Infame
Capítulo 20 - A miss e seu medroso capacho
Capítulo vinte
A miss e seu medroso capacho
“O luto é destinado aos que amam amar. Vinga-se a pessoa que odeia amar, odeia continuar amando. É o encontro do mais extremo ódio com o mais extremo amor. A união de dois terrorismos.”
(Fabrício Carpinejar)
— Agora me diz: o que tinha na cabeça para ficar me ignorando? Além de ter um amendoim no lugar do cérebro, claro. — em um tom de ordem.
— Sabia que estava muito bom para ser verdade. — disse ao parar de comer o salgadinho no mesmo instante.
Sim, eu tinha ganhado os dez da Anabelle pela aposta.
— Você está se alimentando da minha comida, bebendo do meu suco, usando meus ombros para tentar tirar um cochilo, sendo que fui eu que te arranquei das garras daqueles interesseiros, e ainda fica reclamando? — já estava ficando irritada.
— Amy, primeiro prometa-me que não vai ficar braba ou distribuir socos por ai. — iniciou dessa maneira é porque tem algo.
E ainda teve a audácia de usar aquele apelido?
— Não faço acordos. — será que só abro a boca para estragar tudo?
— Mas e-
— Desembucha logo! — então o que me restou foi causar medo.
— A Lindsay descobriu que nós lanchávamos juntos, me pressionou para saber o motivo, e contou para os meus amigos. — tão rápido me fofocou, como um cão obediente.
— É um covarde mesmo. Mas o que disse a ela? — a curiosidade me consumiu.
— Eu menti. — confessou.
— Pelo jeito foi besteira. — conclui.
Olhava-o firmemente, sem desviar um momento, percebendo que sua insegurança o fazia fitar algo que eu sabia que era apenas a árvore. Tanto que nem um casal estava ali, assim como ninguém estava fumando.
— Disse que estava contigo, pois não queria ficar sozinha no intervalo. Que na verdade era uma pessoa carente. — verbalizou tão baixo, de forma assustada, tanto que eu quase não ouvi.
No entanto ansiava era por ser surda nesse momento.
— Fala-me que isso é um pesadelo e eu não fui burra o bastante para ter dito que era sua amiga. Na verdade ainda estou em minha cama, enrolada em um cobertor quente, enquanto espero inconscientemente o despertador tocar. — pedi a mim mesma.
— Se eu pudesse teria falado outra coisa. Por isso sinto muito. — o tom arrependido.
— Como o quê? Que transava comigo atrás da escola? — questionei de forma abismada.
— Até que é uma boa ideia. — concordou com um sorriso presunçoso.
Sério?
— Se continuar a falar vai ficar com outro olho roxo! — exclamei.
— Mas você já está mal falada mesmo. Um boato a mais em nada mudaria. Não é? — propôs.
— Só que esse assunto foi esquecido, se botar mais lenha na fogueira vai demorar mais para apaga-la com água. — estar menos irada que nesse momento é impossível.
— Se estiver mais pessoas ajudando desaparecerá mais fácil. — respondeu-me.
Até comecei a comer por conta do desgosto.
— Não quando apenas eu sei que é mentira. — disse em um muxoxo.
Isso fez com o que Joshua me enlaçasse com afinco e apoiasse minha cabeça em seu peito. Portanto conseguia escutar claramente seu coração bater fortemente, assim como sentir sua respiração acelerada e o cheiro bom do seu perfume.
— Você tem a mim. — declarou depois de um tempo.
Palavras que pareciam sinceras.
— O que será da minha vida agora? Tendo apenas um medroso para me proteger? — respondi ao fita-lo, colocando a mão em minha testa e dando um sorriso fraco em sua direção.
— Está menos arisca sabia? Até me deixou continuar a abraça-la. — constatou.
Grande erro me fazer perceber, pois no momento seguinte o desgrudei de mim a força. Fazendo-o cair naquela terra e sujar a roupa. Mas sabe o que o idiota fez? Apenas tirou a blusa e ficou mostrando seus músculos de maneira espalhafatosa.
— Coloque a camisa de volta! — mandei.
— Está ficando excitada Amie? — disse ao me rodear.
Seu ato foi pegar minhas mãos e as colocar acima da minha cabeça, prendendo-me entre ele e a parede. Aquela cena tinha se repetido algumas vezes desde que nos trombamos no banheiro masculino, porém nunca o tinha visto lançar um olhar tão malicioso quanto dessa vez.
— Sinto sua respiração acelerada. — sussurrou em meu ouvido. — e sua pele se arrepiar quando me aproximo. — beijou meu pescoço com leveza antes de continuar. — se eu pudesse, se deixasse, poderia sim passar de apenas boatos e fazer amor contigo agora mesmo. — o tom tão rouco que me fez ficar confusa por um tempo.
— Amor? Conta outra! — falei ao fita-lo com a maior seriedade possível.
Talvez estivesse tremendo um pouco, mas nada tão indiscreto.
— Sim, quando dou um beijo no seu rosto com delicadeza, as respirações se chocando, enquanto nossos corpos se unem em meio a um intenso selo. Tudo isso é mais que paixão, não? — cada palavra foi dita sem desviar seus olhos do meu.
— Mas não é esse o caso Joshua! — respondi-o.
Ele pareceu despertar de algo, o que me fez notar que sua pupila não estava mais tão dilatada quando me mirou novamente. Em seus traços a única coisa que restou foi uma tristeza profunda.
— Tem razão. Desculpe-me. — murmurou.
Já estava se afastando sem nem sequer ouvir o que tinha a dizer, porém em uma reação inesperada da minha parte peguei-o pelo braço até que chegasse a centímetros de mim.
— Está escondendo algo. — conclui.
— Não, você já sabe. — disse.
— O quê? — quis saber.
— Só não deu a devida importância. — deu uma pista.
— Quando foi que me contou? — quis saber.
— Pense, e quando souber a resposta talvez dê um voto de confiança e segredo-lhe o que ocorreu. — declarou ao soltar-se do meu fraco aperto de sair em direção ao pátio.
Eu fiquei inerte que nem uma tola, no entanto, felizmente, o meu celular interrompeu o meu momento em que fico sem palavras – o que antes era raro, porém agora parecia acontecer frequentemente.
“Traga-me o lanche serva!” – Emo.
Se não estivesse fazendo tão mal a ele já teria o abandonando há dias. Só que no instante seguinte já estava correndo até o nosso canto, para depois dar um dos pacotes de salgado e a garrafa com suco – que inesperadamente estava gelado ainda.
— Quase não te vi no meio desse matagal. — brinquei com a sua nova cor de cabelo.
Antes roxo, depois verde.
— E eu por acaso a fiz perder um cliente para me humilhar assim? — fingiu-se de chateado, contudo fui eu a ofendida.
— Não, é porque agora não poderei te chamar de cabeça de berinjela. — fui sincera dessa vez.
— Pelo menos alguma coisa não mudou por aqui, já que você ainda é uma baita de uma puta. — como se tivesse jogado ácido na minha cara.
— Se continuar considere-se sem café! — esbravejei.
— E tem? Só estou vendo um liquido feito com corante amarelo e um chips que eu odeio. — satirizou.
Neste instante sentei do seu lado e o empurrei com força moderada.
— Cospe, cospe no prato que comeu. — revidei.
— Querida, nem se fosse de graça eu transaria com alguém como você. — ironizou, imitando uma voz feminina.
— Você acredita mesmo que eu sou prostituta? — realmente estava curiosa para saber a sua opinião.
— Não, apenas dou o troco por ficar me chamando de emo, punk ou gótico, sendo que na verdade eu sou apenas um gay que gosta de pintar o cabelo e as unhas. — confessou.
— Falando nisso, tenho de trocar seu nome de contato. — comentei.
— Minhas preces foram atendidas! — disse ao levantar os braços.
— Vou colocar “tomate gay”. — expliquei.
— Deixe como está então! — implorou.
Neste instante já estávamos embaixo da passarela, onde tinha sombra, encostados na parede e comendo da maneira mais esfomeada possível. Porque depois do que passei com o Joshua nem tive tempo de saborear o meu lanche.
— Tudo bem. — decidi por fim.
— Obrigado. — como se eu tivesse o salvado.
— De nada. — fui simples, até porque estava ocupada com aquele salgado maravilhoso.
Quando meu celular tocou e eu vi que era uma mensagem de um número desconhecido tratei de esconder do Phil, até porque sabia muito bem que estaria me espionando.
“Se não fizer o que quero amanhã todos saberão que quem colocou a lista foi você. E não me subestime!” – Estranho.
Estava em dúvida. Muito.
“Isso é mentira!” – Amie.
Tentei a todo o custo que a pessoa desistisse daquilo.
“Quem manda não fechar a boca? Agora sofrerá as consequências.” – Estranho.
Será Charlotte? Lindsay? Roxye? Anabelle? Jordan? Nate?
Tantas pessoas que desejavam meu mal que nem tinha certeza.
“O que quer?” – Amie.
Confesso que sou mesmo uma linguaruda.
“Encontre-me hoje, às 16h, em frente ao cinema do shopping. Se não vir já sabe.” – Estranho.
Estou ferrada!
Não, não se eu puder impedir.
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