Helo

De todas as missões de que eu havia participado, essa era sem dúvida a mais frustrante. Eu e Marcy estávamos famintas, e quando finalmente conseguimos comida, pegamos uma tal de peste não sei das quantas. Nunca tinha ouvido falar dessa peste, o que era estranho. Mas de todas as pessoas que poderiam pegar essa coisa, adivinha quem eram as sortudas? E ainda por cima temos a visita de uma mulher ou seja lá o que for, que nos disse que temos 7 dias para, TAN TAN TAN, rufem os tambores... "quebrar as correntes em que estávamos aprisionadas", então tá, né.

E não parou por aí, esse túnel estava realmente mexendo comigo. Eu sempre fui uma pessoa totalmente equilibrada, que oprimia o que sentia em favor dos outros. Tinha uma regra: "Nunca, em hipótese alguma demonstre fraqueza". E desde que eu tinha entrado nesse túnel, era tudo o que eu tinha feito.

Chorar como uma imbecil? Ticado.

Ter um ataque de histeria? Ticado.

Gritar como uma louca e falar coisas horríveis para Marcy? Ticado, ticado, ticado.

Como eu estava exausta, paramos para descansar e eu tive um sonho horrível. Eu estava convencida de que era Éris quem estava manipulando meus sonhos, pois eu não consigo acreditar até agora no que vi.

O Acampamento estava um completo caos. Havia uma tempestade horrorosa, cheia de raios e trovões, o que já mostrava que tinha algo errado, pois o Acampamento é programado para um clima bom. Sim, aquilo era magia, o céu estava muito belo, como uma pintura. Cada raio era uma pincelada que contribuía para a formação da obra. Era assustador e ao mesmo tempo incrível. Peter e quase metade dos semideuses estavam armados, ferindo os outros campistas que tentavam se defender. Outros colocavam fogo nas árvores enquanto o chalé de Afrodite jogava charme para que outros campistas se afogassem. Então meu irmão Leo, que eu deixara no comando enquanto eu estivesse fora, atirou uma flecha em Peter que foi desviada. Luc, filho de Hades quebrou seu arco e então o que aconteceu a seguir me fez morrer por um instante. Peter atravessou sua espada nele. Esperava que aquilo fosse uma ilusão, porque se não fosse... ah, eu o vingaria. Aquilo com certeza não sairia barato.

Então um vento forte começou a me puxar e eu fui engolida pelo chão. Sim, engolida pelo chão. Uau, tenho que parabenizar a criatividade dos deuses, porque eles com certeza se superaram. Senhoras e senhores, uma salva de palmas!

Então caí em uma sala cheia de... escorpiões. E não eram simples escorpiões. Eram pretos, enormes. E eram centenas deles. Eu tinha pavor de escorpiões, respirei fundo e reprimi vários gritos enquanto eles me envolviam. Tudo o que eu fazia era ficar completamente imóvel enquanto lágrimas e mais lágrimas rolavam pelo meu rosto. Então, como se tudo já não estivesse bom o suficiente, ainda me aparece a merda de um escorpião de dois metros de altura. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH, QUE MERDA! UMA MORTE SENDO ENGOLIDA POR CENTENAS, TALVEZ MILHARES DE ESCORPIÕES JÁ NÃO BASTAVA? NÃÃÃÃÃOOOOOOOOOO, TINHA QUE TER UM MONSTRO PRA ACOMPANHAR!

A questão é que eu nem estava mais ligando, se eu morresse não faria diferença mesmo. Ok, aconteceu uma coisa muito sinistra. Uma garotinha apareceu, simplesmente gritou e todas aquelas coisas... aaargh, desapareceram. Inclusive a coisa coisada (lê-se escorpião gigante).

Aquela garota era realmente louca. Ficava repetindo coisas estranhas e o pior era que realmente dava medo. Ela era sinistra, como naqueles filmes de terror, ela com certeza não era boa coisa, mas eu não tinha mais ninguém, então a segui por uns quinze minutos. A questão é que ela virou uma víbora assassina e me jogou em uma espécie de prisão.

E como se tudo não estivesse bizarro o suficiente, adivinha quem eu encontro? Se sua resposta foi algum monstro sanguinário ou algum deus maluco que queira me matar, errou. Encontrei Matt, pelo menos uma coisa boa.

Então vamos resumir:

1° peste.

2° sonho que meu único lar era destruído e meu irmão fora morto.

3° sou engolida pelo chão.

4° sou salva de escorpiões com sérios problemas (pra nenhum me picar, só podem ter problemas) por uma garotinha.

5° ela vira uma víbora e me prende.

Uau, eu poderia até pensar que estava sonhando pela quantidade de loucuras ocorridas em tão pouco tempo. Tipo, WTF? Até me imagino em uma sala de aula (fala sério, como se algum dia eu tivesse frequentado alguma!) contando à professora e aos meus colegas como tinham sido minhas férias. Eu até riria desse pensamento, mas bem... estávamos no túnel do medo, então já sabe.

Fiquei realmente muito feliz e aliviada em ver o Matt, e então.. .olhando pra ele depois do que pareceu ser uma eternidade, eu realmente desabei. Chorei, gritei e desabafei. Estava muito arrependida depois de ter dito aquelas coisas à Marcy, e se eu nunca mais a visse?

Matt era um ótimo ouvinte, ouvia atentamente enquanto eu contava sobre aquela missão, de tanto tempo atrás.

– Então é por isso que vocês... - começou Matt boquiaberto quando terminei.

Assenti e respirei fundo. Depois de alguns minutos finalmente consegui me acalmar:

– Temos que sair daqui.

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH, ME TIRE DAQUI, SUA ASSOMBRAÇÃO! – gritou Matt e mais um monte de outros insultos enquanto eu tateava pelo escuro e tentava encontrar uma porta, janela, fresta ou qualquer outra coisa que nos pudesse funcionar como fuga. Mas nada.

Depois de algum tempo, simplesmente nos jogamos no chão exaustos. Lindo, depois de tudo o que tínhamos passado, agora íamos morrer em uma jaula escura, como animais. AAARGH, isso é tão injusto!

Do nada uma porta se abriu, onde entrou um pouco de luz para que eu pudesse ver. Ouvia a respiração de alguém ali à porta, mas fiquei em completo silêncio, meu coração estava a mil.

– Ahn... quem está aí? – ouço a voz de Marcy.

– MARCY? – eu e Matt perguntamos em uníssono.

Então foram abraços e pedidos de desculpa.

– Marcy, escuta, eu tive um sonho....

– Shhhh – diz Matt, me silenciando. Ouço passos e engulo em seco.

– Temos que sair daqui - Marcy proclama o óbvio. – AGORA!