P.O.V. 3ª Pessoa

Era horrível, principalmente para as garotas, ter que apoiar o corpo todo com as mãos para poder escalar as cordas suspensas no “céu”, mas pior ainda era conseguir manter o foco em meio a pedrinhas que jorravam do teto e batiam em qualquer parte do seu corpo. Tyler estava indo bem, até que olhou para baixo e, entre os corpos boiando no sangue, ele viu o rosto de seu irmão falecido Michael.

— What? Can’t it be, can it? (O quê? Não pode ser, pode?) – Murmurou para si mesmo. Mas logo as lágrimas começaram e ele não sabia se eram de felicidade ou tristeza. - MICHAEL! –Ele gritou e infelizmente os outros três olharam para baixo. Lá também havia rostos conhecidos de cada um, Rosa viu sua amiga Amanda, Filipe viu sua irmãzinha e Isabelle viu seu amigo Charlie.

— DON’T LOOK DOWN! THIS IS NOT HAPPENING, KEEP THE FOCUS! (NÃO OLHEM PARA BAIXO! ISTO NÃO ESTÁ ACONTECENDO, MANTENHAM O FOCO!) – Filipe começou a gritar e voltou a escalar a corda ainda mais rápido. Isabelle fez o mesmo, Rosa começou, mas Tyler ainda estava parado olhando para baixo.

— Tyler? – Rosa falou e ele voltou a escalar. Depois de um tempo, Filipe chegou ao final da corda, que era uma plataforma no meio de uma parede cinza, após ele veio Tyler, Isabelle e por último Rosa. Quando todos chegaram, a mesma voz do alarme disse:

FASE UM COMPLETA. FASE UM COMPLETA. FASE UNA COMPLETA. PHASE ONE COMPLETE.

E quatro pratos do mingau surgiram, eles praticamente engoliram em poucos minutos e quando foram olhar para trás, o campo pelo qual passaram estava cinza, sem resquício de nada vermelho. Eles se olharam assustados e ficaram em silêncio, quando Filipe abriu a boca para falar algo, a voz do alarme ressoou.

FASE DOIS. FASE DOIS. FASE DOS. PHASE TWO.

E o chão no qual estavam foi removido bruscamente.

Todos levaram alguns milésimos de segundo para perceber que estavam caindo, mas assim que o fizeram, já estavam em chão firme. De algum modo eles foram separados na curta queda, cada um caiu em um pequeno quarto em forma de quadrado. Havia apenas uma mesa, uma cadeira e uma folha de papel e caneta em cima da mesa.

— ARE YOU OK? (VOCÊS ESTÃO BEM?) – Tyler gritou para o nada que enxergava.

— YES! (SIM!) - Filipe, Belle e Rosa gritaram em coro. Apesar de estar com um pouco de medo, Isabelle sentou na cadeira e palavras surgiram no papel como se tivesse passado por uma impressora.

— GUYS, SIT DOWN, THERE IS A TEST. (GENTE, SENTEM, HÁ UM TESTE) – Ela gritou e os outros fizeram. O teste escrito possuía questões bastante estranhas. Como por exemplo, crie e descreva em um país o que você considera como sociedade boa para viver, cite os pontos positivos e negativos. A maioria das outras questões era objetiva, perguntas sobre o que fazer ao se perder com as circunstâncias variando, desde em locais com neve, animais selvagens até praias escaldantes. O que aconteceria se por acaso você se perdesse no seu país, as pessoas lhe acolheriam ou você teria que se virar? Depois vinham mais e mais perguntas completamente estranhas para eles, mas que tinham sentido para quem quer que fez esse teste, a pior de todas era o que faria se ficasse preso dentro de um liquidificador enorme.

Após algumas horas, Filipe foi o primeiro a terminar, depois a brasileira, Tyler e por último, Rosa. Eles foram “sugados” do quadrado para outra sala. Era uma grande sala com vários computadores e outros eletrônicos de alta tecnologia, havia várias pessoas lá e elas estavam aplaudindo em pé.

— What the fu... (Que diab.. )– Tyler começou a dizer.

— Bem vindos, Welcome, Bienvenido! Esta é a fase três. Qual língua preferem que fale? – Uma mulher começou a falar, ela tinha o cabelo preso em um rabo de cavalo, roupas um pouco estranhas e um grande sorriso no rosto. Os jovens a encaravam e a todos os outros com medo. Quem diabos eram aquelas pessoas? – Eu sou a chefe da agência. Não sejam tímidos. Já que não falaram nada, vou optar por português. Antes de tudo, gostaria de agradecê-los por participarem, o programa chegou ao fim. Vocês foram escolhidos para participar de um treinamento por nossa agência, nós somos a IMH, uma espécie de nova CIA secreta e mais desenvolvida. E, meus parabéns, todos passaram. Podem começar a trabalhar conosco no momento em que se sentirem dispostos, apenas devem manter o sigilo absoluto de tudo.

— Um momento. – Filipe disse enquanto sua mente trabalhava pra tentar entender o que estava acontecendo. – Vocês quase nos mataram! Tem ideia do que nos fizeram passar? Não poderiam ter apenas dito que era um treinamento? Eu achei que tinha morrido. – Rosa começou a chorar, Tyler a abraçou encarando com raiva todos os estranhos da agência.

— Filipe, me desculpe, mas esse é o novo procedimento. Vocês desejam retornar para suas casas? – A mulher falou com bastante calma.

— Ir para casa? O que custava terem dito que isso ia acabar? Vocês não têm ideia do que nós passamos, quer uma dica? ACABE COM O NOVO PROCEDIMENTO! CHEGA A SER DESUMANO FAZER AS PESSOAS SOFREREM SEM UMA ÚNICA EXPLICAÇÃO! – Ele recuperou o fôlego, estava com olhos de vidro. – Como vocês conseguem dormir tranquilos à noite? – A mulher continuava com uma calma absurda como se essa situação fosse totalmente normal, ia responder ao garoto quando Isabelle falou.

—E quanto à minha família? Às nossas famílias? Não estão em desespero pelo sumiço dos filhos? – Belle disse.

— Ah, não se preocupe com isso, temos um temporizador, vai parecer para eles que vocês só foram dormir por uma noite. Na realidade, foi graças à invenção desse temporizador que foi possível enviá-los para os marcos históricos. E Filipe, iremos analisar seu pedido, obrigada pela opinião. Meu conselho a todos é que tentem aproveitar a oportunidade, a vida não é completamente doce, foi necessário lhes treinar para mostrar o amargo, sigam nosso lema: “Espere pelo melhor, mas se prepare para o pior”.

— No puedo entender, es demasiado. (Eu não consigo entender, é demais.) – Rosa disse e desmaiou.

— ROSA! - Tyler a pegou nos braços e olhou com horror para a mulher que mantinha o sorriso.

— Bem, vejo que vocês têm muito para pensar, vou lhes deixar sozinhos, podem voltar assim que quiserem, basta me chamar. E, quanto à parte de trabalho, assim que considerarem a oferta, nós entraremos em contato, basta que escrevam IMH em algum papel ou o digam em voz baixa.

Ela saiu com a sua equipe, um homem da equipe com uniforme de mangas curtas preto com azul olhava com admiração os quatro e a chefe teve que gritar para que ele saísse de seu transe e a seguisse. Os três se encararam enquanto Rosa ainda estava desacordada.

— Então. – Filipe disse. – Acho que o melhor é voltarmos, mas antes vamos pegar algum meio de contato para que eu não enlouqueça. – Ele pegou um papel que estava em cima da mesa e começou a escrever seu nome, celular, endereço, e o fez três vezes. Rosa acordou e tanto ela como Tyler e Isabelle também o fizeram. Quando todos já estavam com os papéis dos outros em si, as meninas começaram a chorar, não um choro desesperador, mas, por incrível que pareça, elas iriam sentir falta. Os quatro se reuniram num abraço em grupo e depois as meninas se abraçaram, os meninos também. Rosa abraçou Filipe, Isabelle abraçou Tyler. Rosa abraçou Tyler por um longo tempo, o mesmo longo tempo que Filipe e Isabelle. Eles podiam sentir o coração do outro bater. Porém quando Isabelle foi desfazer o abraço, Filipe a beijou rapidamente.

As caras eram um misto de felicidade e tristeza, eles não podiam ficar ali para sempre, por isso, chamaram a mulher.

— Obrigada a todos por participar, sempre serão muito bem-vindos. Aqui está o cartão da agência para qualquer dúvida. Preferem retornar um de cada vez ou todos ao mesmo tempo? – Ela perguntou, antes que respondessem, apertou uma série de botões em aparelhos estranhos e a mistura de roxo e preto tão conhecida se formou em círculo no chão.

— Todos ao mesmo tempo. – Responderam juntos.

— Ok, então. Vou precisar que vocês soltem as mãos. Tudo que tem a fazer é se jogar no buraco negro pela última vez. – Filipe deu um último selinho em Belle e os quatro pularam juntos. A viagem no buraco durou tempo suficiente para que sorrissem um para o outro em agradecimento, pelos momentos poucos momentos de felicidade e pelos vários de suporte e confiança, eram mais que amigos, eram uma nova família. A aventura havia terminado, ou não? Não, ela nunca iria terminar. Não há como esquecer uma experiência marcante como essa, parece até que tudo aconteceu na minha cabeça.