Inflamável

Pirotecnia


Sozinho e enfezado, o petiz jogava seus explosivos na fogueira. Evidentemente, não eram explosivos de verdade. Eram aquelas fogos comuns à época de São João que apavoram mães pelo Brasil todos os junhos.

Matheus dizia não ter graça brincar sozinho, mas se recusava a dividir os explosivos com sua irmã mais nova. Estava na fase de se intitular adolescente, mas aproveitava as regalias da infância. Por isso, encontrava-se irritado, por não ter amigos para dividir as experiências de acender uma "chuvinha" envolta num copo de plástico desfigurado ou para assustar com as "cobrinhas" perseguindo-os com seu rastro de fogo.

– Matheus,vem cá - chamou sua mãe.

Apresentou-lhe uma menina de nome Beatrice, que o encantou instantaneamente. Ofereceu-lhe seus fogos, mas ela preferiu os seus próprios, um pouco mais ousados para uma criança de 10 anos. O favorito dela era um em formato de vulcão cujas faíscas amarelas eram causadas pelo sódio presente, conforme Bia, inteligentíssima, explicou.

Continuam por horas até seu pai chamar-lhe para ir embora. Ele dá um beijo nela e fala:

– Eu gostei de você.

E não entendia o motivo de se sentir estranho por dentro, como se um milhão de bombinhas tivessem sido explodidas no seu estômago.