Jardins, rancho Neverland - 14:12 hrs

Após o almoço, Michael foi até um dos balanços que havia nos extensos jardins de Neverland, queria ficar um pouco sozinho. Seus irmãos e seus sobrinhos estavam se divertindo no parque de diversões, havia o ativado exclusivamente para eles. Era dia 25 de dezembro, a neve caía com sutileza e sua família estava lhe fazendo companhia no rancho.

Todavia, queria ficar sozinho.

Lentamente movia as pernas para frente e para trás, levando consigo também o seu corpo no balançar calmo do brinquedo. Janet se aproximou ao ver como seu irmão parecia silencioso naquele dia. Não estranhou, imaginava ser por causa daquela situação difícil.

— Ei… não é bom ficar sozinho quando toda sua família veio te ver, hein?

Brincou, sentando-se em um balanço ao lado. Michael não a encarou, manteve os olhos no horizonte, sorriu discretamente.

— Desculpa, dunk…

— Hunf… hoje, vou te perdoar.

Ela lhe deu um soquinho de leve no braço e ambos riram daquela situação, embora o riso do cantor já não fosse mais tão radiante. Ele suspirou, não sabia se queria falar sobre o que havia sonhado, mas sentia que precisava externar com alguém e sua irmãzinha era, naquele momento, sua maior confidente.

— Jan… você acha que… tudo isso aconteceu porque eu fui… muito bom?

Ela franziu o cenho enquanto ouvia cada palavra, também encarando o horizonte com o irmão.

— Uhm… como assim “muito bom”?

Ele engoliu seco.

— Digo… se acha que fui ingênuo. Se acha que era óbvio que as coisas iam acabar assim e que só eu não enxergava isso.

Janet mordeu os lábios, era óbvio que o seu irmãozinho estava procurando alguém para culpar e definitivamente não eram os verdadeiros culpados. Ela suspirou.

— A culpa não foi sua. Você sempre teve a melhor das intenções, as pessoas é que são cruéis.

— Mas se… se eu fosse menos…

Ele suspirou.

— Esquece, estou tentando enganar a mim mesmo. Eu nunca vou deixar de ajudar as pessoas, porque é parte de mim. Mas… isso pode acontecer de novo… não pode?

Agora a encarou. Janet não tinha o que responder, se sentia de mãos atadas e temia deixar as coisas piores. Ela tentou medir suas palavras.

— Qualquer coisa pode acontecer… até mesmo coisas boas, como ver uma criança ser curada do câncer. Quantas crianças melhoraram depois que você fez uma visita? Não dá nem pra contar, Mike…

Ele sorriu discretamente.

— É mesmo, não é? O que um pouquinho de amor não faz?

Janet sorriu e levou a mão ao ombro do irmão, acariciando discretamente.

— As crianças, mais do que ninguém, sabem o que você já fez por elas, okay? E não tem opinião mais sincera que a delas, você sempre fala isso!

— Isso… é verdade. É que… hoje, eu sonhei…

— Tiiiooo!!

Brandi Jackson, uma das sobrinhas deles, correu na direção do cantor. Seu joelho estava ralado, ela estava chorando. Michael esqueceu todo o rumo daquela conversa e logo correu ao seu auxílio.

— Você não é velha demais pra chorar? Já tem onze anos.

Comentou Janet, mas Michael a repreendeu com o olhar.

— Não liga pra ela, Brandi, não existe idade pra isso. Se existisse, Deus teria tirado todas as lágrimas dos adultos.

Comentou, sempre ia em defesa dos seus sobrinhos e Janet sempre achava isso fofinho. Ela sorriu e não questionou mais, deixou que o homem carregasse a pequena nos braços e a levasse para dentro do rancho, onde fariam um curativo.

Ao longe, três presenças assistiam à cena.

— Ele não vai mudar, né? Ele tem uma coisa… uma coisa que sempre o puxa de volta pra o próximo.

— Ele é um idiota, isso sim. Talvez ele ainda pense sobre o que viu, talvez isso influencie em algumas coisas, mas ele vai estar sempre se arriscando na corda bamba.

Comentaram. O terceiro não disse uma palavra, não podia assistir sua vida por muito tempo, teria que voltar para o seu descanso. Aquela havia sido a sua única chance de mudar as coisas.

— Olhem bem, porque será a nossa última vez aqui.

Sussurrou, e então deu as costas, cobriu-se com o seu casaco escuro e se retirou. A neve recriava suas pegadas que discretamente sumiam com o acúmulo de mais daqueles pequenos flocos gelados.

Fez o que pôde, mas, no fundo, sabia que não conseguiria recriar a sua história. Sabia, porque o seu coração estava disposto a amar quantas vezes fosse necessário, mesmo que custasse-lhe a paz. Ele havia vendido completamente a própria vida para as causas em que acreditava e agora precisava carregar o fardo.

Todavia, deixou seu passado com um discreto sorriso no rosto. Sempre acreditou ser, aquela, a sua missão de vida, o seu propósito. Não era sobre música, não era sobre dança, nem sobre talento, era sobre transformar aquele mundo em um lugar menos sofrido.

No fim das contas, isso nunca foi sobre o natal. No fim das contas, algumas almas são simplesmente imutáveis.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.