POV Silena

- É só isso. – dei um pulinho, batendo as mãos.

Marina me olhou como se eu precisasse de tratamento médico.

- Tem certeza? Não precisa de mais nada? – Nico perguntou, olhando-me como se eu fosse a coisa mais importante da vida dele.

Reprimi a vontade de chorar e abri um grande sorriso.

Falso, pensei.

- Claro.

Percy, Nico e Luke saíram pela porta. Respirei fundo e sequei as lágrimas que teimaram em cair.

Eu vinha lutando contra isso há umas semanas.

Para ser mais exata, uma semana.

E isso vinha me machucando cada vez mais.

E eu tinha que acabar com aquilo antes que acabasse comigo.

Porque iria me pegar de vez, e não haveria mais tempo.

E eu iria me machucar, novamente. Como Charles fez. Só que ele não estava aqui... Não nesse mundo. Não mais. Não depois do que houve no avião. Explosão. Faíscas. Amor. Tudo desapareceu em um piscar de olhos.

Eu sequer tive a chance de me despedir.

- Silena... – Marina começou, me abraçando. Ela era a única que sabia disso. Até hoje.

- Eu não... Sei se posso agüentar. Talvez eu... – Pensei no pior, soluçando logo em seguida.

Mari colocou as mãos nos meus ombros e afastou-me, olhando-me diretamente nos olhos.

- Lenny – meu apelido para ela. -, escuta: Você ainda não tem...

- Meninas. – Lorena desceu as escadas e parou no penúltimo degrau. – Annabeth está chamando. E ela pediu para te entregar isso.

Lori estendeu seus braços, entregando-me uma revista da Vogue.

Inclinei a cabeça, fingindo estar olhando no reflexo do espelho, para procurar algum cílio falso caído no olho.

- Hã... Tudo bem?

- Sim. Só acho que caiu um cílio no meu olho.

- Precisa de alguma coisa?

Neguei com a cabeça e subi as escadas.

POV Annabeth

- Então, Annabeth... – Silena olhou-se maliciosa. – O que você e o Percy estavam fazendo antes de nós chegarmos?

Ela levantou pra caramba as sobrancelhas. Tanto que a sobrancelha direita ficou escondida debaixo da franja.

Arqueei as sobrancelhas e logo percebi o que ela estava tentando perguntar.

- Hã... Nada demais. E para a sua informação, ainda não... – abaixei a cabeça, corando uns novecentos trilhões de graus. – Ainda não... Fizemos... Aquilo. – engoli a seco.

Todas elas pararam o que estavam fazendo e começaram a me encarar, JUNTAS, com as sobrancelhas arqueadas.

Ótimo, só falta uma música chamada “Que conspiração”.

Thalia foi a única que continuou normal, rabiscando, ou desenhando, distraidamente, alguma coisa em meu caderno da Capricho.

- Nossa... Que surpresa! – ouvi o sarcasmo em seu murmuro cantarolante.

- Aimeudeus! – Raíssa exclamou. – Você é virgem!

Arregalei os olhos.

- Eu... Bem... Na verdade... – atrapalhei-me toda antes de respirar fundo. – Como descobriram?

- Fala sério. – Silena resmungou, lendo a revista da Vogue que eu acabara de comprar na rua. – É possível identificar quem é virgem ou não. Qualquer garota que já tenha perdido a sua “virtude” – abriu aspas no ar. -, não fala “aquilo”. Elas dizem como se fosse a coisa mais normal do mundo.

- Oi, gente.

Soltei um grito quando Anna surgiu do nada no meio da janela.

- Desculpem. – balançou a cabeça, achando graça do meu susto. – É que como vocês não atenderam, eu resolvi entrar pela janela. E bem... Ouvi a conversa toda. Annabeth, não precisa se envergonhar. Todas nós nesse quarto somos virgens.

Estreitei os olhos, perguntando-me como ela subiu.

- Subi pela escada. A Rebecca me ajudou. – respondeu minha pergunta mental.

Arqueei as sobrancelhas e voltei ao assunto inicial, encarando Silena boquiaberta.

Ela apenas deu de ombros.

- Podem ir a vontade de mim, se quiserem. Mas pelo menos eu não dou para qualquer um carinha que conheço na rua. – disse.

Concordamos.

- E, bem... – continuou, corando. – Com certeza, não vou casar pura, mas pelo menos no noivado, né?

Confirmei com a cabeça e vi, pelo canto do olho, que todas as minhas amigas também o fizeram.

- Sabe? Eu e alguém... – murmurou, virando a página da revista.

- “Alguém”? – Mel e Lori perguntaram em uníssono.

- Sou realista. – Si rebateu. – Nico e eu não ficaremos juntos, provavelmente, depois da faculdade. Ele vai para Julliard, e eu... Bem, vou tentar uma bolsa de estudos em Stanford.

- Bolsa de estudos? – perguntei, chocada.

- É. Você sabe... – Disse envergonhada. – Não quero dar mais trabalho para meus pais, especialmente quando eles estão na Califórnia e eu... Em Nova Iorque. Vou ver se consigo arrumar um emprego... Economizar um dinheirinho... E me emancipar.

- O que quer dizer com... “Nico e eu...” e “Não vamos ficar juntos...”? – Penny perguntou, abrindo aspas.

- Eu acho que... – Silena fitou o além de olhos vidrados.

Então eu me toquei.

Percebi a coisa mais esquisita que eu já vi na vida.

Pela primeira na vez, vi lágrimas escorrendo pelo lindo rostinho de Silena Beauregard.

Thalia deixou de lado seu caderninho de... Fotografias e foi reconfortar nossa amiga.

Engatinhei até o caderno e vi fotos velhas... Bons tempos aqueles. Quando tínhamos onze anos.

Tive vontade de ver uma foto de Silena de baby-doll correndo pela casa. Mas não o fiz.

Tinha outras coisas para me preocupar, como por exemplo: Minha melhor amiga estava chorando.

E eu ia quebrar a cara da pessoa que fez isso acontecer.

- Silena, o que foi? – Raíssa perguntou delicadamente.

Marina estava encostada na parede roxa, com uma cara de quem sabia e não podia contar para ninguém.

Estreitei os olhos e cerrei os punhos.

- Eu acho que... – Silena soluçou. Aproximei-me dela e lhe abracei, esperando poder reconfortá-la de alguma forma. – Eu acho que o Nico vai terminar comigo!

Meu maxilar ficou tenso, meu abraço desafrouxou.

Isso não era possível.

Era?

Depois de minha reação, fiquei boquiaberta, estática. Pude perceber que todas as garotas na sala fizeram o mesmo.

- Pode explicar melhor? – Thalia perguntou séria. Sua voz demonstrava sua raiva. Não era difícil de identificar... Seus punhos estavam cerrados, sua expressão dizia claramente que era capaz dela sair dali e matar uma pessoa. Para ser mais específica: Nico Di Ângelo.

- Semana passada... – Silena tentou dizer, sua voz sufocada. – Eu... Liguei para o celular dele. E... Caiu na caixa postal. – encheu o peito de ar e expirou logo em seguida. – Mas, quando foi falar a mensagem eletrônica, dizendo que ele não estava disponível no momento... Tive certeza ouvir uma risadinha feminina no fundo. E sua voz demonstrava como estava cômico... Gozada. – Sua voz estava ficando nasalizada.

Essa foi a deixa para Thalia.

Ela levantou-se, furiosa, e caminhou duramente até a porta, com as mãos fechadas em punho, pronta para bater em alguém se necessário.

- É agora que eu meto esse garoto na porrada! – Anunciou.

Silena se levantou, rapidamente, deixando a revista cair.

- Não! – Repreendeu suas lágrimas teimando em cair. – Eu... Vou dar um fora nele, e minha vida vai... Voltar a ser como era antes.

Por impulso, também me levantei e, levemente, segurei seu braço.

- Não. – Falei sem pensar. Ótimo, eu sou uma tapada de primeira classe. Como esse povo gosta de mim?

- Não por que, Annabeth? Por acaso eu devo esperar ele me chutar primeiro?

Neguei com a cabeça, pronta para dar um fim nessa história.

- Não pode fazer isso. Não quer fazer isso. Mas está com medo de se machucar, de novo. Você acha que se acabarem tudo por causa de uma DÚVIDA – dei ênfase –, só vai magoá-lo. Mas está errada; vai magoá-la também. E você sabe disso melhor que eu. Não é só ele que vai sofrer você também vai. E você mesma, Silena Beauregard, disse que ACHA – dei ênfase novamente. – Desconfiança não traz nada além de mágoa. Lembra do que aconteceu comigo e Percy?

Balancei a cabeça, respirando fundo logo em seguida.

- Eu desconfiei dele, e adivinha o que aconteceu? – Continuei. – Acidente, coma, cadeia. – Listei, fazendo uma careta na última palavra. – Você se lembra?

Ela confirmou com a cabeça.

- Eu NUNCA – Nossa, agora eu sou a garota do ênfase? – vi um garoto que gostasse de você pelo que você é! Silena, eu sempre te apoiei, sempre te ajudei, mas não posso ajudá-la nisso. Ele ama você, e você o ama. – inclinei a cabeça ao ver mais lágrimas escorrendo de seu rostinho perfeito. – Escuta o que estou te avisando: É melhor não desconfiar agora. Nem arriscar. É perigoso demais. Porque... É como se você... Estivesse no mundo apenas para estar com aquela pessoa, sentir os braços dela te envolvendo, sentir a fragrância dela invadindo seu nariz... – Toquei seu nariz retinho. – E o choque elétrico que percorre o seu corpo quando ele a toca... – Falei de modo tão... Sonhador, que tive que balançar a cabeça para afastar certos pensamentos.

Fitei o além, com os olhos vidrados e um sorriso bobinho estampado no rosto.

- E... Nada se compara ao fato da pessoa envolver você com os braços, sussurrar palavras doces, aproximar seus rostos, acariciar sua face e dizer que te ama. Porque... Sem ela, você não é nada. É apenas uma garota. Uma garota comum. A garota Teflon.

Ela me abraçou fortemente.

- Não sei de onde surgiu esse discurso. – Sussurrei em seu ouvido.

Nos afastamos, ela ainda estava sorrindo.

-Obrigada, Annie. Mas... – A expressão de infelicidade voltou a estampar em seu rosto. – Eu não sei se consigo...

Apertei suas mãos e pude perceber que transmiti uma sensação de segurança a ela.

- Pergunte a ele. Seja corajosa. – Respondi, olhando fixamente para ela.

- Mas, eu... Sou a Silena, lembra?

- É a MINHA Silena. – falei rindo.

- Obrigada... – Murmurou, corada.

- Agora eu posso meter porrada no Nico? – Thalia perguntou, aparecendo no meio.

Estreitei os olhos.

- Não. – Alonguei a palavra.

- Ué, por que não?

- Porque ele é meu namorado. – Silena respondeu sorrindo, o meu sorrisinho travesso.

- Mas...

- Sem “mas”, “se”, “duvidar”, ou “ou”. – Interrompi.

Thalia fez uma carinha de criança mimada que não consegue o que quer.

- UAU! Que fashion! – Anna murmurou, revirando as páginas da revistas.

Fiz um sinal de reprovação com a cabeça, revirando os olhos.

Ouvimos passos subindo as escadas e risadas masculinas.

Troquei um olhar encorajador para minha amiga.

POV Silena

Mesmo que as palavras de Annabeth tenham me tocado... Profundamente. Mas, eu me sentia... Vazia, oca, péssima.

Quando os meninos entraram no quarto, ficaram estáticos.

Sentei no puff azul claro e me esparramei todinha.

- Oi. – Nico sentou-se ao meu lado.

Simplesmente continuei fingir ler ao texto que estava escrito na revista, ignorando-o.

- OOOOOOOi! – Praticamente berrou a palavra.

Continuei ignorando-o, fingindo que ele não estava ali.

Então ele bufou.

E fez uma coisa que eu nunca esperaria que fizesse:

Ele me puxou para fora do quarto, fazendo-me deixar a revista cair pela segunda vez ao dia.

Meu último pensamento antes de ficar completamente abobalhada pelo seu beijo foi “Coitada da revista.”

Nico se sentou no sofá e me apertou contra si.

Queria fazer de tudo para sair dali, mas não o fiz.

Porque eu estava ali. No lugar mais seguro do mundo.

- O que... Houve? – Havia dor em sua voz e em seu olhar. E eu tentava ignorar ambos. – Você está esquisita assim desde que cheguei aqui.

Eu não queria contá-lo.

Mas eu precisava.

Não era uma questão de querer.

Era uma questão de precisar.

- Vamos, Silena. Sei que seu estado normal não é desse jeito. Sei que você é diferente. Sei que você não é séria desse jeito. Não é fria desse jeito. Agora só falta você me chutar... Bem, estou calculando quantos drinques vou ter que tomar se isso ocorresse.

Mas eu não fiz nada, continuei encarando o chão.

Como deveria ter feito quando nos conhecemos.

No dia do estacionamento.

- Silena. Estou falando com você. – Ele me balançou pelos ombros. Tive que recuar.

Ele me encarou com dor nos olhos negros e profundos.

Mas não recuei porque estava com raiva, mas por causa do choque elétrico que foi da minha cabeça até minhas unhas do pé.

E agora eu tinha certeza de uma coisa:

Eu precisava contar.

- Silena, por favor. Você vai me deixar maluco se continuar em silêncio. – Disse.

Pigarreei:

- Desculpe, eu... Não estou me sentindo muito bem. – menti.

E quando fiz isso, tive certeza que ele não estava acreditando em mim. Estava convencido que havia algo mais escondido nessa súbita frieza.

- Silena, não acredito em você.

- E eu não confio em você. Não mais. – Rebati, logo em seguida desejando ficar com a minha boca cheia de gloss fechada.

- O quê? – Perguntou, com os olhos estreitados.

- Olha, eu não quero... – Abaixei a cabeça. – Causar uma briga entre nós dois. Até porque isso me deixa confusa, triste.

- Não estou... Entendendo.

Meu maxilar se contraiu.

- Você é tão... Mentiroso, tão falso, tão... Bom em mentir pra mim. Onde aprendeu isso? Numa escola? Francamente, isso é crueldade.

Nico ficou boquiaberto, encarando-me sem entender uma coisa sequer.

- Mas eu...

Fiz um gesto para que ela parasse de falar.

- Escute-me, apenas... Escute. Eu odeio ter que fazer isso, mas isso acaba aqui. – Falei fria.

- Isso o quê?

Fiquei confusa ao ver que ele estava ficando como uma criança aprendendo Geometria. Tradução: Mais confuso que uma garota ao entrar na pré-adolescência e perceber que todo mês... Bem, você entendeu.

- Isso. – Apontei para nós dois. – Não posso continuar mentindo para mim. E você também não. E sabe que vai me magoar desse jeito.

- Silena, eu... Nunca magoaria você intencionalmente.

Ele falou de modo tão... Sincero que eu tive que parar para encará-lo.

Então eu tive uma... Sensação.

A sensação que você sabe que tem que parar; se não vai ter um motivo para se arrepender.

- Silena, eu não estou... Entendendo. – Colocou a mão direita no próprio cabelo, como se estivesse com medo de saber o que estava vindo a seguir.

Ele sabia.

Ele sabia e estava se fazendo de bobo.

Mas por outro lado... Talvez eu esteja equivocada.

Talvez ele seja mesmo o garoto que me mantêm nesse planeta devastador, e sinceramente, assustador.

Talvez eu esteja perdendo-o por apenas uma dúvida, como dissera Annabeth.

E se ele realmente não soubesse do que eu estava falando?

Do que estávamos conversando?

E se eu terminar esse namoro, o namoro mais... Perfeito que já tive, e logo depois descobrir que era apenas uma equivocação minha?

E se fosse alguma coisa remotamente parecida com essa?

E se eu estivesse enganada?

Fiquei tanto tempo perdida em meus pensamentos que ele teve que me chacoalhar pelos ombros.

- Desculpe, mas você parecia estar mais feliz nos pensamentos do que aqui. – Deu um sorrisinho fraco.

Não consegui falar nada.

E se ele realmente não estivesse pensando em me deixar?

E se eu deixá-lo e depois perceber que era apenas um “achar”?

Talvez eu quisesse que fosse, pois não teria que sofrer depois.

Mas... Eu não queria ter que passar por tudo aquilo que passei por Charles Beckendorf.

Bem, basicamente Nico não estaria morto, mas eu desejava que ele fosse mais que um amigo.

E se ele ficasse com raiva de mim e me deixasse de lado?

Dessa vez, não consegui controlar as lágrimas que vieram à tona.

- Silena. Por favor, conte o que está acontecendo. – Pediu desesperado.

Minha visão ficou embaçada.

Eu queria despejar tudo aquilo em cima dele.

Mas... Não se pode entender o livro sem ler os capítulos, certo?

Deixei a filosofia para Albert Einsten e aproximei-me dele.

Nossos lábios quase se tocando...

Não pude controlar.

Eu o beijei. E não me envergonho disso.

- Nico, eu... – Falei, com a voz rouca e instável.

- Silena, por favor. – Implorou.

Mordi o lábio inferior.

- Você não vai... Terminar comigo? – Resumi tudo em apenas uma frase. Eu não era forte o suficiente para contá-lo minha história louca. E se fosse apenas sua prima? E se fosse sua irmã? E se fosse apenas sua colega de Matemática?

- Terminar com você? – Sua voz agora estava mais para surpresa e interessada do que triste e revoltada.

- Bem, eu achei que... – E contei-lhe tudo. Quando terminei, achei que ele fosse apenas confirmar, pegar suas malas e ir embora. Mas, ele apenas segurou meu rosto a centímetros do seu e sussurrou:

- Silena, NUNCA – dei ênfase. – duvide dos meus sentimentos por você.

- Mas, eu... – Desviei de seu olhar profundo.

- Mas eu nada. – Disse.

Balancei a cabeça com os olhos fechados.

E nesse momento, desejei não tê-lo conhecido.

- Eu achei que você estivesse... Cansado.

- De quê?

Olhei para ele, olhei de verdade. E mesmo que meu coração parasse de bater completamente, eu continuei a encará-lo.

- Não faz a mínima ideia do que estou falando, né? – Perguntei.

Ele negou com a cabeça.

- Cansado. – Balancei as mãos, cheia de ansiedade. – De mim.

- Eu? Cansado de você?

E esperei ansiosamente a resposta que estava por vir.