— Você também tem a impressão de que se passaram meses desde a última vez que nos vimos?

— Mina, mal faz um dia. - A outra garota riu.

Estavam sentadas uma de frente para a outra, uma das mãos unidas com a da outra. Chaeyoung apoiava o cotovelo sobre a própria perna e o queixo sobre a palma da mão, enquanto encarava Mina.

Estavam ainda no mesmo campo de flores. Mina se perguntava se a praia fora a única exceção, se havia um jeito de “escolher” onde queriam estar a cada sonho. Mas não pensava muito sobre isso - não importava muito, desde que pudesse estar com sua garota dos sonhos. Riu consigo mesma, percebendo o olhar de indagação da pequena, mas apenas sorriu tranquilamente antes de falar mais uma vez.

— Os últimos dias tem passado como se fossem anos pra mim.

— Depressa?

— Sim, mas ao mesmo tempo não rápido o suficiente. Isso faz sentido?

Mina fez uma careta confusa e arrancou mais um sorriso divertido da menina à sua frente.

— Eu acho que sim. – Chaeyoung arrumou a postura e apertou mais a mão de Mina. - Para mim, no entanto, os dias têm passado insuportavelmente devagar.

Naquele instante, Mina se deu conta de que a garota sempre a ouvia e ainda que até então não houvesse falado diretamente sobre o que acontecia consigo, conversavam através de metáforas e ela lhe aconselhava, estava sempre lá. Mas Mina ainda não havia escutado absolutamente nada sobre a vida da garota, e aquele fato agora lhe era incômodo.

— Se importaria de desenvolver melhor sua última frase.

Chaeyoung deu um meio-sorriso e pela primeira vez Mina se deu conta de quanto cansaço havia em seu rosto. A menina sempre o escondia muito bem.

— Acredite quando eu digo que nossos encontros noturnos não fazem bem somente a você. Eu acredito que nós estamos enfrentando exatamente o mesmo período da vida, no entanto temos maneiras diferentes de ver o que acontece. É isso que deixa as coisas mais divertidas, não é? Ninguém vive da mesma maneira.

Chaeyoung soltou a mão de Mina, mas antes que ela pudesse protestar, virou-se e deitou a cabeça sobre suas pernas. Mina apenas suspirou e levou a mão agora livre aos cabelos curtos, tocando os fios com delicadeza.

— Por quê você não me diz o seu nome? - Perguntou repentinamente, pegando Chaeyoung de surpresa.

— Por quê isso seria importante? – Rebateu, erguendo uma sobrancelha.]

— Eu realmente preciso responder essa pergunta?

Chaeyoung suspirou.

— Você descobrirá.

— Você já me falou isso antes... - Resmungou.

Chaeyoung sentou-se e virou-se mais uma vez para Mina. Estendeu a mão e acariciou seu rosto, colocando a grande franja que cobria um de seus olhos atrás de sua orelha.

— Você às vezes me parece tão madura e às vezes ainda tão pequena. - Sorriu. - Eu não vou desaparecer da sua vida porque você não sabe o meu nome. Há muito para acontecer ainda.

— Não vai? Isso é um sonho... Eu não sei como ele acontece e nem porquê, eles podem sumir a qualquer momento e então eu não vou ter nada de você para ao menos tentar te encontrar no mundo real. Porque não podemos levar o que temos para fora daqui?

— E o que nós temos, Mina? - A expressão de Chaeyoung repentinamente ficou séria.

— Eu não... Não sei nomear. - Mina se atrapalhou. - Mas a sua presença me faz bem e isso é tudo o que importa, não é? Eu não sei também porque você parece saber tanto sobre o que está acontecendo enquanto eu estou sempre confusa... - Suspirou.

— Eu sou o seu anjo da guarda. - Chaeyoung piscou e Mina arregalou os olhos.

— Isso é sério?!

Chaeyoung riu abertamente agora.

— Não, mas eu gostaria que fosse. - Segurou a mão de Mina novamente. - Eu sei que nós vamos nos encontrar fora daqui, mas haverá um momento específico para isso. E Mina... Eu sei tanto quanto você sobre o que acontece conosco. Mas assim como a vida, nós apenas encaramos isso de maneiras diferentes.

— Eu ainda queria saber mais sobre você...

Mas eu não gosto de descobrir coisas sobre mim, Mina.

***

Mina estava parada em frente à sua professora de balé, mantendo a cabeça abaixada enquanto a mulher tinha o rosto iluminado em um grande sorriso. Mina havia acabado de aceitar participar dos testes para a apresentação.

Claro que ela sabia o que isso significava em uma perspectiva imediata: seus ensaios seriam muito mais intensos e exaustivos, conciliar isso com a escola e seus deveres como Presidente do Conselho Estudantil exigiria muito mais de sua energia. No entanto, Mina sentia que seria capaz de fazer isso. Levantou a cabeça quando sentiu o toque gentil da professora em seu ombro.

— Antes de mais nada... Você faz alguma ideia de porquê Royal Ballet está organizando essa apresentação? - Ela perguntou, mantendo a expressão calma e o sorriso orgulhoso no rosto.

— Sendo sincera, eu não pensei muito sobre isso. - Mina sentiu seu rosto colorindo-se em um leve tom de vermelho. - Imagino que seja para oferecer oportunidades para os demais alunos? - Perguntou, hesitante.

— Você é otimista. Veja bem, eles de fato estão oferecendo oportunidades, embora esse não tenha sido o foco inicial. - A expressão de Mina tornou-se confusa. - A Companhia quer provar que suas filiais mantém os mesmos talentos presentes na matriz. Apenas os melhores são capazes de estar em Royal Ballet School. - Mina respirou fundo. - E se apenas os melhores podem ter aulas na Companhia, Mina, isso significa que nada além da perfeição irá estar presente na apresentação final. Entende onde quero chegar?

— Sim, sensei. - A voz da menina de seus sonhos ressoou em seus ouvidos. - Eu darei o meu melhor para alcançar essa perfeição.

Mina já não parecia a garota hesitante e assustada de dias atrás, tamanha a confiança presente em seu tom de voz quando pronunciou aquela frase.

Eu sei que você é capaz, foi a frase que ecoou em sua mente na voz de Chaeyoung. Se Chaeyoung sabia, então Mina era capaz.

***

Jeongyeon se aproximou mais uma vez da porta de madeira branca. Podia ouvir o som do piano por trás dela, o que significava que a irmã estava praticando mais uma vez. No entanto, ao chegar mais perto, foi capaz de perceber que a melodia que as cordas criavam não era da nova composição da pequena pianista, na qual ela estivera trabalhando pelas últimas semanas, e sim a inconfundível melodia de Claire de Lune.

Aquela havia sido a primeira música que Chaeyoung havia aprendido a tocar, ainda criança. O pai das duas havia sido um exímio pianista. Em vida, ele sempre tentou transmitir às duas garotas o amor que possuía pelo piano, no entanto só foi capaz de atingir sua filha mais nova. Jeongyeon nunca havia sido grande fã do instrumento, já Chaeyoung era apaixonada pelas teclas desde ainda bebê. O dia em que o pai decidiu que ela já poderia aprender foi um dos mais felizes de sua vida, perdendo apenas para o dia em que finalmente conseguiu tocar a peça ensinada inteira, sem nenhum erro: Claire de Lune.

Apesar de todas as peças que aprendera desde então, várias mais complexas e sendo perfeitamente executadas pelos dedos ágeis, aquela era a música favorita da garota. E Jeongyeon sabia que desde a morte do pai, Chaeyoung apenas a tocava quando estava muito angustiada.

Levou a mão para a maçaneta da porta, hesitou por alguns segundos e então a retirou e virou-se, voltando para seu quarto.

Não invadiria o espaço da irmã e Chaeyoung a procuraria quando quisesse conversar.

***

Naquela noite, quando se encontraram, Mina e Chaeyoung não proferiram nenhuma palavra. Chaeyoung apenas adiantou-se e envolveu a garota um pouco mais alta em um abraço apertado, sendo retribuída no mesmo instante.

Naquele momento, elas eram o conforto uma da outra e sabiam disso antes mesmo de conhecerem as razões de suas angústias.

***