Infinite Arms

O vento frio da madrugada


Percebi que minha tontura havia parado quando paramos na frente de um barzinho calmo e tranquilamente iluminado. Uma música acústica tocava no fundo e logo a reconheci. Infinite Arms. Um cover. E dos melhores.

Levantei do colo de Fabrizio tentando evitar seus olhos. Ainda sentia seu toque nos meus cabelos quando consegui me sentar. Tentei imaginar se ele se lembrou do dia que chegamos a Roma e brigamos por aquele álbum, mas é claro, não perguntaria.

– Vamos, desçam! - Lucy gritava já fora do carro.

– Você está bem? - Fabrizio me olhou.

Fiz que sim com a cabeça.

– Um pouco tonta, mas está passando. - não queria parecer fraca, mas foi a primeira coisa que surgiu na minha mente.

Abri a maçaneta da porta e Fabrizio repetiu o movimento. Lá fora, o vento frio da madrugada soprava no meu rosto e minha tontura sumiu quase por completo. Senti-me animada e esqueci-me de tudo o mais. Esqueci de que ainda tinha muito o que falar com Aronne por mais que fosse difícil, esqueci a exposição, esqueci que era uma viagem de trabalho e esqueci que não era mais uma adolescente em busca de bebida. Mas não conseguia esquecer aquele beijo.

Abaixei o olhar, fitando meu anel de noivado.

– Saudades de Alan? - Fabrizio apareceu do meu lado, dando-me um susto. Senti suas palavras me baterem com tanta frieza quando aquele vento.

Ao invés de responder, virei na direção da porta do bar. O letreiro azul dizia o nome de algo que eu não sabia o que. Talvez algum sobrenome ou algo do tipo.

– Não vai responder minha pergunta? - Fabrizio me virou.

– Não respondeu a minha sobre se as obras te lembravam alguém, certo? - olhei-o nos olhos. – Empate!

Sorri levemente e virei as costas, andando para a porta do bar. Jake e Lucy estavam acabando de entrar e viraram para se certificarem se estávamos realmente ali. Fizeram um sinal para que juntássemos a eles lá dentro, então andei ao lado de Fabrizio até entrar no local.

Um homem ruivo de barba comprida estava no bar segurando um violão e ainda cantando Infinite Arms. Podia deixar aquilo passar, mas acabei olhando para Fabrizio e sorrindo. Sua expressão durona e séria mudou naquele instante. Como se entendesse o que eu pensava, piscou pra mim.

– Ele é bom. - abaixou para sussurrar no meu ouvido. - Mas não é melhor do que você cantando no chuveiro.

Encarei-o. Mais um insulto vindo de Fabrizio que de algum modo me fazia sentir mais relaxada. O fato de voltar a ser implicante e chato aliviava o beijo que acontecera há tão pouco tempo.

– Espero não fazer isso mais, já que te incomoda tanto. - levantei os braços, me rendendo.

– Oh não, senão do que mais eu iria passar o tempo rindo?

Empurrei-o para o lado, forçando-o a calar a boca e sentar-se à mesa onde estava o casal animado que havia salvado nossa noite.

– Então... - Jake começou. - Como vocês se conheceram?

A pergunta. Uma hora sabia que ela apareceria, mas não tinha me preparado para responder. Olhei para Fabrizio e tentei dar um olhar apaixonado, mas na verdade pareci pateticamente estranha. Tive vontade de rir de mim mesma.

– No ano novo passado. Já tem quase um ano. - Fabrizio começou a falar naturalmente e olhou pra mim esperando que eu confirmasse.

Peguei um copo de vinho e levei na boca. Sorri ao tirá-lo e me perguntei se era hora de eu dizer algo.

– Allie usava um vestido branco e acabou se sujando de vinho. Desastrada é pouco. - sorriu pra mim, mas olhei-o brava. - O líquido vermelho fez com que ela parecesse uma criança desesperada. Saiu correndo para o banheiro antes da contagem regressiva e acabou encontrando comigo pelo caminho. - chutei-o debaixo da mesa e mandei-o um olhar como se perguntasse se precisava realmente me colocar como uma louca na história. - Mas eu me apaixonei loucamente por ela naquela noite. - me olhou nos olhos, fazendo com que eu sentisse meu rosto corar.

Olhei para Lucy e Jake que se olhavam satisfeitos com a história.

– Agora é a vez de vocês. Contem sobre como se conheceram. - disse antes que falasse algo a mais.

– Ah... - Lucy pareceu puxar lembranças. Contou sobre sua viagem para a Inglaterra e como se apaixonou ao ver Jake na fila do cinema esperando para ver um filme de romance. Ele estava sozinho e aqui a chamou a atenção. Sentou-se do seu lado e acabaram conversando e marcando encontros e...

Empolgada, só parou de falar quando uma pizza parou na nossa mesa. Encarei a comida pensando em como estava com fome. O queijo quente derretido puxava enquanto o garçom servia nossos pratos e o cheiro de molho de tomate fez meu estômago roncar.

Depois de algum tempo comendo e ouvindo Jake e Lucy contarem coisas engraçadas sobre suas viagens, sentamos em uma mesa perto do palco. Alguma música italiana estava tocando e eu gostei do ritmo.

Acabamos nos juntando a um grupo de pessoas que bebiam e cantavam.

– Cerveja? - Jake me entregou uma garrafa. Hesitei um pouco, mas acabei cedendo.

Lucy e Jake encostaram-se em um canto e começaram a se beijar. Vi a cena por tempo suficiente para não tentar procurá-los ou interromper o momento. Olhei para o meu lado e me assustei com um homem alto, magro e de olhos puxados que me olhava de cima até embaixo. Senti completamente desconcentrada e procurei por Fabrizio, que já estava ao meu lado, olhando friamente para o homem.

– Vamos sair daqui, Fabrizio. - disse incomodada com o tanto de pessoa que estava por perto.

Apesar de assustada, fiquei calma ao chegar a uma área aberta rodeada por coqueiros. Novamente Fabrizio me ofereceu seu terno, mas não senti necessidade de pegá-lo. Estávamos quase sozinhos e aquilo me deu um arrepio.

– Está recusando para que eu te abrace? – a pergunta soou como convite, e acabei rindo.

Levei a cerveja na boca antes de dizer algo.

– Agora é hora de conhecer quem realmente é Fabrizio. – deixei as palavras saírem de acordo com minha vontade.

Por alguns segundos Fabrizio, ficou apenas parado, mas quando sua voz saiu, parecia soar como música nos meus ouvidos.