Helo

O sonho de muitos campistas é participar de uma missão. Ganhar toda a “glória” de Sr. Fantástico, Líder Supremo ou seja lá o que eles pensam que se tornam após uma missão concluída. Mas a verdade é que é apenas um show de marionetes. A cada 10 missões, 10 são problemas dos deuses que temos que resolver para que o nosso querido mundinho não seja destruído. UAU, que honra! Fala sério!

De todas as missões que eu já fora, essa ganhava de longe o troféu da mais frustrante da história. Sei o que está pensando e não, não estou exagerando, porque:

1° - A droga do nosso “brinquedinho” estava quebrado. Inútil!

2° - Eu tinha que conviver com Marcy.

3° - A droga do túnel não parava quieto. Primeiro Texas, depois New Jersey, então Chicago e finalmente San Diego, se não conseguíssemos achá-lo a tempo, para onde iríamos? Austrália pular com cangurus?

4° - Tétis é uma vadia louca.

5° - Eu tinha que conviver com Marcy.

6° - Viagem nas sombras. Foi uma sensação inexplicavelmente terrível, sem porém.

7° - Estava exausta e quando finalmente encontro um lugar para dormir (que, por sinal, era um shopping onde todos ficavam nos olhando como se fôssemos ETs, só porque parecia que tínhamos acabado de lutar com uma mulher-serpente sanguinária, o que por acaso era o que tínhamos feito), pisco os olhos e já tenho que levantar.

8° - Já falei que tinha que conviver com a Marcy?

E pra piorar tudo, estávamos fazia quase uma hora procurando a entrada desse túnel aparentemente invisível.

Procurávamos em silêncio e realmente muito surpresos por nenhum monstro louco ter tentado nos matar. Tínhamos 6 horas.

O lugar era imenso, mas decidimos não nos separar, porque caso nos perdêssemos, sabe-se lá quanto tempo demoraria para encontrarmos uns aos outros, não podíamos arriscar perder o túnel novamente.

Depois de procurarmos na maioria dos brinquedos, como a montanha-russa e a roda gigante (que Peter e Ana foram de mãos dadas, mas quando Peter percebeu que eu estava olhando, desviou o olhar envergonhado), ainda sem chance, decidimos procurar nas barracas.

Desde que entramos no parque, o localizador tinha enlouquecido de vez, as agulhas apontavam cada uma para um canto e ficavam rodando e trocando de lugar. Devíamos estar perto. Até que todas se voltaram para um único ponto: uma barraca de cachorros-quentes que não deveria ser usada há anos! Imagine a quantidade de cupins... bem, isso não vem ao caso.

– Pra lá – disse Matt apontando para a barraquinha, confirmando minhas suspeitas.

De repente fiquei feliz, não importava mais o cansaço, a Marcy, os cupins, a Marcy... Era o mais perto que chegáramos até agora e não deixaria isso escapar. De alguma forma, sabíamos que os outros se sentiam da mesma forma.

Corremos até lá e Peter abriu a porta, que rangeu, tudo estava escuro e ouvimos Ana gritar de susto. Corri procurando o interruptor na parede... ACHEI!

Quando acendi a luz, todos já haviam desembainhado suas armas e cercavam um homem que tinha Ana como refém. Segurava-a pelo pescoço e apontava um revólver para sua cabeça.

Com certeza era mortal, pois não parecia ter notado nossas armas.

– Entreguem tudo ou a garota morre - disse o bandido.

Era com certeza um retardado, mas nossas armas não poderiam feri-lo.

– Ah não! Depois de tudo oque passamos, não é um ladrãozinho barato que vai conseguir me amedrontar - disse Marcy e, rápida como uma felina, pulou em cima do homem enquanto Matt lhe dava uma rasteira e Peter batia em sua cabeça com o punho da espada. E eu... bem, eu observava. Em um piscar de olhos, tínhamos um mortal desmaiado e todos estavam bem.

– Mortais - eu disse revirando os olhos.

E como se nada tivesse acontecido, Matt continuou andando pela barraca e nós, claro, o seguimos. Chegamos ao que parecia ser a cozinha. Nunca se sabe onde o túnel pode estar, então procuramos dentro dos fornos, freezers, geladeiras (que estavam cheias de vermes) e nada. Vasculhamos o lugar todo e nada.

Peter se sentava no chão exausto quando ouvimos um baque surdo.

– Peter, levanta daí! – disse Marcy apressada e este a obedeceu.

Eu achava que finalmente ela havia enlouquecido quando colou os ouvidos no chão e começou a dar batidinhas com os punhos, quando ela se levantou e disse:

– O chão é falso, estamos em um alçapão.

É claro! Como eu não percebera antes... não, eu não iria me lembrar, depois daquela missão...

– Ajudem-me aqui!- disse Peter e corremos para ajudá-lo. O chão estava marcado nas hastes do fundo falso, então não foi difícil acharmos as pontas, e com muito esforço, conseguimos puxá-lo para cima, tendo a visão de um cano escuro.

Nem tivemos tempo de considerar a hipótese de pular, pois ouvimos dois tiros vindos do cômodo ao lado. Droga! Tive a burrice de esquecer de recolher a arma!

– Rápido, pulem! - gritei. O cano era estreito, então Peter foi primeiro, seguido de Ana, que ainda estava cega. Matt pulou, depois Marcy e eu.

***

Provavelmente, nossa descida (era como descer em um tobogã gigante, mas em um escuro total) durara apenas alguns minutos, mas pra mim pareceu uma eternidade. Não resisti ao ímpeto de gritar:

– AAAAAAAAH!

BUM!

Senti alguma coisa estalar. Meu tornozelo de novo, não! Aaah, pelo menos os outros amorteceram minha queda.

Todos se colocaram de pé, menos eu, por conta de meu tornozelo.

– Então... aqui é o túnel do medo? - perguntou Peter, sacudindo sua roupa molhada. Acho que devo acrescentar que o lugar onde caímos tinha água e bastante lixo, juntamente com um cheiro muito desagradável.

– Não, aqui é o esgoto, não entendo porque... - Matt foi interrompido por uma luz muito forte que brilhou ao longe e logo se apagou. Bem, já sabemos por qual direção seguir.

Como estava um breu, eles não pareceram perceber que eu ainda estava sentada.

– Temos um pequeno problema - disse Marcy.

– O que houve? – perguntou Ana se apoiando em Peter.

– Não tem como andarmos num esgoto no escuro - continuou. - Se ao menos tivéssemos um sol ambulante. Afe, esqueçam, agora viria a calhar um filho de Apolo que brilhasse no escuro.

Senti meu rosto esquentar e o ódio tomar conta de mim.

– Você está debochando dos meus poderes? - disse tentando soar ameaçadora, mas não sei se funcionou, pois Marcy revidou:

– O que vai fazer? Me jogar uma maldição para que eu ande por aí falando em rimas?

– Ora, sua.. .- já nem ligava para a dor e tentava me levantar para dar o que aquela bafo de caveira merecia quando Matt nos surpreendeu:

– CHEGA VOCÊS DUAS! – e paramos, nunca tinha visto Matt se alterar daquela maneira.

– Problema resolvido - disse Ana acendendo uma lanterna que ela achara no chão, que deveria pertencer a algum operário que trabalhara por ali.

– Vamos - continuou Matt, e eu o interrompi contando sobre meu tornozelo.

– Marcy, ajude-a – disse autoritário sem dar chance para alguma de nós reclamar.

Se existisse algum prêmio de incompetência para semideuses, eu com certeza o merecia.

Já não bastava ficar parada enquanto Ana corria perigo, não recolher a arma do bandido, gritar como uma garotinha ao descer pelo cano, ser ofendida quanto aos meus poderes e quebrar o tornozelo de novo (ambrosia tinha resolvido da primeira vez, mas duvidava que ainda tivéssemos algum pedaço), eu ainda tinha que me apoiar em Marcy como uma completa aleijada. Parabéns, Helo, você é um fardo para a sua equipe! Eeeeh!

A cada passo (mancando), ficávamos mais perto da entrada do túnel, todos podíamos sentir, sem contar que o localizador havia enlouquecido novamente.

Continuei perdida em meus devaneios até sentir metal em minha garganta, quando percebi, todos já estávamos cercados.

Eram umas doze meninas de beleza estonteante e provocadora, usavam vestidos da seda mais pura e várias joias e braceletes dourados, além de estarem muito bem armadas. Tinha alguma coisa nelas que não era humano, tampouco real, era como magia.

Então a que aparentava ser a líder deu um passo à frente:

– Vamos ter uma... ”conversinha”, queridos semideuses.