— Entrem, o portão estará aberto. — Disse o homem.

Respirando fundo para se acalmar, as meninas começaram a caminhada em direção aos grandes portões abertos em frente à mansão. A propriedade era bonita, com paredes altas como uma fortaleza. Tinha uma piscina enorme no jardim do lado esquerdo da casa e um gramado impecável. Podiam-se ver várias janelas do que pareciam ser os aposentos e uma porta de madeira escura, que Letícia reconheceu como mogno. Após se aproximarem mais da porta, Camy olhou para trás e, para sua surpresa, não havia sinal de que os homens ou o carro que as trouxeram tivessem algum dia estado lá.

— Gente, eles sumiram! – exclamou, chamando a atenção das outras – Estou com medo.

Camila apenas passou um dos braços pelos ombros da menor em um abraço meio desajeitado, oferecendo o máximo de conforto que podia, considerando que todas estavam assustadas.

Letícia bateu na porta com os nós dos dedos, mas ninguém apareceu. Os segundos seguintes só serviram para deixar as três ainda mais apreensivas, até que a porta se abriu aparentemente por conta própria. Camy entrou primeiro, tentando controlar o nervosismo, seguida pelas outras duas. Avistaram então três figuras com roupas e capas pretas andando em sua direção. Aquilo só serviu para deixa-las mais assustadas, era como se um enorme bolo estivesse preso em suas gargantas, as impedindo de falar ou respirar. Bem, pelo menos até a primeira das figuras retirar o capuz e revelar o rosto de um garotinho. Branco como a neve e com olhos castanhos que brilhavam como se estivesse se divertindo como nunca, seus cabelos eram claros e quase batiam na altura de seus olhos. Ele sorriu abertamente enquanto tentava ajeitar a túnica que parecia ser alguns números maior do que ele.

— Olá novatas! – Cumprimentou – Bem vindas! Vocês podem me chamar de Jack. E essas são Aline e Sarah. – Apresentou, apontando para as outras duas silhuetas que também já retiravam as capas.

Sarah tinha um corpo esguio com os cabelos de uma mistura bonita entre ruivo e loiro. Ela sorria com a cabeça baixa como se não gostasse da atenção que estava recebendo, mas quisesse ser amigável ao mesmo tempo. Leticia se pegou hipnotizada tentando definir a cor dos olhos da garota, que iam do castanho para um verde claro e então para um azul profundo.

Já Aline tinha os cabelos escuros longos jogados sobre os ombros e olhos tão pretos que ficava difícil distinguir a pupila da íris. Ela levantou o braço acenando animadamente e mostrando uma camiseta que Camy reconheceu como sendo de algum anime antigo.

Antes que as três garotas pudessem se apresentar, elas ouviram um grito arrastado e viram uma garota loira com olhos azuis safira descendo as escadas com uma roupa que podia ser classificada como chamativa, para dizer o mínimo. A típica patricinha, Camila pensou.

— Jaaack! Eu tenho que escolher uma roupa para a festa de hoje à noite, você quer vir comigo? – A garota pareceu só então notar as figuras plantadas perto da porta – Ah, temos novatas?

— E a vadia apareceu. – disse Sarah pela primeira vez, deixando transparecer um forte sotaque que fazia parecer que ela estava se esforçando para pronunciar as palavras corretamente. A recém-chegada revirou os olhos.

— Muito prazer meninas. Sou Ashley, também conhecida como a melhor garota desse lugar! – Virou-se então dando um sorriso falso e malicioso para a loira – E quanto ao seu comentário, meu amor, só porque eu pego mais pessoas que você, não significa que eu sou puta. Enquanto eu me divirto, você está ai, encalhada. Quem está perdendo mesmo?

— Você ainda vai meter ele em confusão, Ash. — A de cabelos preto falou, fazendo com que Jack abrisse a boca em protesto, mas fosse calado pela mão da garota — Essas festas que você vai não são boas pra ele e você sabe!

— Querida, eu sei o que é bom pra ele! E diversão é bom para qualquer um! Cuidado para não passar tempo demais com essa aí. Vai que chatice pega! Deus me livre de aturar mais uma.

— Desculpa Ash, mas eu quero levar as novatas para conhecer a Diretora Lana. Você sabe como eu adoro as caras das pessoas quando encontram com ela pela primeira vez! — O garotinho disse parecendo que ia desmaiar de excitação.

— Argh, tudo bem. Ainda não entendo o porquê de você gostar dessas coisas. Enfim amores, estou indo! — Ela se inclinou e depositou um beijo no topo da cabeça do menino antes de ir em direção à porta, gritando em seguida: — Não me esperem acordados!

— Ninguém ia te esperar mesmo. — Sarah disse arrastando o “r” e evidenciando ainda mais o sotaque — Ela vai acabar te metendo em alguma confusão, Jack! Será que ela não tem neurônios o suficiente pra saber que você ainda é uma criança?!

— Eu gosto da Ash! — Ele disse como se aquilo explicasse tudo — Ela nunca faria nada comigo! – Protestou.

— Ela eu sei que não, mas e os amigos dela, hein? — A morena pontuou.

— Bem — Camy foi a primeira das três a interromper a discussão interna e pigarreou antes de continuar — Você disse que ia nos levar até a diretora?

— Isso! — O rosto infantil se iluminou novamente e ele pegou a mão dela, puxando-a em direção a um longo corredor — Por aqui!

Enquanto o menor liderava o caminho, as cinco meninas iam atrás tentando acompanhar a velocidade dele. O corredor era maior do que parecia. Seria fácil se perder naquele local. As paredes eram decoradas com quadros e o chão com tapetes de estampas diferentes. Eles passaram por varias portas, fechadas ou entreabertas, até que um garoto moreno de olhos turquesa saiu por uma. Ele era definitivamente alto e os óculos o davam uma aparência mais nerd.

— Hey Sarah, eu estava mesmo te procurando! Quer terminar aquela maratona de Doctor Who? Eu pensei que nós podíamos... — Ele deixou sua frase morrer ao absorver a cena que encontrara, voltando sua atenção para as três desconhecidas, olhando um pouco mais do que o necessário para Camila — Novatas? Estão indo para a diretoria?

— Esse é Thomas — Aline apresentou revirando os olhos — E se ele parar de encarar a novata, talvez queira ir com a gente até a diretora Lana? — O garoto desviou o olhar, corando — Anda logo Thommy.

— Sim! Vamos logo! Vocês tem que conhecer a diretora Lana! — Exclamou o mais novo. Jack as guiou novamente até pararem em frente a uma porta de vidro que dava para uma sala de paredes coloridas. Dentro, várias estantes, cheias de livros de cujos títulos nenhuma das garotas havia ouvido falar antes preenchiam a sala junto com um sofá largo e a mesa atrás da qual uma mulher bonita, loira com olhos azuis penetrantes sentava.

— Olá, sejam bem vindas à minha Instituição. Por favor, sentem-se. Camy, Leticia e Camila, temos muito prazer em recebê-las. —Saudou com um sorriso amistoso.

— Como você sabe nossos nomes? — Leticia perguntou direta como sempre.

— Eu sei de tudo, meu anjo. Bom, deixe eu me apresentar: meu nome é Lana e sou diretora dessa escola. Irei explicar melhor para vocês mais adiante, no decorrer das aulas. O importante é que vocês vieram para cá por um motivo: vocês são poderosas. Todos daqui são. Cada uma de vocês tem um dom e aqui podem aprender a desenvolvê-los. Aprendemos a nos defender totalmente daqueles que não nos compreendem e a controlar nossas habilidades. Vocês são descendentes de Salem. São jovens bruxas. Alguma pergunta?

As três ficaram estáticas, quase que em estado de choque. Leticia sempre soube que havia algo de errado com ela, mas, mesmo após as varias sessões dos mais bizarros rituais de todas as religiões possíveis – forçadas pela sua mãe, é claro – ela nunca pensou que pudesse ser algo assim. Bruxa? Como os livros de Harry Potter ou os filmes de princesa? Aquela mulher só podia estar brincando com elas.

Camy não conseguiu mais se conter e começou a chorar. Ela odiava parecer tão fraca assim em publico, então correu para fora da sala pelos corredores longos e desconhecidos. Até que se decidiu e entrou aleatoriamente em uma das portas, tendo sorte de ser uma sala vazia. Ela já esperava por algo assim. Sua avó a havia alertado. Mas agora? Ela só tinha treze anos! Será que ela era alguma criatura que fizera mal ao mundo em outra vida? Camy olhou para seu reflexo em um espelho rachado que havia no cômodo, enxugando as lagrimas.

— Talvez o mundo seja perigoso para uma garota como eu. — Ela parou por um momento e então completou com ainda mais convicção — Ou talvez eu seja perigosa para o mundo...