saiu, Camila ainda estava preocupada com o que acontecera. Aquilo não podia ser normal. Ela estava tão farta daquilo. Por que ela tinha que ser diferente? Foi com esses pensamentos que ela virou-se para a janela e acabou adormecendo em frente à lua.