In Jail

Sempre escute o Mello. Sempre


Agitações em prisões nunca são bons sinais. Na verdade geralmente significavam que alguém tinha começado uma briga, ou que alguém estava sendo espancado, ou qualquer coisa parecida com violência, agressão, xingamentos, e eu já falei violência?

Eu sei que não tenho muita moral pra falar sobre isso, mas eu tento me controlar. Posso não ter muito sucesso uma vez ou outra, mas... É claro que eu tento, senão aquela criatura que todos já sabem quem é já seria parte da mancha da parede da cela!

Mas então. Matt e eu nos aproximamos do amontoado de gente que tinha se reunido naquele canto, abrindo caminho com considerável dificuldade (pra pessoas que têm como único exercício andar uma vez por dia, aqueles presos ainda matinham os músculos muito bem conservados. Não era uma observação agradável de se fazer), e o que vimos foi... Bom, não dá pra dizer que era inesperado.

Um corpo.

Pois é, mais um tinha morrido. Mas a pergunta era: como? Não parecia que tinha tido nenhuma briga, e o prisioneiro caído nos degraus de pedra que eram usados como banco por quase todos não parecia estar machucado. Só algumas cicatrizes, mas irrelevantes agora.

O homem devia ter por volta de 40, talvez 45 anos no máximo. Estava caído de lado, de modo desigual por causa dos degraus, com a mão direita ainda levemente segurando o tecido da roupa suja exatamente do lado esquerdo do peito.

Ataque cardíaco?

...

Eu precisava conferir aquele corpo.

“Como” parece ser uma pergunta que gosta de me atormentar.

A não ser que...

– Matt, crie uma distração – sussurrei, quase sem deixar a voz sair. Mas é claro que ele entendeu. E o mais importante: o cara que poderia muito bem ser o irmão mais velho do companheiro de cela de Matt não entendeu. Sem brincadeira, aquele cara era enorme!

Ahhh, que saudade do meu revólver... Ele ficava tão bem na minha cintura... Droga, eu não podia ter pensado em um plano melhor?! De preferência algum que eu não precisasse ficar totalmente desarmado ao lado desses viciados em academia?!

– O quê?! – ele sussurrou de volta, virando apenas um pouco a cabeça para o meu lado.

– Eu só preciso de um minuto.

– Está falando sério? – não posso culpá-lo por estar apreensivo, mas não ia deixar passar essa chance.

– Tá bom, não precisa – quase que um sorriso de alívio surge no rosto dele. Quase– Podem ser dois minutos, eu não me importo.

Eu quase me senti culpado por fazer aquilo com ele. De novo: quase. Podia deixar pra sentir o arrependimento que for mais tarde. Com uma boa caneca de chocolate quente em mãos.

– E como você espera que eu faça isso?!

– Não sei. Mas você é criativo, vai conseguir – e dei um tapinha no ombro dele, avançando alguns passos em seguida. Eu mesmo teria o maior prazer em fazer alguma coisa, mas ao olhar bem ao redor, Paullete não estava por perto, então não valeria a pena. Eu deixo esse trabalho para o meu amigo, sem problemas.

Tudo bem, Matt. Não precisa se preocupar, eu vou deixar bem gravado no seu túmulo o quanto você foi corajoso.

...

EU ESTOU BRINCANDO! Matt NÃO vai morrer.

...

Espero.

Ah, chega disso! Matt é inteligente demais para qualquer coisa que ele faça o afete de maneira negativa. Se eu não confiasse plenamente nele, não pediria que fizesse isso. A não ser que eu o odiasse muito, mas... Eu gosto do Matt, então tudo bem.

Fiquei parado bem na frente, ao lado dos que deviam ter sido os primeiros a chegar quando perceberam que tinha acontecido alguma coisa, esperando o sinal para me mover. Tinham só uns quatro guardas ali; uns três tinham ido atrás de um trio que aproveitou a confusão pra tentar pular o muro (idiotas...) e fugir, e o resto tinha ido avisar o diretor do presídio sobre a morte.

Olhei de um lado para outro, e algo me chamou a atenção. Um dos guardas que tinha ficado estava extremamente perto de um detento, perto demais, parecia até que... AH, MAS ISSO É LUGAR?! Não é porque aqui é uma prisão que não precisa se ter um mínimo de respeito! Francamente, o que...

...

Certo, talvez minha mente seja um pouco mais poluída do que eu pensava. Deve ser culpa de passar mais de 5 minutos respirando o mesmo ar daquele velho travesti tarado...

Eu podia jurar que... Ah, não importa! A questão é que ao olhar melhor (foi preciso coragem, acredite), a mão do guarda não estava tocando nenhum local... “Inadequado” do outro cara, como parecia à primeira vista... E à segunda... Mas isso não vem ao caso. Ele parecia estar passando alguma coisa para o preso. Eu não conseguia ver o que era, mas o detento tinha um sorriso bem imbecil na cara para ser algo inocente.

Eu poderia ter dado alguns passos para o lado para tentar ver o que era, mas não deu tempo.

Porque a confusão que de repente se formou atrás de mim era o sinal que eu estava esperando.

Olhei para trás por um único segundo, a tempo de ver Matt com a maior expressão de inocente, mas com os olhos verdes brilhando do jeito que sempre brilhavam quando aprontava alguma coisa, saindo de perto do mesmo brutamontes que estava ao meu lado antes. Brutamontes esse que agora estava trocando golpes bem vigorosos com outros dois.

Mas o que é que Matt tinha feito para causar aquilo?

Apressei-me enquanto todos estavam distraídos com aquela briga, alguns tentando separá-los, outros incentivando, e fui até o homem morto à minha frente.

Agachei ao lado do corpo e passei os olhos rapidamente por ele, procurando qualquer coisa, qualquer indício que explicasse o motivo daquele guarda estar pagando alguma coisa àquele prisioneiro.

A primeira coisa que eu notei foi que seus lábios estavam levemente azulados. Estranho. E depois, foi que bem próximo ao seu corpo, caído e apagado no chão, havia um cigarro.

Seria possível que...


Ensinamento importante: sempre, SEMPRE preste atenção nas minhas dicas. A última foi a mais certa de todas...