InFamous: A Tirania de Rowe

Ases na manga, missões e dúvidas.


Marie caminhava lentamente sob a chuva de Seattle.

A expressão indiferente e a postura altiva eram intimidadoras. Os transeuntes desviavam o olhar ou começavam a fitar os próprios pés em sua presença. Até mesmo a chuva parecia se acovardar, desviando-se da garota ruiva. As poças aos seus pés abriam-se como o mar vermelho.

Marie subiu as escadas para o grande prédio coberto por placas de concreto, mas o grande arranha-céu não possuía nenhuma porta ou entrada aparente. Não importava, todos sabiam como entrar.

Pelo menos, todos os que deviam saber como entrar, sabiam.

Olhou para cima e o um assobio agudo surgiu, crescendo para um ruído desconfortável, logo alcançando uma freqüência dolorosa. A água e os sedimentos ao redor começaram a voar para longe da garota. Marie via as ondas sonoras diminuindo em comprimento conforme o som se tornava mais alto e agudo, chegando a se tornar inaudível.

Subitamente, o som sumiu assim como a ruiva.

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Yasmine encarava a grande mancha de tinta roxa em sua frente com certo receio. Ela esticou a mão que encontrou a parede sólida atrás da tinta.

“Vamos, Yasmine, você consegue”

Ela moveu a mão lentamente e a tinta começou a se revolver, líquida.

A garota respirou fundo e afundou.

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Marie pousou com suavidade no grande salão.

O lugar estava parcialmente destruído; placas de concreto chamuscado cobriam as paredes, o chão estava queimado e irregular, desenhos de neon brilhante e grandes imagens cobriam as placas das paredes, essas imagens estavam crivadas de espadas brilhantes. O centro da sala era tomado por um grande trono, assimétrico, alto e feito de diversos materiais como aço, concreto e gelo. O cômodo era iluminado por vários monitores que mostravam diversos lugares da cidade.

– O que faz aqui? – Perguntou uma voz masculina, aparentemente jovem. – Achei que já tinha ido.

– Não, senhor, ainda não. – Disse de forma mansa. – Só vim me despedir.

Delsin sorriu desdenhoso. – Que gracinha. - Saltou de seu trono e aterrissou na frente da pequena garota. – Estou tocado. – Segurou o queixo da garota com uma mão e fez com que olhasse em seus olhos escuros, beijando sua testa. Marie sempre ficava fascinada e perturbada em olhar os olhos de seu líder; insanos, famintos, frenéticos, fortes, divertidos, caóticos.

Delsin sorriu e acariciou o rosto de Marie. – Você é muito bonita...

– Obrigada. – A resposta veio fraca. – Agora eu tenho que ir...

O sorriso de Rowe se alargou um pouco, mas não chegou aos olhos. - Deixe seu pai orgulhoso.

Marie mordeu o lábio. O assobio agudo surgiu novamente e a garota desapareceu.

Delsin continuou encarando o vazio onde a garota ruiva estava. Cerrou os punhos e olhou para as imagens que cobriam as paredes, sondando-as até encontrar a que procurava. Esta tinha vários metros e estava tomada pelas lâminas.

Uma garota, muito parecida com Marie; usava uma jaqueta muito grande para seu tamanho, pequenos brincos nas orelhas, cabelos de um rosa gritante e um sorriso desafiador no rosto.

Delsin drenou o vídeo de um dos monitores. - Tão parecida com você... - Disparou dezenas lâminas com sede de sangue no rosto da ex-amiga.

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Yasmine chegou ao seu quarto, indo trocar suas roupas cobertas de tinta. Tateou os bolsos e lembrou que não estava com a chave, que a mesma estava com Lee, porém ela não lembrava a razão com clareza. Formou uma pequena esfera de tinta nas mãos e a apertou contra a fechadura, tirando um molde da mesma e depois, solidificando-a.

A garota usou a cópia para abrir a porta e entrou, deixando pegadas coloridas por onde passava

“Hugo vai ficar uma arara com isso” Pensou com certa satisfação maligna. Olhou ao redor esperando encontrar seu amigo desacordado em algum lugar do quarto, mas não o viu. Confusa, achou um bilhete em cima da escrivaninha.

Tive que sair em uma missão urgente, não sei por que e tenho que ir.

Ele provavelmente perderia o mata-mata. Ficou mal pelo amigo, mas logo foi tomada pela curiosidade.

Foi para o chuveiro com a dúvida na cabeça. Missão, seriam os Infames? O último contato que tiveram com eles foi no encontro naquele shopping em Albany.

Sentiu um arrepio e uma onda de náusea com a lembrança, mas conseguiu reprimir a sensação.

Havia acabado de se vestir quando ouviu alguém bater na porta. Calçou os tênis e atendeu a porta.

Quando viu quem era, sentiu a tinta brotando das mãos em reflexo.

Parado ali, com uma expressão séria no rosto, estava Lee.

As memórias afogadas pelo cansaço voltaram, a garota apertou a maçaneta até os nós dos dedos ficarem brancos.

– Yas – Começou. – Só vim dizer que, hum, o Hugo teve de sair em uma emergência.

O fitou. – Eu sei. – Disse fria.

– E temos de achar outro membro para a equipe do mata-mata.

– Parece que sim...

Ele tirou as mãos dos bolsos e se afastou. – Bem, é isso. – Tentou ir embora, mas a garota o impediu, estampando suas impressões digitais no ombro do amigo.

– Lee, você me deve uma explicação. – Intimou.

Ele cravou as unhas nas palmas e engoliu seco. – Eu sei... – Soltou-se dela. – A melhor que posso te dar é essa. – Pegou algo no bolso e colocou na mão dela, aparentemente com pressa para se livrar daquilo, era um colar feito de cobre no formato de duas águias.

Ela olhou com desconfiança para o adorno. – O que raios...

– Não sei, – Cortou. – mas se tem alguém que sabe, é o dono dessa merda. – Aproveitou a distração da jovem e se afastou.

– E quem é o dono?

– Reginald, boa sorte. - Respondeu e acenou de costas.

Yasmine ficou plantada na porta, olhando para o colar. A cabeça ainda mais embaralhada, os pontos de interrogação alfinetando sua mente como anzóis. Sem saber bem o que fazer, passou a corrente pelo pescoço e a escondeu sobre a camisa.