Inalcanzable

Cuidadosa, Precisa e Moderada


— É um orgulho anunciar pro Jam e Roller, que Luna e Simón vão nos representar na competição internacional entre pistas. — a voz de Tamara, era um sussurro distante para a loira, lembrando-a que sua subestima para com a Valente a tinha traído. — Ámbar e Matteo, serão os reservas.

A sensação de derrota a consumia, a paralisando. Mirou o monitor mais uma vez, para ver se não tinha algo errado, que era apenas uma brincadeira sem graça, no fundo de sua alma tinha uma leve esperança, contudo, foi com se tivesse levado um soco no estômago, a verdade explícita perante seus olhos, as orbes escurecidas pelo fracasso exposto, bem como, a humilhação vinha como um tapa no rosto, divagando em pensamentos. De alguma forma o acontecimento a havia afetado mais do que imaginara. Tudo que ansiava no momento, era chegar em casa e se embrenhar debaixo dos grossos cobertores. Queria esquecer esse dia tão surreal que se iniciara, porém sabia que nunca o esqueceria, não quando a causadora de seu tormento, praticamente frequentava os mesmos lugares que ela, até mesmo dividiam a mesma casa. A rivalidade sempre pairaria entre Ámbar Smith e Luna Valente.

[...]

— Não costuma mais cumprimentar. — Sharon soara repreensora, assim que Ámbar passara pela sala de estar.

— Perdão madrinha, não tive um bom dia. — deu meia volta se aproximando.

— O que aconteceu? Desta vez não conseguiu tirar dez?

— A Luna ganhou a competição de patins. — sentou-se. — E foi tudo culpa minha, pensei que ela fosse incapaz, eu a subestimei.

— E vai deixar isso acontecer? — questiona severa.

— Já aconteceu. — responde com o olhar perdido. — O que mais posso fazer?

— Corrigir isso, em vez de se vitimizar. — diz ríspida. — Olha esse bonsai. — mudou o tom de voz bruscamente. Tocou a pequena árvore, que estava num vaso em cima da mesa. — Embora não pareça, é uma árvore. Sabe por que ele não cresce? — pergunta retórica. — Porque eu não deixo. É uma árvore feita sob medida pelo homem, só tem que saber guiá-la para ela não crescer. Se for inteligente e estratégica, vai poder modelar tudo do seu jeito. Fique com ele. — apontou para o bonsai. — Espero que você saiba levá-lo aonde quiser, você tem que encontrar o limite certo. — aconselhou acrescentando. — Recomendo ser: Cuidadosa, precisa e moderada. Com essas árvores, jamais se pode perder o controle, hum? Se você não controlá-lo, eles podem crescer a alturas inesperadas. — adiciona. — Eu vou deitar, tanta explicação me deu enxaqueca. — massageou as têmporas se retirando. Ámbar lentamente se aproximou da mesinha de centro, se ajoelhando perante a árvore, pegou a tesoura de poda para bonsai, cortando uma das pequenas folhas, um pensamento nublava sua mente: Ainda estava no jogo.

[...]

Ámbar observava Luna junto aos pais, um misto de raiva e infelicidade a atingia, embora estes sentimentos fossem algo furtivo, não alcançava realmente seu rosto, que denotava indiferença.

— Senhorita Ámbar, como vai? — a primeira a notá-la ali fora Monica, que lhe sorriu docemente, a loira teve vontade de revirar os olhos, mas não o fizera. — Estávamos vendo seu vídeo, meus parabéns. — assentiu.

— Pois é, eu tenho que dizer que foi uma grande atuação. — Miguel elogiou. — Você também vai pra final?

— Vou. — confirma, uma pausa. — Como reserva. — acrescenta azeda, Miguel a olhou sem graça. — Só queria dar os parabéns para a vencedora, a Luna teve uma atuação memorável. Eu nunca vou esquecer esse dia. — soltou no ar, como uma promessa. Soou a campainha no ambiente.

— Ah, eu vou abrir. — apressou-se a mulher, mas antes que saísse, Luna a chamou.

— Escuta mãe, você tá com meus documentos? É que eu tenho que levar pra Tamara, se não eu não posso ir pra competição.

— Tá, mas onde deixo? Não vai perder, hein?

— Não, não, deixa no meu criado-mudo, onde fica o porta-joias. Nele é impossível perder.

— Tá bom, então eu vou lá. — saiu em seguida.

— Obrigada mãe.

— Eu acho que vou acompanhar sua mãe, a gente se vê. — comenta Miguel à filha. Passou por Ámbar, que ainda estava na cozinha absorvendo toda a conversa dos Valente. — Com licença. — Luna esperou que o pai desaparecesse de seu campo de visão, então com um leve suspirou virou pronta para sair, se não fosse pela voz de Ámbar que a fizera parar de imediato, virou o corpo.

— Não, espera, não saia. — pediu a mais velha, em um ímpeto a abraçando. — Me perdoa Luna, por favor.

— Mas, por quê? — franziu o cenho, soltando-se.

— Por não te considerar minha rival, agora te vejo de outra maneira, e te respeito. — fixou seu olhar nos olhos da castanha. — Eu confesso que adoraria estar no seu lugar, e ser a vencedora, mas aceito essa derrota. — deveria demonstrar sinceridade para com Luna. “Ganhar a confiança da Luna”.

— Não, não, mas vocês também foram incríveis, vocês também poderiam ganhar.

— Mas hoje você foi a vencedora, e merecia, você melhorou muito na pista. — admitiu com certo desgosto. — Eu sei que você vai achar estranho o que vou dizer, mas acho que está começando uma nova etapa entre nós. Eu adoraria te ajudar em todos os treinamentos para a final, e no que precisar eu vou ajudar, tá? Porque mesmo você sendo a titular, somos uma equipe. — falou com entusiasmo, Luna concordou.

— É claro.

— E nas equipes não podem ter fissuras, quero que fiquemos mais unidas do que nunca, e que não haja rancores, então vamos começar de novo. — estendeu a mão direita, a mais jovem pegou prontamente.

— É, tudo bem.

— Te desejo o melhor Luna, de verdade.

— Obrigada Ámbar. — abraço-a. A loira deixou um sorriso maldoso atingir sua face “O plano já estava formado”.

[...]

Simón ficara acordado por praticamente a noite toda, sentia uma felicidade enorme por ter ganhando junto a sua Luna a competição, vê-la feliz o alegrava de uma forma inexplicável, porém não era exatamente isso que o fizera perder uma pela noite de sono. Ainda recordava das palavras feias que dissera a Ámbar, antes de entrar na pista, achava-se um idiota, ofendeu-a. Nunca agia deste modo, entretanto com a loira era tudo diferente. Deveria lhe pedir desculpas, mesmo que não o agradasse em nada o fazer. Depois de um breve ensaio com os garotos da Roller Band, Simón saiu para patinar, gostava da sensação que a patinação o proporcionava, cantarolava a canção — que estava quase completa — que escrevera para a amiga. Passou pela praça, parando bruscamente em um ponto do mesmo, onde se podia ver ao longe, Luna e Matteo, pareciam tão íntimos. O sangue ferveu e o rosto se tornara vermelho de raiva, a simples possibilidade de estarem juntos o enfurecia. Se eles estivessem tendo algo... Afastou tal pensamento no mesmo instante, sua amiga jamais faria isso, com certeza ela o diria, eram melhores amigos afinal. Desapontado e magoado pela cena presenciada, deu meia volta, sentia-se fraco, não suportava ver o Balsano tão próximo de sua Luna. Vagou sem rumo, deixando que o vento que soprava de encontro a seu rosto, o relaxasse, e que a crescente dor que se acumulava em seu peito se dissipasse. Parou minutos depois, sentando em um banco, sua mente deixou-se vagar.

— Luna, uma das coisas que eu mais gosto em você é a sinceridade, eu quero que me fale a verdade, gosta do Matteo?

— Simón, não quero te perder. — disse com tristeza.

— Luna, eu deixei meu país, o meu trabalho, a minha vida, pra ficar perto de você. Você não percebe? Por mais que eu queira, eu não vou me afastar de você. — era quase uma confissão de seus sentimentos.

[...]

Luna insistentemente ligava para Simón, o celular do mesmo só dava fora de área, o que a deixava extremamente estressada. Ele deveria estar no Roller, logo o ensaio começaria e sua presença era de total importância. Tentou mais algumas vezes, com mensagens variadas, talvez ele tivesse tido algum imprevisto. Guardou seu aparelho na mochila, no mesmo instante em que Tamara apareceu acompanhada de Ámbar e Matteo.

— Luna, e o Simón? — perguntou a mais velha notando a ausência de Álvarez.

— Eu também tô me perguntando isso, e o Simón? — exasperou-se, porém, mudou rapidamente de tom. — Ah, perdão Tamara. — desculpou-se. — Com certeza ele deve tá ocupado, mas ele já tá vindo.

— Bom, eu não tenho muito tempo, e gostaria que todos vissem a coreografia de vocês. As duplas tem que saber perfeitamente. — avisou.

— Eu sei Tamara, mas é que não tivemos tempo para deixá-la completa. — justificou. — Olha, a gente tem alguns passos, mas eu prometo que ela vai ficar pronta.

— Tá bom. — assentiu.

— Com certeza ela vai ficar ótima. Confiamos na sua capacidade e criatividade. — manifestou-se Ámbar pela primeira vez.

— Vamos lá, depois o Simón se vira. — soou a voz de Matteo friamente. Luna suspirou resignada.

— É, eu acho que isso é justo, depois eu explico os passos para ele.

— Eu também posso explicar os passos, não tem nenhum problema. — se prontificou a loira.

— Bom, então mostra alguns passos que vocês já criaram, vai lá. — apontou a mulher para a pista, Luna balançou a cabeça em afirmativa.

— Cinco, seis, sete, oito. — começou a castanha com os movimentos de pernas.— Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito.

— Muito bom esse. — elogiou a gerente. — E se você fizer uma vez e na próxima mudar de direção? — sugeriu.

— Boa.

— Que bom, se continuar assim, a competição é sua. — salientou Ámbar, a jovem sorriu. Matteo se aproximou da loira discretamente, sussurrou para que só ela ouvisse.

— Eu te conheço. Tá tramando o que? — olho-o ofendida.

— Tramando? — fez um pequeno movimento com a cabeça. — Como pensou isso de mim, Matteo? Nós só somos uma equipe juntos, se a Luna e o Simón ganharem, ganhamos também. — ainda desconfiava das verdadeiras intenções da ex-namorada, a conhecia o suficiente, mas não falara nada, desviu o olhar para a pista.

— Bom garotos, eu quero que levem em conta os elementos pedidos pelos jurados. Eles são muito importantes.

— Sim Tamara, eu prometo que vamos preparar a melhor coreografia. — afirma a Valente.

— Tudo bem. Outra coisa importantíssima, amanhã eu preciso das autorizações assinadas, e os documentos para poderem se apresentar na competição.

Okay. — todos assentiram.

POV Matteo

Manhã seguinte Blake South Colege

— Bom, hoje é nosso último dia de aula, e todos tem que se apresentar, hein? Vamos ver quem não foi ainda. — comenta o professor de teatro. Em pensar que só havia entrando naquela aula apenas para ficar mais perto de Luna. — Romeu e Julieta, venham cá, por favor. — chamou. O obedeci de imediato, Luna me acompanhou, nos postamos no centro. Em seguida começou:

— Quem o trouxe até aqui?

— O amor me disse onde você vivia. Ele me aconselhou, e guiou meus olhos até este banco. — dou inicio a minha fala, esperando a próxima da Valente, que permaneceu calada. Parecia ter esquecido, então a repetir com mais firmeza. — Ele me aconselhou, e guiou meus olhos até este banco.

— Se me ama, diga isso com sinceridade, é melhor você ser sincero. — piscou.

— Está me chamando de mentiroso, Julieta? — dramatizei.

— Jamais. — imitou-me, pondo à costa da mão direita sobre a testa. — Mas, mas às vezes eu tenho medo que seja apenas um sonho.

— É que você vive nas nuvens, porque nem lembra que essa frase era minha. — saliento, rindo de sua cara.

— Perdão Romeu, meu querido Romeu, é que eu tô muito confusa.

— Confusa comigo? — deixo escapar, tendo em vista que tinha saído do personagem, para mim já não era mais Romeu e Julieta ali.

— Com você? O que tá dizendo? — a confusão era nítida em seus olhos esmeraldinos. Bem, eu poderia tirar algum proveito da situação, até porque se não o fizesse, não me chamaria Matteo Balsano.

— É, dá pra ver na sua cara. — afirmo me aproximando, nossos narizes quase se tocando, e todo aquele magnetismo que me impulsionava a querer colar meus lábios juntos aos seus, estava fazendo com que algo se explodisse dentro de meu peito.

— O que isso Mauricinho. — cortou, empurrando-me e dando dois passos para trás. Até parecia que nunca tínhamos nos beijado antes. Escondo minha decepção, frustração de não conseguir beijá-la.

— Perdão, eu quis por um pouco de realismo na cena. — justifico, mas pelo jeito ela não acreditou.

— Não precisa ser tão realista. — enfatiza, e vira o rosto emburrada. Ouço alguns de nossos colegas rirem.

— O que foi? Nunca vi uma Julieta assim tão nervosa. — alfineto.

— E eu nunca tinha visto um Romeu tão convencido. — retruca.

— É que eu sou único. — brinco, deixando-a vermelha.

— É, eu não imagino nesse mundo existirem dois de você, é sério, que dor de cabeça. — e ali deu por encerrada nossa apresentação.

POV Nina

Organizava minhas coisas para a aula de fotografia, além de mim, que sempre chegava antes do que a maioria dos outros estudantes, estava Gastón na sala, que mexia em seu celular concentrado, até levantar o rosto e me perceber, chamou-me com um aceno de mão.

— Nina, vem cá. Leu isso? — aproximei-me dele franzindo o cenho. — “O talento é ação, é a capacidade incansável de enfrentar os problemas, para nos superarmos. Fique em movimento, não deixe que nada detenha seus passos”. Isso é incrível! — exclamou com devoção. — Você tinha lido? É o último poste da Felicity.

— É, você gostou?

— Sim, é claro, eu adorei.

— É mesmo? — analiso, com uma alegria contida.

— É, a Felicity For Now é um gênio. Não sei como ela faz, mas tudo que ela posta vira poesia. — o vívido de seus olhos demonstrava a grande admiração que ele sentia. — As palavras dela são lindas, eu adoro. Ela é demais. — acrescentou. Abaixei o olhar por breves instantes, não queria que ele visse a pequena tristeza que se punha em meus olhos, um estalo de realidade tinha apitado em meu subconsciente. Eu não era páreo para Felicity, não quando minha personagem parecia bem mais atrativa do que eu própria.

— Você trouxe a foto que o professor pediu? — digo, deixando de lado a ídola, vulgo eu Nina, do cara que sou apaixonada.

— Ah, é claro. — abriu o caderno, e tirou de lá a foto, logo me mostrando.

— Mas sou eu. — meio gaguejei, meio falei. — O professor disse para trazermos nossa melhor foto. — ressalto, incrédula.

— Minha melhor foto é a sua. — justifica. Minhas bochechas tornam-se rubras, soltei um pequeno sorriso, encabulada. — Ou, a melhor foto que eu tirei é essa, é a sua. — fico encantada.

“E quando te vejo, até meus olhos sorriem.”

POV Simón

Não conseguia me concentrar no treino, várias coisas passavam pela cabeça, deixando-me em um conflito interno. Depois de mais uma vez ensaiarmos a coreografia me afastei de Luna passando as mãos pelos cabelos numa clara forma de confusão, irritação.

— Simón, o que foi? Você tá bem? — chamou ao se aproximar. — Parece meio distraído. Simón, eu tô preocupada com você. Porque ontem você não atendeu minhas ligações, não viu as mensagens, e hoje eu te vi discutindo com o Matteo, o que houve? — listou. A menção ao nome de Matteo fizera que o sangue fervesse em minhas veias.

— Luna, podemos parar de falar desse cara, por favor? — creio que as palavras saíram rudes.

— O que foi? Tá com algum problema com ele? — insistiu.

— Nenhum problema, mas se eu tivesse, te incomodaria? Me fala, tá? Eu não me importo. — minto, pois eu me importava demasiado, a ponto de sentir-me quebrado com tal situação.

— Olha Simón, eu não me incomodo. Eu tô preocupada com você.

— Mas Luna, isso... — travei, não tendo coragem de externar o que realmente queria. — Isso é difícil de explicar. — opto por dizer. — Não tem explicação, então vamos treinar, isso já vai passar.

— Não, sou sua melhor amiga. — replica. — Você pode me contar tudo, porque eu sempre te conto tudo.

— Mas não tem nada pra contar... — minha voz morre no meio da frase, engoli a seco. Uma lembrança se impregnando em minha mente: “Deixo que a mão adentrasse os cabelos macios, puxando-a de encontro ao meu peito, fora impossível desviar a atenção de seus lábios tão convidativos. Suas delicadas mãos se agarravam a mim, e a minha livre a segurava pela cintura com possessão. Qualquer pensamento foi extraído da mente, me puxando para a deliciosa sensação de estar saboreando os lábios perfeitamente desenhados. Um beijo, calmo, e lento, capaz de fazer cada átomo de seu corpo entrar em combustão, ao mesmo tempo em que uma leveza sobrenatural se apossava de seu ser. Os pequenos toques em sua pele de porcelana me fazia pensar estar tocando as nuvens, seu cheiro, embriagando-me. Já não existia mais nada, era apenas Ámbar e eu...” Sacudi a cabeça desnorteado, droga. O fato era: Como podia cobrar algo de Luna, sendo que eu próprio escondia coisas dela “O beijo com Ámbar” há coisas que devem ser mantidas em segredo. — Dessa vez. — adiciono depois de um tempo.

— Será mesmo? — analisou-me. — Não mente para mim, eu te conheço perfeitamente, e sei quando você não quer falar uma coisa. Sempre faz essa cara que tá fazendo. — apontou, começando a ri. Não acompanhei seu lindo sorriso, pois o momento não permitia.

— Luna, nós viemos aqui para treinar ou conversar? — pergunto. — Podemos fazer as duas coisas. Você sabe que sou uma garota multifuncional. — faz uma pose brincalhona.

— Mas eu quero treinar, nada mais. — digo seco, me afastando. Precisava por em ordem minha mente, que no momento estava numa só confusão.

[...]

Assim que desliguei o celular, me despedi de Nico e Pedro seguindo até a mansão Benson, Luna precisava da minha ajuda, o problema era, tinha perdido os documentos. Parei na porta do quarto.

— Posso entrar? — pergunto.

— Pode. — confirma, sem tirar o olho do que fazia. O quarto estava uma bagunça.

— Alguém andou arrumando o quarto, né?

— Simón, meus documentos sumiram. — suspira.

— Olha Luna, ele não tem pés. Nós temos que achar. — adentro o cômodo.

— Eu sei que ele não tem pés. — fala exasperada. — Eu deixei nessa gaveta. — gesticula. — Eu procurei na casa toda, até procurei no quarto da Ámbar, acredita? E olha que eu nunca entro no quarto dela.

— Bom, não se preocupa, nós vamos achar. — a conforto.

— Meus pais ligaram para a embaixada, pra ver se a gente pode fazer documentos novos.

— Olha aí, isso é muito legal. Viu como tudo tem uma solução?

— Simón, faltam menos de vinte e quatro horas para a competição.

— Então temos menos de vinte e quatro horas para encontrarmos esses documentos. — me aproximo. — Luna, não desiste, é aqui que começa o seu sonho, né? — tento animá-la. — Onde tá a Luna invencível que eu conheço?

— Simón, isso não depende mais de mim. Eu já fiz tudo que pude.

— Bom, eu vou te ajudar, mas primeiro eu vou te ajudar a sorrir. Porque sorrindo tudo é mais legal. — me sento a sua frente na cama, com o violão a tira colo. — Tá pronta? — ela confirma, e toco os primeiros acordes.

Simón: Estoy cerca de alcanzar mi cielo
desafiando la gravedad
nada puede detener este sueño
que es tan real

Luna: Sé que no existe el miedo, oh
si no dejo de intentar
la emoción que me mueve
es la fuerza de un huracán

Simón e Luna: Esto que hay en mi interior
es mágico por que todo puede suceder
y si caigo vuelvo voy yo voy
y vuelvo y voy

Y si no hay vuelta atrás
hay que arriesgarlo todo
bajo mis pies no hay gravedad
sólo hay alas

Nunca hay que dudar
no está prohibido nada
cuando un sueño es real
sólo hay alas

Não encontramos o documento perdido mesmo que tivéssemos revirado o quarto todo, cada mínimo lugar no pequeno espaço, ainda sim, sem sucesso na busca. Despedir-me de Luna, pois já estava ficando tarde, com uma certeza: Se até na hora da partida para a competição Luna não tivesse com os documentos em mãos, não iria. Jamais participaria sem minha amiga, sendo que aquela competição era o sonho da mesma. Atravessei à cozinha, que dava acesso à saída da mansão, só não contava em vê-la lá, com um copo de água em mãos, nunca a tinha visto naquele cômodo. O ar me faltou aos pulmões por um segundo. Eu poderia simplesmente ignorá-la, contudo tinha algo pendente para com a loira, precisava me desculpar, depois eu poderia seguir normalmente minha vida, pois o simples fato de ter sido grosseiro com ela estava fazendo sentindo-me doente. Só tinha um problema, como começar?

— Ámbar? — chamei, assim que ela fez menção de se retirar. — É, eu... — cocei a nuca, as palavras entaladas na garganta.

— Pode dizer Simón. — soou tão docemente, pisquei os olhos embasbacado.

— O que eu te disse no outro dia, bem, não foi minha intenção te ofender, sério, me desculpa. — peço.

— Tudo bem, eu te desculpo, Simón. — aceitou naturalmente, ela transparecia sinceridade o que me intrigou. — E quero te dar meus parabéns, pela competição. — franzi o cenho, parecia tão diferente.

— Obrigado. Você tá bem? — deixo escapar.

— Ótima. — joga os cabelos loiros levemente cacheados para trás. — Então, o que faz aqui?

— Ah, eu vim ajudar a Luna. — respondo, ainda não acreditando que estava tendo uma conversa civilizada com Ámbar.

— A busca por seus documentos perdidos, certo? Eu soube, não sabe como estou triste pela Luninha, porque você sabe que sem esses documentos, ela não pode ir para a competição, e...

— Mas ela vai encontrá-los a tempo. — afirmo a cortando.

— Claro que vai. — sorriu de canto.

— Bom, eu vou indo. Boa noite senhorita Ámbar. — faço um gesto com a cabeça.

— Boa noite Simón.

“O amor não é aquilo que queremos sentir, mas sim o que sentimos sem querer.”

POV Ámbar

Mais um plano fracassado. Minha madrinha poderia ter me ajudado, mas pelo que parecia, estava mais inclinada a me dá uma lição — entregando os malditos documentos para a Valente. O empregadinho, bajulador do Rey havia me dedurado, cretino! O deixaria de lado por hora, porque meu real problema no momento era Luna. Não desistiria tão fácil de ser a titular, o que era meu lugar por direito. Se o primeiro plano falhara, o próximo sairia sem erros. “Não importa o que faça para conseguir o que quer, o importante é conseguir”.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.