Infinite Arms

Gotas geladas da chuva


Tentei localizar Fabrizio, mas este já não estava mais na sala. Acabei vendo Lucy e Jake, que haviam chegado e estavam com lágrimas nos olhos. Olhei novamente para a tela e me vi do lado de uma escada com corrimão de ouro. Mas eu não estava sozinha. Fabrizio me beijava como no dia do grande beijo. A pintura era tão real que parecia uma fotografia e acabei me perguntando como Aronne tinha feito algo tão incrível. Além de real, o beijo tinha uma dramaticidade e nossas expressões eram apaixonadas e ao mesmo tempo sérias e confusas, como se a gente desejasse por aquilo, mas não poderíamos. Quase conseguia sentir o mesmo que havia sentido naquele dia.
Minha primeira reação foi falar um “obrigada” abafado no microfone e logo desci as escadas. As pessoas pareciam surpresas e encantadas. A obra era tão simples e ao mesmo tempo tão expressiva. Eu tinha vontade de chorar toda vez que olhava para trás para observá-la.
James tomou o microfone e começou a falar coisas que eu não consegui prestar atenção. Enquanto passava pelas pessoas, via que me observavam, mas meus olhos estavam cheios de lágrimas e tudo o que eu queria era sair dali.
– Foi incrível. – Lucy disse segurando minha mão. Sua voz era calma.
Abracei-a.
– Ele sempre acreditou em vocês. Não do modo que nós acreditamos. – olhou-me nos olhos. – Mas de um jeito mais profundo.
Limpei minhas lágrimas.
– Eu acho que sim. – sorri.
– Mas vá. Acho que tem algo a fazer agora.
Fiquei parada por alguns segundos e logo depois saí correndo para a porta do museu. Virei as costas e saí correndo pela rua. Sem direção, sem sentido e sem saber o que faria. Parei na frente de uma loja iluminada e tirei a carta da bolsa. Comecei a lê-la ali mesmo.
“Querida Allie,
Acho que agora entende o motivo de eu estar te escrevendo, não é? Você deve estar confusa e meio sem chão porque Fabrizio não é o seu noivo, nem seu namorado e você está de casamento marcado. Então pare para pensar e veja se está fazendo o certo.
Eu soube, no momento eu que conheci vocês, a verdade. Não me pergunte como, mas eu sabia que vocês estavam no lugar certo, na hora certa para unir os corações de vocês. Via que pelo jeito que se olhavam que era tarde demais para mudar qualquer coisa e que nem o melhor dos atores saberia representar um amor tão real como o de vocês.
Então, o que está fazendo aí parada? Se a obra que acabou de ver não mexeu com você, tudo bem, eu estive errado então você deveria ficar realmente onde está. Mas se está sentindo como se ficar parada fosse o pior a fazer, corra! Corra até Fabrizio estar aí, com você e finalmente serão um.
Com amor,
Aronne.”
Fechei o papel sentindo minha respiração ofegante. Olhei por todas as partes, mas nem sinal de Fabrizio. Nem que fosse a última coisa que faria, iria correr até achá-lo. Segurei meu vestido e saí correndo em cima do salto, coisa que eu jurava não conseguir fazer. Corri pela rua escura e vazia. Estava cansada quando o avistei andando lentamente. Corri mais até parar atrás dele.
– Fabrizio! – mal consegui gritar.
Vi-o virar assustado.
– Allie, se está me procurando por causa da exposição, saiba que não vou voltar. – falou secamente. – Eu recebi uma carta de Aronne. – parou de andar e olhou pra mim, parecia bravo. – Falou sobre como acha que estamos apaixonados, mas acho que tudo não passou de um engano não é? Você vai casar com aquele otário do seu noivo e vai ser feliz com ele e nossa viagem não passou de algo de trabalho e o que eu te disse no aeroporto, bem, foi irrelevante.

– Quer calar a boca? – eu gritei. Algumas pessoas que passavam por ali nos olharam espantadas.

– Não, não quero calar minha boca. – ele também gritou. – Merda, Allie! Você viu a obra. A gente não pode se ver. Quero dizer, eu não posso te ver mais, entende?

– Como não?

– O que eu disse no aeroporto não mudou com o tempo, mas logo você será uma mulher casada. – abaixou o tom da voz e virou-se, saindo andando. Já estava longe demais quando se virou pra mim. – E eu te amo. Desculpe-me, mas eu precisava que ouvisse que eu te amo, porque te amo de um jeito que eu nem sinto culpa e nem me sinto mal por estar partindo meu coração outra vez. Você foi a melhor coisa que me aconteceu, mas agora as coisas devem voltar a ser como eram antes. Tudo bem, você tem sua vida. – virou-se novamente, andando pela rua escura. Algumas pessoas haviam parado para olhar o que estava acontecendo e pareciam me olhar como se esperasse por uma resposta, mas eu não tirava meus olhos de Fabrizio.

Um sorriso se formou levemente na minha boca.

– Não vai ter casamento. – gritei e Fabrizio parou. – Não é tão justo casar com a pessoa errada quando se ama outra. Ainda mais se ele for um italiano mal-humorado, que me tira toda a paciência, mas que me faz sentir apaixonada como eu nunca estive.

Senti o vento frio bater nos meus cabelos e no meu vestido. Fiquei ali parada esperando que ele fizesse algo. Lentamente se virou e consegui ver a luz batendo nos seus olhos verdes. Sua expressão era séria e eu também mantinha a mesma expressão.

– Você é louca. – ouvi sua voz sair acompanhando um sorriso torto. A última coisa que vi foi ele vindo correndo até mim e logo depois senti seus braços passando firmemente pela minha cintura. Fechei meus olhos e senti seu beijo. O melhor dos beijos e talvez aquele sim fosse realmente o grande beijo.

– Eu soube que te amava no momento em que nos beijamos naquele dia. Me desculpe se demorei tempo demais para perceber isso. – disse fechando meus olhos e sentindo seu cheiro. Só assim percebi que as poucas pessoas que estavam ali, nos aplaudiam.

– Escutaram? – Fabrizio gritou olhando para aquelas pessoas. – Eu amo esta mulher. – ri e ele fez o mesmo.

Olhei mais uma vez para seu rosto. Seus olhos verdes, sua barba por fazer. Pela primeira vez era mais real do qualquer outra coisa. Então abracei Fabrizio e o beijei novamente. Ao longe ouvi um trovão e senti um arrepio.

– Acho que agora você pode ficar com o Infinite Arms. – falei rindo.

– Acho que tem algo melhor com que eu desejo ficar. – disse me beijando enquanto sentíamos as gotas geladas da chuva bater em nossos corpos.

E naquele momento eu soube que jamais o soltaria.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.