Inalcanzable

A Dupla Perfeita Não Existe Mais


"Eu nunca quis alguém, mais do que quero você."

POV Nina

— Essas palavras nós vamos falar para nossa filhinha, Nina Simonetti. Filhinha, a mamãe e o papai dedicam essa música para você. Te amamos.

Sentia que todos a minha volta estavam rindo de mim, logo que meus pais começaram a cantar. Como eles puderam fazer isso comigo? Neste momento queria ser um avestruz, como se não bastasse eu ser a excluída agora seria o palhaço do Roller. Se eles queriam que eu fosse ridicularizada publicamente conseguiram o feito. Rapidamente recolhi meus pertences saindo dali, não poderia mais ficar lá presenciando aquela cena, a vergonha era tamanha que sentia todo meu rosto vermelho. Queria ficar sozinha e esquecer à tarde em que paguei o maior mico da minha vida. Enquanto as apresentações rolavam no Open, fiquei encolhida perto dos armários tentando entender o que havia dado em meus pais para fazer tal coisa sem ao menos me informar sobre. Minhas chances de autoestima estavam extintas a partir do momento em que eles pisaram naquele palco.

— Eu achei a Nina. — me assustei ao ouvir sua voz. — Não se assusta, eu não sou tão feio assim. — não o respondi. — Que foi, você tá bem?

— Tô, eu tô bem, obrigada. — por mais que Gastón fosse alguém a qual eu gostasse de conversar, no momento não estava afim de falar com ele e nem com ninguém, por isso me ajeitei pronta para ir embora. Ficar sozinha era a solução para por minhas ideias em ordem.

— Peraí, é pelo Extreme Singers que você tá assim? — perguntou ele me parando. Que vergonhoso, ele também havia visto.

— Você também viu. — não era uma pergunta, mas sim uma afirmação.

— É, todo mundo viu, mas, não é pra tanto.

— Não? — questiono.

— Não.

— Tá comprovado cientificamente que por culpa dos pais 40% dos filhos tem problemas de autoestima, e isso no meu caso tá elevado à décima potência. — talvez alguma estatística o fizesse mudar de ideia.

— Uau, que específico, mas, não se preocupa. Matemática não é tudo na vida.

— Não. — discordo. — Eu acho que é. Pra mim os números nunca mentem. Se eles fossem bons. você não estaria rindo. — afirmo.

— Eu não tô rindo dos seus pais, eu tô rindo de você. — replica.

— Todo mundo tá rindo de mim hoje e pro resto da vida. – expresso com desgosto.

— Para de fazer drama, chega! — exclama com repreensão. — Tô rindo porque você é engraçada, é simpática.

— Eu sei, eu sou o palhaço do Roller. — continuo meu martírio. — Eu vou ter que sair com uma máscara ou uma capa de invisibilidade pra ninguém me reconhecer. Eu vou sair e todos vão me reconhecer como a filha dos cantores patéticos.

— É, isso é verdade. — concorda, o que me chocou.

— Como?

— Não, é mentira. Eu tô brincando pra você relaxar um pouco. — lançou um sorriso genuíno, fora impossível não o retribuí-lo.

Gastón era encantador, não só por sua beleza, mas também pela forma que com palavras suaves, gestos acolhedores e sorrisos gentis conseguia deixar tudo mais leve.

— Quer que eu te conte uma história? — assenti, então ele prosseguiu: — Uma vez eu tava viajando de avião com minha família e era meu aniversário. De repente apareceram as comissárias com um bolo enorme. — fez um gesto com a mão, não pude deixar de rir. — E todo, todo o avião começou a cantar parabéns pra mim. Você não sabe a vergonha que me deu.

— Eu imagino, eu tô acostumada a ter esse sentimento.

— É que não tem jeito a não ser aceitar nossos pais, são todos iguais. Então, se alguma vez se sentir mal assim ou sei lá, lembre-se do pior aniversário da minha vida, talvez você sorria.

— Obrigada. — agradeço, lhe sorrindo com gentileza.

— De nada. — respondeu-me.

POV Yam

— Ai, eu tô tão feliz. Foi bem legal, né? Quem diria. — solto com satisfação a Ramiro. Havia sido muito legal nossa apresentação no Open. Jim, Ramiro e eu éramos um ótimo trio.

— Eu sempre soube. — comenta.

— Ah bom, não parecia. — retruco.

— Eu sempre disse que comigo não iam errar.

— Bom, nós duas fizemos nossa parte, né?

— É claro, eu ia falar isso. É que nós dois, quer dizer, nós três fomos muito bem.

— Que bom que você reconhece, porque você lembra que não queria cantar com a gente? Quer dizer, comigo.

— Não, isso foi antes, hoje você foi impressionante. Eu adorei a parte que você cantou, dançou, seus movimentos, o que você transmite, dar pra ver que o palco é o seu lugar. Você é muito talentosa.

Fiquei impressionada com tantos elogios vindo do Ramiro. Ele é tão egocêntrico e seu ego tão inflado que obviamente me causou estranhamento ele admitir que eu tivesse talento.

— É sério isso que você acha?

— Sim. — afirma sorridente. — Então, aonde você vai? O que vai fazer?

— Eu vou pra minha casa. — respondo.

— Como pra sua casa? Não, impossível, temos que comemorar. — discorda. — Depois de uma apresentação dessa, temos que comemorar, óbvio.

— Deixa então eu avisar a Jim.

— Não, deixa isso. Vamos só nós dois, dá na mesma.

— Nós dois sozinhos?

— É claro, o que tem?

— É que somos uma equipe, então temos que comemorar como uma equipe, e a Jim é parte fundamental disso. — argumento.

— É que com a Jim podemos ir outro dia, agora vamos só nós dois, anda vem.

POV Simón

— Você não olha por onde anda não? Já é a segunda vez só essa semana que você tromba comigo. Está me seguindo? — escuto Ámbar dizer grosseiramente após trombar comigo.

— Se você ainda não percebeu, todas as vezes que nos esbarramos, foi você que trombou comigo. — a respondo.

Não estava afim de ter uma discussão com a loira irritante que só servia pra atazanar a vida da Luna.Luna. Vê-la naquele palco cantando com o idiota do Matteo me irritou profundamente. Qual era a daquele cara?O que deu nele pra tá daquele jeito com a Luna? Ele tinha namorada, afinal de contas, entretanto estava lá com ela, tão conectados e entretidos entre si, odiava vê-los tão próximos. Cerrei minhas mãos, minha vontade era de socar a cara de Matteo Balsano. Nico a pouco havia me dito que era apenas uma música, que era diversão e que eu deveria relaxar. Mas como? Se a garota por quem sou completamente apaixonado está lá naquele palco com outro, e justo com ele, Matteo, o cara mais arrogante que já conheci. Estava com ciúmes, raiva, e isso era notável em minhas feições.

Escutei a última frase da música ser cantada. Ver Luna o olhando daquela forma fez um nó subir pela minha garganta. Poderia Luna estar apaixonada por Matteo? Não claro que não, afinal ela nunca demonstrou interesse nele, exceto no dia que vimos ele e a Ámbar ensaiando, mas, ela mesma havia confirmado-me que não havia qualquer possibilidade de existir algo entre eles, eram incompatíveis.

Estava confuso e com raiva, até sentir mãos macias me puxarem pelo pescoço e prensar seus lábios aos meus. Meus olhos se arregalaram pelo ato inesperado, e arregalaram-se mais ainda ao descobrir a dona dos lábios grudados aos meus. Ámbar. Estava estático, parecia que todo meu corpo havia sido travado. Senti a loira mover seus lábios sobre os meus me incentivando a aprofundar o beijo, ainda meio confuso pelo o que estava acontecendo, cedi, fechei meus olhos lentamente me deixando levar pelo momento. Rodei sua cintura e com a outra mão meus dedos acariciaram seus cachos. Não sei o que me deu para me entregar tão rapidamente a um beijo, me esquecendo de tudo e todos que estavam a nossa volta, adorei a sensação de tê-la próxima a mim.

Simón. — sussurra ela, assim que nos separamos. Ainda estava embriagado pelo doce sabor de seu beijo.

— Eu posso saber que tá acontecendo aqui?

Abri os olhos ante o grunhido e empurrão que recebi, então a realidade me atingiu como um soco no estômago. Ámbar havia me beijado, e sem me importar retribuir. Luna me olhava pedindo explicações, já Matteo me olhava indignado, com a certeza estava com pensamentos hostis a meu respeito, ele sem dúvidas estava prestes a pular no meu pescoço.

— Então guitarrista, me responde, o que te deu pra ter beijado a minha namorada?

— Se quer saber foi ela que me beijou.

— Ah conta outra, a Ámbar não se rebaixaria tanto. — diz arrogante como sempre. Agora era eu que estava quase pulando no pescoço desse imbecil, estava prestes a respondê-lo quando a voz de Ámbar me surpreende.

— Pois é Matteo, por incrível que pareça Simón está falando a verdade, eu o beijei.

— Como é que é?

— Acho que não preciso repetir, não é mesmo? — comenta cínica. — E quer saber de uma coisa? O guitarrista meia tigela beija mil vezes melhor que você! — solta venenosa por fim.

Deu as costas, saiu do Roller batendo o pé. Matteo me lançou um olhar mortal, passou por mim esbarrando propositalmente em meu ombro. Sacudi a cabeça o vendo desaparecer, então meu olhar parou em Luna que me encarava estranhamente.

— Simón, você gosta da Ámbar?

POV Ámbar

— Pois é Matteo, por incrível que pareça Simón está falando a verdade, eu o beijei.

— Como é que é?

— Acho que não preciso repetir, não é mesmo? — comento com cinismo. — E quer saber de uma coisa? O guitarrista meia tigela beija mil vezes melhor que você! — repondo maldosa para ele.

Queria ferir seu ego e acho que consegui atingir meu alvo, dei as costas a todos que estavam ali, sai a passadas duras do Roller. Procurava por um táxi, pois o incompetente do Tino — o chofer — não atendia minhas ligações, fiquei a espera de algum disponível, porém, parecia que hoje não era realmente meu dia.

— Precisamos conversar. — Matteo aparecera na minha frente. Não estava com a menor paciência para ouvi-lo agora, olhar para ele me fazia lembrar a cena patética que era Luna e ele naquele palco cantando minha música.

— Me deixa Matteo, não quero falar com você agora.

— Ah, qual é? Você acha mesmo que pode me trair com aquele guitarrista e pronto? Acho que mereço uma explicação.

— Você não merece nada, e acho que agora estamos quites.

— Do que tá falando?

— Você me traiu com a Luna primeiro. — replico com raiva.

— Não Ámbar, eu não te trair com a Luna, ela e eu apenas cantamos. Eu te falei que ia cantar.

— E tinha que ser com ela, justo com a Luna? Era nossa música Matteo. — exalto indignada.

— Dar pra baixar seu tom de voz? Porque eu não gosto dessas cenas de ciúmes.

— Não é uma cena de ciúmes. — rebato raivosa.

— Não tô nem aí. Acho que era pra eu tá com raiva, não ao contrário, afinal, você me traiu pra todo mundo ver com o amiguinho da Luna. — alega se fazendo de vítima. Ridículo! — Não liga mais pra que todos vão achar da dupla perfeita?

— Não, eu não ligo pra que todos acham, sabe por que? — afirmo. — Porque a dupla perfeita não existe mais, acabou!

— Isso é sério? E a competição? — diz incrédulo.

— Você me substituiu no Open, eu vou substituir você na competição.