Incríveis Aventuras em CASTELOBRUXO

Varinhas, Bastões e Artefatos Mágicos dos Madeira


Ao saírem, tio Aroldo disse suas ultimas palavras antes de ir para o lado contrário ao deles.

— Lembre-se. Você não escolhe a varinha, a varinha te escolhe.

— E como vou saber disso.

— Não se preocupe, saberá e se não souber, Alaíde saberá a certa. Bem, boa sorte e não se alongue muito. A lista está um pouco longa e devemos ser rápidos, só temos o resto da manhã e a tarde pra comprarmos tudo.

Então os garotos acenaram que sim e foram em direção ao fim da Biela, enquanto Tio Aroldo retornava a região da entrada. No caminho Nicko falava um pouco mais de quadribol para Tião, enquanto ele começava a se descontrair e fazer algumas perguntas. Nessa hora eles passaram em frente a uma loja de vassouras.

— Veja Tião, essas são vassouras profissionais. Jogadores de quadribol as usam, são mais velozes, estáveis e resistentes. Eu uso a da minha mãe. Ela mesma que fez e encantou. Parece uma vassoura de velha, quando digo velha, daquelas bem velhas a varrer terreiro, mas dá pra jogar com meus irmãos e primos. Imagino que nunca voou em uma vassoura antes né?

— Não. Na verdade só ouvia falar em vassouras voadoras em desenhos animados.

— Vai adorar a sensação de voar e sentir o vento no cabelo. Muito bom.

— Imagino que sim.

— Vê aquela – apontou Nicko para uma na vitrine. Era uma vassoura de madeira verde, bem reta com uma pequena curva na ponta, que dava a vassoura uma cara de interrogação – é a greentorment, ela é importada. Dizem que a madeira não quebra nem com dentadas de dragão, a repartição de teste e aprovações a objetos mágicos do ministério da magia realmente usa um dragão como teste. Eu queria muito uma e minha mãe até me prometeu como presente de aniversário esse ano, estou ansioso, talvez assim, ano que vem eu entre para o time de Quadribol da minha tribo em Castelobruxo.

— Legal. Agora fiquei com vontade de voar de vassoura e jogar quadribol também.

Então saíram da frente da vitrine e mais alguns passos chegaram a “Varinhas, Bastões e outros Artefatos dos Madeira”, a loja de varinhas que seu tio avô havia falado. Ao entrar, parecia uma loja de sapatos cheia de caixas e prateleiras. Não era nem tão grande, mas nem tão pequena assim. Espaço a frente do balcão era pequeno com um banco acolchoado para sentar e esperar, além de vasos com plantas e flores. Atrás do balcão de madeira, que tinha uma pequena vitrine com varinhas expostas, haviam inúmeras prateleiras enfileiradas com caixas e mais caixas que pareciam de sapato, um pouco mais finas e compridas. Quando abriram a porta, um miado de gato soou alto, mas eles não viram gato algum e lá do fundo veio uma senhora de cabelos brancos curtos e arrepiados, com óclinhos na ponta do nariz e um avental de couro e luvas. Era uma senhora de um pouco mais de sessenta anos, grande. Alta e forte, era larga em cima e fina nas pernas, usava calças de linho e botas de couro e parecia simpática.

— Mais alunos do primeiro ano eu imagino. Você – disse ela olhando para Nicko – veio aqui antes de ontem, se não me engano. jaqueira com núcleo de pelo de unicórnio, eu estou certa?

— Na verdade foi Ipê com escama de boiúna.

— Ow céus. Estou perdendo o jeito da coisa. Mas são muitas caras sempre, ainda mais no início do ano letivo de Castelobruxo. Mas vamos lá, imagino que não tenha vindo trocar de varinha, certo? Não trocamos varinhas uma vez que essa escolhe seu bruxo, está na placa.

E estava. Uma placa de madeira onde estava escrito: “1) uma vez escolhido o bruxo, não trocaremos a varinha, ao menos que a mesma o queira, o que nunca saberemos ao certo. 2) Não nos responsabilizamos por bastões mágicos rachados ou quebrados por uso de alavancas, cassetetes e trava de portas. 3) Não vendemos Joias mágicas, caso necessite, procure um magiouriver qualificado”. Então Nicko balançou a cabeça que não e Tião se manifestou.

— Na verdade Senhora Alaíde?

— Sim, eu mesma.

— Sou Tião, no caso, Sebastião Matoso, sobrinho neto de...

— Aroldo Matoso. Ow minha nossa. Você é neto de Sebastião Merentrofes. Que surpresa agradável. Seu tio havia me dito há dois dias que você iria vir aqui comprar sua varinha. Fabuloso meu querido. Já separei algumas espere um momento.

Então saiu apressada a mulher até o fundo da loja enquanto os dois esperaram conversando.

— Deixa eu te explicar. As varinhas são feitas de madeira, normalmente uma madeira boa e resistente à magia, ela precisa ser isolante, mas também capaz de deixar fluir a magia do núcleo.

— E o que seria o núcleo?

— Oras. O núcleo mágico. De onde se extrai magia para fazer magias. As mais tradicionais são de pelo de unicórnio, são bem seguras. Têm as de fibra de coração de Dragão, essas são mais fortes e meio irritadinhas, às vezes o feitiço sai pela culatra se não souber usar, mas não se preocupe, nenhum dragão é morto pra isso, só usam de dragões de morte natural, porque a fibra de dragões mais velhos é mais poderosa. E as de pena de fênix, essas são mais raras, mas fazem varinhas bem fieis aos bruxos, o que dá chance de fazer feitiços mais elaborados. Mas também existem outras. Aqui no Brasil é muito comum as de lágrima de Inhangá, bem raras, porque eles têm os olhos de fogo e dai as lágrimas saem como pedras parece, nunca vi uma de fato, mas também nunca vi coração de dragão ou fênix na vida. Também tem de escama de boiúna, similar a fibra de dragão, bem poderosa e tem de flor da Victória Régias, essa é similar a de pelo de unicórnio, ela produz feitiços bem fortes quando se tratam de magia de cura, poções e essas coisas do tipo.

— Flor de vitória régia é algo que eu já vi foto. Ela é mágica assim é?

— Não essa flor de vitória régia, mas a flor da verdadeira victória régias. Victória régias é uma herbocriatura mágica. Ela é uma planta viva.

— Mas toda planta é viva oras – disse Tião sorrindo.

— Não, essa é viva mesmo. Ela tem raízes que se mexem e ela enrola em seres vivos, sugando a vida deles, sem deixar que eles se afoguem. Semelhante as Árvores errantes.

— Caramba! Nunca ia imaginar isso. Você conhece muita coisa Nicko, realmente você é bem esperto como você disse.

— Ah! Nem tanto, só disse aquilo pra me gabar. Na verdade sou bem curioso, adoro descobrir sobre coisas e como essas coisas funcionam. Ser Bruxo Cigano ajuda, a gente ouve coisas e aprende muita coisa em cada lugar novo que vamos.

Nessa hora a Senhora Alaíde, dona da Loja de Varinhas apareceu com várias caixas empilhadas umas sobre as outras em seus braços. Fazendo seu rosto desaparecer por de trás das mesmas, chegando apressada colocou sobre o balcão e disse.

— Então vamos jovem Matoso, teste essa - e lhe entregou a varinha – essa é uma jacarandá com flor de Victória Régias. Típica dos Matoso.

Ele pegou e meio sem saber o que fazer perguntou.

— O que faço?

— Oh céus! Caiporas me mordam. Esqueci que você não foi criado como bruxo meu querido, seu tio avô me disse isso na conversa a três dias.

— A senhora tinha dito dois dias antes – disse Nicko com cara de duvida.

— Bem, ando bem atarefada e estou ficando velha, não tenho mais a memória que tinha a alguns anos. Então Vamos, faço o seguinte.

E a grande senhora pegou uma pequena bola de cristal embaixo do balcão e colocou sobre a mesa.

— Vamos, toque a bola com a varinha, assim.

E ela pegou a própria varinha e tocou a bola, sem falar nada e a bola brilhou em luz como uma lâmpada. E assim Tião o fez. Tocou a bola com a varinha e essa ascendeu e logo começou a piscar, como se fosse uma lâmpada querendo queimar.

— Ow! Tudo bem meu querido, pode parar. Essa não irá servir.

E tomou a varinha dele. Então abriu outra caixa e lhe entregou outra varinha.

— Essa é feita de pelo de unicórnio. Teste-a.

E Tião repetiu o processo e a bola de cristal ascendeu bem forte e apagou.

— Hum. Curioso. Então teste essa aqui – pegando outra – essa é uma varinha bem rara, pena de Fênix, uma matéria prima bem difícil de conseguir. Teste-a.

E Tião testou. Ao tocar a bola de cristal, a mesma acendeu bem forte e pareceu continuar acendendo ao ponto de que iria explodir.

— Já chega meu querido – disse Senhora Alaíde tirando a varinha de sua mão que deu um pequeno rebote – Ow! Puxa vida.

E Nicko que estava sentado apenas esperando começou a ficar curioso com a situação e se aproximou.

A mulher começara a testar uma varinha atrás da outra, combinações de madeiras e materiais diferentes com os mais diversos núcleos. E quanto mais ele usava as varinhas, mais forte o brilho ficava na bola de cristal até que em uma, ela explodiu.

— Caramba meu Jovem. Eu não vejo algo assim a muito tempo desde que... – então se retesou como se lembrasse de algo bem importante e que fosse resolver o problema – tenho uma ideia, não sei se irá funcionar.

Então adentrou mais uma vez para os fundos da loja e Nicko disse impressionado.

— Caramba Tião, nunca vi ninguém ter tanto azar com varinhas assim. Até meu tio Astolfo que é muito ruim com magia conseguiu acertar uma varinha na nona. Você testou mais de vinte e nenhum serviu. Cara, você tem certeza que quer ser bruxo?

— Não sei. Depois disso estou ficando um pouco pessimista com a ideia. Acho talvez que eu não tenha aptidão pra coisa.

Volta a Mulher dos fundos da loja com mais uma caixa de varinha e outra pequena caixa de madeira, quadrada sobre a mesma. Ela colocou as duas sobre o balcão, retirou a caixa menor de cima e a abriu. Dentro dela havia uma bola similar a anterior, porém menor um pouco e negra. Ele pegou a bola negra nas mãos e disse.

— Vejamos meu querido, segure essa pedra aqui. Prepare as mãos.

Então Tião estendeu as mãos e ela colocou sobre suas mãos a pedra, que ao tocar permaneceu normal. Então sua reação foi meio que desapontamento, pois seu semblante parecia que esperava algo extraordinário.

— Não então, achei seria, mas...

E estendeu sua mão para retirar a pedra quando essa começou a encandecer nas mãos de Tião. Era um brilho muito colorido e nitidamente mágico. A pedra começou a ficar muito colorida e então ela gritou.

— Eu sabia. Eu ainda não estou tão velha assim – e riu de felicidade.

Os dois garotos nada entenderam, apenas riram da reação da senhora. O brilho começara a ficar cada vez mais intenso. Então ela retirou a pedra das mãos de Tião que ainda continuou a brilhar, mesmo após desencostar dele e ela por a pedra de volta na caixa, essa ainda brilhava, o que tirou o sorriso do rosto dela e transformou em um semblante de surpresa e espanto. Alguns segundos se estenderam até que a pedra começasse a apagar aos poucos e finalmente voltar ao seu estado negro inicial.

— Curioso. Muito curioso – disse ela intrigada, mas ao observar os meninos tão intrigados quanto ela, ela sorriu e disse – enfim. Como eu imaginava, você... – então retesou um pouco e pareceu ter se lembrado de algo, então disse – deverá se dar bem com essa.

Então ela abriu a caixa, uma caixa de madeira, diferente das outras, meio rústica. Dentro havia um estofado vermelho e sobre ela uma varinha diferente de todas que eles haviam visto. Todas eram peças de madeira bem talhadas, algumas ornadas com detalhes muito bonitos, outras mais simples, mas todas eram nitidamente feitas a mão. Essa, ao contrario de todas as outras, era uma varinha meio torta, mesmo que lixada e lustrada, ela tinha um formato de galho de árvore. Sua empunhadura era coberta por um couro fino e negro e ela de uma madeira escura, mesclada com tons multicoloridos sutis.

— Pegue – disse ela, virando a caixa para o garoto, para que ele a pegasse.

Tião pegou a varinha e algo engraçado aconteceu com ele, ele sentiu um arrepio correndo seu corpo até usa mão e a varinha pareceu brilhar por um instante, nas multicores que possuía.

— Nossa! – exclamou Tião com a sensação.

— Sentiu algo? – perguntou Nicko empolgado.

— Senti, uma sensação de choque que correu ate minha mão.

— Não foi bem isso que eu senti com a minha, mas foi algo legal também. Acho que você achou sua varinha.

— Como eu imaginava – disse a mulher curiosa e risonha sobre a situação.

— De que é feita essa aqui?

— Essa varinha não foi feita por mim. Essa varinha veio de longe, da África. Ela é uma varinha bem especial feita de uma árvore muito rara.

— Que nem a Andurá? – perguntou Nicko, referindo-se a Árvore mágica que encandece em fogo mágico e seleciona os Alunos para as tribos de Castelobruxo.

— Muito mais rara. Essa árvore é única e ela surge e desaparece magicamente de tempos em tempos. Por isso é tão rara.

— Qual o nome dela?

— É o Baobá Rei.

— Caramba, dessa eu nunca ouvi falar – disse Nicko bem curioso sobre.

— Não sei muito mais sobre ela, somente que ela faz esse tipo de varinha em especial. E essa aqui, está aqui há anos. Foi uma encomenda, mas nunca a buscaram.

— E qual o núcleo dela Senhora Alaíde? – perguntou Tião maravilhado com aquela varinha.

— eis porque ela é tão especial meu querido. Ela não tem núcleo.

— A para com essa – disse Nicko abismado – toda varinha precisa de um núcleo mágico pra se fazer feitiços, se não, não há feitiços.

— Essa não precisa meu jovem – disse ela risonha olhando atentamente para Tião, com olhos curiosos.

— Mas se ela foi encomendada, talvez eu não possa ficar com ela – e colocou mais uma vez na caixa de forro vermelho,

— Não meu querido. Ela fora encomendada, mas eu garanto que o dono nunca irá buscar, afinal ele está morto pelo que soube. Então, ela pode ser sua.

— Que maneiro Tião – disse Nicko empolgado – você vai ter uma varinha especial. Cara, você está me surpreendendo.

— Mas, se ela é especial assim, talvez ela seja um pouco cara e eu talvez, não tenha dinheiro suficiente aqui para pagá-la.

— Não se preocupe pequeno Matoso. Ela teoricamente já foi paga, mas você pode levá-la, afinal, ela te escolheu e teoricamente já é sua. Eu acerto depois com seu tio Aroldo, preciso mesmo falar com ele, então, peça-o para vir me ver assim que puder.

— Tudo bem. Obrigado Dona Alaíde.

— disponha meu pequeno – disse ela sorrindo, agora um sorriso simpático e bem aberto como inicialmente.

Ele recolheu a Varinha em sua caixa e saiu da loja junto a Nicko. Que ao sair começou a falar empolgadamente.

— Cara! Eu não tinha ideia de que existia uma varinha assim. Nossa, sei que varinhas são bem particulares, mas você vai me deixar usá-la uma vez pelo menos.

— Claro, sem problema algum – disse Tião sorrindo, pois havia comprado sua tão valiosa Varinha.

Dali, ele seguiram para a Livraria Valfreixo, que ficava ao fim da Biela, ao lado do ABIGAS (Agência do Banco Internacional de Gringotes na Ámerica do Sul), onde entraram e começaram a pegar os livros da Lista de Tião. A livraria era bem grande, e tinha aparentemente três pavimentos. Era de uma arquitetura estranha e desencontrada. Lances, sacadas e a escada meio torta, mas prateleiras bem arrumadas. No Balcão estava um velho senhor sentado lendo um jornal, que na capa tinha uns bruxos voando em vassouras com bolas nas mãos. Nicko apontou a Tião, dizendo que aquilo era quadribol, o que deixou Tião empolgado, pois, se futebol já era divertido no chão, imagina jogando algo em vassouras voadoras? Assim, eles forem selecionando e na duvida perguntaram a uma senhora de avental que aprecia trabalhar no lugar sobre um dos livros da Lista e essa disse que estava no segundo pavimento. E eles subiram, lá, viram uma mulher loira e aparentemente elegante com um ar esnobe a falar com dois adolescentes, que deram a entender serem seus filhos. Um menino e uma menina, aparentemente na mesma idade de Tião e Nicko. A mulher dizia:

— Não reclamem. Sei que essa pocilga não está à altura das livrarias europeias, nem com as da Argentina, mas estamos aqui no Brasil agora e teremos que comprar seus livros aqui, já que alguns só encontramos aqui nesse país infernal.

— Mas mãe, ao menos poderíamos ter comprado os outros na Alameda Alada em Buenos Aires – disse a garota branca como um defunto, magra, esguia e com cabelos negros ondulados, com o nariz semelhante ao de Natália, a assistente de tio Aroldo, porém menor.

— Eu sei minha flor, mas seu pai tinha assuntos importantes e emergenciais aqui no Brasil no ministério, então como vocês teriam de vir para ingressarem em Castelobruxo, tivemos de vir.

— Eu ainda preferia ir para Durmstrang ou Hogwarts – disse o garoto de cabelos lisos e bem cortados, semelhante ao cabelo de Nicko, porém bem arrumados e mais curtos, com a mesma cara e cor da garota, porém, com cabelos mais claros um tom. Aparentemente mesma idade, logo deveriam ser irmãos gêmeos.

— Nós tentamos Agustín, vocês sabem muito bem, mas seu pai faz questão de que estudem aqui. Por isso se contentem com Castelobruxo. Afinal, seu pai estudou lá e se tornou um bruxo muito bem sucedido.

Nisso Nicko comentou baixo para Tião.

— Esses bruxos Argentinos esnobes. Sempre falando mal dos outros países da América Latina, principalmente do Brasil. Se não gostam daqui, vão pra Europa oras – disse ele rindo baixo.

— Como sabe que são Argentinos, só porque falaram da Argentina ou Buenos Aires?

— Não! Pelo sotaque do espanhol, não percebe?

Mas Tião não percebia, ouvia-os falar em português perfeitamente, então se deu conta do por que. Estava usando o anel desenrolalíngua de seu avô. E ele disse para Nicko sobre o anel.

— Caramba. Legal, já vi alguns desses, até tenho um, mas nem uso. Minha família vem de todos os cantos do mundo, principalmente dos países da América Latina, então eu falo bem espanhol.

Então os dois pegaram o livro que precisavam antes de serem notados e saíram vagarosamente. Os dois ficaram olhando livros mágicos pela livraria e volta e meia a senhora de avental os chamava atenção para não mexerem em alguns livros. Então finalmente seu tio avô chegou a livraria, quase uma hora depois de eles terem chegado.

— Meninos, me desculpem o atraso. Acabei ficando meio cheio de coisas e passei na Matoso, Matoso e Matoso para guardar seus materiais Sebastião. E vejamos, comprou sua varinha, certo?

E Tião respondeu que sim, pegando-a para mostrar.

— E de que material é feita? E o núcleo? A maioria dos Matoso tiveram varinhas de Victória Régias. Apesar de seu avô ter tido uma de fibra de coração de dragão.

— A minha não tem núcleo – disse Tião mostrando a sua varinha.

Com um semblante surpreso, mas menos do que o de senhora Alaíde, ele não questionou, apenas sorriu.

— Diferente né senhor Aroldo? Eu mesmo nem sabia que existiam varinhas sem núcleo, mas pelo que a Dona da loja de Varinhas disse, ela é feita de uma árvore africana mágica bem rara e daí, deve ser por isso.

— Sim meu jovem Nickolai, com certeza deve ser por isso. Acho até que na África, bruxos de lá devam usar isso mais comumente.

— Na verdade ela disse ser bem rara – disse Tião bem empolgado com a ideia de ter uma varinha especial.

— Talvez seja aqui meu querido. Lá, porém, provavelmente seja algo mais corriqueiro.

Disse ele meio nervoso, dando alguns passos pra trás, tentando ir para o balcão. Neste exato momento, passava atrás deles a bruxa loira com seus filhos gêmeos e tio Aroldo, esbarrou nela, acidentalmente, derrubando os livros no chão. Imediatamente ele se abaixou para pegá-los se desculpando.

— Mil perdões senhora – disse ele encabulado – eu não a vi, me desculpe.

— Olhe por onde anda da próxima vez – disse o menino bem mal encarado.

— Augustín. Por favor. O pobre senhor não fez por querer, tenha modos.

— Desculpe – disse o garoto da boca pra fora.

Tio Aroldo já havia recolhido todos os livros e disse.

— Levo para a senhora até o balcão, por favor.

E ele levou os livros até o balcão para a senhora que agradeceu e resolveu pagá-los. Enquanto Tio Aroldo, aparentemente encabulado, esperava um tanto distante. Os irmãos gêmeos conversavam entre si num tom baixo, mas audível para Tião e Nicko.

— Bruxos Brasileiros, sempre sem educação e desajeitados – disse a garota para o irmão.

— Não sei por que papai insiste em que estudemos aqui, vai ser uma tortura – disse o garoto, ajeitando o cabelo.

Ambos se vestiam de forma bem elegante, terno para o garoto, com um lenço no lugar da gravata e um vestido elegante para a garota, sobreposto por um blazer. Tião não havia ido com a cara deles antes, depois disso, menos ainda. A mulher terminou de pagar os livros, chamou os garotos e mandou-os pegar os livros e então saíram da loja, com um olhar meio que desprezo por quem ficava. Havia alguns outros pais e jovens bruxos ali, bruxos aparentemente mais simples. Enfim, eles foram ao Balcão, entregaram os livros então o homem do balcão disse.

— Ora, ora Aroldo. Quer dizer que terá mais um Matoso em Castelobruxo afinal.

— Com certeza Valfreixo. Os Matoso são persistentes.

E ambos riram. Antes de sair, Tio Aroldo perguntou a Nicko algo.

— Nickolai, você não tem de comprar um livro ainda que falta para você? Não quer aproveitar e leva-lo logo?

— Sim, mas eu não trouxe dinheiro. Na verdade, meus pais não nos deixam com dinheiro quase nunca. Acho que por isso que bruxos ciganos juntam fortunas – riu ele.

— Pegue-o. É o mínimo que posso fazer por você por tudo que você fez por Sebastião hoje.

— Não precisa senhor Aroldo – disse encabulado.

— Eu insisto meu jovem, você merece algo até melhor, mas, o livro é o mais conveniente nesse momento. Não pagará a divida, mas com certeza me deixará menos culpado de não tentar retribuir.

— Tudo bem então – disse Nickolai, que pegou o livro que estava exposto logo ali na entrada, por ser um livro novo na lista de materiais.

Senhor Aroldo pagou os livros, cada um dos meninos pegou os seus e eles saíram dali da Livraria Valfreixo. Já na rua, Tio Aroldo disse.

— Acho que já estamos atrasados para lhe entregar no acampamento bruxo cigano. Então vamos logo.

Ao fim da biela, estava o ABIGAS e para o outro lado seguia uma pequena rua que dava em um canto entre paredões de prédios. Um local aparentemente aberto tomado por barracas de bruxos ciganos. Ao chegarem, Nicko disse.

— Obrigado pelo livro senhor Aroldo.

— De nada meu jovem. Eu que agradeço a sua companhia a meu sobrinho neto.

— Obrigado pelas coisas que me ensinou Nicko.

— Que é isso, nós bruxos precisamos nos ajudar né? – riu Nickolai – Mas a gente se vê logo mais ou amanhã na estação de embarque da balsa do Boto Maroto.

— Ok. Até mais.

Eles se despediram. Nickolai entrou para o acampamento e eles voltaram caminhando devagar pela Biela Amarela. Então Tião informou seu tio sobre o recado de Senhora Alaíde. E ele disse a Tião.

— Façamos assim então. Eu irei logo lá ver com ela essa questão da varinha e você segue até a loja. Natália está lá e você pode subir e ajeitar suas coisas se quiser. Logo chegarei e almoçaremos. Caso esteja com fome, pode comer alguma coisa antes que eu chegue. Ah! E eu já ajeitei seu quarto, caso queira saber. Sabe chegar à loja, certo?

Era somente seguir em frente a biela que era sinuosa e logo não se conseguia ver o inicio e o final dela devido a isso.

— Tudo bem então, nós vemos na loja Tio Aroldo. Mais uma vez, obrigado por tudo.

— Não tem o que agradecer. Eu que agradeço por estar dando um sopro de vida a esse velho bruxo que já não tinha muitos motivos para viver - riu ele.

E eles se despediram e Tião seguiu até a loja, enquanto Tio Aroldo foi a Varinhas, Bastões e Artefatos Mágicos dos Madeira.