"Tudo que acontece uma vez, pode nunca mais acontecer. Mas tudo que acontece duas vezes, acontecerá certamente uma terceira.”

— Não, não isso tá feio Gastón! — protestou Delfina brava.

— O que, que foi agora? — replicou o garoto exasperado. Era terceira interrupção em menos de um minuto.

— É que esses passos são horríveis, por isso eu não tô conseguindo. — reclama.

— Não, você não gosta porque não consegue. — responde. — Porque os passos são ótimos.

— Não, a gente deveria ter pensado na coreografia juntos, do jeito que tá não dá. — argumentou ela.

— Quem te entende, afinal? Você não queria que eu cuidasse de tudo.

— E queria mesmo, mas, participando junto, será que é difícil você entender que isso é a dois, Gastón?

— Bom, quando eu cuido é porque eu cuido, quando eu não cuido é porque eu não cuido. Nada tá bom pra você. — rebate irritado.

— Seria bom ter treinado com o tempo e não em cima da hora.

— Se você parar de recusar minhas ideias a cada cinco minutos pode ser que dê certo.

— É vai mesmo pra passar vergonha. — esbravejou. — É melhor nem contar comigo, não competimos e pronto.

— Com essa boa vontade é claro que não. Se você realmente quer competir tem que se esforçar, tem que ter atitude, que vai dá tudo certo, é sério. — analisa ele, tentando fazê-la mudar de ideia quanto a desistir. Querendo ou não, patinar era algo que gostava de fazer.

— Eu tô me esforçando e com atitude há dias. — soltou com rispidez apontando para ele indignada. — E você não quis, agora Gastón, digamos que é um pouco tarde. — disse por fim lhe dando as costas e indo embora.

[...]

Luninha. — Ámbar chegou toda sorridente, o que surpreendeu Luna. — Essa corda é sua?

— Não, é que eu pedi emprestado pro Nico só que não vou usar mais. — responde meio triste.

— Ah, já tava preocupada. — fingiu falsa preocupação para com a garota. — Não sei se você sabe, mas, é muito difícil controlar a velocidade com essa técnica. Não precisa ter vergonha de não conseguir usá-la.

— Não, não é isso. — nega Luna.

— Não minta pra mim Luninha, somos amigas. Não é qualquer um que consegue, nem eu mesma consigo, imagina se você Luninha vai conseguir. — menospreza a garota que mantém seu olhar triste sobre o seu. — Eu falo pro seu bem, Luninha. É somente pra patinadores com muita experiência.

— O único jeito de ganhar experiência é praticando e eu não tive tempo. — responde, não gostando do tom da loira a sua frente.

— Não teve tempo ou tá com medo. — provocou sorrindo maldosa.

[...]

Jim guarda seus patins no armário, enquanto agradece a Nico por trazê-los.

— Obrigada por ter me trazido os patins. — agradeceu ela sorrindo para o garoto.

— É o mínimo que um cavalheiro pode fazer. — diz ele.

— Um cavalheiro sobre rodas.

Nico sorri com a resposta da ruiva. Estava um tanto envergonhado em sua presença, desde o dia que ela o beijara a mesma não falara do assunto — fazia de conta que o beijo nem havia existido —; ele até tentou de fato falar sobre o ocorrido, mas, percebeu que não faria diferença, ela mesma havia deixado claro que não estava afim dele. Entretanto, isso não o impedia de ainda sim gostar mais da ruiva. Se tivesse que acontecer algo entre eles aconteceria.

“Tudo ao seu tempo”. Pensou.

— Ah, falta pouco pra competição e eu tenho que fazer um monte de coisa. Eu tenho que montar o figurino, tenho que perguntar pra Tamara se a música tá boa, limpar os patins e eu devo estar esquecendo alguma coisa. — listou tudo em um só fôlego.

— Tá, relaxa. A ideia é ir passo a passo. — Nico a tranquiliza segurando-a pelos ombros.

— Eu sei, mas...

— Confia. — a olhou nos olhos lhe passando toda a confiança.

— Você viu como foi a outra competição que a gente nem tinha figurino.

— Tá, eu sei, mas, agora já temos tudo organizado.

— É verdade. — concorda sorrindo.

— Relaxa Jim.

— Obrigada por ter tanta paciência comigo, eu sei que às vezes eu fico insuportável quando tô nervosa.

— Não, você não seria insuportável nem se quisesse. — afirma o loiro, enquanto em um gesto automático acaricia o rosto de Jim docemente, ela fecha os olhos se deliciando com a sensação de seu toque contra sua pele. — Você é linda. — sussurra.

— Nico...

— Não diga nada, apenas sinta.

Inclinou a cabeça em sua direção para logo em seguida juntar seus lábios ternamente, moveram os lábios simultaneamente assim aprofundando o beijo, correu a mão livre por sua face deixando um carinho ali enquanto uma sensação de satisfação os preenchia, ficaram assim até finalizarem o beijo com alguns selinhos demorados.

— Isso foi... — começou ele.

— Maravilhoso. – completa ela num murmurio.

— Jim eu gosto tanto de você. Eu só quero que me dê uma chance pra provar que sou o cara certo pra você. — se declara esperançoso.

— Nico, eu tô confusa. — admite a ruiva. — Embora tenha uma parte de mim que diz que é a você que eu pertenço. Me dê um tempo, juro que será bem pouquinho.

— Tudo bem, por você eu espero o tempo que for preciso. — afirma o loiro sorrindo. — Agora que tal a gente ir patinar, dançar, se divertir, fazer o que a gente gosta, hum? Acho que a gente merece. — sugere todo alegre.

— Concordo. — responde Jim, segurou sua mão indo direto para a pista.

POV Delfina

Estava sentada sozinha em uma mesa do Roller, estava triste por ter desistido da competição e mais triste ainda por Gastón sempre achar que estava certo, embora o único errado tenha sido ele próprio. Às vezes olhava pra dentro de mim mesma e me perguntava o porquê de estar apaixonada justo por ele. Um garoto que na maioria das vezes não me dava valor, atenção, nada do que eu realmente precisava, creio que sou apenas uma garota que precisa se sentir segura, entretanto Gastón certamente não me passava essa segurança — o que implicava em nossas constantes brigas — percebi, no entanto que isso machucava somente a mim. Todavia, acho que quem está precisando mudar sou eu, parar de ser a garota apaixonadinhaque sempre corre atrás do garoto que apenas a ver como mimada, fútil, chata, briguenta. Já tá na hora de me valorizar, mostrar que sou capaz de mudar e me tornar uma pessoa melhor.

— Licença, seu suco. — Pedro apareceu.

— Obrigada. — sorri agradecida. Ele continuou a minha frente em pé sem dizer nada. O olhei por alguns segundos. — Pedro, o que foi? Quer alguma coisa? — pergunto.

— Não, na verdade, só queria perguntar se você tá bem, tipo, posso te ajudar? A vi do balcão e me parecia triste. — diz ele enquanto se senta na cadeira vaga.

— É que eu não vou mais competir, eu desistir. — respondo, soltando o ar cansada.

— Tá assim pela competição?

— Sim eu tô pela... Não, não é pela competição, eu tô assim por um garoto. — digo sincera. — Eu não sou muito original, o cara que eu gosto não gosta de mim. Isso é tão clichê.

— Sei, sei, não fala nada, é o Gastón. — o olho incrédula e assustada. Como ele sabia?

— Como sabe que eu gosto dele? — questiono rápido demais.

— Porque você me contou faz um tempo, não lembra? — explica. Solto um suspiro de decepção e desgosto. Então eu estar apaixonada por Gastón não era um segredo, provavelmente todo o Roller já sabia.

— O Roller inteiro já sabe. A competição era apenas o que nos mantinha unidos, agora que eu desistir, não tenho mais desculpas pra falar com ele. Se bem que é até melhor, ele não sente nada por mim. — já estava na hora deu desistir do Gastón, não valia a pena sofrer por algo que nunca seria meu.

— Bom, se isso te consola, não é a única pessoa que tá vivendo isso. Eu também tô, a minha é bem pior. A garota que eu gosto não me enxerga. Somos invisíveis no amor. — o encaro penalizada; vivia na pele o que era sofrer por amor. Queria ajudá-lo.

— E quem é? Talvez eu possa te ajudar. — ele sorriu.

— Não, não mesmo. Você se surpreenderia se soubesse quem é ela. — Pedro logo levantou e saiu.

Ter conversado com o garoto de olhos verdes foi mais agradável do que imaginei, me fez de certa forma relaxar, me sentia mais leve. O observei limpando uma mesa, e de repente sua última frase me vem à mente.“Você se surpreenderia se soubesse quem é ela.” Sorri com a ideia de descobrir por quem Pedro estava apaixonado.

POV Ámbar

Eres el frio el calor
Eres el miedo el valor
Eres la sombra que sale cuando quema el sol

O escutei cantar, já o observava há algum tempo — ainda me perguntava o porquê de ter tido aquela súbita vontade de parar para vê-lo compor algo que eu tinha a plena certeza, era para sonsa da Luna. A verdade é que de fato havia gostado do pequeno trecho cantado, mas, obviamente nunca admitiria isso em voz alta. A concentração de Simón era tão intensa que ele não notou minha presença, só quando me aproximei sentando-me ao seu lado, que ele me notou ali. Ergueu o olhar, antes que pudesse falar pedi que continuasse, entretanto isso não aconteceu.

— Ainda não é uma música. — responde.

— A letra é sua então. — afirmo.

— É.

— E em quem você pensou quando escreveu a música? — pergunto apenas para confirmar.

— Na... — começa, mas, em segundos o corto.

Luna. — completo revirando os olhos em seguida, era tão óbvio.

— Se sabia a resposta, por que perguntou?

— Apenas queria confirmar o quão idiota você é. — desdenho com um estalar de língua.

— Você é impressionante. — comenta Simón rindo.

— Isso eu sei. — solto com soberba. — Afinal sou a melhor.

— Como consegue suportar toda essa sua arrogância, isso sim é impressionante em você. — retruca ele zombeteiro. Senti uma súbita vontade de soca-lo, mas, me controlei ao máximo. Sorri logo em seguida, quer dizer gargalhei, o que fez o moreno a minha frente franzir as sobrancelhas sem entender.

— Não sabia que gostava de provocar. Patético! — sibilo maldosamente.

— Não vou ficar escutando ofensas de uma menina mimada como você, eu vou indo. — dizendo isso recolheu o caderno —; onde há alguns minutos atrás anotava a letra da música — e seu violão a tira colo, em seguida deu-me as costas. Levantei-me no momento seguinte me postando a sua frente impedindo sua passagem.

— O que é agora? — murmura enraivecido.

— Eu não gosto que virem as costas pra mim. — respondo arrogante. Ele se aproximou ficando a centímetros de distância de mim, como nossa diferença de altura era notável, o Álvarez abaixou um pouco a cabeça para me encarar nos olhos.

— É mesmo? Pois eu acho que acabei de fazer isso.

— Você vai se arrepender. — uso meu tom mais ameaçador.

— Eu não tenho medo de você.

— Isso é porque você não me conhece realmente. — declaro, o deixando ciente de com quem ele estava mexendo. Agora era a minha vez de deixá-lo ali plantado, me virei pronta para ir embora, sorria vitoriosa por dentro. Dei apenas dois passos para logo ser pega pelo braço, Simón me trouxe ao seu encontro fazendo que nossos corpos se chocassem instantaneamente.

— Ficou louco ou o quê? Quem pensa que é pra me agarrar dessa forma? — esbravejo irada.

— Você acha que pode tudo garota? — cospe no mesmo tom. — Já estou farto de você!

— Me solta, seu idiota. — bato em seu peito para me livrar do seu aperto.

Estava a ponto de me desvencilhar de seus braços, mas, tudo aconteceu muito rápido. Em fração de segundos, Simón caiu sobre a grama me levando junto, cair por cima dele. Encarei seus olhos chocolates por milésimos de segundos, ele me encarava de volta, e naquela simples troca de olhar vi toda a raiva que sentia por ele de minutos atrás se esvair gradativamente. Estávamos petrificados, estávamos tão próximos, senti sua respiração quente e descompassada bater contra mim, embora eu não estivesse diferente. Meu coração tamborilava contra meu peito, achei que se fosse possível Simón já teria ouvido o som frenético do meu coração. Algo estranho estava acontecendo comigo. Sentimentos novos explodiam como fogos de artifício contra meu peito.

— Eu vou beijar você. — sussurrou docemente.

Afundou sua mão direita nos meus cabelos puxando-me mais para si, simplesmente fora impossível evitar quando os lábios dele tocaram os meus, espalmei minhas mãos em seu peito, enquanto ele com a outra mão livre prendia-me possessivamente pela cintura. Apaguei todos os pensamentos de minha cabeça, me deixando levar por aquela nova sensação. A sensação prazerosa dos lábios de Simón sobre o meu. Porque mesmo que eu já o tivesse beijado antes, ainda sim para mim parecia que era a primeira vez. A forma como nossos lábios se encaixavam perfeitamente, a sutileza de seu toque contra minha pele. Acho que havia chegado ao paraíso.

Depois do que pareceram horas Simón encerrara o beijo. Ele se afastou, me olhando. Seu olhar sobre mim parecia atordoado; na verdade não tinha tanta certeza se era ele que estava, pois eu me sentia atordoada. Ele pigarreou e me soltou totalmente, se afastando e levantando em seguida, segui seu gesto. Não sei porque, mas de repente senti falta de seu corpo.

— Eu... Eu vou embora. — manifestou com a voz rouca. Eu não fiz ou falei nada, apenas fiquei o encarando enquanto ele me dava um último olhar e partia.

“Como se ela não tivesse suportado sentir o que sentira. Desviou subitamente o rosto e olhou uma árvore. Seu coração não bateu no peito, o coração batia oco entre o estômago e os intestinos.”

POV Matteo

Manhã Seguinte Blake South College

— Por que você não gosta? A cena que eu escolhi é a melhor de todas. — contesto Luna. Ela estava irredutível quanto a aceitar. Éramos dupla na aula de teatro, o exercício era interpretar uma cena, mas, estava difícil entrar em um consenso com Luna, ela realmente não havia gostado da qual lhe mostrei.

— Porque nessa cena só você fala. — responde mal humorada.

— E qual é o problema? — sorrio fazendo o gesto com a mão. — Mas, qual você gostaria?

— Eu escolhi uma, mas, não trouxe meus textos.

— Oh, que pena, hoje não é seu dia de sorte. — finjo desapontamento. — Então continua participando.

— E você continua sonhado que vamos fazer essa cena juntos. — retruca brava.

— E aí meninos, já escolheram a cena que vão representar? — questiona o professor chamando nossa atenção para si.

— Sim.

— Não. — contradiz a Valente no segundo seguinte. Me fuzilava com o olhar e exibia uma carranca. Confesso que adorava irritá-la.

— Bom, se não escolheram eu vou decidir, tá? Vamos ver. — se pronúncia o homem a nossa frente enquanto mexe em alguns papéis que há em suas mãos. — Toma. — estende um dos papéis para mim e outro para a Luna. — E lembrem-se: Semana que vem é a última aula, então tem que estar com a cena preparada. — assentimos e logo ele já não estava mais lá. Virei a cabeça em direção a Luna, após ler a cena que encenaríamos, com o maior sorriso da história.

— Pronta pra se apaixonar, Julieta? — brinco. Ela me lança um olhar confuso, então olha automaticamente para o papel que estar na sua mão.

— Romeu e Julieta? Não, não, não pode ser.

— Não é tão ruim assim, né Menina Delivery? Nós temos que ensaiar a cena.

— Ah não, não sei. Por que ensaiar logo?

— Eu quero fazer um bom papel na aula de teatro e também quero que você o faça, tudo bem?

Mais tarde na praça

— Oh Romeu, Romeu, quem o trouxe aqui? — recitava Luna em cima do banco, enquanto eu me matinha apenas com a perna direita em cima do banco, só para apoiar.

— Meus pés. — gracejo.

— Não. Como assim os pés? O amor, você tem que falar o amor.

— Olha só, tá vendo? Você queria se apaixonar por mim Menina Delivery. — ela rir irônica.

— Não, não, eu não, a Julieta está apaixonada por você. E a única coisa que eu quero é que você siga o texto que escolhemos, tá ok?

— Tá, tá bom. — dou de ombros, seguindo o roteiro. — O amor me disse onde você vive, ele me aconselhou e guiou meus olhos até este banco. — aponto para o banco em que Luna estar.

— Balcão. — corrige revirando os olhos.

— É um banco. — contradigo.

— Bom. — solta um suspiro derrotado, então prosseguiu: — Se me ama diga isso com sinceridade. De verdade tem que ser sincero. Te amo muito Montecchio, antes que pense que sou fraca serei firme em constante diferença daquelas que são egocêntricas por causa de sua astúcia. Ah, esse texto é bem difícil. — lamentou. Subi no banco quase a derrubando.

— Eu acredito Julieta. Cuidado não caia Menina Delivery.

— Não era pro Romeu subir no balcão. — fala brava.

— O professor disse para fazermos uma apresentação livre. Livre é pra fazer o que der na telha, e eu pensei em subir neste banco. — argumento. — Vamos lá.

— Tá bom. — aceita a contragosto. Seguro suas mãos, sentindo a maciez de sua pele, então recomeço:

— Eu juro minha amada, pelos raios de sol que há nesta praça que... — a partir daí não consegui mais falar. Estar tão perto dela me fazia entrar em outra dimensão. Seu olhar angelical me encarava tão intensamente e profundamente que não era possível raciocinar com coerência. Aproximo-me um pouco mais então ergo minha mão e acaricio seu rosto com suavidade, fazendo um carinho ali. Aproximo meus lábios ficando bem perto dos dela. — Eu quero você Luna... — sussurro. Antes que Luna possa esboçar alguma reação a enlaço pela cintura e a beijo.

Com o susto, Luna segura meus braços, mas, logo ela relaxa e leva os braços em direção ao meu pescoço. Trocamos um beijo calmo e lento. Acho impossível transmitir a sensação que foi sentir e tocar Luna Valente. Ou descrever a plenitude de meu mundo quando nos abraçamos logo que nos separamos do beijo. Ela se afasta e acaricia meu rosto, então seguro sua mão depositando um singelo beijo ali.

— Isso não é certo Mauricinho...

— E o que é certo na vida Menina Delivery? — indago no mesmo instante em que a puxo para mais um beijo.

“Quando se ama não precisa entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós.”

POV Yam

— Vai Jim, me conta, por favor. — peço a ruiva sentada a minha frente que fazia suspense. — O que, que é? É sobre o Open? — sacode a cabeça negando. — Você falou com o Pedro?

— Não.

— Ah, tem passos novos para uma coreografia. — digo animada.

— Ai não Yam.

— Ah, conta pra mim. Eu já sei é sobre a competição, né?

— Não. — sorri.

— Um produtor te encontrou e disse que quer, que você seja a nova estrela de um show de patins. — com certeza essa eu havia acertado, não tinha dúvidas.

— Não Yam. É melhor que isso.

— Melhor que isso? — desacredito.

— É, Nico tá afim de mim, ele disse que gosta de mim.

— Hum, é serio isso? — pergunto e ergo a sobrancelha. — Mas, isso não é novidade Jim! — exclamo o óbvio.

— Mas, você não sabe. — se aproxima um pouco de mim, soltando as próximas palavras. — Nós nos beijamos.

— Vocês se beijaram? — arregalo os olhos.

— Fala baixo Yam.

— Desculpa, isso sim é uma notícia e tanto. — afirmo.

— Eu tenho que ir porque combinei com o Nico de ensaiar, mas, depois eu te conto tudo, tá? Tchau.

Assim que Jim foi embora fiquei no Roller observando o movimento enquanto terminava de tomar meu suco. Alguns minutos depois vi Ramiro se sentar a minha frente, com o olhar triste.

— O que foi? — pergunto.

— É que me dói muito não poder competir. Eu vejo o pessoal se preparando e me dá raiva não poder entrar na pista. Eu me sinto impotente, fracassar nunca foi uma opção pra mim. — desabafa.

— Tudo bem Ramiro. Não é a última competição, você vai ter sua revanche. Na próxima você vai com tudo. — o conforto, tentando lhe passar confiança.

— Mas, não basta ir com tudo sendo otimista, tem que ser diferente, sei lá. Nós temos que treinar muito mais, tem que ser um compromisso dos dois.

— Dos dois?

— Sim, dos dois. Nós temos que patinar juntos, né?

— É, mas, falta muito pra isso. Não sei, pode acontecer muitas coisas até lá.

— Tipo o que?

— Sei lá, talvez você queira patinar com outra garota.

— Não, claro que não. — diz ele com convicção. — Agora que eu te conheço melhor prefiro patinar com você. — lhe lanço um sorriso involuntário. — Até porque não posso patinar com outra garota sendo que estou apaixonado... — acho que agora ele realmente iria se declarar. Arregalo os olhos, tomando um pouco do meu suco e neste exato momento começo a tossir, parecia que o oxigênio havia sumido dos meus pulmões. Ramiro se levantou rapidamente para me socorrer. — Yam, você tá bem? — pergunta ele com preocupação.

— Acho que sim. — me recupero e me recomponho. Isso havia sido constrangedor.

— Tem certeza? — apenas assinto confirmando. — Você tem planos pra hoje?

— Sim, tenho planos, de não fazer nada.

— É sério? Eu tenho um plano muito legal que você vai gostar.

— E o que é?

— Vamos passear, tomar um soverte. — propõe.

— Hum, me deixa pensar. — brinco.

— Yam.

— Tudo bem, tudo bem, mas, vamos logo, que se não eu mudo de ideia. — ele sorri segurando minha mão, então saímos do Roller.

POV Nina

“Está confirmado, a paixão não tem limites, é como um fio invisível que te leva até seus sonhos. Você pode se perder no labirinto, se enganar ou escolher o caminho mais longo, mas esse fio invisível sempre vai te guiar até sua meta.”

Me hipnotiza tu sonrisa
Me desarma tu mirada
Y de mi no queda nada
Me derrito como un hielo al sol

Cantarolo baixinho enquanto leio algumas publicações em meu tablet. Desde que havia cantado esta canção com Gastón ela não saia da minha mente, sempre me pegava a cantarolando pelos cantos, era inevitável. Naquele dia havia me apaixonada um pouco mais por ele se era possível, me perguntava como havia aceitado sua proposta tão rapidamente, mas a resposta era simples — eu simplesmente me sentia segura ao seu lado. Era engraçado como pequenas coisas poderiam ter fazer alcançar a plenitude. Havia até sonhado certa noite que Gastón havia cantado esta mesma canção ao pé do meu ouvido, só lembrar me fez corar.

— Oi. — se joga na cadeira a minha frente. Dei um pulo com o susto, estava divagando que nem o vi chegando.

— Gastón...

— Assustei você? — pergunta.

— Sim, que dizer não, não. Estava tão concentrada que nem vi você chegando.

— Você tá toda corada. No que estava pensando? — “Em você”. Pensei, mas, não emitir verbalmente este pensamento, minha timidez não permitia que eu pronunciasse tal coisa.

— Apenas na aula de fotografia que tivemos na semana passada. — minto.

— Ah. — diz simplesmente.

O observei por um instante, ele me parecia nervoso, batia os dedos na mesa, acho que estava desconfortável. Algo havia mudado só não sabia o que. Será que eu tinha feito alguma coisa errada?

— É Gastón, eu tenho que ir. — pego minha bolsa e tablet rapidamente.

— Não, espera. – segura minha mão com delicadeza, o olho.

— Quero te fazer um convite.

— Um convite? — dou um meio sorriso.

— É, queria que patinasse comigo. — meu sorriso some.

— Gastón, acho que todo o Roller sabe que eu não patino. — respondo.

— Mas, por que você não patina? É tão inteligente, tenho certeza que seria moleza você aprender.

— É que eu tenho um pouco de medo. — falo a verdade. — Você sabia que o medo é a causa de 79% dos acidentes praticando esportes arriscados.

— Uau, você é sempre tão específica assim? Eu posso te ensinar se quiser.

— Não Gastón. Eu não conseguiria me equilibrar em cima dos patins, nem de bicicleta eu sei andar. — descarto medrosa.

— Se você acreditar em você mesma e confiar em mim, posso ser seu guia.

— Eu...

Eu não sabia o que responder, estava com medo de subir num patins e acabar caindo no meio da pista. E como sempre ser o palhaço do Roller, entretanto Gastón estava ali me pedindo para confiar nele, ele seria meu guia. Ele sempre me passava segurança com um simples gesto, sorriso ou olhar. Será que estava pronta para me equilibrar em cima de patins e entrar na pista?

Nina? — chamou.

— Desculpa.

— Vamos fazer assim: Amanhã logo depois que sairmos do Blake vou te esperar na pista, se não aparecer é porque não aceitou minha proposta, mas, se aparecer serei seu coach pessoal. — não falo nada.Mas amanhã ele teria uma resposta.