Infinite Arms
Não tem outra chave
- Buongiorno! – ouvi um homem alto com um bigode engraçado exclamar e vi que as pessoas não mentiam quando falavam que italianos eram alegres.
- Bom dia. – Fabrizio disse e o homem sorriu.
- Americanos! – olhou para nós dois. – Posso ajudar? – continuava sorrindo.
Fabrizio me olhou e depois olhou para os discos.
- Vamos dar uma olhada, não sei ao certo o que quero. – Fabrizio parecia maravilhado.
Começou a andar pelas prateleiras. Fiquei olhando-o por alguns minutos, mas logo acabei olhando os discos decidida a comprar algum. Segurei o disco The Wall e sorri. Fiquei surpresa ao me pegar pensando na minha adolescência. Devolvi o disco e continuei a olhar os outros.
Havia discos de cantores e bandas italianas que eu não conhecia. Pensei em comprar, mas avistei, em um canto, um disco da banda Band Of Horses. Apresei meus passos para chegar até ele, mas Fabrizio o fez primeiro.
- Infinite Arms é meu álbum preferido! – exclamei.
- É o meu também. Por isso vou leva-lo.
Levei as mãos na cintura. Não sabia se ele realmente gostava ou se estava querendo compra-lo pelo simples fato de que eu desejava com os olhos aquele álbum incrível. Observei-o passar a mão na barba curta enquanto lia o verso do disco. Pensei que fosse dizer algo ou praticar ser gentil entregando-me o álbum, mas ele apenas se dirigiu ao italiano que trabalhava na loja e pegou-o.
- Sinto muito. – deu um sorriso torto. – Não podia perder a oportunidade.
- Você nunca perde. – revirei os olhos. – Tem outro desse? – apontei para o álbum enquanto olhava para o simpático vendedor.
- É o último. – ele parecia decepcionado. – Podemos te avisar quando chegar.
Sorri e agradeci. Ele falava alto, típico de italianos e era gentil, ao contrário de Fabrizio. Ainda escutava seu sotaque italiano quando saí da loja. Fiquei lá fora esperando Fabrizio, mesmo que este demorava demais.
O tempo na Roma estava perfeito para um passeio. As árvores começavam a florear com cores coloridas e exalavam um cheiro bom e doce. A rua estava pouco movimentada e eu tinha vontade de ficar por horas olhando aquelas casas e tudo o que tinha de bonito naquele lugar.
Estava prestes a ir para o hotel sozinha quando escutei a voz de Fabrizio atrás de mim.
- Demorei?
- Sim. – fui direta.
- Ficou nervosa por causa do álbum? – riu como se eu fosse uma criança emburrada por causa de um urso de pelúcia.
- Não, mas acho que você devia seguir suas origens.
- Seguir minhas origens?
- Italianos são educados, gentis e alegres com as outras pessoas.
- Nova Iorque me estragou. – disse como se justificasse tudo.
- Olhe para mim. Pareço estragada por Nova Iorque?
Fabrizio ficou calado me olhando e o silêncio foi constrangedor. Bati os pés e saí andando na direção do hotel que eu nem mesmo sabia onde ficava. Pensei em olhar para trás e ver se ele me seguia, mas não queria ceder. Cinco minutos depois, Fabrizio começou a andar do meu lado.
Observava as fontes e as esculturas pela rua. Chegamos a ver o Coliseu ao longe e sorri com aquela imagem. Havia algo naquele lugar que sempre havia me chamado a atenção e agora eu estava tão próxima a ele que sentia meu corpo arrepiar e meu coração disparar.
- Tem certeza que está indo para o lugar certo? – finalmente ouvi sua voz.
- Não. – fingi não ligar, mas já estava cansada de carregar malas pela rua.
- Já ouviu falar em uma coisa chamada táxi?
Olhei-o brava mesmo sabendo que tinha razão. A beleza daquele lugar havia feito com que eu me esquecesse de qualquer outra coisa.
Fabrizio levantou o braço para chamar um táxi e mesmo não querendo acabei reparando em seu corpo e no jeito que se movimentava. Levantar a mão fez com que sua blusa preta de manga comprida se levantasse e mostrasse levemente o seu abdômen.
Virei o olhar rápido tentando fazer com que ele não notasse e até mesmo despistando meus pensamentos. Fiquei a observar as pessoas e vi que não fazia ideia de quantas horas eram, mas não importava a hora, eu apenas precisava comer e descansar para começar o meu trabalho.
Entrei dentro do hotel e ouvi quando Fabrizio falou em italiano o endereço do hotel. No caminho até lá tentei não conversar com ele e apenas olhava pela janela, me encantando com cada centímetro daquela cidade.
Paramos do sinaleiro e Fabrizio quebrou o silêncio enquanto tirava algo de dentro da sacolinha.
- Comprei isto pra você. – me entregou uma toca de panda com orelhinhas que caiam até meus pés.
Não deixei de sorrir ao ver que ele também o fazia. Por alguns segundos esqueci o meu nervosismo.
- Acha que eu tenho quantos anos? Dez? – tentei ficar séria, mas acabei rindo.
- Ah, não reclame. Achei que combinava com você. Vai te ajudar a ficar mais quente e quem sabe andar com isso na rua até vire moda.
- O que te faz pensar que vou andar assim na rua?
- Não sei. Se bem que você é bem louca.
Revirei os olhos e voltei a olhar para a janela.
- Obrigada. – disse sem olhá-lo. Na verdade havia gostado do presente.
- Por te chamar de louca?
Tentei segurar, mas acabei rindo.
Pelo canto do olho consegui vê-lo rindo baixo. Balancei a cabeça e encostei a cabeça no vidro do carro e vi que ele também fazia o mesmo.
*
Pouco tempo depois, o táxi parou na frente de um enorme hotel. Havia tostões na porta e era de uma cor bege clara. Passei uma mensagem para Alan mesmo sem esperar por respostas. Ele provavelmente estava ocupado demais.
Quando entramos nossas cabeças se seguiram para o teto dourado. Desenhos de anjos estavam pintados e um vitral colorido no alto fazia com que a luz colorida iluminasse o chão perto da entrada.
Andamos até a mulher da recepção e falamos nossos nomes. Logo ela chegou no computador e nos entregou uma chave com o número de um quarto.
- Onde está a outra chave? – perguntei confusa.
O olhar da moça era irônico e ela parecia não ter paciência com os outros. Perguntei-me se ela era italiana e vi que não fazia o perfil de italianos.
- Não tem outra chave. – disse sem sotaque algum, respondendo minha pergunta.
- Alguma coisa deve estar errada. – olhei para Fabrizio.
- Alguma coisa está errada. – ele disse dando ênfase no “está”.
- Desculpe-me, mas a reserva é a mesma para os dois. Foi feita há um mês e não temos outro quarto desocupado para um de vocês.
Agradeci e saí andando em direção do elevador. Algo estava errado. Tinha que estar.
- Não acredito que vamos ter que dividir apartamento. – disse brava com James.
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