Infinite Arms

Aquela história toda de casal apaixonado


Paramos na frente da porta do casarão, enquanto esperávamos alguém abrir a porta.

– Será que não tem ninguém? - perguntei.

– Há passos atrás da porta. - Fabrizio disse tocando a orelha na porta para ouvir melhor. - Acho que alguém está vindo.

Em poucos segundos a porta se abriu, mas a figura que ali estava parada não era nem de longe a de Aronne.

– Posso ajudar? - uma mulher de aparência cansada e roupa totalmente branca abriu a porta. Uma enfermeira, talvez.

– Estamos procurando por Aronne. - falei, temendo o que ela estava fazendo ali. Passou pela minha cabeça que Aronne estivesse doente, passando mal, ou algo assim.

– Sinto muito, mas ele viajou nessa manhã. - suas palavras me aliviaram, mas Aronne ter viajado só complicava as coisas para nós dois.

– Viajou? Para onde?

– Desculpe-me, não posso falar. - ela deu um sorriso fraco. - Ele pediu segredo por tempo indeterminado. Mas, não querem deixar telefone? Posso avisar qualquer coisa…

– Sim, claro. - disse pegando uma caneta na bolsa e anotando meu número.

– Não quero ser intrometida, mas é algo importante?

Fiz que sim com a cabeça, mas a mulher parecia nos encarar como se só agora percebesse do que se tratava. Seus olhos inchados mostravam que ela mal havia dormido, mas naquele momento, por questão de segundo, eles pareciam brilhar.

– Esperem… vocês são… o casal apaixonado do grande beijo?

Senti meu rosto corar, mas acabei olhando para Fabrizio, que me olhava com um sorriso torto, esperando que eu respondesse àquela pergunta.

– Sim, somos nós. - suspirei sem querer.

– Aquele momento foi incrível. - o olhar da mulher estava distante. - Desculpem-me a indelicadeza. Sou Meg, a enfermeira de Aronne.

– Fabrizio e Allie. - Fabrizio disse, sorrindo. - Mas, enfermeira? Aronne está bem?

– Sim, é só que, ele mora sozinho, então é bom ter cuidados.

– Entendo.

– Obrigada, Meg. – me despedi. - Qualquer coisa ligue para nós. Temos realmente que ir, mas foi bom te conhecer.

– Bom conhecer vocês dois também. - seus olhos brilharam novamente. – Fazem um bonito casal.

– É, já ouvimos isso antes. - Fabrizio disse virando as costas.

Logo estávamos no carro novamente, dirigindo de volta para o hotel. Fabrizio não havia falado nada desde quando entrou no carro e nem eu arriscava dizer algo. Talvez aquela história toda de casal apaixonado e grande beijo já estivesse passando dos limites e toda vez que tocavam no assunto nós dois ficávamos sem reação, como se fosse um grande erro.

– E agora? - perguntei.

– O jeito é esperar. - respondeu sem me olhar. Ao invés de dizer algo, ligou o rádio. Infinite Arms tocava e Fabrizio logo mudou de estação. Acho que aquela situação estava o irritando.

*

Troquei de roupa depois do banho e me sentei na frente da televisão. Liguei-a e o clipe de Give Me Love tomou conta da tela. Abaixei o controle sentindo uma tristeza estranha que até então eu não havia sentido. Procurei por Fabrizio no quarto, mesmo sabendo que havia saído para comprar algo para comermos.

Deixei meu corpo cair na cama enquanto ignorava a música. Observar o teto parecia ser o suficiente para não deixar que eu chorasse ou algo do tipo e talvez fosse funcionar.

Quando pensei que Fabrizio estava demorando demais, escutei a porta abrir. Levantei o corpo rápido e me deparei com ele, vestido com sua camiseta azul escuro e calça jeans. Exibia um sorriso no rosto e estava prestes a dizer algo.

– Por que está me olhando assim? - perguntou ficando um pouco mais sério.

– Oh, nada. - disse desviando o olhar. - Acho que estava distraída e me assustei. - levantei indo até o banheiro. Senti seu olhar me acompanhando.

– Você está bem?

Finalmente cheguei ao banheiro. Algumas lágrimas insistiram em sair sem minha autorização e fiz o máximo para enxugá-las antes que ele percebesse.

– Allie?

– Sim! - tentei parecer animada. - Estou bem. Só estou... cansada.

Ouvi-o deixar a sacola em cima da mesa e caminhar até a porta do banheiro.

– Daqui uns dias isso vai ter acabado. - falou tentando me consolar, mas havia tristeza em suas palavras, o que só me fez chorar mais. Afinal, eu não sabia se o fim daquilo me deixaria tão feliz. - Não chore. - aproximou-se um tanto assustado e tocou meu rosto. Não sei se for por impulso, mas aproximei-me mais e o abracei. Senti suas costas ficarem rígidas, mas pouco depois relaxou e me abraçou mais forte. Ficamos daquele jeito por mais tempo do que o necessário, mas eu não tinha vontade de soltá-lo. Parecia bem mais segura daquele jeito.

– Desculpe-me. - disse soltando-o. - Você não tem que me ver chorar e nem tentar me consolar. Eu estou parecendo uma louca com os olhos vermelhos.

Fabrizio riu e tirou uma mecha de cabelo do meu olho.

– Tudo bem. Mesmo eu não sendo bom em consolar ou conversar com mulheres chorando, posso tentar. - ri enquanto me virava para lavar o rosto. - Mas me prometa que vai ficar bem, ok?

O fato de ele estar se preocupando comigo me dava a sensação de estar incomodando-o, mas a sensação maior era de que ele se importava comigo e de algum modo achava aqui reconfortante.

Saímos do banheiro rindo de alguma coisa que Fabrizio havia falado e logo estávamos comendo a incrível pizza comprada por ele.

– Está realmente boa. – disse sentada no enorme tapete.

– E estamos parecendo crianças sentadas no chão.

– Pelo menos daqui dá pra ver a lua. – apontei para a janela acima de nós.

– Incrível.

Sorri. Sentia-me bem melhor.

– E agora?

– Agora o quê?

– O jeito é ficarmos presos nesse quarto de hotel juntos? – levantou a sobrancelha.

– Acho que sim, para sua infelicidade.

– Vamos sobreviver. – sorriu, desviando o olhar.

– Sim, nós vamos.

E daquele jeito passamos o resto da noite. Parecíamos dois adolescentes deitados no tapete conversando sobre coisas sem sentido. Fabrizio parecia mais à vontade e tinha deixado por uma noite o lado italiano mal-humorado dele. Não havíamos tocado no assunto de sua ex-noiva e nem no meu noivo. Alan. Já estavam começando a pensar que ele havia esquecido que sua noiva havia viajado.