Treinar mais do que qualquer outro.

Herdar um titã.

Se infiltrar nas muralhas.

Recuperar a coordenada.

Por fim, e mais importante de tudo, voltar em segurança para casa.

Em resumo, esse era o plano passado para Annie passado por seu pai. Simples e objetivo, sem complicações que pudessem ser evitadas. Ele a fez prometer que de um jeito ou de outro ela retornaria daquela ilha e voltaria para seu lar.

A primeira parte era algo tão redundante para ela que sequer cogitava isso como parte do plano. Desde que conseguia se lembrar, treinava incansavelmente com seu pai. Do amanhecer ao entardecer, ela por anos aprendeu tudo o que podia sobre combate corporal, e fosse contra um único oponente ou um grupo desses, a derrota era algo inesperado para a garota. Mas quando Annie enfim chegou ao seu limite, ela surtou. Sem controle de si mesma e ignorante as súplicas que viam uma atrás da outra, ela atacou o próprio pai até que ele não pudesse mais andar sem o auxílio de uma muleta.

A segunda era algo tão atrativo e tão assustador ao mesmo tempo. Com um mísero ferimento poderia se transformar em um enorme monstro que acabaria com qualquer inimigo que sua forma humana não seria capaz de lidar. Em contrapartida, teria seus anos contados e seria fadada a viver uma curta vida. Não que ela planejasse uma vida longa e plena, mas acordar todos os dias sabendo quantos poucos anos ainda teria pela frente era uma sensação horrível, e se não fosse pela missão de extrema importância, alguns dias não teria forças nem para se levantar da cama.

A terceira a faria se afastar de seu pai, a única pessoa em quem podia confiar. Cruzaria o oceano até uma terra desconhecida dominada pelo inimigo, acompanhada por pessoas que seria obrigada a conviver por tempo indeterminado. Desde o começo a missão foi horrível, e haviam perdido um de seus companheiros antes que sequer chegassem nas muralhas. A convicção que tinha para a tarefa era algo próximo do inexistente, ela só queria poder voltar para casa antes que mais deles morressem, mas seu pedido foi negado. A única forma de poder ver seu pai novamente era concluindo a missão.

A quarta seria o maior desafio. Encontrar a recuperar a coordenada na imensa ilha povoada por pessoas que pareciam ainda viver no século passado seria difícil. Além disso, precisava manter o disfarce, ou comprometeria suas chances de sucesso. Mas mesmo que procurasse por anos, Annie nunca chegou a descobrir com quem estava o Titã Fundador. Porém, ela chegou a descobrir, após uma revelação inesperada que Eren Jaeger continuava vivo, quem era o portador do Titã de Ataque. Não era o plano original, mas ela tomaria esse titã e o levaria de volta para Marley. Mas outra vez ela havia falhado, e o plano de captura havia fracassado.

Por fim, o objetivo que mais almejava, o único com que ela verdadeiramente se importava. Voltar para casa, voltar para seu pai e deixar para trás todos os anos de convivência com um povo que no fundo sabia que, contra sua própria vontade, deveriam ser tratados como seus inimigos. A companhia dos tão chamados de demônios por Marley era mais agradável do que ela estava disposta a admitir, mesmo que nunca tivesse acreditado na doutrinação imposta a ela e sua “raça impura” em sua terra natal. A ignorância deles com o desconhecido mudo além das muralhas era fascinante para Annie, e ela queria que a vida fosse tão simples como eles acreditavam que era. Nunca poderia viver em paz com seu pai em um mundo sem Marley, em um mundo que não os veriam como uma praga cuja única função era poder herdar os monstros criados para matar. Mas quanto mais tempo ela permanecesse naquela ilha, mais difícil seria de lidar com as mortes sem fim e que só aumentariam uma vez que Marley conseguisse posse da coordenada.

E tudo aquilo pelo que ela lutou, toda motivação que tinha para continuar seguindo em frente quando estava prestes a desabar, estava escapando por entre seus dedos. Após ter sido sua identidade como Titã Fêmea descoberta, Annie sabia que para ela não havia mais como seguir com o plano. Sua única opção agora era fugir, e torcer para de que alguma forma seus companheiros concluíssem a missão, torcer para que de alguma forma ainda pudesse ver seu pai novamente.

Mas ela caiu, e o céu que viu acima de si era o mesmo céu que via em casa. Junto com as lágrimas, Annie reuniu a pouca força que lhe restava e se protegeu de seus inimigos, se protegeu do mundo inteiro. Dentro do cristal, derrotada ainda que intocável, ela percebeu que não poderia cumprir sua promessa.

E esse havia sido seu maior erro.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.