Depois da morte de minha mãe Mary tudo parecia ter perdido a cor, ela era sem dúvida a luz daquela casa, além de ser a melhor pessoa que eu já tinha conhecido. E nada mais fazia sentido, toda a fortuna e reputação da qual eu tinha tanto orgulho, nada disto me importava mais.

Quase todos os dias minha noiva Cecília ia me visitar, mas em nenhum momento se mostrava preocupada comigo, apenas com o nosso casamento, queria marcar logo a data e queria que fosse a maior festa que aquele vilarejo já teve.

Cansado eu apenas assentia e confirmava tudo o que ela falava e com o tempo, passei a evita-la, ficando sempre trancado em meu quarto. Tom, meu filho, também sentia falta de Mary embora o garoto nunca confessasse e ficou feliz de voltar para sua escola de bruxaria, eu nunca iria me acostumar com isto.

Sem Tom, minha mãe, Cecília, Megan ou Pollyanna naquela casa, apenas meu pai Thomas e eu habitávamos aquela enorme mansão, era solitário. Em uma manhã comum como qualquer outra, pedi que a empregada trouxesse meu café no quarto e fiquei ali a ler um romance. Quando a empregada entrou, entregou-me o café, porém não se retirou.

- Uhm, mais alguma coisa? – perguntei arqueando as sobrancelhas e olhando a empregada por cima do livro.

- Senhor Riddle, bem, há uma mulher lá embaixo conversando com o seu pai.

- Uma mulher? Cecília?

- Não, não sua noiva, outra mulher, a que esteve aqui durante o natal.

- Tudo bem, obrigado por avisar, já pode ir.

- Sim senhor. - Ela se retirou e tomado pela curiosidade, fui até o andar debaixo.

Ainda não tinha descido as escadas quando vi de quem se tratava e vê-la inesperadamente deixou-me com um humor melhor. Era ninguém menos que a tia de Pollyanna, Miss Polly Harrington. Ela usava um vestido preto comportado que ia até pouco acima do joelho e os cabelos escuros ondulados.

Dali podia ouvir o que falavam sem que me vissem. Eu gostaria de saber o que ela fazia ali. Polly Harrington conversava com meu pai que havia gostado da bela dama desde o momento que a vira, era tão diferente de sua sobrinha Pollyanna.

- E como ele está Sr. Riddle? – ela perguntou mostrando-se preocupada.

- Por favor, Polly, pode chamar-me de Thomas. Ora você não gostaria de vê-lo, já não se arruma mais e passa os dias trancado dentro do quarto, nem mesmo as visitas de Cecília o animam, por isto pedi que viesse aqui Miss Harrington.

- Mas... Eu? Como eu posso animar seu filho, Thomas?

- Oh não espero que o anime, não mesmo, mas que lhe faça companhia. Vi desde o momento em que passou pela primeira vez por aquela porta Polly, que é uma mulher sensata. Meu filho, tem aceitado coisas sem pensar, já não cuida mais dos negócios.

- Não sei se é uma boa ideia. Como diz sou sensata e fazer companhia a um homem que pouco conheço não é o que eu chamo de prudente e tampouco é meu dever, devia pedir isto a Cecília.

- Eles já marcaram a data do casamento sabia. – anunciou meu pai e o rosto duro e decidido de Polly Harrington adotou uma expressão aborrecida e talvez um pouco decepcionada.

- Lamento, aquela mulher é... Eu já vou Thomas, obrigada pelo convite, mas terei de recusar. – ela se dirigia para a porta, quando achei que era a hora de intervir, não podia deixa-la ir embora.

- Espere! – digo descendo as escadas. – Por que não fica Miss Harrington?

Ela olhou por cima do ombro, com as sobrancelhas arqueadas, levemente surpresa a me ver. Eu não estava um encanto com aquelas roupas largas e o cabelo bagunçado, mas ainda tinha meu charme. Eu estive curioso quanto a ela desde o natal e não perderia a oportunidade de conhece-la melhor, poderíamos ser grandes amigos.

- Poderia me acompanhar em um passeio pelo jardim?

- Ahm... É, tudo bem. – ela disse desconcertada.

Andamos primeiramente em silêncio, a dama parecia sem jeito, ela se sentou no bando frente as roseiras, mas eu continuei em pé e me apoiei no balaústre.

- A que devo esta visita inesperada Miss Polly?

- Thomas me mandou uma carta me pedindo para vir, ele se preocupa com você. Aliás, já andava pesando em passar por aqui mesmo, queria ver como está depois de, bem... A perda de Mary deve ter sido dolorosa.

- E como foi, ela era... A alma dessa casa sabe, eu a amava muito e na verdade não estou muito bem, não tenho vontade de fazer nada.

- Passa o tempo todo no quarto a ler qualquer livro de ficção, imagino.

- Como sabe?

- Também já estive de luto Sr. Riddle...

- Tom, me chame de Tom. – ela apenas sorriu e continuou.

- Muitos lutos. Deve saber que sou a única sobrevivente da família, por isso tenho a guarda de minha sobrinha. A última a morrer foi minha irmã Jennie, mãe de Pollyanna, aquela desnaturada, a filha tem a quem puxar. Jennie podia ter ficado comigo em casa, havia um homem bastante rico e de boa índole querendo desposá-la, mas não, ela tinha que querer um pobre reverendo de uma cidadezinha distante. E foi embora com ele, me deixando para cuidar dos negócios da família.

- Não sabia que ligava para riquezas Miss Harrington. – digo lhe lançando um olhar de reprovação.

- Não ligo, mas daí a fugir com um reverendo, não entendo essas pessoas que fazem loucuras por amor. – ela diz revirando os olhos e acho graça em seu jeito tão prático. – Soube que o senhor já fez isto, com uma mulher que morava aqui perto, a mãe do garoto Tom eu imagino... Desculpe, isso não é da minha conta, talvez seja melhor eu ir.

- Fique, por favor. Miss Harrington...

- Polly, me chame de Polly. – ela diz com ar divertido.

- Polly, sim, eu fugi com ela, o nome era Mérope Gaunt, nunca vou me esquecer daquela mulher.

- A amava muito?

- Nem um pouco. – digo surpreendendo-a e fazendo-a rir, embora tenha ficado confusa, então continuei lhe explicando a história: – Pouco me lembro do tempo em que passei com esta mulher. Deve saber Polly, que sua sobrinha e meu filho são, bem, bruxos. – sussurrei a última palavra.

- Eu sei, isto é... Curioso.

- Curioso? Eu diria assustador, eu fui enfeitiçado. Mérope me deu algo para que eu me apaixonasse por ela e então um dia eu tomei consciência ou ela parou de me dar o que quer que fosse e quando a vi... Me desesperei, ela disse que estava grávida, mas eu não acreditei e fui embora, voltei para casa.

- Você deixou a mulher grávida e sozinha?

- Não me entenda mal, Polly. Ela era uma estranha para mim e dizia que estava grávida, claro que não acreditei, se eu soubesse, não teria a abandonado. Ás vezes acho que é por isso que Tom é assim tão fechado.

- Não se preocupe Tom, isto é passado e seu filho, ele vai se tornar uma pessoa melhor convivendo tanto com Pollyanna, eu mesma me tornei uma pessoa melhor com aquela menina impossível.

- Eu espero que sim. – digo me sentando ao seu lado. – E quanto a você, Polly? Eu digo, desculpe me intrometer, mas uma bela dama como você deve ter muitos pretendentes, imagino, já foi casada?

- Nunca. – ela diz incomodada, o que me faz pensar que ultrapassei os limites. – Nunca me casei, não tenho sorte para o amor Tom, então me afastei dele. Não tenho um homem em minha vida há muito tempo e nem me faz falta.

- Mesmo? – pergunto muito perto, acariciando seu rosto. Ela não olhava para mim, mantendo o olhar fixo no horizonte, ela não respondeu, mulheres fortes e resistentes como ela me atraíam ainda mais. – É uma pena, o homem que conquistasse seu coração seria um homem de muita sorte.

- Não diga bobagens. – ela sussurra.

- Não é nenhuma bobagem, Miss Polly. Queria eu ser este homem de sorte. – digo cada vez mais próximo dela, Polly não se afasta, permitindo que meus lábios rocem nos seus, e sei que estou fazendo uma grande bobagem, mas aquela mulher com seu jeito cortês e sempre tão correto já tinha me conquistado, desejava tanto seu beijo, mas ela se afastou me lançando um olhar de repreensão.

- Sr. Riddle! Você tem Cecília e agora mais do que nunca vejo que é hora de eu partir.

- Desculpe, Polly, eu... Eu fui... É que você é uma bela mulher e eu não me contive.

- Pois então se contenha, Sr. Riddle. – ela diz me dando as costas e andando em direção ao portão.

- Posso lhe pedir que venha me ver outros dias? – pergunto encostado a uma coluna. – Como amigos.

- Eu... Eu vou pensar sobre isto. Despeça-se de Thomas por mim. – e se foi.

Polly Harrington retornou à aquela casa outros dias, porém bem mais recatada, não que isto a deixasse menos interessante. Polly voltou com fios negros presos em um coque alto que a deixava mais velha, blusa de manga comprida e saia e comportada. Eu, por outro lado, após sua primeira visita, voltei a cuidar dos negócios da família e a usar minhas vestes elegantes e arrumar o fios grisalhos, ela nem se dava conta do quanto tinha me ajudado, apenas com sua presença.

Já se haviam se passado alguns meses e desde então Miss Polly sempre me visitava. Em uma dessas visitas, consegui convencê-la a conhecer minha biblioteca.

- Pollyanna queria vir comigo desta vez. – ela comentava descontraída enquanto caminhávamos para a biblioteca.

- Por que não a trouxe?

- Ah ela tinha coisas para fazer, sou um pouco rígida com minha sobrinha, mas apenas quero prepara-la, ela não pode depender da magia sempre, então ela tem aulas de culinária, costura e leitura em voz alta.

- Você é muito dura com ela. – digo e ela me lança um olhar hostil que me faz rir. – Ok, desculpe, isso não é da minha conta. Bem, eu espero que goste. – digo abrindo a porta que levava à biblioteca.

A biblioteca era grande e bela, Polly Harrington entrou olhando para tudo com um sorriso, percorreu a estante até parar nos romances de Shakespeare.

- São os meus favoritos. – disse com um brilho nos olhos.

Eu me aproximei devagar dela, minha mão deslizou para sua cintura e beijei seu pescoço livre uma vez que seu cabelo estava preso em um alto coque. Ela ficou tensa.

- Tom, nós já conversamos sobre isto. – ela diz firme, embora seus olhos estejam fechados e a cada beijo ela fique mais arrepiada.

- Eu sei, eu só... Não consigo resistir.

- Chega! – ela diz se virando de frente para mim. – Você tem Cecília, que tipo de homem é você?

Eu apenas sorri lhe mostrando a mão agora livre do anel de noivado.

- Terminei com ela semana passada, desde então tenho esperado ansiosamente sua visita Miss Polly Harrington, nada pode ficar entre nós agora.

Polly ficou surpresa, mas não tão surpresa quanto eu quando ela me puxou para um beijo desesperado e ávido, intenso, eu soltei seu cabelo deixando-o cair ondulado pelos ombros. Nos separamos apenas quando nos faltou ar e Polly sorriu, o sorriso mais doce e meigo que eu já tinha visto no rosto daquela mulher difícil.

- Céus, o que Pollyanna e seu filho vão dizer?

- Não ligo para o que os outros vão dizer e tenho certeza que Pollyanna vai adorar, Tom... Não vai se importar.

- Eu odeio isso Tom Riddle.

- O que? – pergunto colocando parte de seu cabelo atrás da orelha.

- Estar apaixonada de novo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.