Paulina ficou sem reação. Ainda que estivesse triste pela desconfiança de Carlos Daniel, aquela caixa e o cartão tinham mexido, e muito, com ela.

Ficou durante algum tempo admirando a beleza dos presentes, realmente Carlos Daniel tinha muito bom gosto, e isso Paulina não podia negar. Logo ela continou com seus afazeres, mas as dúvidas sobre ir ou não a esse local, e mais ainda sobre quais seriam as pretensões dele, ficaram dando voltas em sua cabeça durante o resto do dia.

Para Carlos Daniel, a tarde passou voando. Ele preferiu não procurar Paulina, estava confiante que as coisas sairiam como planejado. Nem viu o tempo passar, tamanha era sua ansiedade. Quando se deu conta de que já estava anoitecendo, foi para casa se arrumar.

Vestiu um belo terno na cor cinza, uma camisa preta e uma gravata desta mesma cor, apenas com listras verdes. Por fim, estava pronto.

Pontualmente as 20:00, lá estava ele, agora mais ansioso do que nunca. Andava de um lado para outro na porta do local. Volta e meia, passava as mãos em seu cabelo, bagunçando-o, num claro sinal de nervosismo.

E assim ficou por meia hora, esperando... começava a surgir um certo receio de que a amada houvesse decidido não comparecer. Até que avistou um táxi chegando. Era Paulina, e ele sentiu isso antes mesmo de vê-la.

Quando finalmente a viu, seu coração falhou uma batida, tamanha era a perfeição em que ela estava. O vestido era do estilo tomara que caia, tinha alguns bordados no busto e era justo até a cintura, com a parte de baixo mais solta. O modelo estava em completa harmonia com o corpo de Paulina, assim como o tom de verde, que fazia uma combinação perfeita com a cor de seus olhos. O cabelo estava preso em um coque e a maquiagem que ela usava não era muito forte, destacando sua beleza natural.

- Boa noite Paulina! Você está linda! - disse Carlos Daniel sorrindo, assim que ela se aproximou. Não conseguia parar de admirá-la e o elogio foi pronunciado naturalmente.

- Boa noite, e me desculpe pelo atraso. - respondeu sorrindo timidamente. Ao perceber os olhares constantes de Carlos Daniel, sentiu-se um pouco envergonhada.

- Vamos entrar? - perguntou enquanto estendia a mão para ela

- Vamos. - disse segurando a mão dele.

Paulina, apesar de tentar disfarçar o máximo possível, também não podia deixar de admirá-lo. O brilho no olhar de ambos era notório.

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O local era bem iluminado e amplo, e todas as mesas estavam arrumadas, porém uma em especial. Nesta havia uma toalha vermelha, e um vaso com belas rosas brancas para complementar.

- Pensei que aqui fosse um restaurante - disse ela assim que entraram, ao perceber que o local estava vazio

- Na verdade é sim, mas o dono é meu amigo e me emprestou o local.

- E por que isso? - perguntou sem entender

- Essa noite quero que sejamos só você e eu. - disse olhando fixamente nos olhos de Paulina e sorrindo de maneira sedutora

Paulina nada respondeu. No entanto, por dentro seu coração batia em ritmo acelerado. Estava encantada com o gesto de Carlos Daniel, tanto que estava a ponto de dizer que o perdoava. Mas se conteve.

Ele a guiou até a mesa especialmente preparada para os dois, puxou a cadeira para que a amada sentasse e logo em seguida sentou-se de frente para ela.

- O que vamos comer? - perguntou Paulina, curiosa

- Bacalhau ao molho de maracujá. - respondeu enquando fazia sinal para os garçons que estavam na cozinha

E assim, os dois foram servidos. Para beber, Paulina escolheu um suco de abacaxi, e Carlos Daniel a acompanhou. Ele preferiu não escolher nada alcoólico, não queria correr o risco de passar da conta e colocar tudo a perder. Após, uma simples e maravilhosa sobremesa foi servida: Sorvete de chocolate.

O jantar foi silencioso, apenas com trocas de olhares. Paulina estava um pouco tensa com a situação e Carlos Daniel estava apreensivo, sabia que teria de explicar a ela tudo o que sabia sobre Paola, e estava esperando o momento oportuno para isso.

- Paulina... - disse Carlos Daniel, colocando sua mão direita sobre a dela

- Pode falar. - afirmou olhando no fundo daqueles olhos castanhos que a deixavam hipnotizada

- Talvez você estivesse se perguntando o porquê desse convite... e quero te dizer que esse nosso jantar é principalmente por três motivos: O primeiro é sobre Paola, preciso te contar algo muito grave e que você não quis ouvir hoje cedo. O segundo, só saberá depois. E o terceiro e mais importante é seu perdão.

Paulina apenas ficou ouvindo atentamente, ainda tentava parecer séria diante dele. Pediu então que continuasse a falar.

- Ontem quando cheguei em casa, ao passar pelo corredor pude perceber que Paola estava ao telefone. Ela conversava com um tal Osvaldo... parei em frente à porta do quarto dela e escutei tudo o que dizia. A história da gravidez é uma farsa inventada por ela, e o que aconteceu na praça foi um plano desse Osvaldo.

Ele parou por uns segundos esperando alguma reação de Paulina. Como ela nada disse, seguiu:

- Meu amor...eles se aliaram para nos separar. E quase conseguiram, eu fui um completo idiota... agora eu sei que você jamais seria capaz de fazer algo assim comigo, mas no momento o ciúme me cegou. Eu te amo! - nesse momento uma lágrima caiu dos olhos de Carlos Daniel

Paulina também deixou uma lágrima cair. Nas expressões de ambos já não havia nenhuma mágoa ou ressentimento como naquele dia, apenas amor.

Ele ficou em pé e mais uma vez pegou na mão dela. Quebrando aquele silêncio, a convidou para dançar.

Se dirigiram ao centro do salão e Paulina entrelaçou os braços no pescoço de Carlos Daniel, que colocou suas mãos na cintura da amada. Ele acionou o som com um controle remoto e ambos começaram a mover-se lentamente, no ritmo da música.

Te pido
Una vez más
La oportunidad de demostrarte
Que tan sólo necesito amarte
Para que el dolor se aparte ya

Porque me pides perdón?
Porque no puedo cuidarte?
No vez que tu razón no encuentra una solución que te haga bien

De todo lo que viví
Lo nuestro fue para siempre
Y no comprendo bien porque yo tengo que ceder otra vez

Hay algo mas te intensidad, no deberíamos perderlo

Te pido
Una vez más
La oportunidad de demostrarte
Que tan sólo necesito amarte
Para que el dolor se aparte ya
No permitiré que pierdas hoy la fe
Que tengo en nuestro amor eterno
Y junto a ti pelearé

- Me perdoa? - sussurou Carlos Daniel no ouvido de Paulina, assim que a música acabou

Paulina colocou as mãos na nuca de Carlos Daniel e lentamente aproximou-se de sua boca. O toque de lábios foi intenso, longo... parecia que há anos estavam separados, e ambos curtiam ao máximo cada segundo daquele beijo.