Duas semanas antes...

POV Annabeth

Estava checando meus pertences dentro de minhas malas quando ouvi porta sendo aberta.

Estranhei, pois Taylor não costumava chegar naquela hora, e meus pais também não. Então, andei calmamente, sem ruídos, até chegar ao quarto de hóspedes, onde peguei um taco de beisebol. Posicionei-o atrás de mim, como se fosse rebater a bola. Minha respiração estava ofegante.

Os passos estranhos, silenciosos e leves pararam. Pareciam procurar algo. A sombra da pessoa estava lá embaixo, a silhueta aparentava ser feminina.

Daí começou a chorar.

- Annie?! – chamou.

- Taylor! – exclamei, deixei o taco ali e desci as escadas correndo. Assim que cheguei à sala, ela estava sentada, escorada na porta que dava para a varanda, os olhos fechados e lágrimas caindo cada vez que minha irmã piscava. – Taylor, o que houve? Foi com o Rob?

- Foi! Quer dizer, foi com nós dois! E o que vai vir! Ah, Deus, nossos pais vão me matar! – seus olhos azuis brilhavam de medo. – Eu sou tão nova, Annie!

Estreitei os olhos.

- O que houve? – repeti a pergunta.

- Ah, Annie! – ela chorou histericamente. – Estou tão assustada... E feliz.

- Pera. O que aconteceu?! – perguntei novamente, pegando sua mão e arrastando-a até a poltrona no centro da sala de estar.

Corri até a cozinha e peguei um copo d’água gelado, voltei à sala e lhe dei. Ela bebeu calmamente até poder falar novamente.

- Annie... – fungou. – Você sabe de... Relações sexuais, né?

- Claro. Tenho 16 anos. Mas... Você é minha irmã, não minha mãe. Não vamos... Conversar sobre esse papinho de sexo comigo, tá? Isso não cola e eu ainda não fi... Esquece. Pode falar. – me interrompi antes que tivesse que mentir. A verdade verdadeira é que sou uma ótima mentirosa, mas esse é um talento que só pretendo usar em momentos extremos.

Ela deixou passar.

- Não, Annie. Não é de você e do Percy que estou falando. – ela deu a impressão de que já sabia de que havíamos transado. – Eu estou falando de mim. E do Rob.

- Qual é o problema vocês transarem, Tay? Você é maior de idade, ele também, o que tem de errado? É o ciclo natural da vida. – dei de ombros enquanto falava.

- Não é problema fazer sexo ou não. – ela respirou fundo.

Estreitei novamente os olhos, isso não era um assunto muito comum. Apesar de amá-la muito, Taylor era minha irmã, e era muito constrangedor falar com ela sobre sexo. E vice-versa.

- O problema... É que... – ela pigarreou. – Euestougrávida.

- O quê? – pedi para repetir. – Desculpe, é que eu escutei: “Eu estou grávida”.

- E é, Annie. Estou grávida.

- O QUÊ?! – berrei, arregalando os olhos tanto que achei que fossem saltas das órbitas.

- Ah, Annie! – resmungou. – Pode ser um pouco mais compreensiva comigo? É que... Ah, como você mesma disse, somos maiores de idade. E responsáveis também.

- Aimeudeus, Taylor! Quando você descobriu isso? – perguntei, boquiaberta.

- Ontem à noite. Mas achei que o teste tivesse dado errado, então não me desesperei muito. Daí, fui à farmácia hoje, comprei de novo e passei na casa do Rob...

- E deu positivo? – adivinhei, com os olhos ainda mais arregalados.

Ela assentiu com a cabeça.

- Ai meu Deus, Taylor.

- Eu sei.

- Por que... Por que você foi fazer o teste? – perguntei, vacilante.

- Porque eu estava passando mal na casa dele. E a mãe dele disse que eu poderia estar grávida. Eu falei algo como: “Ah, sem chances”, mas mesmo assim depois que saí de lá, fui até a farmácia e comprei o teste.

- Taylor... – respirei fundo. – Sabe qual é o tamanho da responsabilidade de ter um filho?

- Eu sei, Annie. Eu estava aqui quando você nasceu, esqueceu? – perguntou, fazendo graça, tentando aliviar a situação.

- É. Mas existe uma grande diferença entre ser mãe e irmã. – afirmei.

- E eu também sei disso. Mas Annie, ele quer esse filho.

Minha nossa.

- E eu também.

MINHA NOSSA DUPLO!

- MEU DEUS! – berrei, me levantando do sofá.

- Annie! – me repreendeu. Sentei-me novamente. – Você deveria me apoiar.

- O.K., quando você estiver morta no túmulo, pode contar com as minhas lágrimas de ouro... Quando vai contar ao papai e pra mamãe?

- Se eu contar pro meu pai, ele nunca vai querer me ver. Você já sabe como é... – disse. Assenti compreensivamente. – A minha mãe até pode ficar feliz. E o meu padrasto também.

- Então deixamos pra contar pro meu pai depois.

- Quando eu estiver com cinco meses e com uma barriga do tamanho da sua cara? – revirou os olhos.

Revirei também.

- Ei! Minha cabeça não é tão grande! – protestei. – Não, Tay, você pode deixar pra contar pra ele quando estiver pronta.

- Vou fazer isso. – disse, rouca.

- Taylor, fica calma. – diminuí a voz. – Mamãe não vai se importar, esse é o ciclo natural da vida. Você nasce, cresce, se reproduz e morre. E você já chegou à fase da reprodução. Eu ainda estou crescendo, mas também vai chegar a minha hora. E nossos pais vão ter que aceitar. Afinal, a decisão é de quem? Quem vai criar a criança? Taylor, essa escolha é sua. Ninguém pode decidir por você. Você é Taylor Chase. Ninguém vai mandar em você. Se você quiser ter esse filho, tenha. Se não quiser, bote em um orfanato.

“Não se preocupe. Você é a mãe dessa criança, e o Rob é o pai. E eu sou a tia. – acrescentei, fazendo graça. – Mas... A responsabilidade é sua. Você vai ter sua casa, sua família, seu emprego, seu marido. Eu também um dia vou crescer. Dar a vida a um ser humano!”

Ela fungou, sorrindo.

- Obrigada, Annie. Eu te amo.

- Eu também te amo. – sorri, abraçando-a.

- Bem – disse –, eu vou passar na casa da Dawn, se precisar de algo, pode me ligar.

- Tem certeza? – perguntei apenas para confirmar.

- Sim. Não posso encará-los quando chegarem. E também não quero ver o Rob. Ainda não. Estamos muito assustados com a possível ideia de sermos pais, mas também estamos felizes. Quer dizer, quem não quer sentir a felicidade de ser pai ou mãe? De ser responsável por um pequeno ser humano super valioso? Um ser humano tão inocente, tão fofo, tão... Amoroso. Carinhoso. Nada tem valor perto deles. São como cristal, frágeis, de vidro. Mas também são lindos, brilhantes, valiosos.

- Estou vendo que você quer muito essa criança. – falei, sorrindo.

Ela bufou, retribuindo o sorriso, enquanto se levantava.

- Quando tiver a chance de ser responsável por alguém, de ser mãe, vai entender.

Sorri suavemente.

- Quando tiver a chance de ser mãe com o amor da sua vida, vai entender. – corrigi.

Ela sorriu.

- Você realmente gosta dele, né?

Revirei os olhos.

- Vai logo. – mandei. Ela sorriu maliciosa, virou-se, abriu a porta e foi embora, me deixando sozinha novamente.

Subi as escadas e entrei no meu quarto. Deitei na minha cama, encarando o teto, enquanto pensava no que Taylor me dissera. Mas eram apenas planos futuros, eu ainda nem havia chegado à faculdade!

Meu celular começou a tocar loucamente. Levantei-me e procurei o bendito IPhone. O peguei debaixo de várias revistas da Vogue. Silena sairia em uma delas na próxima edição.

- Alô? – atendi.

- Annie? É a Thalia.

- Oi.

- E aí? Pensou na música?

- Pensei. Mas não quero falar sobre isso com você agora. Taylor acabou de me contar uma novidade e, se eu não contar pra alguém, vou explodir.

- Nossa mãe, tá parecendo até a Silena. O que houve?

- Ela está grávida!

-What The Fuck?! Não. Espera. Ouvi errado. A ligação tá cheia de ruídos. A Taylor está grávida? Do Rob? OMFG, e depois eu sou a perturbada no mundo!

Revirei os olhos.

- Minha irmã não é perturbada. Ela pode ser o que for, menos perturbada. Mas cara, eu nunca imaginei isso! Daqui a pouco o Rob tá pedindo ela em casamento.

- E você duvida? – perguntou. Mas como de costume, não havia um tom de deboche ou brincadeira em sua voz.

- Não sei. O que você acha?

- Cara, se eles quiserem ter esse filho, acho melhor casarem. Tipo, ele tem 27, né?

- Acho que é. Ou 25. Não tenho certeza. A Taylor tá com 22. Eu acho.

- Eles são maiores de idade, então não tem nada de proibido de se casarem ou terem um filho. Mas eu só acho melhor, é uma sugestão. É meio difícil você ter um filho sem a ajuda do pai ou da mãe. E a Taylor vai ficar de licença-maternidade, logicamente. Espera. Ela ganha o pagamento de licença?

- Você não presta atenção na aula, não? – perguntei, com tom de reprovação. – Não sei.

Quase pude ouvir minha melhor amiga revirando os olhos.

- Supondo que ela não ganhe, como vai sustentar o manolo?

- Manolo? É assim que você vai chamá-lo?

- Licença. Cada um chama uma criança do jeito que quer.

Revirei os olhos

- Tô começando a achar que você é débil mental. – avisei.

- Achou tarde demais, Annabeth Chase.

- O.K., e aí, pode vir aqui em casa? Vou te mostrar a música.

- Tá legal, mas se eu demorar, não se preocupe. Não fui estuprada nem nada. É que ainda tenho que chamar a Melissa pra pedir o violão.

- O.K.

Desliguei o celular e o deixei em cima da cama. Meu laptop começou a apitar. Era alguém me chamando para teclar.

Sentei na cadeira rotativa, e comecei a escrever, aceitando o convite da pessoa. Eu havia ingressado em um grupo para os futuros alunos da escola musical? Me senti uma retardada por não lembrar de uma coisas dessas.

Tinha apenas uma pessoa on-line. Era um garoto. Estalei os dedos e tirei a franja do rosto.

Annabeth C. diz:

oi.

Mordi o lábio inferior.

C. S. diz:

Oi.

Annabeth C. diz:

qr teclar? É meio indelicado, mas eu n tenho o q fazer.

Mentira. Eu tinha sim, mas a foto do garoto me chamou a atenção.

C. S. diz:

kkk’, relaxa’, eu tbm não tenho o qe fazer da vida. Aliás, ela é um total horror.

Sorri.

Annabeth C. diz:

fala de onde?

C. S. diz:

Do meu computador, e vc?

Annabeth C. diz:

do meu IPad ú_ú

C. S. diz:

Por que será que eu sempre me ferro, dona Joana? (8)’

Annabeth C. diz:

que música é essa? UAHSUAHSUAH’

C. S. diz:

Uma que eu acabei de inventar, com licença. .-.

Annabeth C. diz:

pode passar, Sr. C. S.

C. S. diz:

Então, falo de Nova Iorque, Long Island.

Annabeth C. diz:

sou de São Francisco. Agora aqui estou eu, tmb em NY.

C. S. diz:

Também vai pra escola musical em Londres?

Annabeth C. diz:

sim... E aí? Vai me contar seu nome verdadeiro? *-*

C. S. diz:

Não. Vc vai se assustar Ú_Ú’ A minha cunhada acha que sou maluco. Mas o namorado dela tem um nome de retardado. E olha que ele é meu gêmeo. Mas continua sendo mais feio. Sou o lindo.

Annabeth C. diz:

UAHSUAHSAUH’, vc n é nem um pouco modesto, hein.

C. S. diz:

Obrigado. :D

Annabeth C. diz:

n foi um elogio. ‘-‘

C. S. diz:

Mas eu considerei um. Da licença >.

Annabeth C. diz:

n, sério, qual é o seu nome verdadeiro? O meu é horrível, aff’s, Annabeth Chase. Que tipo de pai coloca esse nome em uma filha?

C. S. diz:

o seu. ‘-‘

Annabeth C. diz:

tem razão, eu devia me calar por alguns segundos. Bem, e aí? Quais são seus gostos? Quer dizer, n posso teclar com uma pessoa q nem sei se é uma pessoa e, aliás, to achando que vc é uma menina, n quer dizer o nome.

C. S. diz:

Meu nome é Connor Stoll. Viu? Não sou uma menina :D’ Amém...

Stoll? De onde eu conhecia esse sobrenome?

Annabeth C. diz:

ei, me ofendeu. Eu sou uma menina.

C. S. diz:

Eu não disse q meninas são repugnantes. Eu disse q estou feliz por não ser uma. Gosto de meninas *-*

Annabeth C. diz:

então vc precisa gostar de mim ú-ú’

Eu sabia que se Percy pegasse aquela conversa, estaria tudo acabado. Mas não conseguia parar de conversar com Connor. Não parecia ser o tipo de garoto... Como o Michael.

C. S. diz:

Eu não preciso gostar de ninguém :P

Annabeth C. diz:

n enche. Vai (: Vamos ser felizes conversando.

C. S. diz:

Aiai, mora em que parte de NY?

Annabeth C. diz:

perto do Central Park.

C. S. diz:

Annabeth, minha cunhada tá aqui enchendo pra cv com vc. Pode colocar ela na cv? .-.

Annabeth C. diz:

bota, ué.

~ Rachel E. Dare está na conversa.

Annabeth C. diz:

RACHEL?!

~ Rachel E. Dare diz:

Não. Peraí. Isso é uma pegadinha, né, Conn?

C. S. diz:

Deveria ser?

~ Rachel E. Dare diz:

SIM!

Annabeth C. diz:

SIM!²

C. S. diz:

Espera. Vcs se conhecem?

~ Rachel E. Dare diz:

O que você acha? Ó_ó

Annabeth C. diz:

óbvio! Ela é a melhor amiga do meu namorado!

C. S. diz:

Gente, olha a conspiração, poha ú-ú

Annabeth C. diz:

n é conspiração, apenas coincidência... #euacho.

~ Rachel E. Dare diz:

Espera. Espera. Aonde vcs se conheceram? Quando se conheceram?

Annabeth C. diz:

aqui.

C. S. diz:

Agora.

~ Rachel E. Dare diz:

Annie! Vc tá traindo o Percy com o Connor?! Ó_ó

Annabeth C. diz:

n! Se vc pretende contar isso à ele, vc tá morta. Vou te pegar na saída da escola o/

~ Rachel E. Dare diz:

Viada, ele tá aqui do meu lado ‘-‘

C. S. diz:

Viajei legal aqui agora.

Annabeth C. diz:

WHAT?!

C. S. diz:

Potoco ú_ù

~ Rachel E. Dare diz:

Relaxa, tô te zoando. Mas ele vai passar aqui mais tarde.

Annabeth C. diz:

ah, é? Então avisa pra ele que teremos uma conversinha séria depois ú.ú

C. S. diz:

Ih, muiés, acalmem-se.

~ Rachel E. Dare diz:

Gente, meus olhos estão ardendo. Não tô ouvindo direito D:

Annabeth C. diz:

WTF? Vc ouve pelos olhos?

C. S. diz:

Kkkkkkkkkk, lá vem ela de novo com essa história. Preciso sair, gente. D:’ O viado do Travis tá enchendo aqui .~. Ele quer sair pra dar uns pegas.

~ Rachel E. Dare diz:

Ei! Ele não é viado e, além disso, não vai sair pra dar uns pegas merda nenhuma, leu, Sr. Travis Stoll?

Annabeth C. diz:

Controle-se, muié! ~tapa na cara~

C. S. diz:

*se joga do telhado*

~ Rachel E. Dare diz:

Eu tô calma, viada Ú_Ú Vc q tá nervosa.

C. S. diz:

*alarme de carro*

Annabeth C. diz:

kkkkkkkkk, eu n tô nervosa. Um pouco enciumada, n nervosa ú_ú

~ Rachel E. Dare diz:

Ah, é, só tá com vontade de matar um. Por que isso seria nervosismo? Nãao... É só ciúme.

Annabeth C. diz:

~tapa na cara~

~ Rachel E. Dare diz:

Tenha compaixão, viada.

C. S. diz:

Fui. Aquele FDM vai sair. E tá me chamando. Fui o/

C. S. saiu da conversa.

Annabeth C. diz:

amoré de mi vida, preciso sair. Thalia chegou.

~ Rachel E. Dare diz:

Oks, até a próxima, viada :}

Annabeth C. diz:

Bj \\o/

Fiquei invisível, sem fechar o laptop, e desci as escadas.

POV Thalia

Depois de pegar o violão com Melissa, peguei as chaves do carro e fui até a casa de Annie.

Peguei as partituras no banco do carona, assim que cheguei na casa de minha melhor amiga, o violão e caminhei até a porta. Toquei a campainha e fiquei esperando um pouco.

Comecei a cantar o refrão da música que eu escrevera. Não havia ficado tão mal, mas eu não era o bastante corajosa para me apresentar em público. Annie não tinha a menor chance de conseguir, ela cantava bem e tal, mas era muito tímida.

Silena mesmo dissera isso.

Eu havia escrevido outra música. Essa se chamava “When I Look At You”. Mas não mostraria para Annabeth agora. Esperaria até ela cantar para mim.

Minha melhor amiga atendeu a porta vestindo um short jeans, um par de All Star pretos, uma blusa azul escrito: “Fuck You”. Olhei para sua camiseta durante um segundo.

- Obrigada pelo palavrão. – minha voz saiu sarcástica.

- Desculpe. Eu peguei qualquer roupa hoje de manhã. Tinha que devolver algumas coisas para Nico.

- Nico? – fiquei surpresa. – Você mantém contato com ele?

- Na maior parte do tempo? Sim. Puxa, Lia, Silena foi embora. Ele está desconsolado. Acho que posso considerá-lo meu melhor amigo. E principalmente depois que descobri o que... – ela me encarou por um segundo, e depois se calou. Não tentei fazê-la falar, porque seu olhar ficou triste.

Entrei, com o estojo do violão nas mãos e perguntei aonde poderíamos ensaiar.

- Pode ser no meu quarto. Afinal, não temos uma banda. Pode subindo, eu vou fazer um chocolate quente. Você quer?

- Quero sim.

Ela caminhou até a cozinha. O seu cabelo estava com prancha, eu não duvidava disso. Mas nem parecia. E...

- Annie! – chamei, assim que fui subir o terceiro degrau.

- O que foi? – virou-se.

- Fez mechas no cabelo? – interroguei, confusa.

- Fiz. Ficou legal? – perguntou, pegando uma mecha azul e mostrando. – Mas saí com água. Achei melhor não ferrar com meu cabelo antes de chegar aos 20. Não sei como o da Taylor ficou daquele jeito.

- Ela cuidou. – revirei os olhos e subi até o seu quarto.

POV Rachel

- Você jura?! – minha voz saiu sarcástica.

Sabe, acho que Percy é lerdo de propósito.

- Ela vai embora, Percy. Deixe de ser lerdo! Pense! O que acha que ela iria gostar?

- Como sabe que ela vai embora? – perguntou, desconfiado.

- Porque eu também fui aceita na escola. Cara, ela era uma das primeiras da lista. Era impossível não ver escrito: Annabeth Chase.

- Rachel Elizabeth Dare! – ele berrou. Adivinha? Meu melhor amigo é tão retardado, fica berrando, daí as pessoas da loja de cosméticos acham que somos loucos. O que é verdade, apenas em parte. – Você foi aceita e não me contou? Nossa, boa amiga você é, hein!

- Ah, não enche. É nosso primeiro contato em meses. – justifiquei-me, evitando dizer: “É nosso primeiro contato desde o beijo”. Na verdade, eu esperava algo mais daquele beijo. Não foi tão mágico e especial quanto eu esperava que fosse. Mas, em compensação, Travis é o melhor garoto do mundo quando se trata do assunto beijar.

- Já arrumou as malas? Quer dizer, você tem dois dias. – disse, e notei que aquela ideia não o agradava muito.

- Sim. São 8hrs de viagem. Talvez eu vá no mesmo avião que a Annie ou a Thalia. E a Silena? – perguntei. Ninguém havia comentado dela.

- A Silena foi embora.

- A Silena morreu?! – perguntei, assustada.

- Você é retardada? Não, Silena não morreu. Ela foi aceita em uma agência de modelos.

- Da próxima vez, se você falar que alguém foi embora, e se esquecer de mencionar pra onde ela for, eu vou me suicidar. Já tava imaginando aqui a menina no caixão! Você vai pro inferno, Perseu Jackson.

Ficamos em silêncio durante um longo momento.

- Então... – assim que comecei a falar, meu celular tocou o refrão da música Round And Round, da Selena Gomez.

Revirei os olhos e atendi.

- Alô? – não ouvi nada. – Alô? Tem alguém na linha?

- Rachel, esse não é o toque da mensagem? – Percy perguntou.

- Ah, é. – tirei o celular do ouvido e li a mensagem rapidamente.

Lembre-se do nosso acordo.

- Maldito seja. – resmunguei.

- Que acordo? – interrogou Percy, depois de ler a mensagem.

- Fiz um acordo com meu pai. Ele não queria que eu fosse pra escola em Londres, então falei que assim que terminasse lá, ele poderia me mandar para a academia de moças.

- Aquela de boas maneiras? – perguntou, levantando a sobrancelha.

- Por mais estúpido que seja, sim. – respondi.

Respirei fundo.

- Meu pai quer que eu seja uma pessoa que simplesmente não sou. – afirmei.

- Você é Rachel Elizabeth Dare, minha melhor amiga, uma ruiva cheia de sardas, com um ótimo físico e olhos verdes claros. Pode ser rabugenta, tímida, teimosa, mas nunca será uma boa moça.

Bati nele.

- Isso não se brinca, seu lerdo! Eu sou uma boa garota!

- Desculpe, Rachel. Mas você devia conversar com seu pai.

Respirei fundo novamente.

- Você sabe como ele é, Percy.

Comecei a sair da loja, andando pelo calçadão que dava para a praia. Tirei minhas sandálias, coloquei-as na mão e fui até a areia.

Percy me seguiu.

- Você tem uma família bastante... Má. Por falta de palavrão melhor.

- Às vezes eu acho que seria melhor... Que eles tivessem me mandado para um orfanato. Minha nossa, Percy, é um inferno total.

Sentei na areia, botando algumas mechas do cabelo para trás da orelha.

- Sabe, Rach, talvez ele seja assim mesmo. Você sabe do pai da Annabeth.

- Sei? – não tirei os olhos do oceano. – Não, não sei.

Ele sentou-se ao meu lado.

- Ele mora em São Francisco, com outra família, e não liga pra Annie. Você tem até sorte perto dela. Você mora com seu pai.

- Morar? Você chama de morar? Nossa. Ele nunca tá em casa. Eu praticamente moro na casa do Travis. Eu sou um grande erro. Uma menina-menino. Meus pais dizem que sou inútil. Nunca serei boa o suficiente para eles. Nunca fui.

- Você não precisa ser o suficiente para eles. Você não precisa ser o suficiente para ninguém. Você precisa ser o suficiente para si mesma.

- Obrigada, Percy, você sempre me ajudou, me apoiou. E daí, achei que tivesse sentimentos além da amizade por você, e estraguei tudo. Fico feliz que você e Annabeth estejam juntos novamente.

Me surpreendi comigo mesma. Geralmente me recusava a tocar nesse assunto. Mas eu não queria saber, não naquela tarde. Abri a boca umas duas vezes, passando a língua nos dentes caninos.

- Eu sei, Rachel. Teve um momento da nossa amizade em que achei isso também.

Tirei os olhos do oceano e finalmente voltei a encará-lo, surpresa.

- Sério?

- Sério. – confirmou.

- Isso é meio constrangedor. – voltei meus olhos para o mar. – Quando conheceu Annabeth, ainda sentia isso?

- Não. Deixei de sentir um pouco antes. Talvez um mês.

- Por que parou?

- Porque você e eu somos tão diferentes, em tantos sentidos. Porque sabia que sentia aquilo apenas porque você é minha irmã. Por que... Nossa, nem há explicações.

Sorri.

- Lembra da vez em que estávamos assistindo Titanic? – perguntei.

- Sim. Por quê?

- Lembra quando eu comecei a chorar que nem uma bezerra desmamada quando o Jack morreu?

- Lembro.

- Foi nesse dia que eu me apaixonei por você. – afirmei.

- Por quê?

- É complicado. – respondi. – Por que... Você me olhou com tanta atenção. Tanta afeição. Tanto carinho. Ficou com tanto medo de ter me machucado. Foi nesse exato momento em que meu estômago começou a praticar polichinelos. Foi nesse exato momento em que minha cabeça foi enfiada em um saco de doritos. Foi nesse exato momento em que comecei a te amar. Depois, lembra que eu sofri o acidente com os patins? E você saiu correndo pra me socorrer?

- Claro. Você estava aprendendo. – relembrou.

- Exatamente. Você chamou um carro que estava passando ali no caminho, ele nos deu uma carona. E, durante o caminho todo para o hospital, você dizia que iria ficar tudo bem, que se eu fechasse os olhos, viraria um grande picolé, como o Jack em Titanic. Eu era a Rose, e você o Jack. Se fechasse os olhos como a Rose fez, o perderia para sempre. Como ela fez. Ela fechou os olhos, e ele se foi.

- Mas você não fechou. – ouvi o sorriso em sua voz.

- Não fechei. – confirmei. – E fiz de tudo para não fechar. Eu queria ter o meu próprio conto de fadas.

- E você teve. – Percy disse.

- Eu tenho meu conto de fadas. – corrigi. – Annabeth está vivendo o dela, estou vivendo o meu, Thalia está vivendo o dela, e todas as garotas também. Ou a maioria delas. Não sei por que estou te contando isso, normalmente costumo me fechar. Mas não quero mais isso.

Ficamos em silêncio novamente. O clima estava tenso.

- Percy, aonde você enfiou meu colete jeans? – perguntei, do nada.