Infinite Arms

O grande beijo


Enquanto Aronne falava coisas que eu não entendia, observei alguns casais se aproximaram. Suas mãos se encostavam e olhares apaixonados fazia com que eu sorrisse sem querer. Pensei em Alan e no quanto queria que ele aceitasse ir em algum evento de arte comigo, mas aquilo era tão difícil quanto tirar doce de criança.

Senti a mão de Fabrizio tocar a minha. Sua mão estava gelada por ter segurado a taça e senti firmeza no seu toque. Fechei minha mão e olhei para seu rosto, mas ele não devolveu o olhar. "Profissional", pensei comigo mesma, me convencendo de que aquilo só acontecera por causa do trabalho.

Aronne falou alguma coisa e todos aplaudiram, inclusive eu, que não estava entendo nada ali.

– O que ele disse? - perguntei.

– Na verdade? Não prestei atenção. Acho que era algo como "espero que gostem", "esse noite é importante pra mim". - Fabrizio deu um sorriso divertido.

– Espero que preste mais atenção. Não queremos perder o trabalho, queremos?

– Não, não queremos. - disse olhando para nossas mãos entrelaçadas. - Vamos arrumar um jeito de falar com Aronne, e seja educada.

– Essa fala é minha. - ri, andando para perto de Aronne que conversava com o casal que nos deu carona. Imediatamente eles sorriram para nós e se despediram do artista, deixando que nós chegássemos mais perto. Sorri agradecendo.

– Boa noite. - falei sorridente. - Isso tudo é realmente incrível.

Aronne sorriu feliz com o elogio e jogou um olhar triste para as obras, apesar da felicidade.

– É minha história. Ou melhor, que egoísmo o meu... Nossa, - corrigiu. - nossa história. Isso tudo é Meredith também.

Sorri e olhei para Fabrizio que me olhava impressionado. Sorriu de volta e apertou minha mão, como se me incentivasse a continuar a conversa.

– O amor que você sente por ela fez isso tudo não, é? Quero dizer, ela te inspirou e fez com que, apesar da tristeza, continuasse expressando o que sente por ela.

Aronne sorriu como se lembrasse de algo.

– Você é uma jovem inteligente. - seu sotaque italiano me fez sentir em casa e eu tive vontade de abraçar aquele senhor e dizer que tudo ia ficar bem. - O amor nem sempre é fácil. Mas se você encontra a pessoa certa, tem que cuidar dela mesmo quando não estiver mais aqui. Amar é fazer de tudo para ver a pessoa que se ama feliz, mesmo que seja algo impossível. Por isso fico feliz que pessoas como vocês admirem minhas obras. - sorriu e logo senti simpatia por aquele homem.

– O que fez foi realmente uma prova de amor. - finalmente ouvi a voz de Fabrizio.

Aronne fez que sim com a cabeça e olhou para baixo, onde nossas mãos estavam juntas. Olhei para Fabrizio esperando algum sinal em sua expressão, mas ele apanas olhou pra mim e sorriu. Talvez fosse falar algo ou entrar no assunto da exposição, mas não o fez.

– Vocês formam um casal bonito. - Aronne falou, pegando nós dois de surpresa. Senti minha pele corar. - É bonito o jeito que vocês se olham sempre que algum diz alguma coisa, o jeito que segura a mão dela e como falam de amor. Conservem o amor de vocês, só assim vocês vão ter a felicidade que merecem. - piscou e olhou para um casal que o chamava. - Se me dão licença...

– Toda. - disse gaguejando enquanto sorria.

– A propósito, qual o nome de vocês? - perguntou já longe.

– Fabrizio e Allie. - Fabrizio respondeu.

Fiquei olhando para meus pés, tentando não encarar Fabrizio. Temia que ele tivesse sentido que minha mão havia ficado quente e eu começava a suar de nervosismo.

Suspirei sozinha, tentando olhar para as obras na minha frente, mas Fabrizio pegou um taça de vinho e me entregou. Tentei não olhar para ele, peguei o vinho e bebi rápido demais.

– O que ele disse... loucura não? - finalmente fiquei de frente para Fabrizio e olhei-o nos olhos.

Fabrizio não sorriu, nem fez alguma brincadeira. Apenas continuou sério. Balancei minha cabeça pedindo por mais vinho. A festa já estava quase acabando e não havia conseguido falar novamente com Aronne. O silêncio de Fabrizio me incomodou, mas entrei em seu silêncio também.

– Temos que falar novamente com ele, mas não sabemos exatamente o que queremos. - Fabrizio falou quando nos sentamos.

– Talvez seja isso o que precisamos descobrir.

– É o trabalho mais estranho que tive que fazer.

Avistei Aronne ao longe e levantei da cadeira, andando rápido até ele. Fabrizio continuou sentado me observando.

– Estava mesmo procurando vocês dois. - Aronne sorriu. - Gostei da nossa conversa.

O que ele disse fez com que eu pensasse duas vezes antes de falar sobre a exposição.

Senti Fabrizio me abraçar pela cintura de repente e fechei meus olhos por alguns segundos, apenas sentindo o toque. Era errado, eu sabia, mas o vinho havia subido um pouco e eu sentia mais relaxada e natural.

– Somos americanos e ficamos sabendo sobre as suas obras... - tentei falar do melhor jeito. - Não poderíamos não apreciá-las. - sorri.

– Fico feliz por isso.

– Então, quem sabe... - quando ia falar, fui interrompida por uma voz vinda do microfone. Uma mulher que ajudava a organizar a festa falou algo em italiano e eu esperei que acabasse.

– Agora é a melhor parte da festa. - Aronne sorriu. - Sempre foi a parte preferida de Meredith e eu desejaria que estivesse aqui para presenciá-la.

– Do que está falando? - perguntei colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

– O grande final.

Levantei a sobrancelha intrigada. Olhei para Fabrizio que ria baixo olhando para Aronne. Era como se eles tivessem um segredo e de fato, só eles haviam entendido o que havia acontecido.

– Quer me contar sobre o que se trata? - cutuquei Fabrizio.

– O grande final é o grande beijo.

– Grande beijo?

– Sim, um casal é escolhido para subir as escadas e convidados a beijar enquanto são fotografados e depois ganham uma surpresa ou algo do tipo. - riu levando a taça na boca.

– Vai ser legal assistir isso. - observei Aronne subir a escada.

– Ele vai escolher um casal. - Fabrizio traduziu.

As pessoas começaram a bater palmas em um ritmo enquanto Aronne passava o olhar por todos no lugar. Casais sorriam quase pedindo para serem escolhidos.

– Então o casal escolhido é... - Fabrizio disse rindo enquanto Aronne olhava sorridente.

– Fabrizio e Allie! - ouvi sair da voz do italiano.

Senti os olhares de todos se localizarem em nós. Senti meu corpo ficar mole e um frio na barriga tomar conta de mim.

– Nós? - falei ao mesmo tempo que Fabrizio.

– Oh, não! Acho que outras pessoas merecem isso mais do que nós. - tentei falar, mas as pessoas começaram a incentivar que subíssemos na escada, inclusive o casal que nos ajudara mais cedo.

Quando percebi, estava ao lado de Aronne, no ponto mais alto dali.