Inevitável

Don't break me down


Não sei bem o porquê, mas por algum motivo cheguei a pensar que a Nicky tivesse finalmente desistido da Alex e partido para outra. Engano meu, é claro. A verdade é que eu, se estivesse no lugar dela, também não desistiria tão fácil de uma mulher como a Alex Vause. É difícil de encontrar inteligência e beleza numa só pessoa, e ela era um pacote completo. Pelo menos para quem tivesse a paciência de aguentar todos os desaforos dela, e isso eu tinha.

Acordei com a Alex sussurando no meu ouvido alguma coisa que me pareceu soar como "Vou ir comprar algo pro nosso café da manhã e já volto", meus ouvidos estavam tão estremecidos pela voz sensual da Alex ao pé do meu ouvido, que mal consegui distinguir as palavras que ela disse. E o sol já estava lá fora algum tempo. Caramba, já era tarde e eu precisava ir na agência de empregos mais próxima ver se encontrava alguém querendo uma ex-detenta loira e carismática como funcionária. Fixei meus olhos no relógio de parede que indicava que já era quase 11 da manhã. Ex-detenta que chega atrasada, aí já é demais. A procura pelo emprego perfeito pode esperar até amanhã.

— Ué, achei que você iria dormir mais — Alex falou ao me ver levantando da cama.

Fitei ela com os olhos ainda sonolentos, andei até onde ela estava com os passos ainda de uma pessoa que recém acordou e dei uma leve batida nos ombros largos dela.

— Daqui a pouco vamos deixar de ser humanas e virar ursos. Sabe quanto tempo a gente dormiu hoje, ou melhor, hibernamos?

Alex reagiu ao pequeno soco que dei em seu ombro com uma risada, e eu sorri de volta. Fui até a cozinha com os braços em volta da cintura dela, cheirando seu pescoço de perfume adocicado. Estávamos no meio de uma xícara de café, quando a Alex arqueou as sobrancelhas de repente.

— Piper Chapman, você não deveria estar numa entrevista de emprego neste exato momento? — Ela parou de beber por um instante, depois voltou a dar um gole no café descafeínado.

Sorri ao notar a preocupação dela em me ver empregada.

— É verdade, neste exato momento eu deveria estar em algum escritório monótono falando de como sou incrível e de como qualquer pessoas seria sortuda em me ter na equipe de qualquer empresa — Falei, tentando parecer mais sarcástica do que o necessário.

Ela deixou escapar uma risada e, quase que no mesmo segundo, o celular de uma de nós duas começou a fazer um barulho de notificação. Alex tirou o celular do bolso, desbloqueou a tela e começou a ler o que estava escrito na tela. O rosto dela ficou sério. Fiquei impaciente e peguei o celular da mão dela.

— Ótimo. Então você e a Nicky ainda estão se falando?

Levantei e fui em direção a pia, os olhos da Alex me seguiram até que finalmente ela resolveu falar.

— Eu não quero ser indelicada com ela, amor. Você sabe que no fundo, ela é uma boa pessoa.

Ela tinha razão. Aliás, um pouco de razão. Se ela estivesse se comunicando com a Nicky Nichols, eu gostaria pelo menos que ela tivesse me dito algo a respeito. Merda, por que a Alex teima em me esconder as coisas? Permaneci em silêncio, até que ela se pronunciou de novo.

— Viu como sempre estamos brigando? você não confia mais em mim, não como antes.

Depois disso, ela se retirou e eu fiquei sozinha na cozinha. Sozinha com os meus pensamentos e com uma vontade tremenda de pedir desculpas. Pelo o quê, eu nem sei direito, mas meu ciúme me transforma em uma pessoa insuportável ás vezes. Passei um tempo em pé, até que o meu celular tocou e eu atendi de imediato. Era a Polly, minha amiga de quase todas as horas.

— Piper, quanto tempo! Você ainda está morando em Nova York? Não me diga que decidiu virar hipster que nem o seu irmão e morar em algum lugar remoto no meio do Alaska — Ela disse, num tom de voz exageradamente alto.

— Pra sua sorte, eu ainda não decidi abandonar a cidade grande para morar em um Iglu, mas do jeito que a Alex vem agindo, tô quase indo parar em um mosteiro na Ásia — Respondi, com as costas fixas na bancada da cozinha.

Polly riu e começou a me fazer perguntas de todo tipo. Não é pra menos também, fazia um bom tempo que não conversávamos. A ida dela para Toronto abalou um pouco os pilares da nossa amizade, mas nada que o tempo não pudesse arrumar de novo. Estávamos começando as nos restabilizar e ela propôs que nos encontrássemos em algum lugar para celebrar os velhos tempos e, melhor ainda, os novos tempos que estavão por vir. Ela perguntou se eu estava livre no dia seguinte e eu confirmei.

— Que maravilha então. Tenho tantas coisas pra te contar! Eu poderia fazer isso por telefone, mas vendo essa sua cara de vadia loira é muito mais interessante — Ela brincou, e nós duas rimos na linha.

Desliguei o telefone depois de marcar o horário com a Polly e voltei a pensar nas coisas que eu tinha dito para a Alex. Eu deixava ela nervosa e ela me deixava nervosa também. Andei até o quarto, estava pronta para me redimir com ela e tentar deixar o clima menos pesado entre nós, mas ao abrir a porta, me deparei com a nossa cama desarrumada e só. A Alex havia saído. Talvez ela precisasse de algum tempo pra pensar, algum tempo só pra ela, longe das minhas neuras e ciúmes excessivos. É compreensível, até. Resolvi ir até a sala assistir alguma coisa na televisão, e fiquei sentada até que ouvi uma batida na porta. Á princípio achei que fosse a Alex, mas por que caralhos ela bateria na porta se ela tem a chave do nosso apartamento? E aí meu ânimo foi mais pra baixo ainda quando ouvi a voz do porteiro do prédio que havia subido para entregar uma encomenda. Atendi a porta com uma rapidez tremenda e logo fechei a porta.

— Senhorita Chapman, esqueci de avisar que a senhorita Vause saiu com o carro mais cedo e esqueceu de fechar a garagem. A senhorita poderia lembrar ela de acionar o botão do portão da próxima vez?

A voz do porteiro, um senhor de quase 70 anos, mal pôde ser ouvida. A barreira entre ele e a porta fez com que sua voz, já rouca, ficasse o mais baixa possível. Consegui entender o que ele disse mesmo assim e abri a porta novamente.

— Irei lembrá-la da próxima vez, Senhor Whitman.

Dei um sorriso forçado e voltei a fechar a porta.

Esperei pela Alex até uma, duas, três e quatro da manhã. O relógio bateu quatro e meia e e ela ainda não havia voltado. Tentei arranjar fôlego para engolir uma maçã e um copo de leite e fui direto para o quarto dormir, o que parecia a coisa mais difícil naquele momento.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.